menú principal

volver al programa provisional

X Coloquio Internacional de Geocrítica

DIEZ AÑOS DE CAMBIOS EN EL MUNDO, EN LA GEOGRAFÍA Y EN LAS CIENCIAS SOCIALES, 1999-2008

Barcelona, 26 - 30 de mayo de 2008
Universidad de Barcelona


Forma Urbana, Paisagem e Meio Ambiente. Estudo dOS Processos de Crescimento Urbano-Turístico no Litoral Catarinense

Almir Francisco Reis
Departamento de Arquitetura e Urbanismo/Universidade Federal de Santa Catarina/Brasil
almir@arq.ufsc.br

Forma urbana, paisagem e meio ambiente. Estudo dos processos de crescimento urbano-turístico no litoral catarinense (Resumo)

A faixa litorânea de Santa Catarina, no sul do Brasil, concentra as maiores densidades populacionais do Estado, onde estão situadas algumas de suas principais cidades como Florianópolis, Joinville, Itajaí e Balneário Camboriú. O turismo é uma das atividades econômicas mais importantes e, de maneira geral, vem se desenvolvendo sem maiores preocupações com questões ambientais, de conservação de valores paisagísticos e culturais ou de qualificação dos espaços urbanos. Refletindo sobre este quadro de transformações e permanências sócio-espaciais, o presente trabalho apresenta pesquisa em desenvolvimento na Universidade Federal de Santa Catarina, junto ao Programa de Pós-Graduação em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade  que objetiva, através de estudos de caso que incluem diferentes dimensões e escalas, analisar o processo, em especial no que tange às características morfológicas do espaço urbano-turístico em formação e seus impactos sobre os ecossistemas costeiros.

Palavras-chave: litoral catarinense, paisagem e meio ambiente, crescimento urbano-turístico, planejamento urbano e preservação ambiental.

Abstract

The cost line of the State of Santa Catarina, in the south Brazil, is a densely populated region where are situated important cities like Florianópolis, Joinville, Itajaí and Balneário Camboriú. This research analyses the process of transformation of this area, concearning the urban-touristic development. This process is analysed with respect to the morphological caracteristics of the space, the history of its construccion and its impacts over coastal ecosystems. It subsidies a conceptual and methodological reflection in relation to the possibilities and limitations of environmental preservation in the urban space context. This is a working paper related to a research in development in the Federal University of Santa Catarina, in the undergraduate program “Urbanism, History and the Architecture of the City”.

Key-words: Santa Catarina’s coast line (Brazil), environmental preservation, urban-touristic development, urban design.

A faixa litorânea de Santa Catarina, no sul do Brasil, concentra as maiores densidades populacionais do Estado, onde estão situados, entre outros, os municípios de Florianópolis, Joinville, Itajaí, Balneário Camboriú, São José e Laguna, que têm experimentado intenso crescimento demográfico. O turismo é uma das atividades econômicas mais importantes e, de maneira geral, vem se desenvolvendo sem maiores preocupações com questões ambientais, de conservação de valores paisagísticos e culturais ou de qualificação dos espaços urbanos.

A utilização turística dessa área, iniciada nos anos 40, se intensificou nos anos 70, a partir de sua progressiva integração à rede urbana brasileira. Tal processo consolidou nas planícies litorâneas, de forma praticamente contínua, extensa faixa urbanizada, resultado da exploração imobiliária dos balneários. Neste movimento de transformação da paisagem, núcleos pré-existentes foram adensados e expandidos, comunidades pesqueiras viraram balneários e novos assentamentos foram criados. Num território caracterizado tanto pela riqueza e fragilidade de seus ambientes naturais quanto pelas marcas deixadas pela história, as transformações contemporâneas têm refletido, em maior ou menor escala, a influência de ocupações pretéritas: as formas estabelecidas com o uso rural do território permanecem nos assentamentos urbano-turísticos.

Refletindo sobre este quadro de transformações e permanências sócio-espaciais, o presente trabalho apresenta pesquisa em desenvolvimento junto à Universidade Federal de Santa Catarina, que objetiva, através de estudos de caso que incluem diferentes dimensões e escalas, analisar o processo, em especial no que tange às características morfológicas do espaço urbano-turístico em formação e seus impactos sobre os ecossistemas costeiros.O desenvolvimento do trabalho vem acontecendo através de diversos estudos de caso, os quais vêm configurando um painel de conjunto, aprofundando conceitos, métodos e o conhecimento empírico sobre as cidades e os processos de crescimento urbano-turísticos catarinenses.

