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Ar@cne
REVISTA ELECTRÓNICA DE RECURSOS EN INTERNET
SOBRE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona
Nº 160, 1 de junio de 2012
ISSN 1578-0007
Depósito Legal: B. 21.743-98

 


THIRD-PERSON EFFECT
, INTERNET E OS CONTEÚDOS ERÓTICOS: UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DE JOVENS BRASILEIROS E PORTUGUESES

 

 

Renata Francisco Baldanza

Doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

Universidade Federal da Paraíba - UFPB

Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA

<renatabaldanza@gmail.com>

 

Nelsio Rodrigues de Abreu

Doutorado em Administração pela Universidade Federal de Lavras - UFLA

Universidade Federal da Paraíba - UFPB

Programa de Pós-Graduação em Administração - PPGA

<nelsio@gmail.com>

 

Adeilto Ferreira de Lima

Bacharel em Administração pela Universidade Federal de Alagoas - UFAL

Universidade Federal da Paraíba - UFPB

<adeiltolimapj@gmail.com>

 



 

Third-person effect, Internet e os conteúdos eróticos: uma análise sob a ótica de jovens brasileiros e portugueses (Resumo).

 

A circulação de imagens, textos e vídeos de cunho erótico e pornográfico na internet reflete o formato dinâmico e veloz suportado por este ambiente on-line. Estima-se que atualmente quase todos os internautas já tenham tido acesso a materiais desta natureza, seja por meio de acesso direto aos sites e afins, por meio de spams e até mesmo a partir de lista de emails de amigos e conhecidos. Neste sentido, este estudo objetivou analisar a percepção dos efeitos negativos da recepção destes conteúdos sob o olhar do receptor em relação a ‘si’ e aos ‘outros’, tendo como pilar a ‘Third-Person Effect Hypothesis’. Para tanto, realizamos uma pesquisa exploratória de cunho quantitativo, com jovens brasileiros e portugueses, cujos dados foram coletados por meio de questionário estruturado e analisados por meio de análise estatística. Como resultados, apontamos para a confirmação do ‘efeito de terceira pessoa’ no ambiente estudado, sem desconsiderar algumas peculiaridades abordadas durante o artigo.

 

Palabras-clave: Third-Person Effect; Internet; Conteúdos Eróticos; Brasil; Portugal.

 



El efecto de tercera persona, la internet y el contenido erótico: un análisis en la perspectiva de jóvenes brasileños y portugueses (Resumen).

La circulación de imágenes, textos y vídeos eróticos y pornográficos en la internet refleja el formato dinámico y rápido compatible con este entorno en línea. Se estima que actualmente casi todos los usuarios de la internet han tenido acceso a estos materiales, sea por el acceso directo a los sitios y relacionados o por medio del correo no deseado (spams), e incluso por las listas de correo de amigos y conocidos. Así, este estudio tuvo como objetivo analizar la percepción de los efectos negativos de la recepción de estos contenidos, en la perspectiva de la mirada del receptor en relación con el mismo ('yo') y los 'otros', tiendo como uno de los pilares la ‘Third-person Effect Hypothesis’. Por lo tanto, se realizó una pesquisa exploratoria de carácter cuantitativo, con los jóvenes brasileños y portugueses, cuyos datos fueron recolectados con el uso de un cuestionario estructurado y analizados utilizando el análisis estadístico. Como resultado, apuntamos la confirmación del "efecto de tercera persona" en el entorno estudiado, considerando algunas peculiaridades abordadas en el artículo.

Palabras-clave
: Third-Person Effect, Internet, Contenido Erótico, Brasil, Portugal.



 

Third-person effect, Internet and the erotic content: an analysis through the eyes of young brazilian and portuguese people (Abstract).

 

The circulation of images, texts and videos with erotic and pornographic contents on Internet reflects the dynamic and fast format supported by this online environment. It is estimated that currently almost all the Internet users already have had access to such materials, whether by means of direct access to the sites and like, by means of spam and even from mailing lists of friends and acquaintances. Thus, this study aimed to analyze the perception of negative effects of receiving such content under the eye of the receiver in relation to 'himself' and 'others', based on the 'Third-Person Effect Hypothesis'. For this purpose, it was conducted a quantitative exploratory investigation, with young Brazilians and Portuguese, whose data were collected by means of  structured questionnaire and analyzed using statistical analysis. As a result, we point to confirm the ‘third-person effect’ in the studied environment, without disregarding some peculiarities addressed in the article.

 

Keywords: Third-Person Effect; Internet; Erotic Contents; Brazil; Portugal.



 

 

Introdução

 

As novas tecnologias contemporâneas de comunicação refletem, num âmbito geral, padrões de comportamento muito similares às demais tecnologias advindas das constantes inovações tecnológicas durante o processo evolutivo dos indivíduos. Destarte, as tecnologias atuais, e em especial neste artigo a internet, além de refletirem alguns padrões, também alteram outras dinâmicas como a velocidade da circulação de conteúdos, bem como a ampliação das redes de relacionamentos, que são maximizadas pela alta capacidade do ambiente em conectar pessoas geograficamente distantes, de uma forma bem mais rápida, precisa e mais viável em termos econômicos.

 

Portanto, sabe-se que a circulação de arquivos como fotos, vídeos entre outros com conteúdo erótico, ocorre incessantemente pela internet. Algumas maneiras de como tais conteúdos chegam a milhares de pessoas todos os dias podem ser citadas, como emails, blogs, comunidades virtuais, entre outros. O tema sexo é o assunto mais procurado na internet[1]. O autor destaca que os endereços eróticos faturam por ano cerca de 1 bilhão de dólares nos Estados Unidos e o sexo virtual tornou-se um dos assuntos mais lucrativos do comércio eletrônico e uma das diversões prediletas do usuário. O acesso rápido, o conforto e a privacidade característicos da rede produzem o ambiente ideal para o internauta liberar suas fantasias.

 

A partir daí, percebe-se que os conteúdos que circulam na internet não somente mais se restringem ao modelo emissor-mensagem-meio-receptor/receptores-feedback, mas sim à ‘inúmeros receptores’ que difundem para ‘outros’ receptores, que de uma maneira geral, podem nem pertencer ao círculo de amizades do emissor original. Essa é uma das características peculiares da internet, onde os receptores se tornam difusores dos conteúdos que recebem, e que são repassados pelas redes virtuais com fluxo contínuo e incomensurável.

