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X Coloquio Internacional de Geocrítica

DIEZ AÑOS DE CAMBIOS EN EL MUNDO, EN LA GEOGRAFÍA Y EN LAS CIENCIAS SOCIALES, 1999-2008

Barcelona, 26 - 30 de mayo de 2008
Universidad de Barcelona


DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO LOCAL E A DIVISÃO ESPACIAL DE CONSUMO NOS MUNICÍPIOS E NA REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS (SP)

Claudete de Castro Silva Vitte
Departamento de Geografia. Do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas - Unicamp
clavitte@ige.unicamp.br

Desenvolvimento econômico local e a divisão espacial de consumo nos municípios e na Região Metropolitana de Campinas (SP) (Resumo)

A Região Metropolitana de Campinas (RMC) tem 19 municípios de porte variado. O trabalho discutiu um conjunto de ações de desenvolvimento local do setor terciário. A base analítica foi da divisão espacial do consumo, discutida por D. Harvey. Na divisão espacial de consumo foi considerado: os atrativos turísticos; a qualidade de vida; algumas inovações culturais (festivais e eventos culturais); atrativos de consumo (comércio, centros de convenções, shoppings centers, praças de alimentação); equipamentos de entretenimento (estádios, parques temáticos, espetáculos, feiras) e a imagem de marca da região. A pesquisa baseou-se em levantamentos feitos em órgãos de pesquisa, associações comerciais e reportagens de jornais. Quanto aos resultados, procurou-se levantar, caracterizar e analisar as principais ações no âmbito da divisão espacial de consumo; apontar algumas transformações nas práticas de consumo e no território. Tal estudo é uma contribuição à temática do desenvolvimento local e sua relação com o território no Brasil, com suas peculiaridades e desafios.

Palavras-chaves: dinâmica econômica local, divisão espacial de consumo, território, região metropolitana de Campinas, desenvolvimento econômico.

Local economic development and the spatial division of consumption in the municipal districts and in the Metropolitan Region of Campinas (SP) (Abstract)

Metropolitan Region of Campinas (RMC) has 19 municipalities of varied sizes. The work discussed about some  local development actions in tertiary sector. The analytical basis was the spatial division of  consumption, proposed by D. Harvey. In the spatial division of consumption was considered: tourist peculiarities; the quality of life; some cultural activities (festivals and cultural events); consumption places (commerce, conventions centers, shoppings centers, eating places); entertainment places (stadiums, thematic parks, shows, fairs) and the trademark of the region. The research was based in surveys done in research intitute, commercial associations and newspapers reports. In result, it was  a survey, characterization and analysis of  the main actions of the spatial division of consumption; it was point out some transformations in the consumption practices and in the territory. This study is a contribution to local development thematic and its relationship with the territory in Brazil, with their peculiarities and challenges.

Key-words: Local economic dynamics. Spatial division of consumption, Territory, Metropolitan Region of Campinas, Economic development.

As ações de desenvolvimento local, independente de privilegiarem aspectos produtivos ou de consumo podem ser implementadas por diversos agentes: governos, instituições, empresas e associações de trabalhadores. Seu estudo permite avaliar os resultados socioeconômicos e também observar como ocorre a materialização dessas ações no território e as transformações provocadas.

O objetivo deste trabalho é discutir um conjunto de ações de desenvolvimento local, considerando diversas atividades terciárias na Região Metropolitana de Campinas e seus municípios. O setor terciário é composto por atividades-meio que apresentam um nexo com a urbanização, com o território e incorporam certa modernização e sofisticação resultante de inovações ocorridas no setor, principalmente a partir da década de 1980. 

Para operacionalizar este estudo, resgatou-se a categoria analítica divisão espacial do consumo discutida por David Harvey (1989 e 1996) e que apresenta uma série de elementos que ajudam na construção de uma imagem urbana a ser consumida e utilizada como requisito na atração de investimentos produtivos, estratégia muito em voga na atualidade por parte de muitos municípios brasileiros.

Campinas e sua região metropolitana possuem um setor terciário que pode ser considerado dinâmico e moderno, centro de uma região de economia próspera. Assim, o aglomerado da região metropolitana de Campinas é um local privilegiado para estudo de impactos da modernização do consumo e do desenvolvimento de algumas atividades terciárias que provocam impactos no espaço urbano, na vida cotidiana e que apresenta uma vinculação com o desenvolvimento local.

Reestruturação capitalista, competição e divisão espacial de consumo

A reestruturação produtiva ocorrida nos anos 1970/80 exigiu das empresas a busca de novos mercados e um esforço crescente para se ajustarem a um ambiente cada vez mais competitivo. David Harvey, em seu livro Condição Pós-Moderna (1992), discute a atual fase de acumulação capitalista, de intensa compressão tempo-espaço, mostrando como as transformações ocorridas nesta etapa do modo de produção capitalista provocam impactos nas práticas políticas, econômicas e na vida social e cultural. 

Nas práticas econômicas esses impactos se dão na aceleração do tempo de giro do capital, o que, por sua vez, envolve acelerações paralelas na troca e no consumo. Novas tecnologias produtivas e novas formas organizacionais facilitam a circulação de mercadorias.

Outro importante impacto nas práticas econômicas dá-se no âmbito do consumo, com uma maior mobilização da moda, a consolidação do mercado de consumo de massa, de nichos específicos de mercado, de um mercado de elite.

Há uma aceleração do ritmo de consumo, explicada pela maior intensidade do tempo de giro do capital (produção e consumo) e a proposição de novos estilos de vida e de lazer.

O autor também assinala a passagem, vinculada à perda de hegemonia do fordismo para o pós-fordismo, do consumo de bens para o consumo de serviços, que são mais efêmeros, facilitando o tempo de giro do capital. 