Nesta oportunidade, apresentamos um quadro empírico geral da pesquisa, o estágio atual dos trabalhos e os conceitos e métodos utilizados.  A abordagem proposta integra uma série de variáveis que têm sido estudadas, via de regra, de modo isolado: ecossistemas naturais, preexistências decorrentes de ocupações pretéritas, processos de crescimento urbano e formas urbanas resultantes. Tal aporte pode nos ajudar, certamente, não apenas no estudo do caso do litoral catarinense mas, em termos mais amplos, fornecendo subsídios e balizando os trabalhos de pesquisa e qualificação urbana e ambiental em áreas costeiras sujeitas a transformações decorrentes do crescimento urbano-turístico.

 


Figura 1. Litoral Catarinense. Localização. Fonte: Google Earth

 


Figura 2. Litoral Catarinense. Formação geológica a partir da sedimentação
e consolidação das planícies quaternárias; municípios litorâneos.
Fonte: Reitz, 1961; Lonardoni e Reis, 2003.

 

A Transformação Urbano-Turística do Litoral Catarinense

Inúmeros estudiosos da realidade urbana brasileira, e mais especificamente aqueles que analisaram o sul do país, têm apontado peculiaridades do caso catarinense: a fragmentação do estado em regiões bastante autônomas, sem uma metrópole estadual, com micro-regiões configuradas por médias e pequenas cidades, expressando identidades extremamente peculiares a partir da colonização por diferentes etnias. Estas especificidades decorrem de condicionantes geográficas e culturais,  bem como do processo histórico de ocupação do território e formação das cidades (1).

O processo de expansão por que vêm passando estas cidades, no presente, tem se expressado em transformações de áreas já urbanizadas e na incorporação de novas áreas ao tecido urbano, através de expansão  e adensamento. Sinalizam fortes impactos sobre ecossistemas naturais e preexistências urbanas, assim como alterações significativas no modo em que a cidade é vivida por seus habitantes, em particular em relação ao papel atribuído às práticas desenvolvidas nos espaços abertos de uso coletivo.

Expressiva porção da rede urbana catarinense desenvolve-se junto à faixa litorânea, concentrando algumas de suas maiores cidades: centros industriais como Joinvile e Itajaí, cidades marcadamente terciárias e administrativas como Florianópolis, os portos de São Francisco do Sul, Itajaí e Imbituba. É, porém, o desenvolvimento turístico que tem implicado as maiores alterações sócio-ambientais da área. A procura por suas exuberantes praias tem levado à criação de inúmeros balneários consolidando, de forma praticamente contínua, extensa faixa urbanizada. Balneário Camboriú, Itapema, Bombinhas, Florianópolis, Garopaba e Laguna exemplificam importantes cidades que têm, hoje, no turismo de sol-e-mar uma de suas atividades econômicas principais. Com diferentes graus de intensidade, toda a faixa costeira tem experimentado intensas transformações a partir do crescimento urbano e da exploração turística, na maioria das vezes comprometendo o meio ambiente, a paisagem e as estruturas urbanas preexistentes.

A utilização turística dessa área iniciou-se nos 50, tendo se intensificado nos anos 70, a partir da construção da BR-101 e progressiva integração da área à rede urbana do sul do Brasil. Suas expressivas paisagens naturais, caracterizadas pelo encontro entre e mar, planícies quaternárias e as montanhas da Serra Geral, desempenham importante papel no desenvolvimento turístico. O ambiente natural da região caracteriza-se por diferentes composições vegetais, características das áreas costeiras do sul/sudeste do país.  destacando-se a Floresta Ombrófila Densa (Mata Atlântica), ocupando as áreas das encostas cristalinas, e manguezais, restingas e banhados, por sobre as áreas de formação sedimentar, as planícies quaternárias. A qualidade ambiental desses ecossistemas tem sido afetada pela ocupação antrópica, com redução da biodiversidade, da fauna, da flora e contaminação de recursos hídricos (2).

Desenvolvendo-se por 561 km, da foz do Rio Saí Guaçú, ao norte, na divisa com o Paraná até a foz do Rio Mampituba, na divisa com o Rio Grande do Sul, o litoral catarinense possui grandes variações geomorfológicas que conferem especial identidade a cada uma de suas porções. Ao norte, da fronteira do Paraná à foz do Rio Itajaí-Açu, a paisagem é marcada pela Ilha de São Francisco do Sul, cuja separação do continente forma a Baía da Babitonga.  Ao centro, a linha da costa extremamente é recortada, com baías, numerosas enseadas e inúmeros pontões que quebram a continuidade das praias. A Ilha de Santa Catarina constitui ponto marcante deste trecho, criando duas extensas baías. No sul, a partir de Laguna, até a fronteira com o Rio Grande do Sul, a costa é retilínea, com praias extensas e abertas. Lagoas, separadas do mar por cordões de dunas criam ambientes naturais diversos  e grandiosas paisagens.