 

Esse fenômeno se dá através do que denominamos atualmente como rede, que em sua conceitualização original pressupõe um “entrelaçamento de fios com aberturas regulares que formam uma espécie de tecido. A partir da noção de entrelaçamento, malha e estrutura reticulada, a palavra rede foi ganhando novos significados ao longo dos tempos, passando a ser empregada em diferentes situações”[2], que de maneira geral, pode ser entendida hoje como um conjunto de indivíduos que de algum modo conseguem se conectar, direta ou indiretamente, a partir do que visualizamos como uma ‘webteia[3]’, e a partir daí, podem travar relações sociais de todas as naturezas e nível de profundidade, conforme seu foco de interesse.

 

Partindo de tais constatações, este estudo objetivou analisar a ‘Hipótese do Efeito de Terceira Pessoa’ (Third-Person Effect Hypothesis), a partir da ótica de jovens brasileiros e portugueses, sobre os possíveis efeitos negativos da circulação e recepção dos conteúdos eróticos através da internet sobre si mesmos e sobre os outros. A partir daí, verificou-se se a hipótese do ‘Efeito de Terceira Pessoa’ em questão poderia ser observada nas mídias digitais, delimitadas neste estudo à internet.

 

Ressaltamos que a hipótese do Efeito de Terceira Pessoa foi originalmente construída num contexto em que a recepção de conteúdos das mídias se voltava para veículos como TV e Jornal impresso. Assim sendo, esta pesquisa pretendeu ainda investigar as dimensões da referida hipótese nos conteúdos veiculados na internet.

 

Para tanto, este artigo divide-se em outras três partes, sendo a primeira um esboço dos pressupostos teóricos procedimentos, o segundo abordando os métodos utilizados, que embasam a pesquisa e a terceira com a análise dos dados coletados e finalizando com as considerações finais do estudo.

 

 

Pressupostos Teóricos


Revisitando a Hipótese de Terceira Pessoa e suas ramificações

 

A hipótese do ‘Efeito de Terceira Pessoa’ ou Third-Person Effect Hypothesis, originalmente proposta por sociólogo W. Phillips Davison aponta a perspectiva de que indivíduos expostos à comunicação persuasiva tendem a superestimar os efeitos desta comunicação em outras pessoas[4]. Como consequência, em alguns casos, a comunicação tenderia a produzir um impacto mais significativo não no comportamento do público a quem ela se dirige de forma mais direta ou ostensiva, mas em indivíduos ou grupos de indivíduos que supõem nesta mensagem um alto poder de influência.

 

Esta hipótese cujo enfoque era originalmente as mídias de massa, foi traçada segundo duas premissas básicas: (a) hipótese de componente de percepção, que prevê que as pessoas percebem maior influência da mídia sobre outras pessoas que sobre si mesmo; e (b) hipótese de componente comportamental, que prevê que, como resultado da percepção de terceira pessoa, as pessoas tendem a apoiar restrições ou censura às mensagens[5].

 

Deste modo, podemos afirmar que esta hipótese trabalha basicamente com efeitos imaginados e de juízo, uma vez que os indivíduos que afirmam perceber maior influência de conteúdos midiáticos sobre os outros do que sobre si mesmos, apenas pressupõem que isso seja a realidade. Deste modo, na percepção do ‘eu’, as mensagens indesejáveis e principalmente seus efeitos negativos irão atuar sobre os outros, não sobre ‘si’.

 

Estes ‘outros’ podem ser definidos segundo os pesquisadores Douglas M. Mcleod, William P. Eveland e Amy I Nathanson em termos de similaridade percebida ou distância social[6]. As pessoas tendem a ver menos diferenças entre si mesmas e grupos similares do que em grupos distanciados socialmente.[7] Outro conceito que poderia moldar as percepções do que seria este ‘outro’ está nos estudos de pesquisadores de Ciência da Informação e Relações Públicas, Hye-Jin Paek e Albert C. Gunther Paek e Gunther, que salientam a existência de dois universos para análise em relação ao ‘outro’ que seriam denominados respectivamente de ‘pares próximos’ e ‘pares distantes’[8]. Os pares próximos poderiam estar associados às pessoas cujos indivíduos percebem como sendo similares a si mesmos. Isso poderia incluir muitas variáveis como idade, classe sócio-cultural ou até mesmo grau de amizade. Já os pares distante seriam os demais avaliados pelo indivíduo como distintos de si mesmo.

 

O pesquisador Richard M Perlof apresenta suas contribuições enfatizando que a questão principal ao tratar da hipótese do Efeito de Terceira Pessoa é que toda a estimativa acerca dos efeitos recai sobre o ‘outro’, e não sobre o ‘eu’. Assim sendo, “ao assumir que é invulnerável aos efeitos da comunicação, ao passo que os outros são ingenuamente suscetíveis, os indivíduos preservam um senso positivo sobre si mesmos e reafirmam sua crença de que são superiores aos outros”.[9]

 

Assim, o efeito de terceira pessoa não foi uma manifestação de uma única tendência psicológica, mas foi uma reação complexa que variou de acordo com o tipo de comunicação, as características do indivíduo e da situação. Ela pode ser prevista, em certa medida, pelas características demográficas, como idade e educação[10].

 

Para o autor, cada pessoa é diferente de todas as outras em seu sentir das necessidades e na acuidade visual de seus sentidos. Cada pessoa irá extrair ideias e diferentes percepções emocionais do ambiente. Além disso, duas pessoas que não estão expostas a exatamente o mesmo ambiente, no componente da comunicação é provável que difiram.

 

O resultado é que cada ser humano torna-se um único conjunto de ideias, sensibilidades, capacidades, isto é, todos nós temos personalidades únicas[11]. Ratificando tais pressupostos, Douglas M. Mcleod, William P. Eveland e Amy I Nathanson também destacam em seus estudos que as pessoas usam diferentes fatores para percepções gerais do efeito percebido no ‘eu’ comparado ao efeito percebido sobre os ‘outros’[12].

 

Embora os pesquisadores tenham buscado demonstrar que as pessoas muitas vezes julgam os meios de comunicação social como tendo uma maior influência sobre os outros do que sobre si mesmas, e que as disparidades nessas estimativas fazem prever intenções comportamentais e de posição de opinião, a precisa natureza e características das influências midiáticas é incerta.[13]

 

Kenneth Yan, pesquisador da área de Comunicação, também traz sua contribuição ao debate sobre a referida temática ressaltando que, se a internet é hoje descrita como um meio de comunicação, os produtos disponíveis nestes espaços eletrônicos podem ser considerados conteúdo midiático[14]. Portanto, nossos argumentos direcionam para os efeitos de terceira pessoa nos conteúdos eróticos veiculados na internet, e as percepções de suas possíveis implicações negativas sobre os ‘outros’, sob a ótica do ‘eu’.