Essas transformações na atual etapa do capitalismo trazem como principais conseqüências sociais um maior desenvolvimento da arena de consumo; uma acentuação da efemeridade da moda, de produtos e idéias; uma maior ênfase na descartabilidade e instantaneidade, situações que golpeiam a “experiência cotidiana”.

Uma das marcas da atual fase capitalista é o aumento de competição entre empresas e entre os lugares. Essa competição encoraja os capitalistas a se atentarem para as vantagens locacionais, visando explorar vantagens das diferenciações espaciais. Desta forma, nesta fase da acumulação explora-se uma ampla gama de circunstâncias geográficas nas estratégias locacionais.

Pensando em termos de um sistema urbano global, D. Harvey afirma que cresce a importância dos lugares, já que esses possuem recursos materiais e qualidades diferenciadas. Variam os recursos materiais disponíveis; há variações locais de gosto; há diferentes capacidades de empreendimento nos diferentes lugares; há diferentes disponibilidades de capital, de conhecimento científico, de número de consumidores; há diferentes estratégias de acumulação das elites locais (dos governos locais e dos capitalistas locais).

Em um mundo tão diverso, as lideranças políticas muitas vezes assumem um papel de estimulador do desenvolvimento local e buscam, algumas vezes de forma obsessiva, a criação de um “clima favorável e negócios”.

Em seu livro The urban experience, publicado em 1989, David Harvey coloca mais explicitamente a questão do consumo em contexto de competição entre cidades e regiões. O que está em questão são investimentos para atrair consumidores e para fomentar o consumo. Esses investimentos visam melhorar a qualidade de vida e do meio urbano, valorizar o espaço, fazer inovações culturais, dispor de atrativos de consumo e entretenimento.

David Harvey considera que inovações culturais (festivais, eventos culturais, artísticos, exposições); atrativos de consumo (centros de convenções, shoppings centers, marinas, praças de alimentação exóticas) e atividades de entretenimento (estádios, parques temáticos, espetáculos temporários ou permanentes, feiras) influenciam na centralidade da economia de bens simbólicos, reforçando estilos de vida, diversificando as ofertas de consumo, promovendo espaços de consumo e de lazer. (cf. D.Harvey, 1996:54-55)

Podem ser trunfos que reforçam a distinção de uma dada localidade e jogam papel importante na atração de investimentos, que afetam a dinâmica econômica local, os territórios e a sociedade.

Em suma, as cidades procuram reforçar seu papel de centro de consumo, buscando melhorar sua atratividade por meio do turismo, do entretenimento, de inovações culturais que podem resultar em melhorias na qualidade de vida e do meio urbano. D. Harvey diz: “acima de tudo a cidade tem de parecer como lugar inovador, excitante, criativo e seguro para viver, visitar, para jogar ou consumir” (D. Harvey, 1996:55).

Segundo João Queirós (2008), a divisão espacial do consumo mobiliza parte dos atores políticos da atualidade, responsáveis pelo planejamento e gestão urbana, já que há inconstância das regras de competição no quadro da divisão espacial do trabalho e uma diminuição da importância das funções de redistribuição, devido à contenção de despesa pública, em contexto de neoliberalismo.

Não apenas os governos locais, mas os agentes imobiliários, incorporadores, investidores privados e mesmo parte dos trabalhadores mais sensíveis ao desemprego se juntam na preocupação de promover novas opções de investimentos, muitas vezes baseadas no entretenimento, ou em novas opções de consumo. Se para parte significativa da população ronda a ameaça do desemprego e recessão, por outro lado, o poder de consumo dos que possuem renda persiste, em parte alimentado pelo crédito, sendo esse poder mais seletivo.

Para David Harvey, os investimentos de apoio a atividades culturais e de consumo e uma ampla série de serviços urbanos disponíveis estimulam a captura da mais-valia em circulação. O risco, segundo o autor, é alto, mas os rendimentos são altos também. (D. Harvey, 1989:47-48)

O potencial de consumo da Região Metropolitana de Campinas

A Região Metropolitana de Campinas (RMC) foi instituída em 2000. Os 19 municípios que a compõem são: Americana, Artur Nogueira, Campinas, Cosmópolis, Engenho Coelho, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Monte Mor, Nova Odessa, Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara D´Oeste, Santo Antônio de Posse, Sumaré, Valinhos e Vinhedo.

É uma região conhecida como um pólo de excelência em pesquisa cientifica e tecnológica, tendo também uma agricultura moderna e diversificada. Associado a este cenário, a RMC dispõe de moderna infra-estrutura produtiva, na qual se destaca o aeroporto de Viracopos, e de uma posição geográfica privilegiada. Constitui-se em um aglomerado composto por municípios de porte e “vocações” econômicas variadas.

Com uma posição de destaque no cenário econômico brasileiro, a RMC concentra cerca de três milhões de habitantes, sendo o PIB (Produto Interno Bruto) regional de cerca de R$ 58,06 bilhões em 2005[1] e vem crescendo recentemente acima da média nacional. Campinas tem o 11º maior PIB municipal do país (R$ 20,6 bilhões) e cinco outros municípios do aglomerado metropolitano estão entre os 100 maiores: Paulínia (6,4 bilhões, 45º lugar), Sumaré (R$ 4,8 bilhões, 64º lugar), Americana (RS 4,3 bilhões, 72º), Indaiatuba (R$ 3,4 bilhões, 90º) e Jaguariúna (R$ 3,0 bilhões, 95º). (cf. IBGE apud Correio Popular, 20/12/07)

O Atlas do Mercado Brasileiro, divulgado pelo jornal Gazeta Mercantil, listou as 300 cidades de maior renda familiar do Brasil, considerando o aumento do Índice de Potencial de Consumo (IPC), o crescimento da população, o PIB (Produto Interno Bruto) municipal, as operações bancárias e de crédito, a criação de empresas, os licenciamentos de veículos e o incremento dos gastos sociais por habitante, considerando saúde, saneamento, educação, habitação e ciência e tecnologia. Observa-se que alguns dos dezenove municípios que compõem a RMC sobressaem-se: Paulínia, Indaiatuba, Vinhedo, Valinhos, Sumaré Campinas, Hortolândia, Santa Bárbara d´Oeste, Americana e Itatiba. Paulínia ficou em primeiro lugar, sendo considerado o mais dinâmico do país, além de possuir a segunda maior renda per capita do estado.