O crescimento urbano-turístico tem ocorrido por sobre um território que se caracteriza, também, pelas marcas deixadas pela história: a área costeira catarinense teve uma ocupação que remonta ao Brasil colonial, quando se consolidaram suas primeiras cidades e sua paisagem foi significativamente alterada pela ocupação agrícola, fruto dos sucessivos processos de colonização. As primeiras cidades do estado – São Francisco, Florianópolis e Laguna - remontam a este momento O crescimento turístico tem refletido, em maior ou menor escala, a influência dessa ocupação: os primeiros núcleos urbanos constituíram a base da rede urbana do estado; as formas estabelecidas com o uso rural do território permanecem nas ocupações contemporâneas.

Este rápido crescimento urbano e aumento populacional vem se desenvolvendo à margem de um efetivo processo de planejamento que integre ações individuais em um projeto coletivo de cidade, dada a fragilidade dos planos e formas de controle existentes,  levando a problemas urbanos e ambientais: degradação de ecossistemas naturais, contaminação dos rios e do mar, comprometimento da balneabilidade, baixa capacidade de abastecimento de água potável, falta de infra-estrutura de saneamento e transporte, trânsito de automóveis caótico nas temporadas de veraneio. Os estudos desenvolvidos na pesquisa aqui apresentada objetivam contribuir com este processo, analisando os espaços urbano-turísticos em consolidação. Através de estudos de caso, que incluam diferentes dimensões e escalas  de análise urbana, objetiva-se traçar um quadro das transformações desencadeadas pelo processo, em especial no que tange às características configuracionais do espaço urbano e seus impactos sobre os ecossistemas costeiros.

 


Fig. 3. Balneário Camboriú; Itajaí; Sul da Ilha de Santa Catarina. Fonte: Google Earth

 

Por uma Abordagem Urbano-Ambiental do Litoral Catarinense

Recorte Analítico

A área profissional da Arquitetura e do Urbanismo tem, na maioria das vezes, se limitado a procurar conhecimentos que guiem suas ações em outras disciplinas, abandonando seu método próprio e mesmo a reflexão sobre sua forma de atuação.  Acreditamos que a contribuição do profissional arquiteto na formação de um corpo de conhecimento interdisciplinar sobre o meio urbano pressupõe tanto o diálogo com outros campos de conhecimento quanto a reflexão  a partir de suas práticas e métodos. Somente desse modo o conhecimento pode efetivar-se como guia da atividade prática, e a prática realizar seu papel de verificação do conhecimento em todas as suas etapas de evolução.

Pensar deste modo significa entender a possibilidade e a necessidade de geração do conhecimento no contexto das Ciências Sociais Aplicadas. No campo da Arquitetura e do Urbanismo, esta postura  indica a realização de diferentes leituras, cada uma das quais, por sua vez, exigindo técnicas específicas e somando conhecimentos oriundos de múltiplas disciplinas e variados campos do saber. Neste sentido, temos organizado nosso trabalho a partir da estruturação de diferentes abordagens, cada uma delas captando atributos específicos do espaço urbano (dimensões analíticas), bem como incorporando análises acerca do processo histórico de sua produção (processos de crescimento urbano) e  especificidades das distintas escalas de trabalho do arquiteto-urbanista (cidade e suas interfaces com a arquitetura e o território).

Das diferentes dimensões do espaço urbano

O conhecimento das implicações do espaço construído, dado concreto produzido segundo cultura e tecnologias historicamente definidas, sobre a vida dos cidadãos, é fundamental para o trabalho com a temática urbana. Como artifício analítico, tal  investigação pode ser realizada com certo grau de autonomia em relação a preocupações mais específicas acerca de seu processo de produção revelando, com maior precisão, atributos urbanísticos e ambientais existentes. Implicando questões de desempenho espacial, aponta para análises específicas, tendo em vista diferentes expectativas sociais acerca das cidades. São usuais, por exemplo, avaliações funcionais (relativas à tipologia, posição relativa, quantidade de áreas e implicações sociais da distribuição de atividades no meio urbano), bioclimáticas (relativas às expectativas sociais de conforto higrotérmico, acústico e luminoso) ou econômicas (relativas aos custos de produção e de manutenção do espaço urbano) (3).

Esta pesquisa objetiva aprofundar estas abordagens, incorporar novas variáveis analíticas e, ao mesmo tempo, consolidar um método de estudo integrado destas diferentes dimensões da cidade. Especial atenção é dada às questões que relacionam cidade e meio ambiente, aprofundando os aportes que o paradigma ambiental coloca, no presente, ao planejamento urbano e territorial. No caso do litoral catarinense, uma abordagem integrando estudos ambientais e urbanísticos torna-se particularmente relevante, uma vez que o crescimento urbano-turístico tem ocorrido por sobre ecossistemas costeiros, provocando impactos numa paisagem de extrema beleza e fragilidade. Estes estudos implicam, por um lado, na análise da capacidade de suporte dos ecossistemas costeiros, por outro, na leitura da intensidade dos impactos ambientais gerados por diferentes formas de crescimento urbano-turístico.

