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Biblio 3W
REVISTA BIBLIOGRÁFICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona
ISSN: 1138-9796. Depósito Legal: B. 21.742-98
Vol. VI, nº 325, 22 de noviembre de 2001

HÁ UMA GUERRA DOS LUGARES? (ELEMENTOS PARA UMA AGENDA DE PESQUISA
DA REESTRUTURAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL NO RIO GRANDE DO SUL
A PARTIR DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO)[1]

César Augusto Ávila Martins

Departamento de Geociências
Universidade Federal do Rio Grande, Brasil.

Palavras-chave: guerra dos lugares / orçamento participativo / questão regional / Rio Grande do Sul (Brasil)
 
Palabras clave: guerra de los lugares/ presupuesto participativo/ cuestión regional/ Río Grande do Sul (Brasil)

Key-words: war of places / participative budget / regional question / Rio Grande do Sul State (Brazil)


 
As compreensões teóricas são produzidas para explicar problemas que são passíveis de delimitação e que podem instrumentalizar para a ação. Objetiva-se apresentar nos limites de uma disciplina, a Geografia,uma possível pauta sumária para estudar as possibilidades oferecidas pela recente introdução do Orçamento Participativo(OP)[2]  no Estado do Rio Grande do Sul (RS) num contexto da metáfora “guerra de lugares”, exemplificada como a guerra fiscal.
Justifica-se a proposição pôr haver uma história do OP relativamente consolidada e estudada na capital estadual, Porto Alegre, que sucedeu a experiência em pelo menos um município gaúcho, Pelotas, no Sul dos Estado (Navarro, 2000 e Souza, 2000). Portanto, o referencial e o aparato de implementação pela administração estadual da Frente Popular, tendo como governador Olívio Dutra, parte de uma já longa experimentação iniciada em 1989, em Porto Alegre.
Havendo um conjunto de elementos que permitem pautar a reflexão e a pesquisa é necessário tentar circunscrever alguns conceitos e posições (ou posições-conceitos?) que permitiram dialogar com as perguntas que certamente limitadas poderão apontar novos limiares.

Realizar-se-á o esforço em conseguir manter um certo grau de estranhamento com determinações. Pelo menos dois são indispensáveis: a possível especificidade sectária do Rio Grande do Sul em relação ao Brasil indicadora da negação do Estado nacional brasileiro e o apaixonado e encarniçado debate bipolarizado entre os defensores da atual administração estadual, que representariam uma espécie de “alternativa ao que está aí” e aqueles que perderam a última eleição estadual, representando “o que está aí”.

Para minimizar as determinações, uma paixão encarniçada: Érico Veríssimo. O escritor em carta para uma jovem escritora nordestina, que acusa os gaúchos de serem acastelhanados, parecerem pertencer à órbita platina, serem fanfarrões, autoritários, teatrais e de portarem-se como se possuíssem o monopólio da coragem. Mas, permita-se a exposição de Érico Veríssimo:

o comportamento é simbólico. Vivemos num universo de palavras. De palavras são feitos os mitos e preconceitos de acordo com os quais pautamos nossas ações, atitudes e até nosso gosto. Mas veja bem: a palavra não é a coisa ou a pessoa que ela designa, assim como o mapa não é o território que representa. Se você queimar um mapa do Rio Grande, este pedaço do Brasil seguirá existindo, pois não é obra de um cartógrafo mancumunado com uma casa impressora, mas parte do cosmo, da criação, digamos de deus (por favor, não entramos em discussões teológicas) e nesta altura dos acontecimentos já um produto ou, melhor, um adiantado processo histórico (1994: 242).
 
Até meados da década de 30 do século XIX, os homens circunscritos no território que será a seguir denominado de Estado do RS realizavam enfrentamentos com os “estrangeiros”, fundamentalmente com aqueles da Banda Oriental, atual Uruguai para definir os limites territoriais do Estado Nacional brasileiro. Logo a seguir emprestaram seus serviços ao Estado Nacional brasileiro na Guerra do Paraguai (cerca de 1/3 dos soldados brasileiros eram do RS, recém terminada a Revolução Farroupilha de 1835-45) e nos enfrentamentos contra os camponeses de Canudos e do Contestado. Sempre a serviço do Estado brasileiro. A retórica da diversidade que leva ao extremo do separatismo é tão somente retórica, quando observado que desde a independência proclamada pelos farroupilhas, suas lideranças negavam qualquer apoio dos vizinhos platinos na luta contra o poder central e afirmavam passar a lutar contra seus possíveis aliados na defesa da condição de originários da matriz luso-brasileira: “a revolução dos farrapos também foi delimitada pelos interesses da oligarquia. Por isso a carta republicana mantinha vários pontos em comum com o ordenamento político do Império, como a manutenção da escravatura, a exclusão dos negros como nacionais e o mesmo sistema eleitoral” (Heidrich, 2000: 60).

Os conflitos internos de 1893-95 e 1923 (guerras na saga dos descendentes de Ana Terra se “O tempo e o vento”) podem ser considerados como momentos em que é costurada a “ordem é o progresso” nos limites das fronteiras provinciais e estaduais levando ao surgimento de um grande estadista nacional: Getúlio Dornelles Vargas.
 

Há guerra? Lugares em guerra?

Portanto, se como proposto, o lugar entrou e entra em guerra e a Geografia foi posta em determinadas circunstâncias como ciência dos lugares, delineou-se que esta também pode ter servido para em primeiro lugar fazer a guerra.

O mundo será pensado e apresentado pelos agentes sociais de uma unidade da federação brasileira, o Estado do Rio Grande do Sul, forjados nas guerras. Há uma longa, explicativa e criativa bibliografia sobre o processo de produção do território brasileiro que constantemente dedica capítulos especiais para a delimitação das fronteiras no Sul do Brasil entre Portugal e Espanha e Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina. Não raro tratam das lutas internas no RS: a Revolução Farroupilha, a Revolução Federalista (1893-95) e a Revolução de 1923. Guerras externas e guerras internas: sabiamente, ao longo dos 7 volumes, conhecidos como “O Tempo e o Vento” (O Continente I e II; O Arquipélago I, II e III; O Retrato I e II), Érico Veríssimo insiste na potência humana das mulheres do RS. Mulheres, vestidas de preto, na espera de seus homens, jovens ou adultos que foram para as guerras, lutando para garantir suas vidas, as terras de seus senhores e as fronteiras para o Império português e o Estado brasileiro.