O município de Campinas é considerado o nono no Índice de Potencial de Consumo (IPC) para uma População Economicamente Ativa (PEA) de 575,2 mil pessoas

Para a ACIC (Associação Comercial e Industrial de Campinas), os serviços podem ser vistos como a segunda “vocação” da região, já que a indústria ainda lidera a atração de investimentos, ao lado da ciência e tecnologia, ainda que um estudo do IBGE mostre que a maior força da riqueza regional é o setor de serviços, que produziu R$ 27,7 bilhões, enquanto que a indústria produziu R$ 18,6 bilhões e a agropecuária R$ 265,2 milhões em 2005. Considere-se também que este setor congrega mais da metade dos trabalhadores no aglomerado metropolitano.

As atividades bancárias e o crédito para consumo na RMC

A praça bancária no município de Campinas é a quinta do país e nela é movimentado mais de R$ 60 milhões por ano e cerca de US 7 bilhões no comércio exterior (em 2007). São 43 bancos, com 204 agências que respondem pela praça bancária de Campinas. (cf. Correio Popular, 14/07/07)

Quanto a RMC, as informações sobre o setor bancário são de 2005. Segundo o Sindicato dos Bancários de Campinas e Região, naquele ano havia 377 agências nos 19 municípios do aglomerado, sendo o município de Americana aquele que depois de Campinas detinha o maior número de agências, com 22 delas. (cf. www.sindicatocp.org.br, 2008) Como houve uma continuidade no processo de reestruturação do setor bancário no país, com algumas fusões no período recente, esses números apresentados podem estar um pouco defasados. Mas o fato é que os bancos investem na região, pois a população apresenta um significativo poder aquisitivo e devido à grande concentração de empresas. Segundo este sindicato, em 2005 havia 214 agências em Campinas, equivalendo a 21 agências para cada 100 mil habitantes, quando a média nacional era de 10 agências para cada 100 mil habitantes.

Com relação aos serviços financeiros, um aspecto que chama a atenção no cenário das grandes cidades brasileiras, em especial nos últimos anos, é a multiplicação de agências financeiras, ou seja, de agências de empréstimo principalmente a pessoas físicas. Essa difusão espacial das financeiras é considera como uma marcante mudança no setor.

Mesmo as grandes corporações bancárias estão direcionando parte de suas atividades para esse segmento que atende principalmente as classes de baixa renda. Em apenas um ano (entre 2003 e 2004) houve um crescimento de 66% no número de agências no município de Campinas, certamente aumento estimulado pela queda nos juros impostos pelo COPOM (Conselho de Política Monetária, do governo federal) ao sistema financeiro e à economia como um todo.

Importantes grupos como o Citibank, General Eletric (por meio da GE Pronto, iniciativa da GE Consumer Finance), Bradesco/Zogbi, Unibanco/Fininvest abriram filiais em Campinas, município considerado como a “porta de entrada” da RMC. O que esta “novidade” da expansão das financeiras pontua é a forte irrigação de dinheiro nos mercados, principalmente porque a maior parte dos financiamentos é para o chamado “ramo mole”, ou seja, para consumo de calçados, vestuários e outros artigos de consumo pessoal e das famílias. (cf. Correio Popular, 11/02/07 e www. mmais.com.br, 2008)

Os sinais de inadimplência, segundo o jornal Correio Popular, não são irrelevantes. Mas, mesmo que a inadimplência seja baixa, o crescimento da relação empréstimo versus Produto Interno Bruto (PIB) dá um indicador que mede o grau de endividamento das pessoas e é utilizado em todo mundo para medir a saúde financeira das populações. É só lembrar a recente crise financeira norte-americana que tem sua origem no crédito ao consumidor.

Saúde e educação: breves apontamentos sobre dois serviços que influenciam a qualidade de vida e geram fluxos espaciais

É preciso considerar na divisão espacial de consumo a disponibilidade de dois serviços sociais de fundamental importância: a saúde e a educação. No caso da saúde, a situação da RMC apresenta alguns problemas, ainda que a região seja considerada referência em serviços de saúde. Nesta parte do trabalho, o objetivo é pontuar que esse serviço social tem uma regionalização que causa impactos no espaço metropolitano porque envolve a mobilidade das pessoas e o acesso, já que muitos têm dificuldades de acessar certos tipos de serviços médicos.

Segundo Ana Cristina Fernandes et alii, a provisão desigual de serviços de saúde leva à ocorrência de forte gravitação no município de Campinas, que polariza uma vasta área geográfica que extrapola os limites metropolitanos e chega a alcançar municípios de fora do estado de São Paulo. Assim, Campinas é um pólo regional de prestação de serviços de saúde, com a formação de fluxos intensos que extravasa a RMC. Tal “mérito” resulta de uma melhor oferta de serviços, mas também desnuda as deficiências do restante da rede na RMC, já que entre os 19 municípios, quatro não possuem leitos hospitalares, ainda que oito deles apresentem indicadores acima da média regional, considerando-se o número de leitos por mil habitantes (Pedreira, Americana, Itatiba, Vinhedo, Indaiatuba e Campinas).

Há uma sobrecarga nos municípios mais bem equipados, havendo situações nas quais mais de 40% dos pacientes atendidos são de outros municípios, gerando-se distorções nas finanças municipais, pois o município que faz o atendimento é que paga os custos com seus recursos orçamentários se ultrapassarem o teto de atendimento previsto pelo SUS.

