Rocha, Maria Isabel Baltar. Trabalho e Gênero - Mudanças, Permanências e Desafios. Campinas: ABEP, NEPO/Unicamp e CEDEPLAR/UFMG; São Paulo: Editora 34, 2000, 384 p. [ISBN 85-7326-181-1]

Maria Isabel Baltar da Rocha
Universidade Estadual de Campinas, Brasil.

Key words: gender/ work/ demography/ population/ Brazil: gender studies.

Este livro resultou do Seminário Trabalho e Gênero: Mudanças, Permanências e Desafios, realizado em Campinas, em abril de 1998. 0 evento foi uma iniciativa da Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep) - especialmente dos seus grupos de trabalho População e Gênero e População e Trabalho - e recebeu o apoio do Núcleo de Estudos de População da Universidade Estadual de Campinas (Nepo/Unicamp), do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG) e da Fundação MacArthur.

O Seminário realizou e, agora, o livro registra a análise de uma perspectiva de gênero das transformações e das continuidades no mercado de trabalho, bem como nos processos de trabalho, além do impacto das mesmas nas políticas governamentais, empresariais e sindicais. Desse modo, procura discutir questões da área trabalho/emprego, particularmente importantes nos dias de hoje. A publicação resgata um projeto mais amplo do grupo de trabalho População e Gênero, o qual tem por objetivo revisitar os componentes da dinâmica populacional sob o mencionado enfoque. Esta "revisita" foi iniciada pelo componente força de trabalho.

As atividades desse grupo de trabalho vêm sendo inspiradas pela preocupação em enfrentar questões teóricas, metodológicas e temáticas concernentes à relação população e gênero. Nessa linha, ele vem se guiando por um projeto de trabalho que inclui, além de uma intensa participação nos encontros nacionais da Abep, a organização de seminários e publicações. A presente coletânea atende ao interesse central do grupo de trabalho, ao reunir contribuições de profissionais de diferentes tradições disciplinares que estudam o tema aqui tratado.

Este volume é constituído de treze artigos, reunidos em três partes que correspondem às três primeiras mesas-redondas do Seminário. Cada uma das seções é finalizada por uma intervenção em forma de comentário, que originalmente constituiu a quarta mesa do evento, parte dedicada às relatorias. O Seminário contou também com a participação de debatedoras nas três primeiras mesas referidas, a saber, Felícia Madeira, Leda Gitahy e Vera Soares. Infelizmente, por razões operacionais, não foi possível incluir no presente livro suas importantes contribuições, mas, nesse momento, gostaríamos de reiterar o nosso agradecimento pela valiosa colaboração.

A primeira parte do livro, intitulada "Dinâmica e perfil do mercado de trabalho: onde estão as mulheres?", fornece, inicialmente, um quadro abrangente da participação da mulher na atividade econômica brasileira, em comparação com a participação masculina, nos anos 80 e 90. Procura perceber o que há de novo e, por outro lado, o que persiste do ponto de vista da dinâmica e do perfil do mercado de trabalho nesse período (Cristina Bruscbini). O estudo seguinte direciona-se para as duas primeiras décadas deste século, apresentando projeções sobre a participação feminina no mundo do trabalho. Constrói dois cenários para o País: no primeiro considera a permanência das tendências históricas de aumento dessa participação, ao passo que no segundo incorpora as mudança ocorridas na atividade econômica feminina nos primeiros anos da década de 90 (Simone Wajnman e Eduardo L. G. Rios-Neto).

Nessa seção do livro, além dos estudos referentes ao Brasil como um todo, dois outros artigos examinam detidarnente algumas das suas regiões metropolitanas. O primeiro deles discute o papel da contribuição do trabalho remunerado da mulher na renda familiar na Região Metropolitana de São Paulo, comparando o ano de 1995 com os de 1981 e 1990. Coteja, ainda, esta região metropolitana com as do Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre, em relação aos mesmos anos (Eugenia Troncoso Leone). O segundo artigo analisa os principais aspectos da atividade econômica feminina na Região Metropolitana de Salvador, procurando, sobretudo, perceber suas mudanças entre os anos de 1992 e 1997 (Angela Borges e Iracema Brandão Guimarães).

O último artigo dessa primeira parte volta a focalizar o Brasil como um todo, desta vez tratando da questão do desemprego, assunto imprescindível na discussão sobre mercado de trabalho. O estudo examina as características do desemprego da mulher em comparação com o masculino nas principais áreas metropolitanas do País, bem como a trajetória percorrida por essa questão durante os anos 90 - período este, como se sabe, de profundas mudanças na produção e na regulação do trabalho (Lena Lavinas). Essa parte do livro é encerrada com as contribuições de Paula Montagner, relatora da mesa-redonda com o mesmo título no seminário citado.