Uma proposta aqui apresentada é de que a Geografia também pode ter servido em primeiro lugar para fazer a vida. Se não o fez, seja reconstruída para tal, pois no RS ainda há marcas da lutas entre os “contra e os a favor de Ford ou GM”, num dualismo quase sanguinário como aquele que abateu homens porque eram farroupilhas ou imperiais, chimangos ou maragatos e por um tempo não distante, colorados ou gremistas. A História e as histórias locais territorializadas demonstraram que as dicotomias sectarizadas não radicalizam na explicação dos processos e ajudam para a guerra e não para a vida.

Um primeiro movimento objetiva problematizar sobre a expressão “guerra de lugares”. Apresentar-se-ão sinteticamente algumas formulações basilares sobre as duas partes da expressão: guerra e lugares.

Guerra, no Dicionário de Ciência de Política[3], além de ser apresentada como um objeto de estudo relativamente recente nas Ciências Sociais, carrega consigo componentes vigorosos de conflitos armados que levam à morte. Morte que pode não ser efetiva, apenas passível de ser efetivada como no longo período chamado de Guerra Fria.

Talvez o tratado mais antigo sobre o tema tenha sido escrito pelo chinês Sun Tzu (2000) e seja conhecido há cerca de 2.500 anos: “A arte da Guerra”.Nele, há dois capítulos com títulos interessantes: “Da importância da Geografia” (cap. XI) e “Da Topografia” (cap. X).

São de Sun Tzu as palavras: “analisa o terreno e escolhe o mais vantajoso (...) a superfície da Terra apresenta uma variedade infinita de lugares. Deves fugir de uns e buscar outros. Todavia deves conhecer todos os terrenos com perfeição” (p. 91 e 104).

Poderiam se tratar de formulações dos variados bons manuais de Geografia que moldaram a produção destes profissionais reconhecidos como geógrafos. E mais, de manual estudado para a “arte da guerra” pelos homens de Estado, pois foi elaborado porque a “guerra tem importância crucial para o Estado” (p. 21), este texto é agora estudado também por diversos profissionais que servem às grandes corporações. Ora, nas salas de seus postos de comando pelos diferentes pontos de gestão em um número cada vez menor de cidades do mundo estão grandes mapas. Mapas do mundo! Porque se a ação dos agentes hegemônicos é no planeta, ela somente se viabiliza na potencial capacidade de articular as escalas. Quais escalas? Global, dos blocos, do Estado-Nação, das regiões, dos lugares...

Sun Tzu (2000) apresenta a articulação que pode ser uma potencialização para uma leitura geográfica do mundo. Trata-se da Natureza do lugar com a potência dos agentes sociais: “conhece as próprias forças e as do inimigo. Conhece perfeitamente o terreno (...) conhece-te a ti mesmo, conhece teu inimigo. Tua vitória jamais correrá risco. Conhece o lugar, conhece o tempo. Então, tua vitória será total” (p. 115). Uma trajetória conhecida pela Geografia: do Estado para as empresas. Alcançada a vitória, um novo ordenamento das relações sociais e da Natureza. O que há de novo? Por que interessa? Por que foi realizada tal seletividade?

Uma aproximação é que a guerra movimenta os homens que se organizam de determinadas formas para se reproduzirem como homens e permite pensar, que podem haver limitações quando do extermínio dos outros homens. Ou se trataria do extermínio do lugar onde os outros se produziam como seres humanos? O objetivo seria o extermínio total nos moldes das degolas que mataram cerca de 12.000 gaúchos na Revolução Federalista de 1893/1895? Sem os seres humanos haveria lugar? Quem sabe, após o extermínio haveria a realização das marchas forçadas impostas pelos vencedores a serviço dos Césares romanos, do stalinismo soviético ou do nazismo para criar uma nova ordem no lugar? Os custos materiais e não materiais, na linguagem empresarial, seriam elevados demais.

Evitada uma longa revisão da categoria/conceito lugar, se assim pode ser considerado, pode-se afirmar que recentemente na Geografia brasileira há renascimento das preocupações com os significados dos lugares no período histórico atual.

Ana Fani Carlos sugere que o “lugar aparece como um fragmento do espaço onde se pode aprender o mundo moderno. Uma vez que o mundial não abale o local (...) se apresentaria como o ponto de articulação entre a mundialidade em constituição e o local enquanto especificidade concreta , enquanto momento” (1993:303-309).

O lugar “como o encontro entre possibilidades latentes e oportunidades preexistentes ou criadas” é sugerido por Milton Santos (1994:40-47). Em “A Natureza do Espaço”, Santos (1996) amplia esta formulação no sentido da produtividade espacial e da busca de “eficácia mercantil que se refere a um determinado produto” (p. 197) e delineando a produção do espaço por diferentes atores, especialmente, quando “ao lado da busca pelas empresas dos melhores sítios para a sua instalação” há também “pelos lugares uma procura às vezes escancarada de novas implantações e um cuidado por reter aquelas presentes” (p. 198). Daí, as estratégias e ações do Estado, combinadas com as das empresas, sugerem a “metáfora da guerra dos lugares” (p. 198). O exemplo dado na Europa indica que a transferência do grupo americano Hoover da França para a Escócia custou 8 milhões de dólares aos cofres britânicos. Posteriormente Carlos, pertinentemente, questiona: “ao nos referirmos a uma guerra não estaríamos atribuindo, erroneamente, o estatuto de sujeito ao espaço ignorando o papel dos atores sociais e mesmo do estado no seu processo de produção?” (1996:39).

Na combinação desigual entre as escalas geográficas de análise, há novas regulações entre os atores que produzem o espaço. No processo de territorialização as novas regulações são planetárias, se apresentam como desregulação ou desregulações viabilizando o processo geral de concentração no nível das empresas e corporações, reordenando fragmentadamente a condição subalterna daqueles que vivem de seu trabalho e garantindo a hegemonia do capital do financeiro. Desregular pode ser reestruturar as normas e por vezes aumentá-las. Exemplo? Nas facilidades e incentivos para produzir alimentos para o mercado global, há imposições no sentido de haver um único conjunto de normas de sanidade e padronização que conduzem a busca quase desesperada de selos e certificados que muitas vezes não possuem qualquer relação com as condições objetivas do trabalho e dos ritmos da natureza que os produziram.