 

Internet, conteúdos eróticos e os ‘outros’: cenário e perspectivas   

A circulação de conteúdos eróticos e/ou pornográficos nas mídias não é um fenômeno contemporâneo. Sabe-se que deste as primeiras manifestações de circulação de informações escritas nas sociedades, os livretos eróticos são objetos de desejo e sinônimo de proibido. Entretanto, atualmente o meio que mais potencializa e maximiza esta circulação é indubitavelmente a internet.

Isso se dá por alguns motivos que vão desde o alto poder de difusão de conteúdos das múltiplas redes de usuários até o ‘pseudo-anonimato’ de quem os envia. Sabe-se que no que se refere a esta suposta proteção, a maioria dos internautas desconhecem que seus computadores podem sim serem rastreados e identificados dentre outras formas, por meio de seus IPs . Contudo, de maneira geral, isso só ocorre quando o envio de conteúdo erótico passa a caracterizar crime como, por exemplo, a pornografia infantil.

 

A partir disso, a internet torna-se um ambiente fértil para a proliferação e disseminação desse tipo de conteúdo. E isso irá ocorrer por redes de relacionamento consideradas fechadas, lista de e-mails de ‘amigos’ ou até mesmo de desconhecidos sob forma de correntes virais, bem como a partir de sites e ambientes abertos, onde todos os internautas têm acesso, como blogs, comunidades virtuais, fotologs, entre outros.

 

Guilherme Zanette, jornalista e especialista em moda de luxo, ressalta que atualmente, há blogs especializados em vídeos pornográficos[15]. Une-se à criação dos blogs, outro sistema de fundamental importância para a veiculação da pornografia na internet: os provedores de hospedagem de arquivos. Rapidshare, Megaupload, Rapidupload e até um especializado no assunto, o Sex Upload, são exemplos de provedores de hospedagem.

 

Somente para tentar mensurar a dimensão da circulação de conteúdos de cunho erótico e pornográfico pela internet, somente a partir de uma ferramenta de busca, o google , foram apontadas cerca de 13.400.000 páginas que fazem menção, de alguma forma, à pornografia, seja difundindo, seja analisando ou combatendo. Quando a palavra ‘sexo’ é procurada pela mesma ferramenta, este número salta para 361.000.000 (dados colhidos no segundo bimestre de 2011). Quando lançamos a mesma palavra no youtube, temos 46.800 resultados que de algum modo estão relacionados à ‘sexo’.

 

No entanto, um dado que pode ser considerado inquietante atualmente no que se refere à temática, é o apresentado no site alemão dw-word, que afirma que o Departamento Federal de Investigações da Alemanha ‘BKA’, calcula que a cada dia funcionem, em todo o mundo, cerca de mil páginas contendo pornografia infantil, as quais trazem lucros mensais milionários a seus fornecedores[16].

 

Diante de tais constatações, destacamos as premissas que salientam que a crescente utilização de novas tecnologias podem ser utilizados para produzir, duplicar, manipular e difundir conteúdos multimídia e estão incluídas no presente estudo como um prévio desconhecido resultado comportamental da percepção de terceira pessoa. Essa perspectiva não só alarga os efeitos de terceira pessoa em novas direções, mas também ressalta questões importantes relacionadas com a política tecnológica[17].

 

A tecnologia avançada, portanto, desafia a capacidade, autoridade e eficácia de órgãos de controle de limitar a distribuição de conteúdos mediados. Além disso, neste contexto é evidente que as decisões sobre se divulgar informações estão sendo feitas não só pelos meios de comunicação e funcionários do governo, mas por pessoas também.[18]

 

As investigações de terceira pessoa relativas à pornografia, violência na mídia, e outros ‘tabus’ frequentemente se apoia no componente comportamental das pessoas[19]. Exemplificando, elas podem estar mais dispostas a tolerar a expressão sobre temas percebidos como necessários na democracia do que uma expressão sobre temas considerados ilegítimos. Assim sendo, embora a percepção da legitimidade das mensagens possa contribuir para o componente comportamental[20], e outros assuntos também podem influenciar e dificultar o apoio de restrições.

 

Em um estudo posterior, Michael Salwen e Michel Dupagne, ressaltaram que a percepção das influências gerais dos meios de comunicação e dos efeitos imorais, pode representar diferentes magnitudes de efeito de mídia, que poderiam resultar em diferentes resultados perceptivos e comportamentais[21]. Outro aspecto interessante levantado nos estudos pesquisadores em Comunicação, Erica Scharrer e Rone Leone, em um estudo de Third-Person Effect e vídeo-games é sobre a relação da percepção de influência nos ‘outros’ e suas respectivas idades[22]. De acordo com os autores, um dos mais convincentes padrões encontrados nos dados da pesquisa é a tendência nos adolescentes pesquisados em pensar nas pessoas mais jovens como mais suscetíveis a qualquer tipo de influência dos jogos de vídeo-games do que a si próprios.

 

A partir daí, os autores concluem que é possível que os pesquisados tenham considerado os mais jovens que eles como sendo menos capazes de perceber a diferença entre padrões da vida real e da ficção, ou serem mais ‘impressionáveis’ Nesse sentido, incluímos a variável idade em nossas hipóteses, a fim de investigar esta conexão na análise deste estudo.

 


Procedimentos metodológicos             

Tipo de pesquisa           

Quanto ao tipo de pesquisa, a mesma se caracteriza quanto a seu nível de aprofundamento por uma pesquisa ‘exploratória’. Quanto ao seu procedimento técnico, a pesquisa é classificada como ‘Survey’.[23] As pesquisas deste tipo caracterizam-se pela interrogação direta entre as pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Quanto à abordagem e análise, a pesquisa se classifica ainda como sendo de cunho quantitativo.[24] [25]      

População de estudo e amostragem

A população compreendeu jovens brasileiros e portugueses, alunos da Universidade Federal de Alagoas e da Universidade do Porto. Neste artigo foi utilizada amostragem por acessibilidade/conveniência, não-probabilística, isto é, “aquela em que a seleção dos elementos da população para compor a amostra depende ao menos em parte do julgamento do pesquisador”.[26]

 

Coleta e análise dos dados

 

A coleta de dados se deu através de um questionário estruturado. O questionário foi aplicado até que se atingiu uma amostra representativa, com uma margem de confiança de 95% e um erro amostral 4,866%, atendendo a necessidade da pesquisa, ou seja, que as respostas obtidas pudessem ser extrapoladas para a sub-população de membros da população pesquisada.[27]

 

Os dados foram coletados a partir de questionários estruturados, aplicados à 404 alunos da Universidade Federal de Alagoas, e em seguida a mesma quantidade de questionários válidos obtidos na primeira amostra (jovens brasileiros) foi aplicada na segunda (jovens portugueses), para que houvesse um equilíbrio da população estudada, no momento de se fazer análises comparativas, somando um total de 808 questionários válidos na pesquisa. Como pré-teste, foram aplicados 20 questionários. Os dados foram trabalhados através do software SPSS - Statistical Package for the Social Sciences, que possibilitou frequências e tabulações simples e cruzadas, de forma quantitativa.