A segunda parte do livro, denominada "Processos de trabalho e gênero: o que muda e o que permanece?", começa enfatizando a importância de se incorporar à análise das mudanças no processo de reestruturação produtiva na industria a questão da divisão sexual do trabalho e, assim, perceber as conseqúências sociais destas transformações para os homens e para as mulheres (Magda de Almeida Neves). Esse artigo é seguido de um estudo que focaliza a reestruturação produtiva, desta vez no setor bancario, com suas especificidades. Busca compreender as mudanças e implicações no mercado de trabalho, na organização e no conteúdo do trabalho em bancos de São Paulo, levando em conta, nesta abordagem, as relações de gênero (Liliana Rolfsen Petrilli Segnini).

Dois outros estudos constituem, ainda, essa segunda seção da coletânea, dentre os quais a discussão sobre a categoria trabalho a domicílio é objeto de um deles. O artigo analisa a literatura recente sobre o assunto, constata que no Brasil as pesquisas concentraram-se em setores tradicionais da indústria e detém-se no relato de dois estudos de caso, realizados em outros contextos produtivos, que envolvem transformações enfrentadas por essa categoria de trabalho (Lena Lavinas e Bila Sorj). O conjunto de artigos dessa seção é encerrado com a análise de outra importante questão relacionada aos processos de trabalho, em um quadro de reestruturação produtiva; a questão da saúde. O estudo inicia-se refletindo sobre a construção da área temática "trabalho, saúde e gênero" e, depois, centraliza-se na discussão sobre as Lesões por Esforços Repetitivos (LER). Examina seu ressignificado no contexto das novas tecnologias e analisa relatos de mulheres e homens portadores dessa enfermidade em São Paulo na segunda metade dos anos 90 (Eleonora Menicucci de Oliveira). Essa parte da coletânea termina com algumas considerações de Sonia Côrrea, relatora da mesa-redonda correspondente no seminario mencionado.

A terceira e última parte, denominada "Trabalho, gênero, raça: quais os desafios políticos?", inicia-se com a discussão sobre o tema ações afirmativas e gênero no mercado de trabalho. Detém-se, sobrçtudo, nas experiências a este respeito realizadas em empresas de países da União Européia e tem como principal fonte de informação uma literatura constituída de relatórios institucionais, que analisa os objetivos e desafios presentes nessas experiências (Paola Cappellin). Nessa seção trata-se de outro imponante desafio político a ser enfrentado: a questão raça e gênero. Esse é o obleto do artigo seguinte, que focaliza, dentre vários aspectos, os resultados de pesquisa sobre os mecanismos da discriminação racial no trabalho no Brasil, destacando as práticas que jnipedem o acesso das mulheres negras a determinados tipos de empresas ou empregos, bem como a sua mobilidade profissional, além de práticas que acarretam avaliação tendenciosa de desempenho e influenciam nos processos de demissão (Maria Aparecida Silva Bento).

Os artigos que encerram essa parte analisam os desafios da relação trabalho e gênero, desta vez no âmbito dos sindicatos urbanos e rurais. O primeiro deles enfoca as interfaces entre as idéias e lutas feministas e as práticas sindicais, observando a participação de trabalhadoras brasileiras, sobretudo paulistas, em sindicatos nos anos 80 e 90. Os impactos dessa participação no sindicalismo, bem como das transformações no mundo do trabalho sobre as condições de trabalho e a atividade sindical das mulheres sao questões centrais desse estudo (Angela Maria Carneiro de Araújo e Verônica Clemente Ferreira). O segundo artigo examina o fortalecimento do movimento das trabalhadoras rurais na Confederação Nacional de Trabalhadores Rurais (Contag). Inicialmente, contextualiza o assunto apresentando informações a respeito das mulheres que trabalham no campo e de sua organização como movimento social e, em seguida, detém-se na análise do aumento da participação feminina e da discussão sobre gênero, inclusive quanto aos conflitos aí envolvidos no âmbito da Contag (Miriam Abramovay e Rocicleide da Silva). Esta parte é finalizada com algumas reflexões de Mary Garcia Castro, relatora da mesa-redonda que focalizou a questão dos desafios políticos no referido seminário.

Esta coletânea discute, portanto, relevantes temas, problemas e desafios do mundo do trabalho presentes na atualidade. Inspirada em um enfoque de gênero e em abordagens disciplinares, sobretudo, da Demografia, da Sociologia, da Economia, da Ciência Política e da Psicologia Social, reúne estudos, pesquisas e reflexões de profissionais que detêm uma tradição de trabalho nessa área, no âmbito acadêmico, técnico e/ou do movimento social.

A realização do Seminário e a preparação deste livro foram possíveis, afora a referida participação, graças à constante interlocução com as colegas integrantes do grupo de trabalho População e Gênero e à sua cumplicidade, devido à colaboração do grupo de trabalho População e Trabalho e, por fim, resultado dos apoios técnico, administrativo e institucional recebidos. A todas e a todos os nossos agradecimentos.
 

© Copyright: Maria Isabel Baltar da Rocha, 2000.
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