No limite extremo, poderia levar ao fim da autonomia das políticas econômicas dos Estados e quiçá a extinção das moedas nacionais (Tavares, 1999).

Nas relações de múltiplas qualidades e intensidades entre as diferentes escalas de análise, é possível que os lugares travem guerras? Entende-se que se há guerra de lugares, ela ocorre no processo combinado e contraditório entre agentes sociais territorializados. A não-política federativa é uma das facetas da inserção subalterna e subserviente do Estado brasileiro e da sociedade na economia mundial que procura negar e boicotar proposições que escapem à despolitização dos processos administrativos.

Sintetizando com Gonçalves (1999a; 1999b), a herança dos últimos dez anos da administração federal para o problema colocado apresenta quatro eixos: desestabilização macroeconômica, desmantelamento do aparelho produtivo, degradação do tecido social e deterioração político-institucional. Como um dos resultados mais visíveis na sociedade brasileira até começo do ano 2000, o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) demonstrava o esgotamento da bolha de crescimento econômico e da distribuição de renda da fase inicial do Plano Real com o desaparecimento de cerca de 1,3 milhão de postos de trabalho dos trabalhadores com até quatro anos de escolaridade e do aumento da participação de 41,1 por cento para 45,2 por cento da renda nacional por parte da elite brasileira e a redução de 8,4 por cento para 6,8 por cento das camadas de menor renda entre 1992 e 1998.

Apresentar-se-ão algumas incertezas com o esforço de evitar a esterilidade do pensamento único e as certezas dos que se consideram portadores da produção de novas formas de organização dos homens sem a obrigatória mediação entre a(s) teoria(s) e a(s) realidade(s).

Nas Ciências Sociais e especialmente na Geografia, há dois eixos básicos das abordagens escalares: um como já assinalado, na recuperação do conceito/categoria lugar é acompanhado de esforços de acirrar a sua centralidade nas possibilidades de superação impasses e contradições postos pela globalização. O segundo procura explicar que no processo de globalização há disputas que levaram à uma espécie de “explosão dos lugares”. Entre elas com maior ou menor intensidade renascem e tomam força outras duas escalas: do nacional e do regional. Aqui há concordância com Vainer das limitações das ações políticas escalares e da necessidade de iniciar a construção de pautas com estratégias transescalares, pois “as escalas são produzidas elas mesmas em processos profundos heteregêneos, conflituais e contestados” (2001:146).

Local, regional, nacional e global são escalas que se sugerem transescalares. Esta proposta apresenta alguns elementos e uma possível pauta para estudar uma unidade federada brasileira: o estado do RS. Pode haver alguma coerência se o Estado do Rio Grande do Sul for analisado desde a afirmação dos ideais do positivismo do Partido Republicano Rio-Grandense (consolidado após 1882) e que tem como expoentes Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros[4], implementadores de forte intervenção estatal no território gaúcho e que articulam os objetivos dos agentes sociais hegemônicos de uma economia pecuária-exportadora, com a nascente policultura voltada para o mercado interno e as novas atividades urbanas de indústria e de serviços, resultando na afirmação de uma única identidade regional, a gaúcha, na relação com outras identidades externas, como a paulista e a mineira e mesmo em relação ao “ser brasileiro”[5] (lembrando a cobrança da escritora interlocutora de Érico Veríssimo) e de supremacia sobre os grupos de imigrantes que constituem as áreas coloniais principalmente depois de 1824.

Não sectarizando a defesa ou ataque da globalização, do lugar ou de uma “estadualidade”, no atual estado da arte, é possível identificar alguns elementos que podem demonstrar alguma possibilidade de produzir um território estadual menos desigual social e regionalmente?

Forçando e flexibilizando a trajetória dos conceitos/categorias, o lugar será o Estado do Rio Grande do Sul (RS) desde os resultados das eleições de 1998 e a posse da nova coalisão de forças políticas articuladas ao redor de um centro no Partido dos Trabalhadores (PT) que até o momento ainda está enlaçada com a disputa eleitoral estadual[6], em conflitos com o governo federal, com outras unidades federadas, por conta fundamentalmente do que ficou conhecido como “guerra fiscal” e com algumas das forças e movimentos que historicamente lhe deram apoio como o funcionalismo público, especialmente, o Sindicato dos Professores Estaduais e o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST). Alguma analogia com os dois “guris” do sobrado sitiado da Santa Fé de Érico Veríssimo na Revolução Federalista? Adultos, Rodrigo e Toríbio seguem Getúlio Vargas em 1930. Enquanto Rodrigo emerge econômica e socialmente na Revolução de 1930 submergindo nas noites cariocas e bastidores do poder, Toríbio, já em 1932, luta com os “paulistas” e a seguir junta-se à Coluna Prestes sendo preso e submerso nos horrores dos porões do Estado Novo.

Escolhe-se a adoção Orçamento Participativo (OP) estadual regionalizado em 22 regiões[7], como linha norteadora para pensar a possibilidade de tentar pautar uma possível pesquisa. Procurando estabelecer uma relação com a sociedade pautada na participação aberta de todos os cidadãos na discussão de todo o orçamento, na auto-regulação e na prestação pública das contas, o OP possui cinco instâncias organizacionais:

1.Plenárias regionais de diretrizes: com diagnósticos regionais, população e governo definem diretrizes para o orçamento estadual que orientaram os debates municipais e regionais abertos a todos os cidadãos;

2. Assembléias regionais temáticas de desenvolvimento: todos os cidadãos debatem e iniciam a discussão dos programas prioritários nas 22 regiões que serão concluídas nas assembléias públicas municipais. São eleitos os delegados temáticos regionais do OP-RS;

3. Assembléias públicas municipais: todos os cidadãos em todos municípios discutem e decidem as prioridades em obras e serviços e nos programas temáticos de desenvolvimento estadual. Elegem os delegados municipais do OP-RS;

4. Plenárias regionais dos fóruns regionais de delegados: os delegados temáticos e regionais compatibilizam as demandas definidas por todos os cidadãos para a construção do Plano de Investimento e Serviços do estado;

5. Conselho estadual do OP-RS: 204 conselheiros (160 do OP e 44 dos COREDES), em reuniões com o governo, discutem e decidem a proposta final do orçamento estadual para ser remetida à Assembléia Legislativa como Plano de Investimentos e Serviços elaborados nas 22 regiões.