Essa situação coloca à luz uma faceta da perversidade social da RMC e de outros municípios não metropolitanos. Como os serviços de saúde são no geral ruins, os municípios que têm uma situação mais confortável, acabam sendo excessivamente acionados pela demanda regional e extra-regional, com prejuízos para a população local. A saúde é, assim, um dos serviços que mais traduzem a desigualdade sócio-espacial da metrópole e do país.

Outro serviço social no qual a RMC e seu município principal são referência é na área de educação, em especial a de nível superior.

 No ensino superior, Campinas possui uma ampla rede de estabelecimentos e duas importantes universidades, a Unicamp e a PUC-Camp que além de diversos cursos de graduação possuem também diversos programas de Pós-Graduação. Há também outras universidades e faculdades privadas na RMC, de forma que há a geração de um significativo contingente de egressos que possuem capacitação técnica, científica e cultura, com certo refluxo da demanda nos últimos anos. (cf. Correio Popular 14/07/07)

Algumas formas de comércio e de atrativos de consumo

Segundo Ulisses Cidade Semeghini, a década de 1970 foi um marco na transformação de Campinas em uma grande cidade. Até então, o setor de serviços apresentava uma estrutura acanhada. Já havia já na região um considerável número de grandes empresas, cuja demanda por serviços terciários era atendida pela capital paulista. Naquela década os setores de educação e saúde, bem como de comércio atacadista já se destacavam e atendiam uma vasta região do interior paulista. Mas, apesar de seu terciário acanhado, a cidade se destacava pelas boas condições que oferecia a seus moradores. (cf. U.C. Semeghini, 1992a: 39-40)

A década seguinte foi de grande expansão das atividades terciárias e também de expansão urbana: a cidade se espraiou ainda mais e a população cresceu significativamente. Com isso, o terciário local e regional se diversificou e se especializou. Houve certo esvaziamento da área central com novas áreas de expansão urbana, em especial uma expansão do centro em direção ao bairro Cambuí, para onde uma parcela do comércio e serviços sofisticados se deslocaram, sendo que outra parte significativa desse comércio mais sofisticado se transferiu para o primeiro shopping center construído fora das capitais estaduais do país: o Shopping Center Iguatemi Campinas, inaugurado em 1980, e que absorveu cerca de 60% do comércio de luxo da área central.

O Shopping Iguatemi Campinas também inovou em sua estratégia locacional, ao se instalar próximo de rodovia para permitir uma influência regional, em contexto da difusão do uso do automóvel pelas famílias. A partir de então, ficaram cada vez mais evidentes os sinais de metropolização, com a consolidação de funções e de características atribuídas a centros metropolitanos. (cf. U.C. Semeghini, 1992a:51-65)

Após a instalação do Shopping Iguatemi Campinas prosseguiu o movimento de expansão dos shoppings centers e de outros grandes estabelecimentos no interior do estado, em especial em Campinas e região, em uma estratégia por parte dos grandes capitais de explorar novos mercados, abertos com a “interiorização do desenvolvimento”, ocorrida com a desconcentração industrial de São Paulo. Uma conseqüência desse processo foi a difusão de novos padrões de consumo e lazer, em especial dos extratos médios de renda, ainda que não de forma plena. (cf. L.L.Diniz Filho, 1995:38)

Segundo a ACIC em 2004 havia em Campinas 07 shoppings centers[2]. Na região metropolitana de Campinas há alguns outros shoppings, como o Paulina Shopping (30 lojas), Shopping Itatiba Center (40 lojas), Shopping SerraAzul Itatiba (33 lojas), Shopping Via Direta e Shopping Welcome Center em Americana, o Tivoli Shopping em Santa Bárbara d´Oeste (130 lojas) e em Valinhos estão em implantação o Shopping Valinhos (112 lojas) e o Complexo Guatti (120 lojas), com inauguração prevista para 2008.

Quanto aos hipermercados, existem oito lojas no município de Campinas: uma loja do hipermercado Enxuto, três lojas do Carrefour, duas lojas do Extra, um Makro Atacadista e duas lojas do Big Hipermercados. Todos localizados no município de Campinas, com exceção de uma loja do Carrefour que se localiza na divisa de Campinas com Valinhos.

A rede de supermercados, por sua vez, é vasta e capilarizada, composta de algumas redes, como o Pão de Açúcar (seis lojas em Campinas, uma em Americana e uma em Indaiatuba), com o predomínio de empreendimentos individuais e algumas pequenas redes regionais, como o Dalben, Galassi, e Paulistão/Peralta.

Um aspecto importante a se considerar é como determinado tipo de consumo acaba por tornar-se uma referência de modo de vida. Segundo Renato Ortiz, as pessoas que participam do consumo são envolvidas por valores e perspectivas afins, por referências de vida e, de um imaginário coletivo, por meio dos quais grupos de classes médias mundializadas se aproximam e se comunicam entre si. (cf. R. Ortiz, 1996?: 85-86)

Há outras formas de comércio na RMC. Notem-se alguns pólos econômicos que proporcionam oportunidade de compras em nichos específicos.  Segundo o Campinas & Região Convention & Visitors Bureau, o município de Americana é conhecido pela oferta de lojas de tecido e confecções, Itatiba pelo pólo moveleiro e Pedreira pelas lojas de cerâmica e porcelanas. São exemplos de especializações comerciais oriundas de arranjos produtivos locais. (cf. www.campinas-região.com.br, 2008)

Em Campinas houve um deslocamento de parte do comércio do centro tradicional para bairros do chamado centro expandido. Assim, bairros como o Cambuí, Guanabara e parte da Nova Campinas viram o número de estabelecimentos comerciais dobrarem na última década. O foco desses empreendimentos é um público mais diferenciado, de maior poder aquisitivo. Uma das conseqüências espaciais é que esses deslocamentos de atividades terciárias, algumas vezes, expõem a cidade a uma setorialização que pode ser exemplificada pela Avenida Orozimbo Maia e Avenida José de Souza Campos (Norte-Sul), que concentram concessionárias de automóveis, e a Avenida Moraes Salles que concentra lojas de móveis. Apontem-se também alguns impactos negativos evidentes. O nível de violência cresceu, expondo os moradores que permanecem nesses bairros à uma maior vulnerabilidade; o fluxo de veículos também aumentou em vias não projetadas para tráfego intenso e há uma valorização imobiliária que aumenta a especulação e afugenta uma parcela de antigos moradores de renda mais baixa, aumentando a segregação sócio-espacial.