 

Hipóteses norteadoras

H1: Os entrevistados irão perceber-se como menos influenciados negativamente do que os outros, aos conteúdos eróticos na internet.

H2: Os entrevistados que acreditam que os conteúdos eróticos não o influenciam negativamente, também tenderão a crer que não influenciam negativamente os ‘outros’.

H3a: A idade dos entrevistados irá influenciar diretamente na percepção da influência negativa exercida sobre si mesmos.

H3b: A idade dos entrevistados irá influenciar diretamente na percepção da influência negativa exercida sobre os ‘outros’.

H4: Os entrevistados que perceberem influências negativas dos conteúdos eróticos veiculados através da internet nos ‘outros’, tenderão a apoiar a censura no meio.

 

Resultados e discussão

 

Tendo como base os dados coletados, o perfil geral dos pesquisados aponta 46% de brasileiros do sexo feminino e 54% do sexo masculino, com predominância de idade entre os 19 a 28 anos (77,9%) e com renda familiar aproximada de 3 a 6 salários mínimos (53,4%). Quanto aos portugueses, 51% eram do sexo feminino e 49% do sexo masculino, com idade média de 19 a 22 anos (76,2%) e com renda familiar menor que 5.000 euros (67,4%). Neste momento é importante ressaltar ainda a porcentagem de pesquisados que apontaram ter renda familiar média entre 5.000 e 10.000 euros (26,4%), o que retrata uma realidade financeira bem distinta dos brasileiros pesquisados.


Duas perguntas foram inseridas com o intuito de mensurar em que grau a internet está presente na mente dos entrevistados como meio altamente influenciador, bem como apontar quais os outros prováveis meios de comunicação são considerados mais influenciáveis na visão dos mesmos. Assim, quando questionados sobre ‘atualmente, qual o meio de comunicação você acredita mais influenciar as pessoas de modo geral’, 83,9% dos brasileiros apontaram a televisão em relação a 14,9% que optaram pela internet. Tivemos ainda pequenas porcentagens como jornal impresso (0,5%), revistas (0,8%) e rádio (0,5%). Em relação aos portugueses, 91% apontaram a televisão em relação a 4,7% que optaram pela internet. Jornal impresso (2,5%) chama a atenção quando analisada a questão comparativamente entre brasileiros e portugueses, onde temos uma diferença significativa entre os 0,5% de respostas brasileiras e 2,5% de respostas portuguesas, ou seja, em relação a este meio, os portugueses somam 3 vezes mais respostas.


A opção massiva apontando a televisão como principal meio quando os pesquisados analisavam as influências sobre os ‘outros’ foi minimizada quando questionados sobre ‘qual meio mais influencia você particularmente’, onde 47,8% dos brasileiros afirmaram ser a televisão, em relação aos 35,4% para a internet. Da mesma maneira obtivemos 59,2% dos portugueses apontando a televisão e 23% apontando a internet. Isso pode se dar pelo fato dos pesquisados terem hipoteticamente mais possibilidade de acesso, uma vez que as universidades normalmente possuem laboratórios de informática com acesso à internet, além de uma média de renda que possibilita a família possuir internet em sua residência.

 

No que tange aos dados gerais sobre uso e percepções sobre a internet, temos a maioria dos pesquisados brasileiros afirmando utilizar a internet por mais tempo em sua própria residência (65,7%) em relação aos 80,7% de portugueses, em contrapartida ao seu uso em menor escala na casa de amigos (2,3% de brasileiros) e lan-houses (1% de portugueses). A média de utilização foi de 2 a 4 horas diária para ambos.

 

A partir das primeiras perguntas gerais, inserimos algumas indagações a fim de identificar as opiniões sobre as influências que a internet poderia exercer de modo geral.

 

Quando inquiridos sobre a crença de que a internet é um meio que pode ajudar a formar opinião, a maioria dos brasileiros (82,9%) afirmou que sim, sendo que 42,8% respondeu que ‘muitas vezes’ e 40,1% afirmou que ‘algumas vezes’ isso ocorre. Apenas 1% optou pela resposta ‘nunca’. Não houve variação significativa nas respostas dos portugueses em relação a este questionamento (43,3% ‘muitas vezes’, 44, 6% ‘algumas vezes’ e 0,5% ‘nunca’). Questionados sobre sua avaliação quanto à internet, 86,3% dos brasileiros afirmam que a mesma é um meio de troca de informações de todos os tipos, 10,3% apontaram-na como um meio que tem ênfase na busca de informações e apenas 3,5% percebem a internet como um meio que tem ênfase no entretenimento. Os resultados apontam para opiniões similares no que tange aos portugueses (86,6% avaliam a internet como meio que tem ênfase na busca de informações de todos os tipos e 5% a direcionam para o entretenimento).

 

Todas as perguntas iniciais vislumbraram captar informações que nos permitissem compreender melhor o uso da internet pelos usuários a fim de mais adiante, poder realizar cruzamentos plausíveis que nos levassem a analisar as hipóteses apresentadas e suas validações ou negações. Assim sendo, adentramos no universo dos possíveis efeitos de terceira pessoa, discutidos na fundamentação.

 

Como primeira hipótese, afirmamos que os entrevistados tenderiam a perceber-se menos influenciados negativamente pelos conteúdos eróticos/pornográficos que circulam na internet em relação aos outros. De acordo com os resultados, a hipótese 1 se sustenta a medida que os dados aportam para uma crença massiva de que os ‘outros’ são mais suscetíveis às influências negativas, conforme tabelas 1 e 2.

 


Tabela 1: Os conteúdos pornográficos/eróticos lhe influenciariam negativamente?