 
Da estrutura assumida às possibilidades
 

A iniciativa de construção do OP estadual apresenta para o conjunto da população a intenção de estabelecer novas relações entre as escalas administrativas, da administração estadual com a sociedade e das mediações estatais entre as esferas pública e privada. Ressalta-se o significado do “conjunto da população”, porque participam e decidem nas reuniões do OP todos os cidadãos. Trata-se portanto de uma perspectiva que diferencia de seu antecessor, os Conselhos Regionais de Desenvolvimento (COREDES), criados pela administração de Alceu Collares (1991-1994)[8] e seguidos pelo governo de Antônio Britto (1995-1998), que tinham uma composição baseada fundamentalmente nas representações de entidades de categorias e das Universidades e que não visibilizavam, por exemplo, o conjunto do orçamento estadual. Os riscos e limitações das estratégias e das ações têm sido longamente debatido no plano das cidades e, especialmente, de Porto Alegre. No quadro 1, apresenta-se a síntese de algumas possibilidades e ameaças ao OP:


 
Quadro 1- Dilemas do OP como estratégia de organização popular
Possibilidades
Ameaças
Alta densidade de participação
Padrão de planejamento debilitado
Governabilidade facilitada
Governabilidade “emperrada”
Participação autêntica
“Prefeiturização da participação
Ruptura do clientelismo tradicional
Novas formas de clientelismo
Visão estratégica da gestão pública
Supremacia de grupos organizados
Ênfase nos aspectos simbólicos
Participação reduzida a estratégias de marketing
Parceria com a população
Parceria espúria (retirada do Estado)
Sensibilidade às especificidades locais
Política global esfacelada
Negociação entre interesses divergentes
(desigualdade + recursos escassos)
Jogo de soma zero
Diálogo com o cidadão
Hegemonia da sedução
Fortalecimento das instâncias participativas
Esvaziamento dos poderes constituídos (legislativo)
Interlocução burocrata- cidadão
“Lei de ferro das oligarquias”

Fonte: Teodósio (2001:136)

A despeito da tradição de choradeira e das perspectivas de mostrar uma pretensa e constante perseguição do poder central à “província de São Pedro do Rio Grande”, o Estado do RS com cerca de 10 milhões de habitantes, é a quarta economia entre as unidades federadas, com crescimento bruto e per capita menos acelerado que algumas outras em que suas administrações estaduais optaram por coadunar com a os governos Collor e Fernando Henrique Cardoso nas desregulamentações e regulações para atrair maiores investimentos. Porém, o RS apresenta o mais alto IDH entre os estados brasileiros.

Uma breve apresentação dos resultados da agropecuária e da indústria instaladas no RS permite recolocar a questão.

A agropecuária praticada no RS apesar de apresentar um menor dinamismo que em alguns estados da ainda fronteira agrícola e das proximidades dos maiores centros urbanos ocupa o segundo lugar no país e internamente vem apresentando aumento de produção e produtividade.

O parque fabril instalado é o segundo entre os estados brasileiros, puxado pelos desempenhos na indústria mecânica, gênero imobiliário e alimentos e marcado pelas retrações em setores industriais que foram deslocalizados em função de benefícios e isenções fiscais, salários mais baixos, possibilidade da produção de matérias-primas mais baratas e acesso a alguns mercados tipificados.

O quadro 2 apresenta um movimento de transnacionalização ocorrida entre 1996-2000 do complexo de agronegócios instalado no RS que não difere muito do que está em curso no Brasil.
 
 

Quadro 2- Rio Grande do Sul: alguns exemplos de vendas 
e arrendamentos de empresas do setor de agronegócios para transnacionais
Ramo de atividade
Ano da operação
Empresa ou marca vendida
Empresa ou grupo comprador e país de origem
Adubos
2000
Manah
Bunge e Born- Argentina
Adubos
2000
Trevo
Norsk Hidro- Noroega
Máquinas e equipamentos agrícolas
1996
SLC
Jonh Deere- EUA
Rações 
1997
Tessmann
Nestlé- Suíça
Industrialização de carnes
1998
Frangosul
Doux- França
Industrialização de carnes
2000
Prenda
Socma/Macri- Argentina
Industrialização de arroz
1998
Camil
TCW- EUA
Laticínios
1997
Lacesa
Parmalat- Itália
Laticínios
1998
Ivoti
Milkaut- Argentina
Industrialização de pescado
1996
Leal Santos
Benvenuto- Argentina
Industrialização de soja
1997
Incobrasa
Bunge e Born- Argentina
Biscoitos, massas ...
1998
Isabela
Canale/Socma- Argentina
Moagem de trigo
1996
Moinho de Trigo do RS 
Navilli- Argentina
Supermercados
1997
Real
Sonae- Portugal
Supermercados
1999
Nacional
Sonae- Portugal
Supermercados
1999
Exxtra Econômico
Sonae- Portugal
Industrialização de arroz
1997
Cooperativa Uruguaianense
Molinos – Argentina
Comércio varejista (1)
1998
Lojas Renner
JC Penney- EUA

Fonte: Benetti (2000: 79-81); (1) Gonçalves (1999: 143)



Há portanto, uma aproximação com o movimento inicial: o lugar vive e dá vida não por ser um palco, mas como potencialidade forjada pela produção e reprodução de diferentes agentes. Das esferas administrativas e dos conflitos entre as frações do bloco hegemônico de poder, os discursos homogeneizadores permitiram aos estancieiros transformarem sua luta contra o poder central numa guerra de todos os gaúchos. Historicamente os levantes dos gaúchos têm sido reconstruídos. Seja com planos e ações de engajamento subalterno com o poder de outras escalas (nacional, global e no RS é muito presente da “região do Mercosul”) como caminho único de prosperidade ou de, em determinados momentos, forjar movimentos de autonomia e da busca do caminhos do separatismo. Em ambos, os conflitos internos são latentes e que potenciados conduzem no limite à guerra.

