menú principal

volver al programa provisional

X Coloquio Internacional de Geocrítica

DIEZ AÑOS DE CAMBIOS EN EL MUNDO, EN LA GEOGRAFÍA Y EN LAS CIENCIAS SOCIALES, 1999-2008

Barcelona, 26 - 30 de mayo de 2008
Universidad de Barcelona

 

DEZ ANOS DE VIAGENS A “TERRAS” ESTRANGEIRAS:
MIRADAS DE UM GEÓGRAFO SOBRE A HISTÓRIAS QUE OS CIENTISTAS SOCIAIS NOS CONTAM DE SI PRÓPRIOS

Marcos Bernardino de Carvalho
Departamento de Geografia da PUC-São Paulo
mbcarvalho@pucsp.br


Dez anos de viagens a “terras” estrangeiras: miradas de um geógrafo sobre as histórias que os cientistas sociais nos contam de si próprios (Resumo)

Uma incursão pelas histórias disciplinares das ciências sociais, tendo como base as histórias que geógrafos, antropólogos, sociólogos e historiadores nos contam de si próprios, é o que se desenvolve neste trabalho. Essas histórias disciplinares, normalmente editadas pelos vieses corporativos, são aqui reunidas, cotejadas e avaliadas, com o intuito de revelar os interesses e origens comuns, bem como os personagens compartilhados por todas elas, com especial atenção para os debates em que todos se envolveram nas décadas de virada do século XIX para XX. Este trabalho, que sintetiza os resultados de uma pesquisa inédita, pretende assim contribuir para estimular diálogos e também uma maior flexibilização das ainda rígidas fronteiras disciplinares existentes no interior desse campo de conhecimentos.

Palavras-chave: história das ciências sociais, antropologia, sociologia, história, geografia


Ten years of travels to foreign “lands”: a geographer’s view on the histories that social scientists tell us about themselves (Abstract)

An incursion through the disciplinary histories of the social sciences, based on the narratives told by geographers, anthropologists, sociologists and historians about themselves, is developed in this work. These disciplinary histories, usually edited by professional interests, are gathered, evaluated and compared in this work in order to reveal its common interests and common origins, as well as the characters shared by all of them, with special attention to the debates that everyone was involved in the decades of turn of the nineteenth century to the twentieth century. This paper, which summarizes the results of an unpublished research, intends to stimulate dialogues and more flexibility of the still so rigid disciplinary boundaries existent in this field of knowledge.

Keywords: History of the Social Sciences, Anthropology, Sociology, History, Geography


Atraídos pelas palavras — antropogeografia, biogeografia, geografia política, cultural, histórica...—, interessados que estávamos nas  reconciliações disciplinares, especialmente entre aquelas sugestivas de abordagens integradas da natureza e da cultura, mergulhamos em uma aventura decenal, conduzidos pelo interesse no conhecimento e na investigação das razões que substituíram as palavras originais, ou a fusão de idéias que elas representavam, pelas histórias e trajetórias que algumas das principais ciências sociais optaram por construir separadamente. Referimo-nos ao que se passou quando a partir de um período, mais ou menos coincidente com os anos compreendidos entre as décadas finais do século XIX e as iniciais do século XX, marcado por intensos debates, estranhamentos e até mesmo alguma exortação conectiva ou educadas (estudadas) declarações de interesse mútuo, expoentes das então nascentes ciências sociais, converteram-se em protagonistas de um processo cujo resultado produziu a configuração institucional-disciplinar que hoje desenha os limites dos territórios cognitivos da geografia, da antropologia, da sociologia e da história. Motivados pela obsessão de  conhecer e entender esse processo, dedicamo-nos a percorrer os meandros da história de nosso próprio campo — geografia — e da história desses outros saberes com os quais temos cultivado proximidades e distanciamentos radicais. Coincidente com a efeméride, que este X Colóquio Geocrítica assinala, em nossa trajetória pessoal essa “aventura” teve o seu início e o seu final, marcados por dois estágios realizados, em um intervalo de dez anos, nessa mesma cidade de Barcelona, para a qual retorna o Colóquio Geocrítica, após breve incursão por cidades do Chile, do México e do Brasil. O primeiro estágio — um “doutorado sanduíche”, financiado pelo CNPq, em 1997 —,  proporcionou o prazer da descoberta das principais obras de Friedrich Ratzel, do contexto que as produziu, dos debates que provocou, assim como dos “exilios” e revalorizações que experimentou. Tudo isso sugeria a importância desses fatos para a configuração das modernas ciências sociais, em especial chamavam a atenção os debates desencadeados pelas formulações ratzelianas, dos quais participaram alguns daqueles que futuramente seriam indicados como importantes protagonistas dos processos de afirmação institucional disciplinar dessas ciências, tais como, E. Durkheim, M. Mauss, P. Vidal de La Blache, Lucien Febvre, entre outros. No segundo, — um estágio pós-doutoral, financiado pela CAPES —, após dez anos de verificações sobre os tratamentos dispensados em outras fontes pelos fatos colhidos na primeira vez, pude finalmente dedicar-me com exclusividade e um pouco mais de concentração ao conhecimento das histórias que particularmente as outras ciências sociais, que não a geografia, narram de si próprias. Com essa incursão, por “terras estrangeiras”, pretendíamos verificar os fatos que essas narrativas destacam, avaliando a importância dispensada àqueles episódios, promovidos pelos debates em torno das formulações ratzelianas, cujas magnitudes esses últimos dez anos, em nossa opinião e experiência, apenas reafirmaram. Ou seja, buscávamos conhecer, através das versões e das histórias narradas pelas ciências sociais, os mecanismos e as razões que produziram suas autonomias institucionais e disciplinares e, em alguns casos, o artificialismo corporativo dessas separações. A essas incursões nos dirigimos motivados sobretudo pela possibilidade de contribuir com a produção de novos argumentos (e revisão ou fundamentação dos velhos) favoráveis às cooperações e/ou reconciliações disciplinares, pois essas são as atitudes crescentemente requisitadas daqueles que se dispõem a enfrentar os desafios cognitivos sugeridos por uma realidade contemporânea, cuja trama complexa e intrincada é tecida por aspectos cada vez mais indissociáveis daquelas diversas dimensões que as disciplinas outrora definiram como seus objetos de identidade epistêmica, ou de seus interesses associativos: a cultura, a sociedade, o tempo, o espaço, o ambiente... A uma síntese inicial dessas incursões às narrativas históricas das outras ciências sociais mencionadas, bem como a uma prévia das conclusões dessa nossa “viagem”, é que pretendemos, portanto, consagrar esse breve ensaio. Antes, julgamos importante fazer ainda, algumas outras observações. Ao exame dos debates provocados a partir da publicações das obras de Friedrich Ratzel, em especial sua célebre Antropogeografia, como dissemos, em outras ocasiões já nos dedicamos com profundidade. As motivações que para lá nos conduziram já as expusemos em diversos trabalhos[1]. Como subproduto dessas incursões restou-nos uma convicção e um desafio. A convicção: entre as últimas décadas do século XIX e as iniciais do século XX, ou se quisermos e mais precisamente, entre os anos de 1882 (ano da publicação da primeira edição de Anthropogeographie, de F. Ratzel) e 1922 (ano da publicação de La terre et la Evolution Humaine, de Lucien Febvre), que podem ser considerados como marcos inicial e final dos debates mencionados, é que se estabeleceram mais definitivamente os limites territoriais dos espaços consagrados a algumas das mais novas e importantes ciências sociais, que ao longo do século XIX vieram construindo suas identidades institucionais e disciplinares. Em outras palavras, nesses aproximadamente 40 anos compreendidos entre as datas assinaladas, é que as modernas sociologia, antropologia, história e geografia, converteram-se nas disciplinas tais como hoje as conhecemos, com suas existências acadêmicas, profissionais, seus objetos e corporações definidos e reconhecidos, independentemente da clareza ou da ambigüidade presentes em tais definições. O desafio: buscar lastro nas histórias que particularmente os cientistas sociais, que não os geógrafos, nos contam de si próprios, para com isso verificar, de um lado, indicações que confirmem a importância dos episódios para a configuração disciplinar dessas ciências, e, por outro lado, nos indiquem possíveis lacunas presentes nessas histórias, bem como os aspectos, pensadores e épocas que são comuns a todas elas. Cremos que daí, dessas narrativas históricas, poder-se-iam extrair elementos e argumentos capazes de fortalecer a necessidade de tratamentos mais sérios ou aprofundados, menos apendiculares, também para a história das ciências sociais, quase sempre relegadas a um segundo plano ou a um papel coadjuvante e subordinado, pelos grandes manuais de história das ciências, ou pelos especialistas que a ela se dedicam. Há algum tempo pensadores do porte  de um Joël de Rosnay ou Ilya Prigogine, típicas personalidades representativas daquelas ciências que normalmente são dispensadas de qualificação ou de justificativas para figurar nas histórias dos mencionados manuais, em obras já muito conhecidas, algumas das quais se tornaram referências para as discussões acerca dos paradigmas científicos e os fatores de suas modificações, já insistiam na importância de considerar as trajetórias percorridas pelas ciências humanas. “Tal como as ciências da sociedade — indicava Prigogine (em livro feito em co-autoria com Isabelle Stengers) —, as ciências da natureza não poderão mais, agora, esquecer o enraizamento social e histórico que a familiaridade necessária à modelagem teórica de uma situação concreta supõe” (Prigogine e Stengers, 1997: 215). Concluindo logo a seguir: “Assim a ciência se afirma hoje como ciência humana, ciência feita por homens e para homens” (ibid.). E Joël de Rosnay, por sua vez, em texto mais recente, escrito há pouco mais de dez anos, justificava as constatações antecipadas por Prigogine e Stengers: “O grande desafio do futuro não será técnico, será humano.” (Rosnay, 1996: 282). Evidentemente, o domínio e o conhecimento das técnicas são tão importantes quanto o conhecimento das necessidades e problemas humanos e sociais, para a construção de qualquer futuro. O que esses autores nos dizem, no entanto, é que a experiência acumulada até aqui, inclusive pela trajetória dos saberes e disciplinas produzidos por tais conhecimentos e pelas realidades que estes ajudaram a interpretar e a construir, nos impõem uma perspectiva não só de fortalecimento dos espaços concedidos às dimensões privilegiadas pelas ciências humanas, mas até mesmo de subordinação da técnica e do conhecimento que a produz às necessidades de superação dos graves problemas constatados nos estudos dessas dimensões. Urge que nos dediquemos ao enfrentamento do desafio daí decorrente. Revisitar nosso passado, reavivar possibilidades comuns, evidenciar a fragilidade e os artificialismos de fronteiras cognitivas impostas por interesses corporativos, estabelecer um espaço adequado para a história das ciências sociais na história das ciências, consequentemente impor os ajustes e calibrações daí decorrentes na história de um conjunto ampliado de disciplinas de ambos os campos do conhecimento — os chamados humanos e os físico-naturais —, são, entre outros, alguns dos principais itens que poderiam indicar os passos e atitudes necessários à superação desse desafio.

