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Biblio 3W. Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales
Universidad de Barcelona [ISSN 1138-9796]
Nº 266, 8 de enero de 2001

II CONGRESSO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE (SALVADOR, BAHIA).
"MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE: PENSANDO E FAZENDO"

Hilda Braga


Palavras-chave: Congresos ambientais/ meio-ambiente/ sustentabilidade/ Brasil: meio-ambiente.

Palabras clave: Congresos medioambientales/ medio ambiente/ sostenibilidad/ Brasil: medio ambiente.

Key Words: Environmental Congresses/ environment/ sustentability/ Brazil: environment.


Com o tema de "Meio Ambiente e Sustentabilidade: Pensando e Fazendo" realizou-se em Salvador entre os dias 2 e 6 de dezembro de 2000, o II Congresso Nacional de Meio Ambiente, organizado por universidades federais, estaduais e privadas do Estado da Bahia e a ONG Expogeo, que representou um esforço notável de realização interinstitucional. O congresso além das comunicações e conferencias ofereceu nos primeiros dias uma ampla variedade de mini-cursos ministrados por professores e especialistas sobre temas específicos que trataram desde a elaboração de projetos de pesquisa, indicadores de sustentabilidade, gestão ambiental a técnicas de tratamento de resíduos industriais.

A presença de pesquisadores provenientes de 17 estados brasileiros muitos das áreas de geografia, biologia, engenharia ambiental, pedagogia favoreceu um clima para a reflexão e o debate de muitas das questões ambientais que hoje preocupam os cientistas brasileiros. Algumas dessas pesquisas tratam de temas ambientais críticos que estão no centro do debate acadêmico, outras são contribuições valiosas como alternativas aos processos tecnológicos atuais ou mesmo práticas de educação ambiental e participação cidadã. Todas elas refletem a preocupação do pesquisador com o seu ambiente local sem perder de vista o global. Esse último congresso, em relação ao anterior, obteve uma participação muito maior de pesquisadores de outros estados brasileiros. Cabe destacar a qualidade dos 170 trabalhos apresentados e da equipe organizadora que demonstrou competência e qualidade na organização do evento.

Os recursos naturais: solo, ar e água, sob o impacto da ação antrópica foram o centro de interesse e tratados exaustivamente, destacando-se os recursos hídricos e a problemática dos resíduos urbanos e industriais como temas preponderantes nas pesquisas. A água como tema de pesquisas versou sobre os impactos ambientais na Bahia de Todos os Santos, nos mananciais hídricos localizados em perímetros urbanos e nas hidroelétricas. Como tema de destaque nas comunicações refletiu a atualidade da questão ao tratar dos danos ambientais, a necessidade de preservação, controle e gestão da água.

Merece comentários a recente aprovação da política nacional de recursos hídricos para a gestão da água no país, através da Lei nº 9.433 (1997) um passo importante na regulação e administração dos recursos hídricos no Brasil, que demonstra a necessidade do uso adequado desses recursos para que possamos garantir um futuro saudável. Apesar de termos uma situação privilegiada quanto ao potencial hídrico o atual quadro revela a necessidade de controle e mudanças nos procedimentos dos agentes econômicos e sociais a fim de evitar-se a deterioração de nossos mananciais hídricos.

Outro tema que despertou o interesse dos participantes foi o antigo e grande projeto de transposição do Rio São Francisco para suprir as necessidades da região nordestina mais afetada pelas secas. O mesmo tem provocado muitas polêmicas quanto aos impactos e a sustentabilidade do projeto é analisada por pesquisadores da Universidade de Brasília que apontam a desarticulação das instituições responsáveis e falta de informação disponível à população diretamente afetada com o projeto. O maior rio nordestino e terceiro do país, o "Velho Chico" presente na cultura e no imaginário do homem nordestino, corre o risco de definhar e desaparecer com este projeto na opinião de alguns especialistas. Não se trata de negar o acesso à água a essas populações mas de adotar-se um projeto técnico que atenda aos novos imperativos sócio-ambientais; que seja avaliado pela comunidade envolvida e apresentado as várias alternativas de solução e informado à população os benefícios econômicos e sociais que deverão justificar um projeto desta envergadura.