As possibilidades econômicas e financeiras do governo do RS até 1998 não se diferenciavam muito das outras unidades federadas que tinham governos que optaram pela receita básica das privatizações e diminuição das ações do Estado. Vasconcelos, ao analisar as finanças estaduais entre 1986/96, afirma: “atual situação das finanças estaduais é preocupante, haja vistas que o déficit operacional do governo está sendo financiado com receitas oriundas da privatização de empresas estatais” (1999:50).

O mesmo documento indica que “as flutuações do produto interno produto dos estados de Paraná e Rio Grande do Sul demonstram que o cenário dominante não transmitia confiança para a realização de investimentos, nem as condições objetivas eram próprias para sustentar essas decisões” (p. 57).

Documentos produzidos por funcionários públicos estaduais confirmam o quadro: “no caso do RS, verifica-se que o problema do déficit primário estadual é de longa data (...) Durante os anos 1980 até meados da década de 1990, a queda rela dos salários, a redução dos gastos públicos comprimíveis, as receitas financeiras e o crescente endividamento ajudavam a contornar os problemas financeiros do Tesouro. Com a estabilização dos preços, as receitas financeiras perderam sua importância, os gastos com pessoal cresceram de forma significativa e aumentaram as receitas e as despesas relacionadas, respectivamente, às privatizações e à concessão de empréstimos (Calazans, 1999: 71).

Institucionalmente, dois conflitos se combinavam e materializavam as guerras delineadas: quando do questionamento das cláusulas contratuais do financiamento da dívida estadual pela administração que assumia, o Governo Federal passa a reter as transferências mensais para o RS e retira o aval para os empréstimos internacionais por ano. Combinado, na Assembléia Legislativa era constituído um bloco oposicionista capitaneado por ex-secretários da administração de Antônio Brito eleitos deputados estaduais. O enfrentamento foi acirrado com a ação das grandes empresas de comunicação estaduais (especialmente o grupo RBS afiliado à Rede Globo que criou uma editoria especial para tratar do que chamava de pólo automotivo gaúcho, pois o carro montado pela GM e pela Ford seria “o carro gaúcho”) e dos representantes do grande capital instalado no RS em torno de uma questão que foi um dos eixos centrais da disputa eleitoral: os benefícios estaduais para a instalação de parques fabris de montagem de veículos da Ford e da GM no bojo da chamada “guerra fiscal”. O enfrentamento inicial tem episódios que lembram alguns diálogos dos mortos indignados com o seu não enterro com vivos da “Antares” incendentada de Érico Veríssimo, chegando a enfrentamento públicos como no quase cancelamento da Expointer e das agressões verbais ao governador recentemente eleito em evento promovido por entidades empresariais.

Castillo et alii, ao estudar a guerra fiscal como fator de localização industrial, argumentam que “a solidariedade institucional nasce de uma coesão política estabelecida em território e delimitado por fronteiras políticas, onde tem vigência um conjunto de normas e uma autonomia de ação, sustentada, em alguns casos por um poder legislativo, um poder executivo e um poder judiciário” (1997:81). Realizaram um interessante levantamento de dados que demonstram que na inexistência de um projeto nacional de amenização das desigualdades sociais e regionais diferentes governos estaduais passam a adotar estratégias de ceder um conjunto de facilidades e benesses para atrair investimentos, especialmente vinculados às isenções do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

Serão apresentados elementos que, mesmo concordando com a formulação, apostam ser necessário insistir na necessidade de pensar que estruturalmente no período histórico atual, o território, ao se configurar e configurar a ação das corporações, forja conjunturas que transmutam normas e comportamentos. Portanto, haverá pactos e ações que podem exponencializar, flexibilizar e mesmo realizar a inversão entre o falso e o verdadeiro, o belo e o feio, do bem do mal. Ou seja, daquilo que pode ser considerado como ética (Costa, 2000). No conjunto, Glauco Arbix, sintetizou: “a guerra fiscal representa um vínculo em direção ao que há de mais obscuro no Estado brasileiro”[9].

Está delimitado um certo consenso de que as grandes corporações transnacionais desde há algum tempo, na medida e na proporção de suas conveniências, podem e passam por cima das decisões dos governos de qualquer país e que “os homens de negócio descobriram o mapa do tesouro. A nova fórmula mágica seria: “capitalismo sem trabalhadores mais capitalismo sem impostos” (Beck apud Sevcenko, 2000: 32)?

Apesar de não ser possível fazer a generalização, toma-se como marco da explicitação da “guerra de lugares” a implementação do regime automotivo de 1995 (Arbix, 2000 e Santos et alii 2001) sendo possível apresentar alguns elementos da construção contemporâneas dos mapas[10] no bojo do que a literatura tem chamado de guerra fiscal: “procedimentos de concessões fiscais e creditícias implementadas pelos estados” (Piancastelli e Perobelli, 1996:26). Com variações entre os estados, os benefícios para lutar e vencer na “guerra” (ou seria “A Guerra”?) podem ser divididos em três grupos:

1. Fiscais: isenção de ICMS para novas empresas, sem produto similar no estado e durante determinado período; isenção e redução do ICMS para PME; redução de alíquotas de ICMS para situações e produtos específicos, prorrogação de prazos de recolhimento do ICMS; recolhimento postergado do ICMS e utilização de crédito presumido pela estimativa do ICMS;
2. Financeiros: aquisição de ativos fixos; formação e recomposição de capital de giro; pagamento de ICMS; composição acionária e debêntures conversíveis;
3. Estímulos para a infra-estrutura: venda de galpões industriais a preços reduzidos; locação de lotes e galpões industriais por prazo determinado; permuta de terrenos para a relocalização de empresas; locação de máquinas e equipamentos; doação de áreas e lotes industriais.
 
Juntamente com esta tríade de instrumentos básicos de luta, alguns estados construíram estratégias de apoio para agilização dos procedimentos burocráticos, como a simplificação do processo de registro às empresas, de licitação para as Pequenas e Medias Empresas (PMEs), da assistência técnica para a elaboração de projetos e programas de formação e capacitação de pessoal.