A convergência oitocentista, para iniciar

Difícil precisar o nascimento de uma disciplina científica. Interesses por uma temática específica, por um recorte da realidade, ou a demonstração de sensibilidade com relação às demandas de uma dada época, contribuem, é certo, para provocar reuniões em torno de um campo de conhecimentos ou para o desenvolvimento de teorias e idéias acerca de determinado assunto, mas não necessariamente implicam na constituição de disciplinas cientificas. Segundo número considerável de respeitados e conceituados autores, isso é um fato típico do século XIX e restrito, originariamente, a poucos lugares ou países da Europa Ocidental. Entre esses autores há os que nos indicam as coordenadas desse fato com bastante precisão:

“A concepção ou ‘idéia’ ainda prevalecente de Universidade, assim como a definição do papel do professor, se originou na Alemanha ao longo do século XIX. Além do mais, foi nas universidades alemãs, mais que em qualquer outra parte, que os campos principais de investigação científica se converteram em ‘disciplinas’, com metodologias especializadas e conteúdos sistematicamente determinados.” (Ben David & Zloczower, 1980: 46).

Entre os autores que não confundem as histórias das disciplinas com a história das  preocupações com determinado tema, posteriormente apropriados por aquelas que em torno dele se instituíram, poderemos encontrar alguma variação nessas precisas coordenadas indicadas por Ben-David e Zloczower, mas nada tão flexível a ponto de nos deslocar para lugares situados muito além das fronteiras que viriam a definir o próprio território alemão, nem tampouco para nos distanciar demasiadamente dos anos Oitocentos.

Muitos são os nomes que poderíamos aqui evocar para conferir lastro ao que estamos dizendo Para alguns deles, nem precisaríamos fazer maiores indicações bibliográficas, tal a unanimidade de reconhecimento de que desfrutam, como por exemplo: R. K. Merton, J. Murgueza, J. Bernal, T. Kuhn, G. Sarton, B. Barnes , A. Koyré, S. Toulmin, P. Feyereband, I. Lakatos, A. Lenoble, G. Bachelard ...

Além destes, há um conjunto de autores, cuja produção mais recente dedica-se ao exame das trajetórias de constituição de algumas disciplinas específicas, que também poderiam ser aqui evocados por causa do reforço de qualidade que seus argumentos ofereceriam às teses que estamos expondo. Nos referimos aos trabalhos de Jerónimo Bouza (2002), Pere Sunyer (1996) ou de Vicente Casals (1996), e também aos cuidadosos estudos introdutórios que Emilio Martinez (1999)[2] preparou para a versão espanhola da obra de Robert E. Park, o famoso sociólogo da Escola de Chicago e “inventor” da ecologia humana.

Para os propósitos da síntese que aqui apresentamos, não é o caso de prosseguirmos com esse desfile de autoridades e estudiosos do tema[3] que confirmam essa “identidade científica” dos Oitocentos, consagrada na famosa frase do filósofo Garcia-Borrón: “O século XIX, no âmbito sócio-econômico, é o século da Revolução Industrial, e no âmbito acadêmico, o século da ciência (natural), e também o século da história.” (Garcia-Borrón, 1986: 235)

Essa referência ao século da ciência (natural) e da história (“no âmbito acadêmico”), pode ser entendida como indicação aos processos de afirmação das disciplinas vinculadas aos dois campos de conhecimento que institucionalmente (academicamente, ou cientificamente, se se preferir) naqueles anos se afirmavam. A história a que se refere Garcia-Borrón, evidentemente não é a da seqüência de fatos e acontecimentos, verdadeiramente importantes, que tiveram lugar naquele século, ou ao menos não se restringe a isso. Refere-se ao historicismo, horizonte epistemológico estabelecido a partir de Herder (“o Copérnico da História”, na definição de Ernst Cassirer[4]) e de outros, como Leopold Von Ranke (por muitos considerado como precursor do cientificismo em história), e ao qual se atribui a produção de fértil descendência, particularmente o advento de diversas das modernas ciências sociais. “Herder — como nos indica Cuvillier (1970: 43) — anuncia ao mesmo tempo a Filosofia da História (1837) de Hegel, e a Antropogeografia de Ratzel”. Da primeira, inúmeros sociólogos (Schoeck, 1977 e  Bottomore, 1978,  p.e.) afirmam que descende a própria sociologia. Da segunda parece não haver dúvida de que descende ao menos a geografia (humana). Porém, dos debates, estranhamentos e ajustes promovidos entre todas elas, e particularmente com esta última, consolidaram-se as demarcações dos territórios cognitivos pretendidos por várias das disciplinas integrantes desse campo “histórico”.

Das histórias que esses cientistas sociais nos contam de si próprios é possível obter farto material de apoio a essas teses, bem como extrair elementos suficientes para produzir bons argumentos de ratificação dessas matrizes comuns a todas elas. Em meio às muitas informações, envolvendo pensadores, escolas, épocas e lugares, que sociólogos, geógrafos, historiadores e antropólogos nos fornecem,  ao narrar suas trajetórias de constituição disciplinar, chamam a atenção algumas lacunas e vícios, igualmente comuns, que apenas reforçam os liames que jamais deixaram de existir entre elas.

Resta-nos conferir isso na síntese das histórias disciplinares pesquisadas e que a seguir relatamos. Iremos direto para as histórias que antropólogos, sociólogos e historiadores nos narram de si próprios. Dessa vez, contornaremos as abordagens que fazemos, nós os geógrafos, de nossa própria história.