 

 

Frequency

% Valid

% Cumulative

PAÍS

Brasil

Portugal

Brasil

Portugal

Brasil

Portugal

Valid

Sempre

11

4

2,7

1,0

2,7

1,0

 

Muitas vezes

25

17

6,2

4,2

8,9

5,2

 

Poucas vezes

68

7

16,9

17,6

25,8

22,8

 

Raríssimas vezes

88

135

21,8

33,4

47,6

56,2

 

Nunca

211

177

52,4

43,8

 

 

 

Total

403

404

100,0

100,0

100,0

100,0

Fonte: Dados da pesquisa.

 

 

Tabela 2: Conteúdos erótico/pornográficos na internet influenciam negativamente as pessoas?

 

 

Frequency

% Valid

% Cumulative

PAÍS

Brasil

Portugal

Brasil

Portugal

Brasil

Portugal

Valid

Sempre

24

25

6,0

6,2

6,0

6,2

 

Muitas vezes

278

252

69,0

62,4

74,9

68,6

 

Poucas vezes

94

101

23,3

25,0

98,3

93,6

 

Raríssimas vezes

4

23

1,0

5,7

99,3

99,3

 

Nunca

3

3

,7

,7

 

 

 

Total

403

404

100,0

100,0

100,0

100,0

 

Fonte: Dados da pesquisa

 


Esta primeira hipótese vislumbrou verificar a aplicabilidade do Third-Person Effect a partir de conteúdos veiculados em um meio digital, que neste artigo foi representado pela internet. Tal escolha se deu pelo fato de que uma vasta gama de pesquisas da hipótese do efeito de terceira pessoa tem seu enfoque nas recepções de conteúdos de TV, que é um meio de comunicação de massa presente em quase 100% dos lares brasileiros e muito presente em Portugal, conforme dados já discutidos acima. Assim, enfocamos a internet objetivando uma análise mais profunda sobre tal hipótese a partir do público brasileiro e português que, inseridos nas redes do ambiente virtual, tornam-se receptores de conteúdo de natureza erótico/pornográfica.


A fim de que as premissas da hipótese 2 fossem testadas, fizemos um cruzamento de duas perguntas que questionavam sobre as possíveis influências negativas sobre ‘si’ e sobre os ‘outros’, dos conteúdos erótico/pornográficos na web. É importante ressaltar que temos ainda na literatura oriunda das reflexões de W. Phillips Davison, debates sobre efeitos de primeira e segunda pessoa.
[28] [29] Os efeitos de primeira pessoa pressupõem que as pessoas julgam que as influências midiáticas são mais fortes em ‘si’ do que nos ‘outros’. Quanto a segunda pessoa, presume-se de maneira geral, que o ‘eu’ percebe-se influenciado da mesma forma que os ‘outros’, isto é, a mesma influência que será exercida em ‘si’, será igualmente exercida nos ‘outros’. Nas palavras dos jornalistas Kurt Neuwirth e Edward Frederick, o efeito de segunda pessoa ou Second-Person Effect estaria relacionado ao “grau em que as pessoas acreditam que a mídia tem uma influência semelhante sobre si mesmo e sobre os outros. Para o autor, ‘semelhante’ aqui é considerado uma sensação de que algo é compartilhado, é mútuo, realizado em comum”.[30] A hipótese 2 vislumbrou compreender se o efeito de segunda pessoa especulado por alguns estudiosos se aplicaria neste estudo, todavia não se sustentou, uma vez que de acordo com os resultados, 74,2% dos brasileiros e 77,2% dos portugueses acreditam serem influenciados negativamente ‘nunca’ ou ‘raríssimas vezes’. Em contrapartida, 75% dos brasileiros e 68,6% dos portugueses julgam que os ‘outros’ são influenciados negativamente ‘sempre’ ou ‘muitas vezes’, revelando uma tendência a analisar o meio como altamente influenciador aos ‘outros’ de maneira geral.

 

 A partir daí, buscamos verificar a validade da hipótese que prevê que a diferença de idade entre ‘eu’ e os ‘outros’ pode levar-me a crer que seremos influenciados de modo divergente. Para a verificação da hipótese 3a, questionou-se o seguinte: ‘você acha que com sua idade, os conteúdos eróticos/pornográficos que circulam na internet lhe influenciam negativamente?’. Obtivemos como resposta 52,4% de pesquisados brasileiros afirmando ‘nunca’ e 21,8% ‘raríssimas vezes’ em relação a 43,8% e 33,4% das respectivas respostas dos portugueses, porcentagem que em sua soma sustenta a hipótese 3a, uma vez que a maioria julga que sua idade lhe dá condições diferenciadas de perceberem quaisquer influências negativas e neutralizá-las. Em contrapartida, apenas 2,7% de brasileiros e 1% de portugueses apontaram a resposta ‘sempre’. Essa questão inicia nosso suporte aos efeitos de terceira pessoa em suas diversas nuances e reflexões relacionadas dentre elas as diferenças de idade, como previu W. Phillips Davison.[31] Tais argumentos se adaptam sobremaneira ao debate sobre pares próximos e pares distantes.[32] [33]

 

Em seguida, foram feitas duas outras perguntas relacionadas à idade, objetivando a análise da hipótese 3b: ‘você acredita que o fato da internet permitir grande circulação de conteúdos eróticos/pornográficos pode influenciar negativamente as crianças?’ e ‘e você acha que isso também poderia influenciar as pessoas de gerações mais velhas que você?’. De acordo com os resultados, a primeira indagação aponta para o suporte parcial da hipótese 3b conforme tabela 3 e discussão abaixo:

 


Tabela 3: Os conteúdos eróticos/pornográficos na internet influenciam negativamente as crianças?

 

 

Frequency

% Valid

Cumulative Percent

PAÍS

Brasil

Portugal

Brasil

Portugal

Brasil

Portugal

Valid

Sempre

130

54

32,2

13,4

32,2

13,3

 

Muitas vezes

215

199

53,2

49,3

85,4

62,6

 

Poucas vezes

42

94

10,4

23,3

95,8

85,9

 

Raríssimas vezes

9

45

2,2

11,1

98,0

97,0

 

Nunca

8

12

2,0

3,0

 

 

 

Total

404

404

100,0

100,0

100,0

100,0

 

Fonte: Dados da pesquisa.

 


Já na segunda indagação, os resultados trazem 50,3% da resposta brasileiras ‘muitas vezes’ em relação à 39,6% da resposta ‘poucas vezes’. Em contrapartida, obtivemos 62,7% dos portugueses respondendo ‘poucas vezes’ e ‘raríssimas vezes’ e 27,7% ‘muitas vezes’. Podemos concluir a partir daí, que a hipótese 3b é sustentada parcialmente, uma vez que tivemos porcentagens significativas de percepção de influências apenas em pessoas mais novas, contudo minimizadas nas pessoas mais velhas, principalmente no que se refere à percepção dos portugueses.