Dos processos de crescimento urbano

Estudar o processo de construção do espaço urbano implica trabalhar o tempo como variável de análise, incorporando a história aos estudos urbanísticos. Várias são as abordagens existentes sob esta ótica, considerando processos, agentes e sua inter-relação na construção histórica da cidade (4). Em nosso trabalho, visando estudar as diferentes formas de crescimento urbano, temos priorizado as relações que se estabelecem entre estes processos e as estruturas territoriais decorrentes de adaptações ambientais anteriores. Neste sentido, o crescimento urbano tem sido analisado tendo por ponto de partida o parcelamento inicial do solo e a incorporação, ou não, das preexistências territoriais no ambiente urbano em transformação. Esta leitura tem sido complementada com o estudo de outras operações participantes da construção do espaço urbano (edificações, infra-estruturas), permitindo maior precisão nos procedimentos de tipificação realizados.

O entendimento das formas de crescimento urbano como combinação, no tempo e no espaço dos processos de parcelamento do solo, urbanização e edificação, consolidado em diversos trabalhos, tem fornecido base teórico-conceitual e permitido juntar análises do desenvolvimento temporal do espaço urbano aos estudos clássicos de morfologia urbana. Esta análise é fundamental no caso do litoral catarinense, onde o crescimento urbano-turístico acontece por sobre estruturas urbanas e rurais bastante consolidadas. Neste contexto, especial importância tem a leitura do modo como  o parcelamento rural da terra tem estabelecido limites e possibilidades às transformações contemporâneas, marcando profundamente as formas urbanas resultantes.

Diferentes escalas de trabalho

Entende-se a Arquitetura como uma determinada abordagem da realidade, que implica em ação e conhecimento sobre o mundo, em especial em sua dimensão físico-ambiental. Neste sentido, consideramos que, reconhecidas suas especificidades, as diferentes escalas de trabalho do arquiteto-urbanista (edificações, cidade, território) têm muitos pontos em comum, devendo ser trabalhadas em sua inter-relação. Os diversos estudos realizados nesta pesquisa abrangem diferentes escalas: ora a ênfase encontra-se na relação entre cidade e edificação, ora na relação entre cidade e território. A inserção do litoral catarinense junto a rede urbana brasileira e do cone sul, de onde provém boa parte de sua clientela turística, e o estudo das particularidades urbano-ambientais de seus diversos compartimentos paisagísticos constitui base fundamental para contextualizar os estudos localizados, que aprofundam a escala local dos crescimentos urbano-turísticos.

 


Fig. 4. Bombinhas, Cabo de Santa Marta, Balneário Rincão. Fonte: Google Earth.

 

Objetivos e Métodos de Trabalho

Duas diretrizes principais têm estruturado nossos estudos dos processos de crescimento urbano-turístico no litoral catarinense:

. a necessidade do espaço urbano-turístico estabelecer uma relação equilibrada com o sítio em que se insere, garantindo a qualidade ambiental de seus ambientes naturais e transformados, fator básico de sua atratividade;

. a importância das preexistências territoriais herdadas da colonização do território costeiro que, colocando possibilidades e limitações aos crescimentos contemporâneos e dirigindo em grande parte as formas de expansão urbano-turística, apontam cenários futuros com certo nível de previsibilidade e também possibilidades efetivas de qualificação dos processos em curso. Nas estruturas territoriais forjadas no tempo encontraremos, talvez, alguns dos indicativos mais expressivos para formular alternativas de futuro.

Partindo dessas premissas principais e entendendo que a cidade turística que se constrói sobre a área litorânea catarinense apresenta inúmeras contradições, não configurando um modelo próprio que coloque uma imagem de futuro qualificada e socialmente pactuada, tem-se como objetivo principal estudar conceitos, métodos e instrumentos para entendimento e proposição da cidade contemporânea, tendo em vista a qualificação das transformações advindas do crescimento urbano-turístico do litoral catarinense. Entendendo que a formulação de alternativas urbanísticas para a qualificação deste processo exige entender as diferentes formas de crescimento em curso, a maneira em que as lógicas territoriais preexistentes vêm pondo limites e possibilidades a esses crescimentos, bem como as formas urbanas resultantes e o modo como se relacionam com o sítio, este objetivo tem sido desdobrado nos seguintes objetivos específicos:

.  realizar um quadro referencial de conjunto do litoral catarinense, analisando o processo de transformação por que passa a partir do desenvolvimento urbano-turístico;

.  desenvolver estudos de caso específicos, estudando diferentes expressões do processo de desenvolvimento urbano-turístico no litoral catarinense e considerando as distintas realidades geográficas e ambientais em que se inserem;

.  realizar estudos acerca da estruturação espacial das localidades urbano-turísticas, a partir de diferentes dimensões analíticas (cidades e suas relações com ecossistemas naturais; apropriação social do espaço, legibilidade urbana;  sustentabilidade urbana; linguagem, tipologias arquitetônicas e seu papel na configuração urbano-turística);

.  incorporar, ao estudo da estruturação urbana, uma dimensão processual, estudando processos de crescimento urbano e  mecanismos subjacentes à construção histórica da cidade;

. consolidar método de estudo integrado das diferentes dimensões da cidade, articulando morfologia urbana, estudo dos processos de crescimento urbano e estudos ambientais.

. refletir, a partir do caso do litoral catarinense, sobre possibilidades de qualificação de estruturas urbanas e ambientais, em diferentes escalas de atuação (planejamento urbano e territorial, projeto urbano, projeto de edificações).

Estes objetivos têm exigido o desenvolvimento de uma metodologia dinâmica, capaz de ser continuamente recriada no próprio processo de pesquisa . Em função da  hipótese básica colocada pela pesquisa, que integra diferentes dimensões e escalas das estruturas urbano-turísticas, os procedimentos a serem desenvolvidos nos diversos estudos de caso envolvem abordagens, metodologias e referências teórico-conceituais específicas, definidas a partir de cada escopo de trabalho.

Em que pesem suas especificidades, todos os estudos de caso desta pesquisa apresentam procedimentos comuns de pesquisa:

. revisão bibliográfica que têm permitido revisar e sistematizar estudos a respeito de conceitos e metodologias de análise de estruturas urbanas, a partir de diferentes dimensões analíticas (5); abordagens urbanísticas que considerem processos, agentes e sua inter-relação na construção histórica da cidade (6); especificidades da realidade urbana catarinense (7); estudos acerca da expressão territorial e impactos sociais e espaciais do turismo (8);

.  aprofundamento empírico das realidades urbano-turísticas, objetos de estudo de cada estudo de caso,  a realizar-se através de visitas de campo,  pesquisa de dados e interpretação de fotos aéreas;

. precisão dos procedimentos metodológicos, análise morfológica, aplicação de técnicas descritivas e avaliativas do espaço urbano.

Além dos procedimentos descritos anteriormente, dois outros têm sido fundamentais:

. para estudar as aportações espaciais dos processos de planejamento e sua adaptação (ou não) aos processos de desenvolvimento em curso, têm sido analisados os  diversos planos realizados para as áreas estudadas, com ênfase nos modelos territoriais propostos, explícita ou implicitamente;

. para formular comparações, verificar alternativas e entender de formas mais ampla especificidades da expressão territorial do turismo, foram estudadas referências de outras realidades costeiras em processo de desenvolvimento turístico, bem como propostas de ordenação urbana e territorial.

Os objetivos do trabalho vão se concretizando à medida  em que vão se agregando novos estudos de caso àqueles já existentes. O conjunto das localidades urbano-turísticas estudadas permitirá elaborar, a partir da detecção de regularidades, tipologia dos processos de crescimento e respectivas formas urbanas resultantes. Este conhecimento é fundamental para a criação de subsídios para o planejamento e qualificação da transformação em curso. A pesquisa objetivando, primordialmente, fazer o reconhecimento do espaço costeiro catarinense e suas transformações, tem em vista, também, a formulação de políticas de preservação dos ecossistemas naturais e áreas historicamente consolidadas, bem como a criação de parâmetros para qualificação dos processos de crescimento e formas resultantes em expansões de caráter turístico.

 


Fig. 5. Ilha de Santa Catarina. Vista aérea a partir do sul.
Fonte: FotoImagem

 

Os Estudos Realizados. Estágio Atual do Trabalho

Iniciados nos anos 90, nossos estudos sobre as transformações sócio-ambientais por que vem passando o litoral catarinense, a partir do crescimento urbano-turístico, desenvolveram-se através de inúmeras pesquisas junto à Universidade Federal de Santa Catarina, que contaram com a parceria de diversos outros pesquisadores. Articulando a atividade de pesquisa com o ensino, o tema tem sido trabalhado, também, junto às disciplinas do Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFSC e ao Programa de Pós-Graduação em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade. Em termos de extensão, as diversas assessorias prestadas a órgãos ambientais e de Planejamento Urbano e movimentos sociais têm permitido a necessária articulação com a realidade extra-universidade (9).