Considerando os propósitos desta comunicação e o ambiente do Colóquio que a abriga, uma nova incursão à história da geografia apenas reforçaria os argumentos que nos conduziram a adotar como referência, para a história das ciências sociais, aquele período compreendido entre os anos 1880 e 1920, ao qual já nos referimos nas partes introdutórias deste trabalho. Há, no entanto, e ainda considerando o caso específico da geografia, alguns autores, entre os quais gostaríamos de mencionar explicitamente F. K. Schaefer, H. Capel, D. R. Stoddart e C. Raffestin que em conhecidos trabalhos dedicados à reflexão das identidades e da história da geografia, bem como a temas correlatos, acabaram nos chamando a atenção para alguns elementos de nossa própria história que, por fim, produziram o quadro de referências teóricas com as quais passamos a observar, muito interessadamente, também as histórias dos outros, considerando, inclusive, o potencial de elucidação aí residente, para a compreensão de nossas próprias identidade e trajetória. A cada um desses autores seria possível associar aqui, de maneira muito breve e resumida, as idéias-chave que para nós converteram-se em referência de análise para a leitura de qualquer história dos que postulam reconhecimento acadêmico, institucional e científico: de Schaeffer (1988), a discussão sobre o “excepcionalismo em geografia”, chamando a atenção para o fato de não haver nada de especial, ou “excepcional”, nos nossos dilemas identitários, nem nas nossas relações com os “determinismos” dos objetos que escolhemos para estudar; de Capel (1981 e 1994), a precisão do advento disciplinar, com realce para as personalidades que criaram escola, para o peso das institucionalidades, das corporações e das associações profissionais, em oposição à preferência mistificadora por aquelas “histórias sagradas” que costumam associar a existência de uma disciplina, ou de uma profissão, como decorrência de uma revelação quase mística da importância de seu objeto “normalmente experimentadas depois de longas viagens pelo exterior”; de Stoddart (1986), a sua referência à geografia das grandes questões que nossos autores mais clássicos praticavam e, consequentemente, seu lamento pela perda ou abandono da constituição de linguagens que verdadeiramente pudessem se comunicar com a realidade, com o intuito de compreendê-la, e o privilégio dado à constituição de artificialismos disciplinares que, embora nos afaste dessa possibilidade (de compreensão), são brindados com o reconhecimento acadêmico e institucional, como é o caso de uma geografia física e uma geografia humana que se ignoram mutuamente; de Raffestin (1988), por ter objetivamente chamado a atenção para a necessária revisão da obra de F. Ratzel, e consequentemente de outros clássicos, ao sugerir explicitamente a necessidade de “descobrir” (“já que não se trataria de redescoberta”)[5] a obra do pensador alemão, caracterizada por Raffestin como “um momento pesado da epistemologia geográfica”, cujo enfoque ecológico, sobretudo o formulado em sua geografia política sugere “uma estrutura conceitual que capacita os acadêmicos e pesquisadores, tanto das ciências físicas (p. ex. os biólogos, químicos, geólogos e geógrafos) como das ciências humanas (p. ex. antropólogos, demógrafos, economistas, geógrafos, políticos e sociólogos), a reconciliar conceitos disciplinares e métodos de pesquisa divergentes.” (Raffestin & Lawrence, 1990: 103).

Estabelecidas as referências e feitas as recordações, prossigamos com a “viagem”.

A história da antropologia que os antropólogos nos contam de si próprios

Seria possível ordenar, segundo variados critérios (dos cronológicos aos epistemológicos) os que se dedicaram, especificamente ou por circunstâncias de suas abordagens, à história da antropologia. Entre estes, há alguns clássicos, por todos reconhecidos  — T. Penniman, R. Lowie e A. C. Haddon, p.e —, que em obras das primeiras décadas do século XX reuniram alguns dos principais ingredientes que veremos se reproduzirem em outros textos e autores que trataram do tema, incluindo as diferenças de ênfases e perspectivas que já se poderiam notar naquelas abordagens mais clássicas. É o próprio Lowie quem nos dá a pista do alcance e dos limites dessas diferenças, afirmando textualmente que com sua História da Etnologia, originalmente publicado em 1937, pretendeu fazer um contraponto a duas conhecidas abordagens: a de Penniman, publicada em 1935, que ele diz ser excessivamente biológica, e a de Haddon (1910) cuja History of Anthropology teria deixado de fora muita gente importante (Lowie, 1946: 9).

Independentemente das personalidades trazidas por Lowie para essa história, que não seria o caso de indicá-las aqui nesta síntese, ou dos marcos que ele adota para contá-la – “qualquer ponto de partida é arbitrário...” (op.cit: 21), conforme o próprio autor –, de fato ai já se revelam algumas das concepções recorrentes e das discussões que farão parte de uma boa e respeitada fatia das abordagens históricas da antropologia às quais tivemos acesso.

A história vista como sucessão de personalidades (majoritariamente) ou como uma seqüência de conformações institucionais (acadêmicas e científico-pofissionais), ou, ainda, como um resultado (mais e menos) equilibrado dessas sucessões, ao lado dos dilemas identitários (proporcionado pelos interesses que se repartem entre antropologias físicas — ou biológicas — e sociais — ou culturais), são características que ressaltam em uma primeira aproximação.  Mas a polêmica acerca do começo da disciplina, consequentemente dos pensadores que a iniciaram (de filósofos da antigüidade grega, como Aristóteles, a expoentes do iluminismo francês — Montesquieu, Voltaire e Rousseau —, passando por figuras do mundo árabe, como por exemplo Ibn Kaldhoum ou Al Biruni), além de uma notável convergência de todas as histórias para os anos Oitocentos, particularmente no caso  daqueles que em algum momento sugerem claras separações entre a história da disciplina e a do pensamento que lhe dá suporte, serão também outros elementos recorrentes nessas narrativas.

De fato, seja em textos mais antigos, como os do mencionado Haddon (1910) seja em  manuais históricos mais recentes como de P. Mercier (1969), de M. Duchet (1975), F. Voget (1975), A. Barnard (2000), J. Caro Baroja (1985), entre muitos outros autores de obras voltadas especificamente à reconstituição histórica da antropologia que poderíamos mencionar, os aspectos recorrentes dessas narrativas poderão ser verificados. Particularmente rico será também o debate em que veremos muitos deles se envolverem acerca especificamente sobre a qual dos dois períodos mais recentes de nossa história — o século das luzes ou o “século da ciência” (cf. Garcia-Borrón, 1986) — caberia a primazia de reivindicar-se como origem dessas histórias.

Entre os diversos autores consultados, há uma certa inclinação pelo século XIX, ou ao menos pelos “entornos” que lhes são mais próximos, e destes, não teríamos dúvida em afirmar, que dos textos mais clássicos e especificamente voltados para a história da antropologia, o de Penniman, independentemente das críticas que a ele se possam oferecer, poderia ser apontado como aquele que reuniria, e com razoável dose de equilíbrio, o conjunto de elementos que todos admitem como fazendo parte dessa história.

O próprio título da obra,  Hundred Years of Anthropology,  já pode ser considerado como expressão dessa convergência para o século XIX. A primeira edição do livro de Penniman é de 1935. Nele o autor atribui aos diversos períodos da história da antropologia denominações que por si só indicam a contribuição que cada um deles teria aportado para o estabelecimento da disciplina. Tudo o que se passou antes de 1835, desde as contribuições de filósofos e naturalistas da Grécia antiga, Penniman denominará de Formulary Period. A partir de 1835 e até o ano de publicação do Origem das Espécies, em 1859, é que na opinião do autor a antropologia inicia efetivamente seu percurso científico e  com identidade própria. O capítulo dedicado a este período, Penniman denomina de The Convergent Period e este é aberto simplesmente com a seguinte afirmação: “The history of a hundred years of Anthropology properly begins with this chapter...” (Penniman, 1952: 66). Naquele momento, segundo Penniman, “begans a series of movements and investigations which prepared the civilized world to recognize an integrated science of Man in evolution” (op.cit.: 60). Alguns desses fatos mencionados por Penniman são: fim da escravidão nos domínios do Império Britânico (1834); fundação da “The Aborígines Protection Society”, em 1837 por Thomas Hodgkin; fundação da “Société Ethnologique de Paris”, em 1838. Com relação especificamente ao ano de 1835, Penniman destaca “the turning point” (p.70) da carreira de Charles Darwin, por causa da famosa visita às Ilhas Galápagos.