O saneamento ambiental que compreende a água, o esgoto e o lixo foi o tema de várias comunicações da Universidade Federal da Bahia. Uma delas analisa a transformação da qualidade de vida da população em comunidades carentes no semi-árido do Estado da Bahia que antes viviam a ausência de saneamento afetando a saúde da população jovem com elevados índices de verminoses e doenças infecto-contagiantes. A partir do projeto de saneamento, educação ambiental e cidadania em Pintadas realizado em parceria com a prefeitura municipal, a universidade e comunidade local o quadro do saneamento tem-se alterado e trazido benefícios a população.

Com os atuais investimentos governamentais em aterros sanitários algumas comunicações discutiram a aplicação de critérios e parâmetros técnicos na seleção de áreas para localização de aterros sanitários a partir do geoprocessamento. Este, vem sendo aplicado em pesquisas de planejamento urbano e em estudos que envolvem a utilização de mais de uma variáveis na ordenação do território. Outras pesquisas trataram da construção de um sistema de indicadores de saúde ambiental, das mudanças paradigmáticas e conceituais na gestão de resíduos sólidos. Um novo conceito se apresenta: a gestão integrada e sustentável de resíduos sólidos, que se define como a integração de todos os elementos componentes do sistema municipal de resíduos sólidos em seus aspectos sociais, econômicos e técnicos, políticos e institucionais, que assegurem a sustentabilidade do sistema. Esta noção de gestão envolve a idéia de um sistema integrado internamente e externamente interagindo com outros sistemas o que vem a ampliar a visão que se tinha dos serviços de limpeza urbana que se restringiam a coleta e disposição final.

Ante uma atuação nem sempre venturosa ao meio ambiente a Petrobrás vem envidando esforços em projetos ambientais assim é que, através de seus técnicos, apresentou comunicações sobre a necessidade de reciclagem e reaproveitamento de residuos em obras de construções e montagens e análise dos custos diretos na geração de resíduos. Tomando como exemplo a implantação de gasoduto Brasil-Bolívia um projeto de grande impacto envolvendo diversas instituições, no qual aos programas ambientais se destinaram consideráveis recursos financeiros a preocupação se centrou em definir quanto de resíduos são produzidos e quanto pode ser reaproveitado e qual a política local de reciclagem. A parte da valoração dessa iniciativa inovadora, a pesquisa ressalta as dificuldades metodológicas de visão e decisão local nos planos e programas de gestão e monitoramento ambiental que são submetidos à avaliação de especialistas, ONGs, órgãos públicos mas, ainda assim, se observa a distância entre a prática e a teoria.

Grande parte dos projetos de educação ambiental tem refletido a necessidade de engajamento da comunidade nos assuntos locais, na maioria das vezes tratam do saneamento local, lixo tóxico, água potável e qualidade de vida de seus habitantes afetados por um crescimento urbano desenfreado que nem sempre valoriza os recursos naturais. Na cidade de Feira de Santana a Universidade, através de seus professores, vem desenvolvendo pesquisas de ação comunitária e participativa nas áreas de saneamento, saúde, educação ambiental; em geral atuam de forma interdisciplinar visando a melhoria da qualidade de vida de comunidades carentes e são experiências que servem de exemplo no exercício da cidadania e muitas delas têm alcançado resultados positivos.

Por último cabe, ainda, citar as comunicações apresentadas sobre a utilização de tecnologias limpas que vem sendo desenvolvidas por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia. Na atual conjuntura com a crescente demanda por fontes de energia destacamos as interessantes comunicações que versaram sobre o potencial eólico em Jequié, Bahia e a energia solar no semi-árido nordestino. Sem dúvida o congresso além de haver propiciado amplos debates tem demonstrado o elevado nível de seus participantes, revelando-se um local para intercâmbios de experiências inovadoras no meio ambiente.

© Copyright: Hilda Braga, 2001.
© Copyright: Biblio 3W, 2001.


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