No centro de Campinas a Rua Treze de Maio é o ícone do comércio de rua, sendo a principal artéria do comércio popular no município de Campinas. Foi nesta rua que nasceu o comércio da cidade, sendo estimado um público atual de 70 mil pessoas/dia. (cf. Correio Popular, 14/07/07)

O centro de Campinas é o local por excelência do comércio popular que vem crescendo nos últimos anos. Fato a ser destacado é que é visível, como em muitas outras cidades, a presença de comerciantes orientais (chineses e coreanos), comercializando um mix de mercadorias de baixo valor, geralmente importados da China, e algumas outras lojas de comerciantes locais que focam a venda de produtos diversos, de baixo preço. Segundo o Correio Popular, entre 2006 e 2007 houve um crescimento de mais de 62% deste tipo de comércio. (cf. Correio Popular 02/03/08) Tal tipo de comércio reforça o perfil de consumidores de renda mais baixa, mas que mantém o centro da cidade com vitalidade, pois o perfil de renda mais baixa não significa que o centro esteja em decadência. É apenas outro perfil de consumidores que freqüentam o centro de Campinas.

Equipamentos urbanos para esporte, lazer e para fins turísticos como atrativos de consumo

Campinas tem atraído grandes investimentos em rede hoteleira. Na RMC entre 1999 e 2005 foram construídos 24 novos hotéis e outros foram ampliados, sendo que os municípios que se destacam além de Campinas é Indaiatuba e Sumaré. No município de Campinas são quase 100 hotéis, com 6 mil apartamentos, sendo 35 deles enquadrados no perfil de executivos e um deles cinco estrelas (do grupo The Royal, que pretende construir mais um hotel cinco estrelas até o início de 2009). Há um evidente potencial regional para o turismo de negócios, segmento que necessita de boas ofertas de hospedagem e de espaços apropriados para sediar eventos. É um tipo de turismo lucrativo, pois o turista de negócios gasta o dobro do turista de lazer, com permanência média de três dias.

A partir de 1999, muitos hotéis de cadeias internacionais, como Íbis e Mercure (grupo Accor) e Sleep Inn e Confort (grupo Atlântica), foram inaugurados e a explicação para tal situação é que essa oferta deu-se após a instalação na região de grandes empresas do setor de informática e telecomunicações, o que ajudou a marcar a potencialidade para o turismo de negócio. (cf. Correio Popular, 30/07/06; 22/09/06 e www.campinas-regiao.com.br, 2008)

Segundo o jornal Correio Popular, a setor de eventos de Campinas deixa de arrecadar cerca de R$ 1 bilhão ao ano com a falta de um centro de convenções para abrigar feiras e eventos de grande porte. Em 2006 foi feito pela Prefeitura um projeto de construção de um centro de convenções com 25 mil metros quadrados, com investimentos de parcerias público-privadas. O município e os demais da região sofrem com a falta de espaço para eventos para público acima de 400 pessoas. A obra deverá ser licitada no final de 2008.              

Segundo Rui Carvalho, diretor Executivo do Convention Bureau, o turismo de negócios pode ser visto como um setor que dinamiza a cadeia econômica regional e envolve várias atividades, irrigando a economia e auxiliando no crescimento econômico. (cf. www.ruicarvalho.com.br, 2004) Some-se ao turismo de negócio as festas populares, rodeios, eventos esportivos e cresce a importância desse tipo de atividade em toda a RMC

O governo estadual vem estimulando a criação de diversos parques temáticos, sendo que em uma parte da Região Metropolitana de Campinas, entre Vinhedo e Itupeva, já existem o parque de diversões Hopi Hari e o parque aquático Wet n´Wild, atrações que tornam essa área da região conhecida como a Orlando Caipira, em uma alusão à cidade da Flórida. (cf. www.campinas-região.com.br/campinas, 2008)

Com relação ao lazer ao ar livre, há em toda a região diversos parques e bosques, onde o lazer se alia à preocupação ambiental. Ressalte-se o Parque Portugal (Lagoa do Taquaral), que é um dos cartões postais do município de Campinas e que atrai cada fim de semana cerca de 60 mil pessoas. Localiza-se em uma das áreas mais valorizadas do município, valorização essa que é tributária da própria implantação do parque. Ainda em Campinas merece destaque os distritos de Sousas e Joaquim Egídio por sua beleza natural em área de proteção ambiental, com suas trilhas, áreas verdes e roteiro gastronômico que marcam o lazer da região.

Há também diversos museus, principalmente em Campinas e, ainda que muitos deles tenham interessantes propostas temáticas[3], no geral, seus acervos são modestos e não são referências. Parece ser uma oferta significativa para a população dos arredores, mas não parece provável que muitas pessoas se desloquem da capital paulista ou de regiões mais distantes do estado ou do país para irem à Campinas e região usufruir dessa oferta cultural.