As necessárias combinações entre fatos e elementos da institucionalidade acadêmica-científica, típicos do século XIX, com as bases do desenvolvimento cognitivo e acontecimentos históricos importantes, que em qualquer tempo e lugar podem contribuir, ou não, para a configuração de preocupações temáticas apropriadas pelos diversos campos disciplinares, estão presentes na obra de Penniman. Tais combinações podem ser adotadas como referências, pois, da maior ou da menor importância que os diversos autores conferem a cada um deles, parece depender o afastamento ou aproximação não só em relação ao século XIX, como também em relação à clareza com que distinguem a história disciplinar da história do pensamento que lhe dá suporte.

De fato, como pudemos constatar, quanto maior a importância conferida pelos autores à questão da institucionalidade e quanto maior a vontade (ou a capacidade) por eles demonstrada em distinguir, de um lado, a história dos progressos havidos nas teorias do conhecimento do homem e, de outro, os estabelecimentos disciplinares que se dedicaram a estudá-lo, mais avançado no transcurso do século XIX será a localização sugerida por esses autores para o advento disciplinar da antropologia. Alguns, inclusive, radicalizarão tais indicações para o final do século ou até mesmo para o começo do século XX, como o já mencionado Lowie (1946) e outros antropólogos de prestígio como os conhecidos Clifford Geertz (1989) e Alfred Radcliffe-Brown (1975).

Em um dos textos mais recentemente produzidos sobre o tema — El hombre como problema (Bouza, 2002) —, encontramos uma espécie de síntese equilibrada e ousada para o conjunto de elementos que estamos indicando. Equilibrada, por causa dos evidentes diálogos que o autor, Jerónimo Bouza, desenvolve com várias das personalidades e concepções históricas que estamos mencionando; ousada, por indicar com precisão momento e lugar do advento da disciplina: “Consideramos 1859 y París como la fecha y el lugar de origen de la antropologia como ciencia” (Bouza, 2002: 63).

A disposição para o diálogo, em especial com abordagens como as propostas por Penniman, nas mais variadas versões e adaptações, evidencia-se em sugestões do tipo: “todo lo acontecido antes de 1859, creemos que debe considerarse (...) más como ‘pré-historia’ que como historia de la antropologia” (Bouza, 2002: 47).

Mas no caso da antropologia, o peso da institucionalidade, argumenta Bouza, é decisivo para sua conformação disciplinar. E é isto que o leva à precisão das coordenadas de tempo e espaço mencionadas, pois naquele ano de 1859 combinaram-se em exata medida os ingredientes cognitivos e acadêmico-profissionais necessários ao advento disciplinar: “y no solo porque fue el año de la fundación de la Société d’Anthropologie de Paris, sino tambiém porque fue entonces cuando las teorías basadas en los trabajos de Boucher de Perthes en torno de la antigüedad del hombre, comenzaron a ser aceptadas; y es también el momento de la publicación de On the Origin of Species, de Darwin...” (op. cit.: 47).

Claro que as possibilidades de narrativas históricas da antropologia e, consequentemente, dos pontos de vista e dos ingredientes a serem considerados, não se esgotam com esses autores que estamos mencionando. Há inúmeros outros, muitos deles com enorme prestígio entre os antropólogos ou entre quaisquer pessoas medianamente informadas acerca da antropologia e de seus profissionais, em cujos trabalhos, por circunstâncias de seus desenvolvimentos, ou por necessidades impostas pela condução de suas reflexões, fizeram importantes referências às histórias particulares da antropologia que obrigatoriamente também devem ser consideradas, no mínimo para ampliar o leque de referências e fortalecer o lastro de qualquer abordagem histórica da disciplina. Assim , é claro, que em nossas incursões, extraímos também importantes referências à constituição histórica da antropologia ou à demarcação de seu campo de atividades, das obras de antropólogos como Claude Levi-Strauss, Maurice Godelier, ou do brasileiro Darcy Ribeiro, entre outros. Mas, para os propósitos desta síntese, tais referências seriam desnecessárias. Não acrescentariam maior diversidade ao que já esboçamos.

Porém, há dois outros, Josep Llobera e Georges Balandier, cujos aportes seriam importantes de ainda aqui incluir. Ao lado das muitas indicações que conseguimos extrair dos vários antropólogos historiadores que consultamos, a insistência particular destes dois últimos, em nos alertar para os equívocos promovidos pela distinção dos campos em  ‘antropológico’ e ‘sociológico’, cf. Balandier (1975), ou, mais ampliadamente, “de que as ciências sociais e humanas compartilham do mesmo marco explicativo”, cf. Llobera (1980: 59), poderiam ser muito bem utilizadas para adiantar uma espécie de síntese conclusiva dessa nossa incursão pela história da antropologia, ou pelas histórias das outras ciências sociais cujas sínteses a seguir relataremos. As omissões corriqueiras de fatos e de episódios, sobretudo os relacionados àqueles debates do final do século XIX, envolvendo personagens históricos das diversas ciências sociais em constituição, ao lado das inúmeras revelações (de personalidades comuns a todas as histórias disciplinares) e das apropriações corporativas (dessas mesmas personalidades), indicam o forte viés de afirmação profissional em que tais histórias pretendem se apoiar e, paradoxalmente, acabam chamando a atenção para o igualmente forte potencial de diálogos e de compartilhamento de interesses e de objetivos que também podem se desenvolver entre elas.

A história da sociologia que os sociólogos nos contam de si próprios

É evidente o realce dado à questão institucional e às influências das sociedades científicas, para a conformação da antropologia, nas histórias que acabamos de sintetizar.

No caso da sociologia, no entanto, e em uma primeira aproximação, parece acontecer o contrário. Ou seja, o debate sobre o papel e a importância das instituições, tais como associações profissionais, universidades etc., para a existência da disciplina, como veremos, igualmente existe aqui, porém, é inegável que as referências ao papel das personalidades e dos seus pontos de vista na condução desse estabelecimento disciplinar, apresentam um sensível destaque nas histórias que os sociólogos nos contam de sua ciência social.

As diferenças entre as próprias origens dos termos que identificam as disciplinas, poderiam explicar parte disso. Enquanto a palavra antropologia se perde no tempo, graças à sua possível origem grega (Caro Baroja , 1985), o vocábulo sociologia, ao contrário, é de origem bem datada e de paternidade igualmente bem conhecida[6].

O vínculo de naturalidade com um personagem do porte de Augusto Comte, já parece determinar boa parcela dos rumos que observamos nas conduções das narrativas históricas que diversos sociólogos produziram sobre a sociologia, incluindo a oportunidade que essa referência proporciona, tanto para os críticos como para os adeptos dos fundamentos positivistas e cientificistas da sociologia de Comte, de enumerar as diversas outras personalidades, com seus variados horizontes epistemológicos (de oposição ou de adesão, nos mais variados matizes, com relação ao positivismo), que de acordo com suas convicções teriam contribuído para a história e a consolidação dessa disciplina.

Sintoma desse privilégio concedido ao papel dos “pais fundadores”, é o fato de que em nossas incursões pelo “território” de mais essa outra ciência social, chamou-nos a atenção o significativo número de sociólogos, historiadores da sociologia ou que a essa história nos remetem por circunstâncias de seus trabalhos, preocupados em elaborar listas ou até mesmo estabelecer um ranking das personalidades que mais teriam contribuído para a sua conformação disciplinar. Observamos isso, desde em interessantes trabalhos inéditos, aos quais tivemos acesso (López Yañez, s/d), como em obras e autores considerados clássicos ou que são vistos como referências obrigatórias para quem queira se aventurar pela história da disciplina.

Nas edições recentes das obras de autores de filiações teóricas das mais diversas, tais como S. Giner (1989), R. Nisbet (1996), G. Ritzer (2001), G. Gurvicht (2001), T. Bottomore (1978), entre outros, verificamos esse tipo de preocupação em garantir um lugar de destaque, nas listas dos fundadores ou dos que teriam conferido “cientificidade” à sociologia,  àquela (s)  personalidade(s) de predileção dos autores desses textos-referência. Com isso, garantem também, e talvez seja esse o principal objetivo,  papel de importância às escolas de pensamento representadas por tais personalidades, na conformação da própria sociologia

Entre esses autores há desde aqueles que consideram a sociologia como obra exclusiva do ambiente produzido pelas escolas que poderiam ser vinculadas aos diversos matizes positivistas da primeira metade do século XIX (daí afirmarem, categoricamente, como o faz  Salvador Giner, o papel de fundação da sociologia como sendo obra exclusiva de Comte, Saint-Simon, Marx e Stuart Mill — Giner, 1989: 10), como também há, os que preocupados em realçar os momentos de aquisição de um padrão científico, preferem associar a conformação disciplinar aos pensadores situados no outro extremo do ambiente oitocentista, como faz, por exemplo, Nisbet (1996, vol. 1), ao afirmar que os quatro que mais contribuíram para dar forma sistemática a teoria sociológica foram Ferdinand Tönnies, Max Weber, Émile Durkheim e Georg Simmel.