 

Em uma das questões, cinco tipos de conteúdos que circulam na internet foram disponibilizados e em uma escala tipo likert, foram avaliados, sendo 1 para uma influência mais forte e 5 para a influência mais fraca (tabela 3), cujos resultados foram analisados a partir do percentual válido:

 

 

Tabela 4: Níveis de influência em relação a conteúdos da internet.

 

Variáveis

1

2

3

4

5

PAÍS      (* Brasil / ** Portugal)

B*

P**

B*

P**

B*

P**

B*

P**

B*

P**

Notícias de crimes não violentos

6,9

4,2

7,3

3,7

7,3

9,4

17,2

29,5

61,4

53,2

Notícias de crimes violentos

14,6

10,6

18,5

25,2

32,2

29,2

30,9

24,8

3,9

10,1

Cenas eróticas/ pornográficas com adultos;

11,2

7,4

37,3

34,7

24,5

30,9

19,7

17,3

7,3

9,7

Cenas eróticas com crianças (pedofilia)

58,8

73,8

16,3

12,6

11,2

6,4

6,0

3,7

7,7

3,5

Consumismo de bebidas, drogas etc.

8,6

7,2

20,6

22,5

24,9

26,5

26,2

23,8

19.7

20,0

 

Fonte: Dados da pesquisa.

 

 

A partir dos resultados, novamente apontamos uma crença no fato de que ‘minha idade’ me possibilita maior senso crítico, e particularmente nesta questão, as crianças representam este ‘outro’ a ser mais influenciado ou até alvo dos conteúdos eróticos online. Outro ponto a ser destacado é que dos exemplos de conteúdos constantes na questão, o que obteve maior percentual de respostas para influências extremamente negativas somadas foi o de conteúdos eróticos, e os conteúdos sobre violência ficaram bem aquém do esperado.

 

A diante, surgiram questões inerentes ao nível de escolaridade e suas possíveis relações com maior ou menos capacidade de ser influenciado. De acordo com os dados coletados, a respeito da noção de equiparidade escolar, o que configura uma das variáveis demográficas que compõem o debate sobre Third-Person Effect, observamos que quando se trata de apontar influências sobre si mesmos, os pesquisados crêem que nunca ou raríssimas vezes são suscetíveis às mesmas. Todavia, essa visão é inversamente proporcional quando analisam os possíveis efeitos sobre os outros, conforme a tabela 5.

 

 

Tabela 5: Relação entre nível de escolaridade e percepção de influências.

 

Variáveis

Você acha que com seu nível de escolaridade, os conteúdos eróticos/pornográficos da internet lhe influenciam negativamente?

As pessoas com nível de escolaridade menor estão mais suscetíveis a serem influenciados negativamente por conteúdos eróticos/pornográficos na internet?

 

Brasil

Portugal

Brasil

Portugal

Sempre

2,7

1,0

18,6

7,7

Muitas Vezes

6,2

4,2

51,2

34,9

Poucas Vezes

16,9

17,6

20,3

32,7

Raríssimas vezes

21,8

33,4

6,2

20,0

Nunca

52,4

43,8

3,7

4,7

Total

100%

100%

100%

100%

 

Fonte: Dados da pesquisa.

 

 

Tais aspectos são reforçados quando a maioria da população estudada afirma que tal escolaridade ‘sempre’ ou ‘muitas vezes’ (50% 92,6% dos brasileiros e 73,5% dos portugueses) lhe auxilia a entender e receber tais conteúdos de forma mais crítica. Assim, a variável escolaridade também é muito presente nas diferentes percepções de influências em si mesmo e nos outros. Neste aspecto, podemos reforçar o debate sobre ‘distanciamento social’ discutido por Prabu David, Glenda Morrison, Melissa Johnson e Felecia Ross, onde os autores propõe uma avaliação das diferenças na percepção de terceira pessoa baseadas nas variáveis como raça, etnia dentre outros que possam configurar a percepção de distância ou proximidade de grupos e pessoas.[34]


Ainda como forma de levantar possíveis pontos inerentes ao distanciamento social, fizemos a seguinte indagação: ‘Entre sua Universidade situada em uma cidade de porte grande e uma outra em cidade de porte muito pequeno, você acredita que por estudar em uma cidade maior, você possa ter uma noção mais clara da realidade?’, e obtivemos os seguintes resultados a seguir conforme demonstrado na tabela 6.

 


Tabela 6: Percepção de localização geográfica ‘privilegiada’ e Efeito de Terceira Pessoa.

 

 

Frequency

% Valid

% Cumulative

PAÍS

Brasil

Portugal

Brasil

Portugal

Brasil

Portugal

Valid

Sempre

59

97

14,6

24,0

14,6

24,0

 

Muitas vezes

213

242

52,9

59,9

67,5

83,9

 

Poucas vezes

92

53

22,8

13,1

90,3

97,0

 

Raríssimas vezes

20

9

5,0

2,2

95,3

99,3

 

Nunca

19

3

4,7

,7

 

 

 

Total

403

404

100,0

100,0

100,0

100,0

 

Fonte: Dados da pesquisa.

 


Assim, com base nas questões que marcam tanto a aproximação quanto o distanciamento dos grupos que inclui muitas vezes não somente questões ligadas à renda, mas também outros fatores sociais como local de moradia, escolaridade média entre outros, também fazem surtir um grande efeito quanto à percepção de que os ‘outros’ são de maneira geral mais influenciados pelos conteúdos midiáticos, principalmente quando o entrevistado se julga em uma posição de superioridade dentro de algum dos aspectos acima mencionados.


Diante de todas as questões abordadas, tendo como base os argumentos de
Barbara Dority[35], Mcleod, William P. Eveland e Amy I Nathanson[36], Stella Chia, Kerr-Hsin Lu e Douglas Mcleod[37] e Kenneth Yang[38] de que a percepção de influência negativa sobre os outros poderá levar o indivíduo a apoiar a censura como forma de minimizar tais efeitos e com finalidade de verificação da validade da hipótese 4, solicitamos que os pesquisados respondessem a questão apresentada a seguir apenas se acreditassem que os conteúdos eróticos / pornográficos influenciam as pessoas negativamente: ‘Se a internet pode influenciar negativamente indivíduos com um menor senso crítico, você é favorável à criação de leis que controlem o conteúdo da mídia?’. Os resultados são esboçados a seguir, em frequências simples (tabela 6) e cruzadas (tabelas 7 e 8) respectivamente.