Outra marca distintiva vem do esporte, muitas vezes utilizado como forma de projetar o município. É desnecessário lembrar a popularidade do futebol profissional no Brasil. Em Campinas não é diferente. O município protagoniza um dos maiores clássicos do futebol do interior do Brasil quando os dois times locais, Guarani e Ponte Preta, se enfrentam em um espetáculo conhecido como Dérbi e que acontece com grande rivalidade desde 1911. Ambos apresentam recentemente campanhas instáveis, mas tem tradição de sagrarem-se campeões, tanto no competitivo campeonato brasileiro (Guarani em 1978) quanto no campeonato paulista (a Ponte Preta foi vice-campeã paulista em 1970, 1977, 1979, 1981 e em 2008). Os dois times possuem estádios de futebol (o Brinco de Ouro da Princesa, do Guarani e o Moisés Lucarelli, da Ponte Preta). 

Recentemente, com a escolha do país para ser sede da Copa do Mundo de Futebol de 2014, Campinas batalha para sediar uma parte dos jogos. Está sendo estudado um projeto denominado de Projeto Copa para a construção de complexo multiuso em uma área de 3,5 milhões de metros quadrados, que incluirá a construção de um moderno estádio de futebol em formato de arena multiuso, com centro de convenções e cercado de empreendimentos imobiliários.

O turismo rural também apresenta potencialidade, especialmente em Campinas, Americana e Sumaré, com várias fazendas históricas, em especial do período da economia cafeeira, algumas restauradas. Em algumas delas podem ser feitas visitações agendadas e outras funcionam como pousadas, havendo outros imóveis exercendo essa função, em especial nos distritos de Sousas e Joaquim Egídio, área de proteção ambiental de Campinas.

Há também uma importante atividade agrícola que pode ser explorada pelo turismo rural e que está inserida em um programa de certa envergadura que envolve o governo do Estado de São Paulo, instituições regionais e algumas prefeituras. São os circuitos turísticos que serão comentados abaixo.

Desenvolvimento local/regional e divisão espacial de consumo: os circuitos turísticos na Região Metropolitana de Campinas e arredores

No conjunto de atividades terciárias se destaca as atividades turísticas como opção de geração de emprego e renda. Uma das estratégias vinculadas às atividades turísticas e que tem alcance regional é a proposta da constituição de circuitos turísticos patrocinadas pelo governo paulista.

Alguns municípios da Região Metropolitana de Campinas participam de alguns circuitos, em especial o Circuito das Águas (que visa fomentar o turismo), o Circuito das Frutas (visando o turismo e agronegócios) e o Circuito de Ciência e Tecnologia, entre outros. Neste trabalho serão comentados os Circuitos das Águas e o das Frutas[4].

O turismo vem sendo utilizado como uma atividade que impulsiona o desenvolvimento local. A pretensão é de fomentar o turismo como atividade econômica, em uma formatação de pacotes turísticos competitivos. No caso dos circuitos turísticos, sua constituição é vista como positiva para pequenos municípios com economia pouco dinâmica e com poucos recursos para investir, pois um município, ao se aliar aos municípios vizinhos, aumenta a escala e divide os custos, visando um turismo de alcance regional.

O Circuito das Frutas congrega os municípios de Indaiatuba, Itatiba, Valinhos, Vinhedo, Itupeva, Jarinu, Jundiaí, Louveira, Morungaba e Atibaia, sendo os quatro primeiros municípios da RMC. Este Circuito tem como atrativos diversos roteiros por fazendas produtoras de frutas e seus derivados e visitas a pontos de comercialização de artesanato local.

Nestes municípios ocorrem também diversas festas tradicionais, a maioria nos meses de janeiro e fevereiro, que recebem por volta de um milhão de turistas ao ano, em especial em Valinhos, Vinhedo, Louveira e Jundiaí (estas duas últimas não pertencem a RMC).

O Circuito das Águas Paulista é composto pelos municípios de Jaguariúna, Pedreira, Águas de Lindóia, Amparo, Lindóia, Monte Alegre do Sul, Serra Negra e Socorro, sendo os dois primeiros pertencentes à RMC.

Estes oito municípios integram o Consórcio Intermunicipal do Pólo Turístico do Circuito das Águas Paulistas, formado com o objetivo de divulgar os atrativos turísticos e colaborar para o desenvolvimento econômico e social dos municípios envolvidos.

Este Circuito está localizado na Serra da Mantiqueira, entre vales cobertos por verde, com belas paisagens, cachoeiras, fontes de água potável e um clima de reconhecimento internacional. Muitos destes municípios são animados centros de lazer e seu principal atrativo é a água, também reconhecida internacionalmente por seus poderes curativos. Seu rico patrimônio histórico, do tempo da cafeicultura, seus roteiros com turismo rural e de aventura e sua gastronomia fortalecem a atividade turística (cf. www.circuitodasaguaspaulista.com.br, 2007)

Novos circuitos vêm sendo criados e parte dos municípios da região é partícipe. Além do Circuito das Águas e das Frutas, foi criado um novo circuito, o da Cultura Sertaneja que congrega as festas de peão de boiadeiro que são tradicionais no interior paulista.

Os símbolos urbanos e as festas populares: a construção da identidade e da imagem urbano-regional

Muitos dos programas de apoio ao desenvolvimento local na RMC buscam dinamizar a economia local com atividades com potencial de expansão. No caso de Campinas e região é notável como a “vocação” tecnológica é sempre citada. Basta uma rápida olhada em sites de algumas prefeituras, de agências de desenvolvimento e em diversas reportagens jornalísticas para observar como esta imagem tem força.

Realmente são significativos os investimentos que a região recebe de empresas de base tecnológica e também tem havido estudos que apontam atividades turísticas como um setor potencialmente a ser estimulado.

O Convention & Visitors Bureau de Campinas e a Fundação Fórum Campinas que reúne onze instituições de pesquisa da região têm procurado firmar o nome da cidade-pólo como a Capital Nacional da Ciência e Tecnologia como a marca a ser explorada.