Inúmeras outras variações, poderíamos ainda aqui mencionar, sobretudo se evocássemos, entre os diversos autores pesquisados, particularmente os vinculados a histórias regionais da disciplina , ou, então, os que embora igualmente vinculados a agrupamentos regionais, converteram-se em referências ampliadas para a teoria sociológica e para a compreensão de sua disciplinarização, como foi o caso das Escolas de Chicago e de Frankfurt. Mas isso, não acrescentaria muitas novidades, nem nos levaria muito além desses parâmetros de tempo, espaço e escolas de pensamento, pensadores e teorias, que os períodos abrangidos tanto por essas como por todas as outras referências mencionadas até aqui nos indicam. Ou seja, guiados por sociólogos, na recomposição histórica da sociologia, somos levados a percorrer trajetórias cujos limites não extrapolam quase nada além de coordenadas que se posicionariam entre os seguintes extremos: do positivismo ao funcionalismo, ou do romanticismo ao historicismo, e das personalidades que de Comte a Weber, ou de Marx a Durkheim, poderiam ser identificadas com os matizes dessas escolas e dos horizontes epistemológicos que elas definem.

Apesar, no entanto, da importante circunscrição que aí se verifica, coincidente com o “século da ciência”, sabemos que apenas a contribuição dos pensadores mencionados ou dos desenvolvimentos das escolas e teorias por eles representadas, não seriam suficientes para a consolidação disciplinar da sociologia. Mas, justiça seja feita, alguns dos textos-referência que consultamos, apesar do menor destaque, indicam também preocupação em apontar para aqueles ingredientes institucionais, acadêmico-profissionais ou relacionados aos litígios disciplinares, sem os quais a sociologia não teria se estabelecido. Em Ritzer, por exemplo, há importantes menções aos atritos disciplinares produzidos pelo fato da sociologia ter conquistado “domicílio disciplinar” apenas no final do século XIX com Durkheim (que assumiu pioneiramente uma cadeira de sociologia na universidade francesa), e em especial às oposições procedentes da psicologia e da filosofia que, segundo o autor “jactavam-se de cobrir o domínio que para si reclamava a sociologia” (Ritzer, 2001: 224). Outras menções a esses aspectos decisivos para a conformação disciplinar, mesmo que tratados secundariamente, também as encontraremos em Bottomore (1978) e Giner (1989), que manifestam preocupação em pelo menos fazer alusões a aspectos dos debates em que estiveram envolvidos os representantes das diversas disciplinas em conformação no final do século XIX.

Para ampliar de fato as referências a esse conjunto de questões, que envolvem das instituições acadêmico-científicas aos aspectos relacionados às disputas corporativas e profissionais, será preciso agregar algumas outras inúmeras produções de sociólogos, cujas obras, embora desfrutem dos mais variados graus de respeitabilidade, não necessariamente figuram entre aqueles títulos considerados mais clássicos ou de referência obrigatória para quem queira recompor a história da sociologia. A vários deles recorremos.

Entre os exemplos adicionais que mencionaríamos para ilustrar esses casos destacaríamos as obras de A. Cuvillier, H. Schoeck, J. Freund ou G. D. Mitchel, além de uma coletânea recentemente organizada por S. del Campo Urbano. Dos quatro primeiros, poderíamos extrair contribuições muito importantes para fortalecer o peso das questões acadêmico-institucionais na conformação disciplinar da sociologia: Cuvillier (1970) e Schoeck (1977), independentemente dos vieses febvrianos emprestados às suas abordagens, não deixam de considerar a importância dos debates e dos enfrentamentos das fricções disciplinares, particularmente as que envolveram as ciências sociais na virada dos séculos XIX para o XX; Freund (1975), por sua vez, destaca a importância que a fundação da Universidade de Berlim (inaugurada em 1810, hoje chamada Universidade Humboldt de Berlim), desempenhou ao abrigar institucionalmente as idéias que confeririam desenvolvimento autônomo para as disciplinas emergentes das ciências humanas, entre elas a sociologia; e G. Duncan Mitchel (1973), em um livro originalmente intitulado A Hundred Years of Sociology, (escrito em março de 1968), lembra-nos o clássico de Penniman (mencionado no item anterior), não só por causa do título semelhante, mas também por oferecer um certo equilíbrio na dosagem dos ingredientes necessários ao entendimento da conformação disciplinar — institucionalidade, profissionalismo, preocupação associativa, além da base cognitiva —, inusual para a maioria dos autores que consultamos.

Por fim, para completar essa síntese de nossa incursão pela história da sociologia, não poderíamos deixar de fazer uma breve referência também ao livro organizado por Salustiano del Campo (2000), A Intitucionalização da Sociologia (1870-1914), no qual eminentes sociólogos de diferentes países dedicaram-se a traçar um panorama geral exatamente das histórias dos processos de institucionalização científico-disciplinares vividos pela sociologia em diversas regiões do globo.

O mérito na precisão do período definido pelo livro de Del Campo — as décadas de virada do século XIX para o XX —, a ênfase adequada nas dimensões da institucionalidade, as personalidades comuns reveladas, as possíveis omissões etc., fazem desse livro sintético, principalmente quando observamos o conjunto de seus capítulos, um bom guia de indicação acerca dos ingredientes com os quais é preciso contar para produzir um processo de institucionalização disciplinar: personalidades fundadoras, idéias, associações e adesões profissionais, reconhecimento social, objetivos e metodologias específicas, contextos históricos e políticos favoráveis.... E isso vale para qualquer lugar do mundo, é o que nos ensinam os diversos capítulos desse livro dedicado aparentemente a histórias regionais da sociologia, pois as revelações do alcance das personalidades dos centros difusores ou das “forças intelectuais” (cf. Ritzer, 2001, ao se referir ao papel das sociologias francesa, alemã, britânica e italiana, para a conformação da Teoria Sociológica) e das escolas de pensamento, além da coincidência temporal e dos ingredientes de institucionalidade, verificados em todas as regiões contempladas pelo livro, não só aproximam todas as “histórias regionais” da sociologia — reveladas, antes de mais nada, como regionalizações de processos gerais e comuns —, como também aproxima essa história geral daquelas produzidas pelas outras ciências sociais, reafirmando o acerto do “alerta” sintetizado naquela frase de Llobera que utilizamos para concluir o item anterior: “as ciências sociais e humanas compartilham do mesmo marco explicativo”.

No próximo e último item deste trabalho, que utilizaremos ao mesmo tempo, para concluir esta síntese geral de nossa pesquisa e também dos resultados de nossa incursão pela história da história, faremos algumas outras referências, reveladas nessas incursões pelas três ciências sociais, que reafirmam a nossa desconfiança original de que há muito ainda que conhecer e investigar nesses territórios que só aparentemente já foram totalmente esquadrinhados.

A história que os historiadores nos contam  de sua própria história (e nos ensinam de todas as outras...)

Para alguém de outra área, interessado nas histórias alheias, um  “estrangeiro” como metaforicamente temos qualificado nosso olhar, a expectativa quanto a complexidade das abordagens que se verificariam nas narrativas de antropólogos, sociólogos e historiadores, acerca de suas próprias histórias, seria absolutamente crescente em relação a estes últimos, principalmente considerando a quantidade de fatores e de elementos a serem manejados, e até mesmo os desiguais prestígios sociais de que desfrutam essas diferentes disciplinas.

Porém, logo nos primeiros contatos com os profissionais da área, sobretudo com as obras destes dedicadas a recompor a história da disciplina, todas essas expectativas são frustradas, e positivamente.