Nas pesquisas realizadas nota-se uma concentração de estudos sobre a realidade da Ilha de Santa Catarina que, pela diversidade de seus ambientes naturais e pela intensidade do processo de transformação por que vêm passando, sintetiza de modo exemplar o modo como vem se desenvolvendo o processo na costa catarinense como um todo. A partir do desenvolvimento de nossa tese de doutorado “Permanências e Transformações no Espaço Costeiro: Formas de Crescimento Urbano-Turístico na Ilha de Santa Catarina”(Reis, 2002), aprofundamos nosso trabalho, estabelecendo como temática fundamental o estudo das estruturas urbano-turísticas e o modo como esses crescimentos têm se relacionado com o sítio natural e com as preexistências decorrentes de ocupações prévias do espaço costeiro.

Em pesquisas posteriores, desenvolvemos estudos acerca de expansões insulares da cidade, verificando padrões morfológicos e sua vinculação a diferentes arranjos sociais. Analisamos o espaço público resultante, tanto em estruturas urbanas que vêm se configurando a partir de um processo contínuo de parcelamento do solo, sem nenhuma forma de planejamento de conjunto, quanto  naquelas criadas a partir de projetos globais (especialmente de caráter turístico), que, muitas vezes, são constituídas a partir de uma simples sobreposição de condomínios fechados. Nossas últimas pesquisas (Lonardoni e Reis, 2003; Moritz e Reis, 2006) expandiram os estudos para outras áreas do litoral catarinense, verificando similaridades e diferenças com os processos em ocorrência na Ilha de Santa Catarina.

Como resultado destes estudos, destacamos algumas constatações que, apesar da enorme diversidade geográfica e ambiental do litoral catarinense, constituem características comuns do quadro de transformações por que vem passando no presente:

. a complexidade de uma situação que mescla crescimento urbano e desenvolvimento turístico em sítios extremamente frágeis;

. a velocidade do processo, que induz câmbios territoriais que alteram radicalmente estruturas ambientais preexistentes (urbanas, rurais, naturais);

. a reprodução acrítica de imagens e modelos urbanos e turísticos exógenos, que vêm configurando estruturas urbanas e territoriais inadaptadas, tanto em termos ambientais quanto urbanísticos;

. a forma em que estes crescimentos vêm se desenvolvendo a margem de um efetivo processo de ordenamento urbano e territorial que integre ações individuais em projetos coletivos de cidade, seja por fragilidade dos planos e formas de controle existentes, seja pela marginalidade dos processos em curso.

Este quadro, de extrema gravidade, aponta a necessidade urgente de um processo efetivo de ordenamento urbano e territorial, no sentido de controlar e limitar a atuação de agentes privados, que exercem altas pressões no mercado imobiliário. Faz-se necessário que  o planejamento urbano se integre a processos de ordenamento turístico e ambiental, evoluindo de ações emergenciais e intervenções pontuais para planos conscientes de desenvolvimento urbano global, com preocupações efetivas acerca do futuro da cidade, buscando frear os impactos negativos da atividade turística e adotá-la como frente de desenvolvimento social.

Considerações Finais

A pesquisa “Forma Urbana, Paisagem e Meio Ambiente. Estudo de Processos de Crescimento Urbano-Turístico no Litoral Catarinense” traz a temática do crescimento urbano-turístico para bojo da discussão, permitindo seu desenvolvimento como conteúdo na graduação e na pós-graduação da UFSC, escola inserida num espaço em processo de intensa transformação sócio-ambiental a partir do desenvolvimento da atividade. Permitindo a formulação de quadros teóricos mais consistentes, que precisem características próprias do espaço turístico, possibilita a melhoria do ensino, com a consequente possibilidade de formação de profissionais mais sensíveis às peculiaridades da temática.

Em termos metodológicos, o trabalho aponta diversas inovações ao trabalhar, de forma integrada, dimensões diferenciadas dos assentamentos urbano-turísticos, via de regra, trabalhadas de forma isolada. Neste sentido, sua fundamentação teórica, conceitual e metodológica tem propiciado a formulação de inúmeras outras pesquisas, assim como  a formação de grupo específico para desenvolver as diversas dimensões da temática. O modo como está pensado a pesquisa e sua articulação em diversos estudos de caso articulados por hipóteses, conceitos e métodos comuns constituem, em nosso entender, as bases para tal construção.

Estudando aspectos diversos dos assentamentos turísticos do litoral catarinense, esta pesquisa sistematiza conhecimentos e técnicas imprescindíveis em procedimentos práticos de planejamento e qualificação dos processos de crescimento urbano-turísticos costeiros. A realização de uma leitura como a proposta, que busca um reconhecimento de caráter mais global, permite a elaboração de políticas que avançam para além de uma ou outra situação específica. Nesse sentido, pode subsidiar tanto ações mais localizadas, via de regra realizadas por parte dos municípios envolvidos, quanto a elaboração de estratégias de caráter mais amplo, que envolvem, também, órgãos públicos de outras esferas (estaduais, federais).