Para o Convention & Visitor Bureau não são necessários grandes investimentos e sugere a implantação de um marco urbano que facilite essa identificação, como, por exemplo, a construção de um portal ou pórtico na cidade que identifique a cidade como a capital nacional de tecnologia (cf. Correio Popular, 14/07/06). Esta proposta repete uma mesma estratégia recorrente na região, isso porque diversos portais vêm sendo implantados em muitas localidades, como parte de planos turísticos e mesmo por uma questão de segurança. No caso da RMC, seis municípios já possuem pórticos e outros seis planejam instalá-los. O problema é que muitas vezes eles possuem um padrão estético de gosto discutível.

Sumaré, Paulínia Holambra, Vinhedo, Indaiatuba e Valinhos possuem portais em algumas das entradas dos municípios, sendo que o de Holambra e o de Indaiatuba exercem a função de posto de informações turísticas. Por sua vez, Campinas, Jaguariúna, Santo Antônio de Posse, Nova Odessa, Engenheiro Coelho e Artur Nogueira planejam instalar portais. Campinas estuda como possibilidades marcar a cidade como pólo tecnológico, mas também vincular a cidade à música, por ser a terra natal de Carlos Gomes, o principal compositor erudito do Brasil.

As festas populares, por sua vez, são importantes eventos que marcam alguns municípios e a própria região. A mais importante das festas na região é a Expoflora, mas também são muito importantes os rodeios.

A Expoflora, a festa das flores, ocorre desde 1981 no início da primavera na Estância Turística de Holambra[5], colonizada por holandeses católicos que vieram para o Brasil no final da década de 1940. É conhecida nacionalmente como a Cidade das Flores e tem sua economia baseada na agropecuária, em especial produção de flores, e no turismo. Esta festa tem muitas atrações, como uma mostra de arranjos florais, atrações culturais, dança e gastronomia. De fato é a maior festa de plantas e flores da América Latina. É um evento que movimenta um grande público, cerca de 300 mil pessoas, sendo que 30% pernoitam na região. É um público variado, mas com sensível presença de aposentados e pessoas de terceira idade.

A Expoflora tem forte impacto no terciário regional, irrigando também o turismo do Circuito das Águas, o movimento dos shoppings centers, de restaurantes e a ocupação de hotéis, principalmente os de perfil econômico nos três ou quatro finais de semana quando a festa acontece.

A Festa do Peão de Americana, com seu rodeio, iniciou-se em 1987, por iniciativa do Clube dos Cavaleiros de Americana, cujos membros cultivam tradições do mundo rural e participam de diversas romarias pelo interior do país, e do locutor de rodeios, o Zé do Prato[6]. É um evento que ocorre no mês de junho e atrai por volta de 350 mil pessoas em dez dias de atrações. É uma festa que demanda uma grande estrutura, com importantes patrocinadores.

Nesta festa anual há a presença de artistas populares famosos, em especial do gênero sertanejo e do pop nacional. Possui um tradicional desfile de cavaleiros, o maior do estado de São Paulo e tenta manter um vínculo com a religiosidade e tradição da cidade, com a montagem de uma pequena igreja, onde, antes da montaria, os peões e o público fazem suas orações. (cf. www.festadopeaodeamericana.com.br, 2008 e www.guaiviagemturismo.com.br, 2008)

O Rodeio de Jaguariúna ocorre durante o mês de maio é também uma das maiores festas country do Brasil, realizada durante 10 dias no Complexo Red Park com público aproximado de 300 mil pessoas. É um evento que, pelo porte não envolve apenas entretenimento. Irriga a economia local e regional com cerca de R$ 20 milhões. Outros setores como gastronomia, hotelaria e turismo se beneficiam do evento que gera renda local e aumenta a arrecadação. (cf. www.rodeiodejaguariuna.com.br, 2008)

O rodeio é o carro-chefe do turismo local. O vínculo de Jaguariúna com a cultura country/sertaneja tem a ver com a história dos tropeiros e bandeirantes no período da mineração. Posteriormente, a economia cafeeira reforçou o mundo rural e sua cultura. Desta forma, são eventos que mobilizam grande parte da população e trazem visitantes de fora da região.

Esse mundo rural que está nas raízes dessas festas convive com um mercado de consumo de padrão internacional, globalizado. Assim, esse “consumo globalizado”, conforme foi falado acima, se mescla com certa identidade local, a qual se valorizam elementos de uma “cultura interiorana”, caipira, exemplificada pelos rodeios, festas populares e por espetáculos sertanejos.

É marcante em toda a região, bem como em várias outras regiões do estado de São Paulo a tendência do chamado estilo country-sertanejo. É um estilo que reforça valores como o amor pela terra, a música que fala de paixão, em uma tentativa de combinação de traços da cultura genuinamente sertaneja ou caipira com a dos cowboys norte-americanos, resultando em um estilo rural em que valores e comportamentos invadem os centros urbanos do interior do país. Esses valores são resgatados pela mídia e movimentam um mercado milionário.

A valorização da cultura caipira “reciclada” em cultura country reforça a sensação de pertencimento da sociedade local que permite a valorização de uma identidade construída e também da construção de uma imagem positiva da região, que incorpora esses aspectos constitutivos de uma tradição interiorana em sintonia com o futuro, por meio da presença de formas de consumo modernas. É um espaço/tempo festivo organizado pelas municipalidades e com a influência da indústria cultural, que ajuda a marcar positivamente a imagem dos municípios.

Para David Harvey; "espetáculos e exposições tornam-se símbolos de uma comunidade dinâmica [criando] um clima de otimismo, [podendo] reverter [um]a espiral descendente de estagnação econômica em cidades interioranas" (D. Harvey, 1996: 56).