Há, por parte da quase unanimidade dos que se dedicam a essa história, uma convergência notável para as primeiras décadas do século XIX, particularmente as que tiveram lugar na Alemanha, em torno da conformação da Universidade de Berlim (1810) e da figura de Leopoldo Von Ranke (1795-1886). Essa convergência se caracteriza inclusive pela menção, também unânime, de uma famosa frase de Ranke, que é por todos repetida à  exaustão —“wie es eigentlich gewesen” (sugerindo descrever as coisas e os fatos “na forma como se passaram”) —, para sintetizar e simbolizar a marca e o rumo das abordagens históricas, a partir do momento (incluindo a indicação de seu autor) em que estas passaram a ter lugar próprio e disciplinarmente autônomo para se desenvolverem. A Universidade de Berlim, segundo nos contam vários historiadores (Novick, 1988 e Gilbert, 1977, p.e), abrigou institucionalmente o espaço criado por esse novo campo independente — o campo da disciplina história — ao qual Ranke teria pretendido dar conformação científica.

Mesmo entre os representantes das diversas escolas do pensamento histórico ou entre seus pólos mais radicalmente opostos (incluindo aqueles que polemizam acerca de seu caráter científico), independentemente até mesmo do período histórico de suas manifestações, ou de suas nacionalidades, é grande a reverência ao ambiente de institucionalidade das primeiras décadas dos Oitocentos na Alemanha, ao papel de Ranke e a seus discípulos, assim como é generalizado o destaque que dos mais variados espectros se confere a esses ingredientes para a conformação da disciplina. E isso pode ser verificado desde em clássicos autores, como Charles V. Langlois e Charles Seignobos, que segundo o famoso Henri Berr (fundador da Revue de Synthèse) foram os responsáveis pela consolidação e desenvolvimento da disciplina na França no final do século XIX, a outros mais recentes, de igual prestígio e oriundos dos mais diversos “estratos” e perspectivas críticas ou nacionais, como Peter Burke ou Peter Novick, ou até mesmo entre aqueles considerados como  os responsáveis pela última grande revolução havida na historiografia moderna (a “revolução historiográfica francesa”, cf. Burke, 1996): Lucien Febvre, Marc Bloch e Fernand Braudel, os maiores expoentes da Escola dos Annales.

Ranke,  informa-nos esse conjunto, não só foi abrigado pela Universidade fundada por W. Humboldt, onde pôde construir o caminho autônomo da disciplina, como sabemos, mas envolveu-se também com a direção de uma revista de divulgação científica — voltada para a produção de temas histórico-políticos e para “combater as influências francesas” — já nas primeiras décadas do século XIX, informa-nos G. P. Cooch (1948), no estudo introdutório de uma reedição de um texto do próprio Ranke; e, o que é mais curioso, foi oficialmente eleito como “the father of historical science”, em 1885, pela Associação Americana de Historiadores (cf. Iggers, 1998: 32).

Na Universidade de Berlim, Ranke permaneceu até 1871 e segundo o célebre Edward Carr (2003) influenciou gerações de historiadores da Alemanha, França e Inglaterra, ao longo de todo o século XIX e começo do XX.

Já para o final do século XIX e nas décadas iniciais do XX, a despeito da permanência das influências de uma escola de abordagem histórica pretendidamente científica, “restritas aos fatos e ao modo como estes aconteceram”, organizam-se mais fortemente outras escolas e perspectivas de análise críticas representadas pelos agrupamentos que se aglutinariam em torno da Revue de Synthèse, fundada em 1900 por Henri Berr, e, posteriormente, em torno dos Annales d’Histoire, fundados, em 1929, por alguns dos dissidentes daquela (Febvre e Bloch).

Segundo Peter Burke (1996) e outros, esses episódios poderiam ser tomados como referência para caracterizar as diversas etapas que contribuíram para a consolidação da disciplina, em um período que vai de Ranke à “revolução da nova historia” protagonizada pela denominada École des Annales.

Da “rotação copernicana”, promovida por Ranke (Cassirer, 1979) à “revolução historiográfica francesa”, a que se refere Burke, as tendências diversas da moderna e da antiga historiografia, que afinal deram formato à disciplina, firmaram-se em torno de algumas idéias-chave, que se poderiam expressar das seguintes maneiras (já devidamente associadas a alguns historiadores que todos seguramente considerariam representativos das mesmas): “a história como de fato ocorreu” (Ranke); “toda história é história do presente” (Benedetto Croce);   “toda história é história das idéias” (R. G. Collingwood); “toda história é escolha” (L. Febvre); “a história é ciência de síntese pluridisciplinar” (Berr, Vilar, Febvre...)..., entre muitas outras variações e combinações dessas mesmas idéias.

Diante das complexidades dos debates que sabemos existir em torno da história  —da disciplina às perspectivas de análise, ou dos fatos às concepções do próprio fato histórico — o que surpreende é precisamente essa possibilidade, proporcionada pelos historiadores, de sintetizarmos com certa precisão tais complexidades. Isso, em grande parte se deve ao fato de que a despeito das confusões que o vocábulo história poderia suscitar (a palavra história refere-se aos fatos, à narração dos fatos e à ciência que os estuda), os historiadores, talvez pela própria condição e dever de ofício, parecem prezar a distinção dos significados, estendendo esse rigor para a própria distinção entre a história da disciplina e a história do pensamento que lhe dá suporte. As unanimidades que conseguimos extrair acerca das referências histórico-disciplinares da história, considerando os episódios, personalidades e fatos relatados, são uma evidência de como tal postura, independentemente das convições teórico-metodológicas e das perspectivas da abordagem histórica de seus autores, é um fato disseminado entre os historiadores, revelando-nos um possível perfil de comportamento que é próprio da profissão.

Há, no entanto, um outro aspecto igualmente muito presente, senão de maneira unânime, pelo menos em uma quantidade superior a que pudemos constatar nas outras histórias disciplinares que investigamos, que faremos menção, por fim, inclusive pela oportunidade que esse aspecto, conforme anunciamos, proporciona para sintetizarmos algumas conclusões da própria pesquisa a que nos entregamos.

Entre os historiadores, vários deles convertidos já em personagens da própria história da disciplina, há indicações reiteradas que nos sugerem não haver advento disciplinar isolado, sobretudo no campo das ciências sociais. Os esforços que nas outras histórias encontramos nas “exortações” isoladas de um Balandier ou de um Llobera (“as ciências sociais e humanas compartilham do mesmo marco explicativo”), entre os historiadores parecem se constituir em fatos mais disseminados, não restritos apenas aos apelos teóricos, e que se evidenciam nas extensas análises que muitos deles dedicaram precisamente à administração dos conflitos e diálogos interdisciplinares provocados pela demarcação do território cognitivo pretendido pela história e, consequentemente, pelas demarcações dos outros territórios cognitivos.

Em praticamente todos os grandes historiadores que mencionamos até aqui, autores de textos que podem ser considerados como referências, dedicam-se extensas análises precisamente a essa questão. Personalidades do porte de um Henri Berr, Lucien Febvre, Marc Bloch, Fernand Braudel ou Pierre Vilar, ou, mais recentemente, Peter Burke, Peter Novick ou Felix Gilbert, todos esses, e particularmente nos textos que indicamos na bibliografia, não deixam de tocar abertamente nos conflitos desencadeados e nas acomodações exigidas nas “fronteiras” disciplinares. Assim, muitos daqueles pensadores  que ou não freqüentam as páginas das outras histórias disciplinares, ou que freqüentam exclusivamente aquelas que deles apropriaram-se corporativamente, têm aqui, nas abordagens desses clássicos da história, lugar garantido. São, assim, praticamente elevados à condição de personagens históricos de todas essas histórias disciplinares, graças, paradoxalmente, às abordagens que particularmente os historiadores fazem de sua própria história disciplinar.

Alguns historiadores consagraram obras inteiras quase exclusivamente a esse debate. É o caso da muito conhecida, especialmente entre os geógrafos, La Terre et l’Évolution Humaine de Lucien Febvre, publicado originalmente em 1922, que sequer é vista por muitos como obra que se dedica às “fricções disciplinares” do começo do século XX, quando as ciências sociais consolidavam seus “territórios”; e raramente (com exceção de geógrafos e alguns poucos autores de outras áreas) é incorporada às bibliografias de quaisquer das histórias das disciplinas que investigamos, incluindo a da própria história.