 

Notas

1. Especificidades da rede urbana catarinense são discutidas em Peluso, 1991 e Silva, 1978, entre outros.

2. O processo de desenvolvimento urbano-turístico do litoral catarinense possui farta bibliografia analítica, desenvolvida em diferentes disciplinas. Destacamos os seguintes trabalhos, que fornecem uma visão de conjunto do processo: GERCO, 1997; Silva, 1997; Silva, 2005.

3. Para uma reflexão acerca da possibilidade da estruturação do conhecimento arquitetônico a partir de diferentes dimensões analíticas ver: Holanda, 2002, cap. 1; Kohlsdorf, 1996, cap. 1 e Turkienicz e outros, 1986.

4. Destacamos os seguintes trabalhos: Santos, 1981; Solá Morales, 1993; Lobato, 1999.

5. Por exemplo, estudos que relacionam os assentamentos humanos às expectativas sociais de orientabilidade e identidade dos lugares - Cullen, 1981; Lynch, 1988; Kohlsdorf, 1996; estudos que relacionam a forma urbana à apropriabilidade dos espaços públicos de uso coletivo - Jacobs1982; Hillier, 1984; Holanda, 1988, 2002; estudos que analisam a cidade contemporânea sob o viés do pensamento ecológico, no sentido de um desenvolvimento urbano mais sustentável - McHarg, 2000;  Spirn, 1995; Hough, 1998; Franco, 1997.

6. Santos, 1981; Solá Morales, 1993; Lobato 1999.

7. Silva, 1978; Gerco, 1977; Peluso, 1979, 1991; Silva, 1997; Silva, 1997ª.

8. Krippendorf, 1989; Vera e outros, 1997; Macedo, 1993.

9. Dentre os trabalhos de extensão desenvolvidos, destacamos a 1ª. Oficina de Desenho Urbano de Florianópolis, realizada em 1994, que propiciou o desenvolvimento de diretrizes de ordenação territorial para a totalidade do território da Ilha de Santa Catarina (Lenzi e Reis, 1995). Trabalhos posteriores, com a municipalidade de Florianópolis e outros municípios catarinenses permitiram o avanço de nossa inter-relação com a prática do Planejamento Urbano e Ambiental.

 

Bibliografia

ANDERSON, Stanford (org.). Calles, Problemas de Estructura y Diseno. Barcelona, Gustavo Gilli, 1981.

BARBA, Rosa e PIE, Ricard (editores). Arquitectura y Turismo: Planes y Proyectos. Barcelona: Centro de Recerca i Proyectos de Paisatge, Departamento de Urbanismo y Ordenación del Territorio, Universidad Politécnica de Cataluña, 1996.

BERGER, Paulo (org.). Ilha de Santa Catarina: relatos de viajantes estrangeiros nos séculos XVIII e XIX. Florianópolis: Editora da UFSC/Lunardelli, 1990.

CARNEIRO, Celso Gomes e COELHO, Gilberto Bueno. Elementos para o desenho do meio urbano litoral - Observações colhidas da experiência paranaense. Curitiba, Coordenadoria de Planejamento Regional da Secretaria de Estado do Planejamento do Governo do Estado do Paraná, 1984.

CORBIN, Alain. O Território do Vazio. A Praia e o Imaginário Ocidental. São Paulo, Cia das Letras, 1989.

CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. São Paulo, Ática, 1989.

CULLEN, Gordon. El Paisage Urbano. Barcelona, Blume, 1981.

FRANCO, M. A. R. Desenho Ambiental: Uma introdução à Arquitetura da Paisagem com o Paradigma Ecológico.  São Paulo, Annablume Editora Comunicação, 1997.

GERCO-PROJETO GERENCIAMENTO COSTEIRO SC - SECRETARIA DE ESTADO DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E INTEGRAÇÃO AO MERCOSUL / INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.  Diagnóstico Ambiental do Litoral de Santa Catarina - Caracterização Sócio-Econômica da Zona Costeira de Santa Catarina.  Florianópolis:

HILLIER, Bill & Hanson, Julienne. The Social Logic of Space. Cambridge University Press, 1984.

HOLANDA, Frederico de. Dimensões Morfológicas do Processo de Urbanização - o Aspecto da Apropriação Social dos Lugares. Brasília, UnB, 1993. (mímeo)

HOUGH, Michael. Naturaleza y ciudad: planificacion urbana y processos ecologicos. Barcelona, G. Gili, 1998.