Rastreando dois dos principais jornais brasileiros no ano de 2000, quando passada a generalização da guerra entre 1995 e 1997, há indícios claros dos mecanismos e procedimentos que levaram alguns governadores de estados baseados no entendimento de que somente com a presença de indústrias em seus territórios haveria “ordem e progresso”.

 
A Gazeta Mercantil traz cerca de trinta matérias com o tema envolvendo de governos estaduais ao STF e ameaças aos acordos do Mercosul. A Folha de São Paulo publicou no período 54 matérias sobre a “guerra fiscal”. Em ambos, os conflitos estão praticamente circunscritos às ações e conflitos entre os gestores dos das administrações estaduais. E os prováveis beneficiários? Para além de conhecerem “a geografia e a topografia”, nos moldes de Sun Tsu, conhecem profundamente seus interlocutores. Uma breve exposição de como foram realizadas algumas negociações apresenta sinais da tradição patrimonialista brasileira.

No final das negociações entre o governo gaúcho e os executivos da Ford num churrasco em um apartamento de cobertura em Porto Alegre, os olhares de administradores do Estado e dos executivo da transnacional viam na topografia da Grande Porto Alegre transformada pela presença das montadoras o nascimento de “um novo Rio Grande”. Nas tratativas com o novo governo, além das discussões sobre as cifras a serem destinadas dois dados devem ser destacados: o projeto era incompleto tecnicamente e parte dos recursos do governo estadual estava sendo utilizada para pagar a escola de crianças em São Paulo. Exceção? Uma rápida passada pelos noticiosos permite compreender a explicitação da naturalização de uma racionalidade que talvez fosse comum em tempos passados mas até então encobertas pela obscurantismo de tornar públicas as negociações entre funcionários e gestores estatais e os representantes do capital:

1.“Eu dou tudo isso e ainda mando um ramo de flores para o empresário que vier para cá”: governador cearense Tasso Jereissati (1987-1990)[11];
2. “Telefono para os donos e ofereço impostos mais baixos para que eles mudem para a Bahia (...) Todas pequenas, mas vale tudo (...) Morei 8 meses no Hotel Maksoud Plaza em São Paulo (...) Tive dois almoços secretos com executivos da empresa [da Ford](...) O empresário gaúcho Nestor de Paula, dono da Azaléia, diz que ficou impressionado coma a ação dos baianos. Três dias depois, eles tiveram um almoço secreto [com Benito Gama.]. Nestor Paulo abriu uma fábrica em Itapetininga”: Benito Gama, então secretario da Indústria, Comércio e Mineração da Bahia[12];
3. “Há 2 anos, executivos da Atlas Elevadores procuraram o governador Jaime Lerner. Disseram que pretendiam fechar a fábrica de São Paulo e abrir em outro lugar. Durante 15 meses, eles conversaram em sigilo com a equipe de Lerner. Para evitar espionagens, adotaram um nome de fantasia para a empresa. Até em reuniões, ela era chamada de Beta Sul[13].
 
A produção do território brasileiro chega a transformar-se em casos judiciais: a minuta das negociações entre o governo de Antônio Britto com a Ford e a GM somente foram conhecidas pôr ordem judicial; “Covas vai ao STF contra o Paraná e a Bahia”[14]; “STF manda o Paraná tornar público o contrato com a Renault”[15]. Ora, até o momento não há evidências empíricas de que as estratégias e ações adotadas pelos “guerreiros” possam minimizar as desigualdades sociais e produzir novas territorialidades alicerçadas na publicização das relações entre os diferentes agentes sociais produtores do espaço geográfico e da instância mediadora de suas contradições, o Estado.

Neste sentido, a inexistência de elementos identitários entre os agentes pré-existentes e imposição de um novo ritmo e arranjo das relações entre os homens e dos homens com a Natureza pela presença de um novo agente, pode na guerra dos lugares, conduzir os lugares vencedores para a condição de não lugares? O exemplo exponencial brasileiro é caso envolvendo o protocolo de intenções entre a Ásia/Kia em produzir veículos no Brasil. Desde a sua falência e estatatização do grupo pelo governo da Coréia do Sul entre 1997 e 1999, não produziu nenhum veículo no Brasil, usou as taxas favoráveis de importação e ainda possui um débito de 250 milhões de dólares com diversas esferas da administração pública. E tomados os resultados da participação quatro dos mais “aguerridos” Estados brasileiros (Ceará, Bahia, Paraná e Rio Grande do Sul) no PIB brasileiro no período 1985-1998, nota-se que no mínimo houve algum equívoco nas estratégias e ações (Quadro 3). Ou seriam outras as intenções para tomar tanto espaço na mídia?


 
Quadro 3- Participação de alguns Estados brasileiros no Produto Interior Bruto nacional (em %)
Estados
1985
1990
1995
1998
Ceará
1,6
1,6
1,7
1,8
Bahia
5,1
4,2
4,1
4,1
Paraná
6,3
6,1
6,3
6,8
Rio Grande do Sul
7,9
7,2
7,2
7,0

Fonte: Silva, A. e Medina, M. Produto interno bruto por unidade da federação.
Brasília: IPEA, 1999 (Texto para discussão, n. 677).



Como as “armas da guerra” foram praticamente ubíquas entre os estados (e com a participação de alguns municípios) não há sinalização de que possam produzir vitórias substantivas. Refletidos em conjunto com as ações de encolhimento das máquinas administrativas e venda dos patrimônios estaduais, começa a se delinear um dos resultados da guerra: as novas regulações impostas pelo Estado para os velhos e os novos agentes hegemônicos no território e para a nação brasileiras, aumentaram os endividamentos públicos e deterioraram a qualidade dos serviços prestados para a população de renda mais baixa.
 