Outro aspecto assinalado por David Harvey é que a “venda” da cidade como um espaço para atividades de consumo pode resultar em algo positivo. Para ele,

“a produção orquestrada de uma imagem urbana, se bem sucedida, pode ajudar também a criar um sentido de solidariedade social, orgulho cívico e lealdade ao lugar e mesmo permitir que a imagem urbana forneça um refúgio mental em um mundo no qual o capitalismo alija cada vez mais o senso de lugar” (D. Harvey, 1996: 60).

Mas, por outro lado, ao se promover a circulação de capital por meio do consumo de bens, serviços e mercadorias, acaba-se muitas vezes por esvaziar a cidade de seu conteúdo para transformá-la em uma imagem a ser consumida; acaba-se por fazer prevalecer o local como valor de troca e não como valor de uso, enfim acaba-se por transformar a própria cidade e região em uma mercadoria. David Harvey também pontua alguns aspectos negativos. Em outro trabalho, David Harvey lembra que

“muitas das instituições culturais - museus, organizações do patrimônio histórico, arenas para espetáculos, exposições e festas e festivais – parecem ter como objetivo o cultivo da nostalgia, a produção de memórias coletivas higienizadas, a promoção de sensibilidades estéticas acríticas e a absorção de possibilidades futuras numa arena não-conflituosa eternamente presente. Os contínuos espetáculos da cultura da mercadoria, incluindo a transformação do próprio espetáculo em mercadoria, desempenham seu papel do fomento da indiferença política”. (cf. D. Harvey, 2004:221)

Assim, conforme já discutimos em outra oportunidade no estudo de outra localidade, essa orquestração de uma imagem urbana/regional e a difusão e incentivo de certas formas de consumo podem estar induzindo a um conformismo generalizado, a uma aceitação acrítica de práticas corporativas e concentradoras de poder, preocupadas em atingir positivamente determinados segmentos de investidores capitalistas; podem estar traduzindo um modelo de desenvolvimento local que parte da visão de que o progresso é o avanço material do capitalismo e a promoção da lógica do capital, enquanto a sociedade local fica cada vez mais alienada dos processos de tomada de decisões do desenvolvimento local que afetam suas vidas e o sentido de lugar. (cf. C.C. Silva, 1998: 89)

 

Notas

[1] Em 25 de março de 2008 a cotação do dólar comercial era de um dólar igual a R$1,73 e um euro equivalia R$ 2,70 reais, cotação que vinha flutuando pouco no último ano.

[2] São eles: Shopping Iguatemi (382 lojas), Galleria (125 lojas), Campinas Shopping (200 lojas), Unimart (76 lojas), Shopping Jaraguá Conceição (45 lojas), Shopping Jaraguá Brasil (48 lojas) e Parque D. Pedro Shopping (391 lojas) (cf. ACIC/Relatório Econômico, 2004:27). Na RMC, os afiliados a ABRASCE (Associação Brasileira de Shopping Centers) são esses shoppings de Campinas, mais o Shopping Jaraguá Indaiatuba.

[3] Alguns dos Museus de Campinas: Museu do Café (com 100 peças), Museu Dinâmico de Ciência, Museu da Cidade (com aquarelas de Castro Mendes e objetos indígenas da região), Museu da Imagem e do Som (30.330 peças), Museu de Arte Contemporânea (578 peças), Museu Carlos Gomes (em memória do mais importante compositor erudito do Brasil), Museu de Arte Sacra, Museu de História Natural e Aquário, Museu do Negro (história da comunidade negra de Campinas), além de alguns outros espalhados pela RMC. (cf. www.mmais.com.br, 2004)

[4] O Circuito Turístico de Ciência e Tecnologia é outro circuito importante para a região. É formado pelos municípios de Campinas, Hortolândia, Indaiatuba, Jaguariúna, Limeira, Monte Mor, Nova Odessa, Paulínia, Piracicaba, Santa Bárbara d´Oeste e Sumaré, de modo que só os municípios de Limeira e Piracicaba não pertencem a RMC. Este circuito visa “imprimir aos municípios a marca da ciência, da tecnologia e da inovação, difundindo este conceito por meio do turismo; o objetivo do circuito é atrair novos investimentos e criar oportunidades, caracterizando a região como pólo científico e tecnológico e potencial modelo de desenvolvimento para o país”. É um circuito voltado para empresários e menos para turistas de lazer. (cf. www.campinas.sp.gov.br/comercio/circuito, 2008)

[5] Holambra é um dos 29 municípios paulistas considerados estâncias turísticas por cumprir determinados pré-requisitos. Esses municípios dispõem de verba pública oriunda do orçamento estadual para a promoção do turismo local.

[6] O município de Americana, um dos maiores pólos têxteis do estado do São Paulo, teve seu nome originado da colonização feita por soldados norte-americanos vindos da Guerra de Secessão em meados do século XIX. (cf. www.guiaviagemturismo.com.br, 2008)

 

Bibliografia

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- <htttp://www. acicnet.org.br>. [25 de março de 2008];

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- <htttp://www.festadopeaodeamericana.com.br>.[20 de março de 2008];

- <htttp://www.guiaviagemturismo.com.br>.[12 de março de 2008];

- <htttp://www.mmais.com.br>. [11 de março de 2008];

- <htttp://www.paulinianews.com.br>. [05 de março de 2008];

- <htttp://www.rodeiodejaguariuna.com.br>. [20 de março de 2008];

-<htttp://www.ruicarvalho.com.br/artigos>.[12 de março de 2008];

- <htttp://www.sindicatocp.org.br>.[ 12 de março de 2008].

 

Referencia bibliográfica:
VITTE, Claudete de Castro Silva . Desenvolvimento econômico local e a divisão espacial de consumo nos municípios e na Região Metropolitana de Campinas (SP) . Diez años de cambios en el Mundo, en la Geografía y en las Ciencias Sociales, 1999-2008. Actas del X Coloquio Internacional de Geocrítica, Universidad de Barcelona, 26-30 de mayo de 2008. <http://www.ub.es/geocrit/-xcol/327.htm>

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