No caso dos historiadores, às voltas com a história de sua própria disciplina, dá-se preferência à inclusão de outro livro de Lucien Febvre: Combates pela História (Febvre, 1970). Esse livro, além de outras características, notabilizou-se pelas exortações aproximativas entre as disciplinas, pela insistência na necessidade de cooperação entre elas, pela crítica à excessiva especialização e ao isolamento, desenvolvido particularmente entre as ciências sociais. Um dos capítulos denomina-se, por exemplo, “Contra o espírito de especialidade”, e nele lê-se: “Façamos uns e outros, quando houver ocasião, tratados e manuais de nossas respectivas ciências: é uma necessidade prática. Mas estes só terão valor humano quando  forem animados pelo amplo espírito de unidade científica que, precisamente, a Encyclopédie quer proporcionar e proporcionará.” (Febvre, 1970: 161). Para especificamente os historiadores, Febvre aconselha: “Voltem suas costas convictamente ao passado, vivam primeiro. Mesclem-se com a vida. Com a vida intelectual, indubitavelmente em toda a sua variedade. Sejam geógrafos, historiadores. E também juristas, e sociólogos, e psicólogos...” (ibid.: 56)

O fato é que no livro geralmente excluído das histórias disciplinares, La Terre  ..., a exortação tinha um sentido completamente diverso e a favor da afirmação especializada da sociologia, da história, da geografia, que deveriam se fundar em “objetivos modestos, marcha prudente”, avessos ao “espírito de generalização” (Febvre, 1925: 65).

Mais do que contradições, revelam-se aí contextos e platéias diferentes, objetivos e propósitos diversos. La Terre... interveio justamente em um momento de consolidação da afirmação institucional das disciplinas, de auge do litígio disciplinar que envolvia sociólogos, geógrafos, antropólogos e historiadores do início do século XX. Já os textos reunidos em “Combate pela História”, são de um momento posterior a essa “tempestade”, em que os territórios cognitivos afirmados já poderiam, e deveriam, pensar em flexibilizar suas fronteiras.

A preferência dos historiadores por este último texto, ao mesmo tempo que reafirma algumas daquelas idéias-chave, reveladoras das parcialidades presentes nos trabalhos históricos, evidencia o fato de que os historiadores, afinal, também compõem um grupo profissional, com interesses corporativos e disciplinares, semelhantes a quaisquer outros. Porém, importante sublinhar, agrupam-se para fazer, profissionalmente, qualquer história, inclusive a de sua própria disciplina. Dessa forma, diferentemente das outras histórias disciplinares, circunstancialmente realizadas por profissionais da antropologia, sociologia ou geografia que a elas se dedicam, aquelas que são produzidas pelos historiadores, em muitos casos têm o mérito de chamar a atenção para as próprias edições de episódios cometidas, ou para os critérios de seleções de fatos que foram adotados e quais as idéias que estão sendo efetivamente defendidas, sobretudo por causa da generalizada e mais aberta abordagem dos conflitos disciplinares, aos quais qualificado e expressivo número de historiadores, como dissemos, se dedicam. Tais atitudes, acabam revelando, por fim, que consolidar fronteiras corporativas não necessariamente garante consolidação de fronteiras epistêmicas. Pelo contrário, pode ser que a insistência na afirmação das primeiras revelem as fragilidades das segundas, ou indiquem receios quanto a sua vulnerabilidade.

Que todas as histórias disciplinares estão sujeitas aos vieses corporativos, isso é óbvio; que esses vieses implicam em omissões, obliterações etc., é igualmente óbvio.

Mas, com os historiadores não só adquirimos a consciência de tais expedientes, como aprendemos a necessidade de explicitá-los. Isso permite que, independentemente das nossas preferências ou das idéias que pretendemos defender, e que as edições das histórias que contamos permitem veicular, tanto aqueles fatos (passíveis de interpretação, ou de seleção), como aqueles personagens (passíveis de apropriação, ou de omissão), que as diversas histórias disciplinares revelam como sendo potencialmente comuns a todas elas, possam assim, — como ingredientes compartilhados —, serem observados por aqueles que manifestem a disposição, ou a intenção, de defender essa idéia de aproximação, de estreitamento de relações.

Nas histórias que percorremos, de Herder a Robert Park (o sociólogo “inventor” da ecologia humana e fundador da Escola de Chicago), ou de Blumenbach (um personagem comum à antropologia e à antropogeografia) a Henri Berr (o historiador que tentou colocar em prática a idéia de uma ciência de síntese que os geógrafos vivem apregoando em teoria), ou, ainda, de Ratzel a Febvre, e de Durkheim a Pierre Villar, inúmeros seriam os personagens comuns que encontraríamos em todas elas, sem nem mesmo termos que apelar para aqueles “pré-históricos”, normalmente identificados por referências científico-disciplinares que sequer existiam antes dos anos Oitocentos. Investir na descoberta dos fatos e episódios comuns que a referência a esses personagens, ora exemplificados, nos possibilitam, seria uma escolha não só possível,  mas também legítima, segundo o leque de alternativas que as idéias-chave das vertentes históricas prevêem como aceitáveis. Partiríamos de fatos, cometeríamos interpretações e defenderíamos pontos de vista. Ou seja, faríamos uma  história comprometida com idéias de reaproximação, uma vez que, tudo leva a crer, e os historiadores nos ajudaram a entender e a desvendar isso, as histórias disciplinares, antes de serem criações absolutas, são dissidências  de uma matriz comum, em parte equivocadas e em parte corretas. Sem as dissidências muito do conhecimento aprofundado e conquistado, não teria se produzido. Porém a radicalização das mesmas prejudicou a necessária manutenção de relações que entre elas deveriam permanecer, e cuja retomada proporcionaria melhor realizar o conhecimento da realidade que atualmente nos cerca.

Por fim, um lembrete: somos conscientes das insuficiências presentes nesta síntese; inúmeros autores ficaram de fora; inúmeros fatos e episódios não mereceram o tratamento adequado, que talvez, mesmo em uma síntese, produzida por alguém de maior talento, pudessem ser contemplados. Mas, “história é escolha...”, e com as escolhas que fizemos e aqui expusemos, cremos que já há um bom ponto de partida para reiniciarmos os debates, indicarmos os equívocos, estreitarmos, enfim, as relações.


Notas

[1] Vários deles estão publicados nas próprias revistas eletrônicas da Geocrítica. Indicamos especificamente os seguintes: Carvalho 1997a, 1997b e 1999.

[2] Todos esses autores e suas obras mencionadas derivam, direta ou indiretamente, de trabalhos de investigação, sobre as histórias das comunidades e das disciplinas científicas, dirigidos por Horacio Capel no Departamento de Geografia Humana da Universidade de Barcelona.

[3] Em artigo recente, Dos Oitocentos ao XXI: cientistas, livros e Internet, tratamos precisamente dessa questão (Carvalho, 2007).

[4] A afirmação está em Cassirer (1979). Para o autor o século XIX caracteriza nova direção para a ciência histórica, uma “rotação copernicana”— conforme suas palavras —, iniciada antes, no século XVIII, com Herder, “o Copérnico da História”. Para Cassirer, portanto, entre o XVIII e o XIX e entre Herder e Ranke não há solução de continuidade.

[5] Claude Raffestin no posfácio da recente tradução francesa  de Politische Geographie afirmou: “Eu escrevi, erradamente, que Ratzel é redescoberto. Mas não, ele é pura e simplesmente descoberto. Ele é a origem de muitas das noções e dos conceitos cujos usos se generalizaram.”. (Raffestin, C. in: Ratzel, 1988: 380)

[6]A quase unanimidade dos historiadores da disciplina admite que a palavra Sociologia aparece pela primeira vez no Cours de Philosophie Positive, na 47ª Leçon (Appréciation sommaire des principales tentatives philosophiques entreprises jusqu’ici pour constituer la science sociale) de Auguste Comte. De fato, conforme pudemos verificar, no quarto volume do Cours de Philosophie… (Comte, 1969), em uma nota de rodapé da página 201, o vocábulo que deu nome à nova ciência foi introduzido pelo filósofo francês.


Bibliografia

BALANDIER, G.. Antropo-Lógicas. Barcelona: Península, 1975. 270 p.

BARNARD, A.. History and theory in anthropology. Cambridge: University Press, 2000. 243p.

BEN-DAVID, J. & ZLOCZOWER, A. El Desarrollo de la Ciencia Institucionalizada en Alemania (1962). In: BARNES, B. (org.). Estudios sobre sociologia de la ciencia. Madrid: Alianza , 1980, p. 46-59.