 

 

Tabela 7: Apoio à censura pelos entrevistados.

                                                                                                                                                                                                              

 

Frequency

% Valid

% Cumulative

PAÍS

Brasil

Portugal

Brasil

Portugal

Brasil

Portugal

Valid

Sim

139

57

36,3

17,6

36,3

17,6

 

Não

44

52

11,5

16,0

47,8

33,6

 

Sim para certos conteúdos

133

138

34,7

42,6

82,5

76,2

 

Sim para certas  idades

67

77

17,5

23,8

 

 

 

Total

383

404

100,0

100,0

100,0

100,0

 

Fonte: Dados da pesquisa.

 

 

Observamos que analisados num âmbito geral, a maioria das respostas apontam o apoio às leis que regulem os conteúdos da internet conforme tabela 7. Se somarmos todas as respostas positivas teremos um total de 88,5% no Brasil e 84% em Portugal de algum tipo de apoio à censura, seja ela parcial ou total, o que sustenta juntamente com os dados abaixo, a hipótese 4.


A partir daí, apresentamos ainda dois cruzamentos da crença de que a internet deve possuir algum tipo de regra de controle, respectivamente com a idade (tabela 8) e com o nível de escolaridade dos ‘outros’, em relação aos pesquisados (tabela 9). A partir dos dados abaixo, encontramos uma vasta relação entre os que apóiam a censura e suas percepções de que as crianças são as mais negativamente influenciadas. Tivemos 87,7% das respostas dos brasileiros destacando os conteúdos eróticos como influenciadores negativos às crianças, e desses, a grande maioria apoiou a censura no meio.


O resultado não se difere muito dos dados coletados em Portugal, ressaltando apenas que há uma maior porcentagem de respostas portuguesas sobre apoio a censura ‘para determinados conteúdos’ (44%) em relação à resposta ‘sim’ (47,3%) dos brasileiros. É interessante ressaltar, contudo, que quando inquiridos sobre a crença de que ‘a internet tem potencial de formação do senso crítico de nossas crianças’, obtivemos uma proporção significativa entre dois pólos: ‘muitas vezes’ e ‘sempre’ (52,1% de brasileiros e 52,2% de portugueses ), ou seja, grupos de opções totalmente opostos tiveram um equilíbrio de porcentagem, o que significa dizer que apesar de afirmarem que a censura é um caminho plausível para possíveis influências negativas dos conteúdos da internet, quase a metade dos pesquisados apreendem o meio como potencialmente formador de senso crítico das crianças, a nova geração digital.

 


Tabela 8: Cruzamentos sobre apoio à censura e idade.

 

 

 

C) Se a internet pode influenciar negativamente os indivíduos, você é favorável à criação de leis que controlem o conteúdo da mídia?

 

 

Sim

Não

Sim, para certos conteúdos

Sim, para certas idades

Total

PAÍS        (* Brasil / ** Portugal)

B*

P**

B*

P**

B*

P**

B*

P**

B*

P**

A) Você acredita que o fato da internet permitir grande circulação de conteúdos pornográficos/ eróticos, isso  pode influenciar negativamente as crianças?

 

 

 

 

 

 

 

 

Sempre

% within C

47,3

26,0

2,3

8,0

31,0

44,0

19,4

22,0

100%

100%

% of Total

15,9

4,0

,8

1,2

10,4

6,8

6,5

3,4

33,7%

15,4%

Muitas vezes

% within C

34,8

18,5

11,6

10,4

35,7

44,5

17,9

26,6

100%

100%

% of Total

18,8

9,9

6,3

5,6

19,3

23,8

9,7

14,2

54,0%

53,4%

Poucas vezes

% within C

11,4

8,8

28,6

32,4

51,4

36,8

8,6

22,1

100%

100%

% of Total

1,0

1,9

2,6

6,8

4,7

7,7

,8

4,6

9,1%

21,0%

Raras vezes

% within C

20,0

20,0

60,0

23,3

 

40,0

20,0

16,7

100%

100%

% of Total

,3

1,9

,8

2,2

 

3,7

,3

1,5

1,3%

9,3%

Nunca

% within C

14,3

 

57,1

33,3

14,3

66,7

14,3

 

100%

100%

% of Total

,3

 

1,0

0,3

,3

0,6

,3

 

1,8%

0,9%

Total

% Total

36,3

17,6

11,5

16,0

34,7

42,6

17,5

23,8

100,0%

100%

 

Fonte: Dados da pesquisa.

 

 

Tabela 9: Cruzamentos sobre apoio à censura e baixo nível de escolaridade dos ‘outros’.

 

 

 

C) Se a internet pode influenciar negativamente os indivíduos, você é favorável à criação de leis que controlem o conteúdo da mídia?

 

 

 

Sim

Não

Sim, para certos conteúdos

Sim, para certas idades

Total

 

PAÍS       (* Brasil / ** Portugal)

B*

P**

B*

P**

B*

P**

B*

P**

B*

P**

 

B) Você acredita que as pessoas com nível de escolaridade menor, que têm pouco estudo, estão mais vulneráveis a serem influenciados negativamente por conteúdos pornográficos na internet?

 

 

 

 

 

 

 

Sempre

% within C*

35,7

40,7

8,6

3,7

34,3

40,7

21,4

14,8

100%

100%

% of Total

6,5

3,4

1,6

0,3

6,3

3,4

3,9

1,2

18,3%

8,3%

Muitas vezes

% within C*

40,1

16,0

8,9

12,8

34,7

48,0

16,3

23,2

100,0%

 

% of Total

21,1

6,2

4,7

4,9

18,3

18,5

8,6

9,0

52,7%

38,6%

Poucas vezes

% within C*

28,2

19,2

15,4

16,3

34,6

37,5

21,8

26,9

100%

100%

% of Total

5,7

6,2

3,1

5,2

7,0

12,0

4,4

8,6

20,4%

32,1%

Raras vezes

% within C*

30,0

8,6

25,0

27,6

35,0

37,9

10,0

25,9

100%

100%

% of Total

1,6

1,5

1,3

4,9

1,8

6,8

0,5

4,6

5,2%

17,9%

Nunca

% within C*

38,5

10,0

23,1

20,0

38,5

60,0

10,0

 

100%

100%

% of Total

1,3

0,3

0,8

0,6

1,3

1,9

 

0,3

3,4%

3,1%

Total

% of Total

36,3

17,6

36,3

16,0

11,5

42,6

34,7

23,8

17,5%

100%


Fonte
: Dados da pesquisa.