Dois dos eixos básicos do conflito nos projetos da administração estadual

 
Sintetizando e tentando evitar a simplificação, as eleições de 1998 para o Governo do RS colocaram em disputa (guerra?) dois projetos que se diferenciavam essencialmente pelo papel que o aparato administrativo estadual deveria desempenhar na economia e nas relações com a sociedade. O projeto derrotado eleitoralmente naquele momento tinha como eixo a privatização e a defesa de uma máquina administrativa de cunho gerencial. O projeto vencedor procura manter o papel do Estado na economia e na aproximação com a população construir um aparato administrativo mais democrático, tendo como base o Orçamento Participativo (OP).
 
Nos limites deste trabalho, indicam-se dois dos alicerces dos embates e sua realização (ou tentativa de realização?) proposta vencedora em relação a um dos setores mais tradicionais da economia gaúcha: a agricultura e a composição das despesas orçamentárias.
 
Ao apostar recursos na produção agropecuária e sobretudo familiar, o governo do RS teria em conta que o estado é urbano-industrial e com forte redução da população em atividades agrícolas? No “Plano de investimentos e serviços/2001” do OP na rubrica agricultura, 76,73 por cento dos recursos estão relacionados a itens que incluem a agricultura familiar, sendo que 38,43 por cento são destinados ao “programa estadual de reforma agrária”. Somado a isto, deve-se destacar a quase truculenta desconfiança dos produtores rurais mais capitalizados em relação ao secretário estadual da agricultura (José Hermeto Hoffmann) que possui forte inserção e respeitabilidade entre os agricultores familiares e o Movimento dos Sem-Terra com três momentos basilares:
1. Os debates aguerridos quase inviabilizaram a Expointer, realizada com muito dinheiro público para grandes negócios privados e que acabou tendo grande participação de agricultores familiares, do MST e até de pescadores artesanais de Rio Grande;
2. Os alertas da Secretaria de Agricultura do desmonte dos aparatos estatais da Argentina, Uruguai e Brasil e diminuição das trocas de informações que resultaram na disseminação dos focos de febre aftosa: na arquitetura do bloco de sustentação de FHC o Ministério da Agricultura é ocupado pelo gaúcho Marcos Pratini de Moraes. Contando com amplo apoio do empresariado rural e da imprensa estadual, os erros de avaliação no recente episódio dos focos de aftosa, estimulando um desnecessário confronto com a Secretaria Estadual de Agricultura, planejando a campanha ao governo do estado, mereceu página inteira do jornal Zero Hora: “Pratini perde apoio no campo e no PPB” (09/05/2001, p. 6) e a editora de política, Rosane de Oliveira, entre elogios pessoais no editorial “Sem argumentos” escreve: “perceberia [o Ministro Pratini de Moraes] que por cima das diferenças ideológicas está o esforço de um estado inteiro para salvar seu rebanho de um vírus que assombra a desenvolvida Europa e os subdesenvolvidos vizinhos latino-americanos” (Zero Hora, 09/05/2001, p. 6).
3. A posição clara do governo estadual contra os alimentos transgênicos na defesa dos três elementos chaves do princípio da precaução (o reconhecimento de que determinada técnica ou produto envolve algum potencial de risco; reconhecimento de que pairam incerteza científicas sobre o impacto imediato ou as conseqüências futuras relacionadas aos usos de determinado produto ou técnica e a necessidade de agir preventivamente em relação aos riscos latentes em quaisquer situação desse tipo). E por último nesta simplificação: o governo federal deve ao governo do RS cerca de 780 milhões por obras realizadas em estradas federais no estado, enquanto o orçamento estadual para a agricultura foi de 127 milhões em 1999 e 212 milhões em 2000. Haveria alguma relação com a presença do item transporte como terceira prioridade no ano de 2000?
 
Por que estas referências à agricultura? O quadro 4 apresenta a síntese das prioridades do OP em 1999 e 2000 em que a agricultura é priorizada. Priorizada por quem? Por todos os cidadãos que participam de suas reuniões! Porém, qual o grau de interferência dos gestores do OP na priorização da agricultura e do transporte?

 
Quadro 4- Rio Grande do Sul: 
Orçamento Participativo nas 22 regiões definidas (1999 e 2000)
 
1999
2000
Participantes
188.533
281.926
Delegados eleitos
8.469
13.987
Assembléias realizadas
644
670
Prioridades de obras e serviços
1ª- Agricultura
2ª- Educação
3ª- Saúde
1ª- Educação 
2ª- Agricultura
3ª- Transporte

Fonte: Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Prestação de contas, 2000



No ano de 2001 estão previstas 700 assembléias a serem realizadas de 17 de março até 5 de junho. Em final de junho e início de julho estão previstas as rodadas de plenárias dos Fóruns Regionais de delegados nas 22 regiões para que até setembro a proposta orçamentária seja apresentada para a Assembléia Legislativa. Conjuntamente à escala regional, foram e estão sendo construídas conferências estaduais temáticas: em 1999 ocorreram as conferências estaduais de habitação, justiça, segurança e dos direitos da criança e do adolescente e em 2000 da educação, do meio ambiente e da mulher. Tratar-se-iam de tentativas de políticas transescalares?

Minimizada a guerra, a nova administração apresenta uma gestão orçamentária que determinou entre 1998 e 1999 o aumento da atuação estadual na área social (de 34,8 para 52,7%) e infra-estrutura (de 16,9 para 21,1%) e diminuição na área administrativa (de 31,6 para 14,8%)

A revista “Exame” sinaliza que a administração do RS não estava instaurando uma forma radicalmente nova de organizar a vida dos homens naquele pedaço do Brasil: "Alívio depois do susto: a perda da fábrica da Ford- para a Bahia- não parou o RS. Apesar das constantes trombadas de Olívio Dutra com as empresas, a economia gaúcha, felizmente, já adquiriu fôlego e ritmo suficientes para seguir adiante independentemente do governo"[16]. A revista apenas omitiu o preço da transferência: 1,5 bilhão de reais de empréstimos baratos, isenções generalizadas de impostos, doação de terreno terraplanado e cerca de U$ 5,5 bilhões através de vários mecanismos em 10 anos do cofre federal[17]. Até porque, mesmo antes da posse em 1999, não havia dúvidas sobre algumas posições da nova administração, como na frase do vice-governador Miguel Rosseto: “É uma guerra maluca, a qual quem ganha perde mais”[18].