BERR, H. La Sintesis de la historia su relación con la sistesis general. Tomo CLXVI. México: UTEHA, 1961. 333 p.

BLOCH, M. Apologie pour l'histoire. 6a ed.  Paris: Armand Colin, 1967. 110 p.

BOTTOMORE, T. B. Introducción a la sociologia. 8ª ed. Barcelona: Península, 1978. 421p.

BOUZA, J. El hombre como problema. Filosofia, ciencia y subversión en la antropología del siglo XIX. Barcelona: Ediciones del Serbal, 2002. 269 p.(Col. La Estrella polar)

BRAUDEL, F. La historia y las ciencias sociales. Madrid: Alianza, 1968. 219 p.

BURKE, P. La Revolución historiográfica francesa la escuela de los Annales 1929-1984. 2a ed.  Barcelona: Gedisa, 1996. 142 p.

CAPEL, H. Factores sociales y desarrollo de la ciencia: el papel de las comunidades científicas. Suplementos (Barcelona), 1994, Nº 43, p. 5-19.

CAPEL, H. Filosofia y ciencia en la geografia contemporánea/ Una introdución a la Geografia. Barcelona: Barcanova, 1981. 509 p.

CARO BAROJA, J. Los fundamientos del pensamiento antopológico moderno. Madrid: CSIC, 1985. 179 p.

CARR, E. H.  ¿Qué es la Historia? Barcelona: Ariel, 2003. 2a ed. 243 p.

CARVALHO, M. B. “Geografia e complexidade”. Scripta Nova.. Universidade de Barcelona, Nº 34, 15 de febrero de 1999. <http://www.ub.es/geocrit/sn-34.htm>.

CARVALHO, M. B. Diálogos entre as ciências sociais: um legado intelectual de Friedrich Ratzel (1844-1904). Biblio 3W. Nº 34, 1997b, Universidade de Barcelona. <http://www.ub.es/geocrit/b3w-34.htm>.

CARVALHO, M. B. Dos oitocentos ao XXI: cientistas, livros e internet. Ar@cne, Universidade de Barcelona, Nº 103, 1/12/2007 <http://www.ub.es/geocrit/aracne/aracne-103.htm>.

CARVALHO, M. B. Ratzel: Releituras contemporâneas. Uma reabilitação? Biblio 3W. Nº 25, 1997a, Universidade de Barcelona. <http://www.ub.es/geocrit/b3w-25.htm>.

CASALS, V. Los ingenieros de montes en la España contemporánea (1848-1936). Barcelona: Ediciones del Serbal, 1996. 432 p.

CASSIRER, E. El Problema del Conocimiento (IV). México: Fondo de Cultura, 1979. 396 p.

COLLINGWOOD, R. G. Idea de la historia. 3a ed. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1968. 323 p.

COMTE, Auguste. Cours de Philosophie Positive. (Tome IV). Paris: Anthropos, 1969. 588 p. (reimpressão anastáltica de original de 1839)

COOCH, G. P. Leopoldo Von Ranke. In: Ranke, L. Pueblos y estados en la historia moderna. México: Fondo de Cultura Económica, 1948. p.11-33.

CROCE, B. .Teoria e storia della storiografia.. Milano: Adelphi, 1989. 427 p.

CUVILLIER, A. Manual de Sociología. Buenos Aires: El Ateneo, 1970. 4ª ed. Tomo I, 403 p.

DEL CAMPO, S. (org) A Intitucionalização da sociologia (1870-1914). Madrid: Centro de Investigaciones Sociológicas, 2000. 167 p.

DUCHET, M. Antropologia e historia em el Siglo de Las Luces, Buffon, Voltaire, Rousseau, Helvecio, Diderot. Mexico DF: Siglo XXI, 1975. 477p.

FEBVRE, L. Combates por la historia. Barcelona: Planeta-Agostini 1970, 246 p.

FEBVRE, L. La Tierra y la evolución humana/ Introducción geográfica a la historia. Barcelona: Editorial Cervantes, 1925. 521 p.

FREUND, J. Las teorías de las ciencias humanas. Barcelona: Península, 1975. 158 p.

GARCIA-BORRÓN, J. C. Filosofía y ciencia. Historia del pensamiento racional. Barcelona: Editorial Teide, 1986. 357p.

GEERTZ, C. El antropólogo como autor. Barcelona: Paidós, 1989. 163 p.

GILBERT, F. History Choice and Commitment. Cambridge: The Belknap Press, 1977. 549 p.

GINER, S. Sociología. Barcelona: Península, 1989, (5ª ed.). 282 p.

GURVITCH, G. Los fundadores de la sociología contemporánea: Comte, Marx, Spencer, Saint-Simon y Proudhon. Barcelona: Hacer, 2001. 319 p.

HADDON, A. C. History of Anthropology. London: Watts & CO, 1910. 156 p.

IGGERS, G. La ciencia histórica en el siglo XX .Barcelona: Idea, 1998. 156 p.

LLOBERA, J. Hacia una historia de las ciencias sociales. Barcelona: Editorial Anagrama, 1980. 237 p.

LÓPEZ YAÑEZ, A. D. Memoria de teoría sociológica (Documento de Trabajo). Universidad Complutense de Madrid: Dep. Sociología IV, s/d. 15p.

LOWIE, R. H. Historia de la etnología. México: Fondo de Cultura Económica, 1946. 358 p.

MARTINEZ, E. Introducción. In: Park, R.E. La ciudad y otros ensayos de ecología urbana. Barcelona: Ediciones del Serbal, 1999. p. 7-37.

MERCIER, P. Historia de la antropología. Barcelona: Península, 1969. 234 p.

MITCHEL, G. D.. Historia de la Sociología. Vol. I. Madrid: Guadarrama, 1973. 344p

NISBET, R.. La formación del pensamiento sociologico. Buenos Aires: Amorrortu, 1996, vol. 1. 233p.

NOVICK, P. That Noble Dream: The "Objectivity Question" and The American Historical Profession. Cambridge: University Press, 1988. 648 p.

PENNIMAN, Thomas K. A Hundred Years of Anthropology. London: Duckworth, 1952. 512 p.

PRIGOGINE, I & STENGERS, I. A nova aliança/ Metamorfose da ciência. Brasília: UNB, 1997. 247 p.

RADCLIFFE-BROWN, A. R. El método de la antropología social. Barcelona: Anagrama,1975. 203 p.

RAFFESTIN, C. “Postface”. In: RATZEL, F., Géographie politique, Paris: Economica, 1988, p. 378-381.

RAFFESTIN, C. & LAWRENCE, R. Human Ecology and Environmental Policies: Prospects for Politics and Planning. Political Geography Quartely, 9 (2), 1990, p. 103-107.

RITZER, G. Teoría sociológica clásica. 3ª ed. Madrid: Mc Graw-Hill/ Interamericana, 2001. 660p.

ROSNAY, J. El Hombre simbiótico/ Miradas sobre el tercer milenio. Madrid: Cátedra, 1996. 294 p.

SCHAEFER, F. K. Excepcionalismo en Geografía. Barcelona: Universitat de Barcelona, 1988. 87 p.

SCHOECK, H. Historia de la sociología. Barcelona: Herder, 1977. 439 p.

STODDART, D. R. On Geography and Its History. Oxford: Basil Blackwell, 1986. 335 p.

SUNYER, P. La configuración de la ciencia del suelo en España (1750-1950). Madrid: Doce Calles, 1997. 612 p.

VILAR, P. El medio natural y el medio histórico. In: Cataluña en la España moderna,vol. I. Barcelona: Crítica, 1987., 3a ed. , 485 p.

VOGET , F. W. A History of Ethnology. New York: Holt, Rinehart and Winston cop., 1975. 879 p.

 

Referencia bibliográfica

CARVALHO, Marcos Bernardino de. Dez anos de viagens a “terras” estrangeiras: miradas de um geógrafo sobre as histórias que os cientistas sociais nos contam de si próprios. Diez años de cambios en el Mundo, en la Geografía y en las Ciencias Sociales, 1999-2008. Actas del X Coloquio Internacional de Geocrítica, Universidad de Barcelona, 26-30 de mayo de 2008. <http://www.ub.es/geocrit/-xcol/18.htm>

Volver al programa provisional