 


Em relação ao cruzamento entre o apoio à censura e a percepção dos entrevistados de que o nível de escolaridade mais baixo dos ‘outros’ os impedem de ter mais neutralidade na recepção de conteúdos eróticos (tabela 8), sinalizamos que este apoio à censura também está diretamente relacionado à convicção de que ‘eu’ (os pesquisados), enquanto aluno de graduação, possuo maior condição de neutralizar as influências negativas de conteúdos eróticos que circulam na web e assim, acredito que os ‘outros’ que possuem menor nível de escolaridade não têm condições de fazer o mesmo.


Entendemos, portanto, que os pesquisados que têm a convicção de que estão em um nível superior em relação aos demais, tendem a enxergar este ‘outro’ como menos capaz de minimizar as influências negativas dos conteúdos eróticos online e assim endossam a ideia de que a censura é o caminho para que os demais não sejam afetados.

 

 

Conclusões

 

A todo o momento, a capacidade de trânsito na internet é maximizada não somente no sentido da velocidade, mas também na absorção de tantos ambientes que hoje dela emergem e se instalam. Frente a essa realidade, buscamos analisar a ótica dos pesquisados sobre os possíveis efeitos negativos de tamanha circulação de conteúdos eróticos/pornográficos tomando como base a hipótese do Efeito de Terceira Pessoa.


A partir dos resultados, compreendemos que assim como prevê a hipótese do efeito de terceira pessoa, os indivíduos aqui pesquisados assumem sua invulnerabilidade aos efeitos da recepção de pornografia através da internet, ao passo que julgam que os ‘outros’ são suscetíveis em demasiado aos mesmos efeitos, fazendo-nos entender assim que preservam um senso crítico positivo sobre si mesmos e de maneira geral crêem que tais conteúdos não os afetam, mas sim aos ‘ingênuos outros’. Neste mesmo sentido, também reafirmam sua ‘superioridade’ frente aos outros, a medida que admitem pessoas mais jovens, com menos escolaridade dentre outras variáveis analisadas, também não têm condições de neutralizar efeitos negativos acima citados.


Diante dos dados apresentados, podemos concluir que as reflexões trazidas por W. Phillips Davison se sustentaram no que se refere à recepção de conteúdos do ambiente virtual, em especial na internet, que ainda possui audiência menor em relação a outros meios como rádio e televisão. Sabemos que os dados ainda não podem ser considerados conclusivos, pois necessitaríamos ainda de tantas outras pesquisas empíricas, principalmente com pesquisados brasileiros e portugueses de outras regiões, uma vez que entendemos que cada região e cada país possuem suas peculiaridades culturais, psicossociais entre outras.


Contudo, a percepção por parte dos pesquisados de que os conteúdos midiáticos podem exercer influência negativa nos outros, direcionam ao apoio ao controle e/ou censura na internet, tendo em vista os possíveis efeitos negativos de determinados conteúdos. Assim, assumem que estão dispostos a abdicar, em certo nível, da total liberdade da internet hoje no Brasil e em Portugal, em prol do combate aos efeitos ‘nocivos’ nos ‘outros’, dos conteúdos que nela circulam.


Vale ressaltar que para estudos futuros, a temática poderia ser enriquecida se pudermos comparar países com índice de acesso à internet bem maior e bem menor do que os pesquisados aqui, como Japão e Finlândia, bem como países do continente africano.

 

 

Notas


[1] Telles, 2012.

[2] RITS, 2009. < http://www.rits.org.br/>.

[3] Fazendo uma alusão ao conceito de teia que vislumbra um composto estrutural, tecido, organização ou arranjo (MICHAELIS, 2007) cujos nós se intercomunicam, aplicando tais preceitos à web onde os interagentes comunicam-se uns com os outros sem uma hierarquia definida. Assim, aplica-se a ideia de muitos nós conectados direta ou indiretamente na internet.

[4] Davison, 1983.

[5] Davison, 1983.

[6] Mcleod, Eveland e Nathanson, 1997.

[7] Eveland Jr., Nathanson, Detenber, Mcleod, 1999.

[8] Paek e Gunther, 2007.

[9] Perllof, 2002, p. 493.

[10] Davison, 1996.

[11] Davison, 1996.

[12] Mcleod, Detenber e Eveland, 2001.

[13] Neuwirth e Frederick, 2002.

[14] Yan, 2005.

[15] Zanette, 2012.

[16] DW-WORD, 2012.

[17] Chia, Lu e Mcleod, 2004.

[18] Chia, Lu e Mcleod, 2004.

[19] Salwen e Driscoll, 1997.

[20] Salwen e Driscoll, 1997.

[21] Salwen e Dupagne, 1999.

[22] Scharrer e Leone, 2006.

[23] Gil, 2007.

[24] Marconi e Lakatos, 2004.

[25] Triviños, 2006.

[26] Mattar, 1996, p. 132.

[27] White, 2012.

[28] Gunther e Thornson, 1992.

[29] Neuwirth e Frederick, 2002.

[30] Neuwirth e Frederick, 2002, p. 118.

[31] Davison, 1996.

[32] Bearman, Bruckner, Brown, Theobald, Philliber, 1999.

[33] Paek e Gunther, 2007.

[34] David, Morrison, Johnson e Ross, 2002.

[35] Dority, 1989.

[36] Mcleod, Eveland e Nathanson, 1997.

[37] Chia, Lu e Mcleod, 2004.

[38] Yan, 2005.

 


Recursos eletrônicos

 

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[Edición electrónica del texto realizada por Jeffer Chaparro Mendivelso y Daniel Santana Rivas].


© Copyright Renata Francisco Baldanza, Nelsio Rodrigues de Abreu y Adeilto Ferreira de Lima
, 2012.
© Copyright
Ar@cne, 2012.


Ficha bibliográfica: 

FRANCISCO, Renata; RODRIGUES, Nelsio; FERREIRA, Adeilto. Third-person effect, Internet e os conteúdos eróticos: uma análise sob a ótica de jovens brasileiros e portugueses. Ar@cne. Revista electrónica de recursos en Internet sobre Geografía y Ciencias Sociales. [En línea. Acceso libre]. Barcelona: Universidad de Barcelona, nº 160, 1 de junio de 2012. <http://www.ub.es/geocrit/aracne/aracne-160.htm>.

 



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