JACOBS, Jane. The Death and Life of Great American Cities. London, Jonathan Cape, 1982.

KOHLSDORF, Maria Elaine. A Apreensão da Forma da Cidade. Brasília, Editora da UnB, 1996.

LENZI, Sílvia Ribeiro; REIS, Almir Francisco; SILVA, Nelson Saraiva da; ZAPATEL, Juan Antônio(orgs.). Anais da 1a. Oficina de Desenho Urbano de Florianópolis. Florianópolis, IPUF/UFSC, 1996.

LONARDONI, Fernanda e REIS, Almir Francisco. Transformações no Espaço Costeiro. Reconhecimento dos Processos de Crescimento Urbano-Turístico no Linoral Catarinense. In: Anais do II Simpósio Nacional de Arquitetura e Urbanismo para o Turismo. Vitória, IAB-DF, 2003.

LYNCH, Kevin. A Imagem da Cidade. São Paulo, Martins Fontes, 1988.

MORITZ, Ricardo e REIS, Almir Francisco. Processo de Crescimento Urbano-Turístico – Estudos de Caso no Norte da Ilha de Santa Catarina. In: Anais do Seminário de Planejamento Urbano no Brasil e na Europa – Um Diálogo ainda Possível? Florianópolis, Programa de Pós-Graduação em Geografia/UFSC?Institute d’Urbanisme de Grenoble, 2006.

McHARG, Ian L. Proyectar con la naturaleza. Barcelona, Gustavo Gili, 2000.

PELUSO Jr., Victor A. Estudos de Geografia Urbana de Santa Catarina. Florianópolis, Editora da UFSC, Secretaria de Estado da Cultura e do Esporte, 1991.

REIS, Almir Francisco. Permanências e Transformações no Espaço Costeiro: Formas e Processos de Crescimento Urbano-Turístico na Ilha de Santa Catarina. São Paulo, 2002. Tese de Doutorado (Doutorado em Estruturas Ambientais Urbanas), Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Universidade de São Paulo.

REIS, Almir Francisco e PORTILHO BUENO, Ayrton. Expansões Urbanas na Ilha de Santa Catarina. Estudo do Espaço Público. Florianópolis, 1995. (Relatório de Pesquisa, PET/ARQ/UFSC/CAPES).

REITZ, Raulino. Vegetação da Zona Marítima de Santa Catarina. Sellowia – Anais Botânicos do Herbário Barbosa Rodrigues, n. 13. Itajaí, Herbário Barbosa Rodrigues, 1961.

SANTOS, Carlos Nelson Ferreira dos. A Cidade como um Jogo de Cartas. Rio, EDUFF; São Paulo, Projeto, 1988.

SILVA, Eunice Assini. Turismo no Litoral de Santa Catarina – Atratividade e Tendências. São Paulo, 1997. (Dissertação de Mestrado), Curso de Pós-Graduação em Ciências, Propaganda e Turismo – USP.

SILVA, Nelson Saraiva da. Arquitetura da maior à menor escala. Vivências, projetos e reflexões sobre os lugares marinheiros catarinenses. São Paulo, 2005. (Tese de Doutorado), Curso de Pós-Graduação em Estruturas Ambientais Urbanas, FAU-USP.

SOLA-MORALES, Manoael de. Las Formas de Crecimiento Urbano. Barcelona, Edicions UPC, 1993.

SPIRN, Anne Whiston. O Jardim de granito: a natureza no desenho da cidade. São Paulo: EDUSP, 1995.

SILVA, Etienne Luiz. O Desenvolvimento Econômico Periférico e a Formação da Rede Urbana de Santa Catarina. (Dissertação de Mestrado em Planejamento Urbano e Regional), Porto Alegre, PROPUR-UFRGS, 1978.

TURKIENICZ, Benamy e MALTA, Maurício (orgs.). Desenho Urbano - Anais do II Sedur. São Paulo, Pini; Brasília, CNPQ; Rio, FINEP, 1986.

TURKIENICZ, Benamy e outros. As Dimensões Morfológicas do Processo de Urbanização: uma possível e necessária metodologia de pesquisa. In: Turkienicz e Malta, 1986.

VERA, J. Fernando e outros. Análisis territorial del turismo. Barcelona: Ariel, 1997.

 

Referencia bibliográfica:
REIS, Almir Francisco . Forma urbana, paisagem e meio ambiente. Estudo dos processos de crescimento urbano-turístico no litoral catarinense. Diez años de cambios en el Mundo, en la Geografía y en las Ciencias Sociales, 1999-2008. Actas del X Coloquio Internacional de Geocrítica, Universidad de Barcelona, 26-30 de mayo de 2008. <http://www.ub.es/geocrit/-xcol/194.htm>

Volver al programa provisional