A fina ironia, entre o alívio de ter um Olívio como governador e a sinalização de que o RS continuará sendo parte do território brasileiro e que é possível seguir reproduzindo o capital lá estabelecido, pode apontar para relações mais transparentes entre as esferas públicas e privada. A frase a seguir sobre a guerra fiscal não é uma fina ironia: “só tem causado uma competição em benefício dos empresários, não em benefício do Fisco, do tesouro ou da população”[19]. Algum governador de oposição ou em indisposição momentânea com o Planalto? Não! É FHC enquanto fraudava o “Regime Automotivo” e concedia alguns milhões anuais de recursos federais para a Ford se instalar na Bahia e que contribuiu para afastar de suas funções Clóvis Carvalho da Casa Civil da Presidência da República e Pio Borges da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)[20].

No bojo das facilidades oferecidas pela ciência, técnica e informação que permite as transnacionais a gestão à distância com controle da tecnologia de ponta, dos recursos essenciais e da força de trabalho (Dupas, 2000) é possível nos limites de um território estadual produzir formas alternativas de existência? Até porque, “dentro da classe trabalhadora existem hoje vários tipos de divisões. Por um lado, continuam a verificar velhas rivalidades nacionais, agravada pelo recente surto de regionalismos e micronacionalismos” (Bernardo, 2000: 57-58).
 

Para encaminhar uma possível pauta

A polarização dos últimos anos reordenou uma questão historicamente construída: qual a posição do RS no Brasil? Com a soldadura interna posta e imposta desde a última década de 90 do século XIX é freqüentemente reconstruída a identidade do “ser gaúcho”. A unidade federada e seus agentes sociais se colocam como portadores de vida que se relacionam conflituosamente com outros. Os outros são os brasileiros que moram num outro lugar, o Brasil. Como se não houvesse diferenciações sociais e regionais entre os “gaúchos”. Todos são gaúchos! No debate a síntese chega ao limite: contra ou a favor da globalização e seus defensores em qualquer escala e mesmos interescalaramente?

Com um certo distanciamento de 1998 e com o perigo da proximidade de 2002, deve-se pensar que a soldadura da existência gaúcha não está (talvez nunca esteve!!!) socialmente consolidada e há um certo consenso da existência de três regiões no Estado: o Sul, essencialmente agropecuário, com baixa agregação de valor à produção e alta urbanização com cidades essencialmente comerciais; o Norte, com base em lavouras modernas e incorporadoras de insumos, menor urbanização e tendência a agregação de valor nos produtos agrícolas; o Nordeste, com cerca de 90% de população urbana e um eixo multiindustrial entre a Região Metropolitana de Porto Alegre e Caxias do Sul.

No ser do e no RS, o fracionamento social e regional é parte da realidade, independentemente dos discursos e apelos de quem quer que seja ou onde esteja. Isto posto, sugerem-se cinco eixos básicos para pensar o OP estadual:

1. Quais os limites de direcionar partes significativas dos recursos dos programas de desenvolvimento e obras para a agricultura familiar num estado urbano-industrial?

2. Quais os limites da utilização das regiões dos COREDES para o Orçamento Participativo?

3. A expansão da proposta do OP, mesmo com a competência e ousadia de sua implementação em Porto Alegre, um município urbano e com cerca de 1,4 milhão de habitantes, pode ser viabilizado e radicalizado num estado diverso, com 10 milhões de habitantes com a mesma estrutura e num quadro eleitoral onde a vitória do atual governador ocorreu em regiões em que há historicamente perda de significado econômico e social como o Noroeste e nas fronteiras do Sudoeste e do Sul?

4. Alguns estudos vêm apontando certos bloqueios e até estagnação na dinâmica do OP em Porto Alegre. Qual o perfil social dos participantes do OP estadual? Há alguma lógica da participação na diversidade regional do Estado?

5. É possível a construção de uma nova racionalidade entre os agentes sociais territorializados na desigualdade regional? Construção de uma nova racionalidade que ao superar os dados orçamentários, envolva a constante politização das discussões e rompa com as resistências da burocracia administrativa em todas as esferas envolvidas.

6.Quais os campos e territórios de conflitos entre a esfera administrativa estadual, do Conselho do OP e as administrações municipais?

7. As estratégias das conferências temáticas permitiram aumentar o leque do perfil dos participantes na direção de extratos da população que já têm sua demandas imediatas atendidas?

8. Quando, como e onde poder-se-á observar que as alterações nos sistemas de ações criaram e serão produtos de novos sistemas de objetos territorializados no RS?

No século XIX a Comuna durou 72 dias. Zapata, Pancho e os camponeses mexicanos ao chegarem na cidade do México não produziram uma nova proposta de organização social na sociedade urbano-industrial em consolidação. A tomada do palácio de inverno produziu sete décadas de uma sociedade urbano-industrial que não conseguiu afirmar o significado do homem como sujeito de sua história, onde “a alienação tecnológica [era] comum ao socialismo e ao capitalismo. Dos dois lados, há perigo tecnocrático” (Lefebvre, 1969: 271). Numa ilha caribenha, agora além de se apresentar como de um homem e de um partido as possibilidades parecem esgotar.

Será possível que num pedaço “no fim do fundo da América do Sul”[21] os homens ao se reunirem institucionalizadamente possam na afirmação de suas humanidades num contexto de negação da solidariedade, produzirem menos desigualmente suas vidas apontarem para o futuro?

A institucionalização vem recebendo críticas sérias tanto de pesquisadores simpáticos ou não ao OP e mesmo dentro do partido que encabeça a coalização em Porto Alegre e no RS. Há a possibilidade do OP em se constituir apenas de um momento de reconstrução da ordem do mundo burguês, no sentido que até o relatório do Banco Mundial de 1999/2000 faz elogios e cita particularmente Porto Alegre? O devir será o “da sociedade capitalista, no coração mesmo da socialização da sociedade cavam-se as contradições, ainda que veladas pelas aparências ideológicas e políticas que resultam precisamente deste agravamento (confiança no Estado, por exemplo para arbitrar e resolver as contradições) (Lefebvre, 2000:231)”? Ou a multiplicidade de caminhos que se apresentam e podem ser tomados, o OP será um momento no sentido de uma irreversível democratização da vida social, especialmente dos espaços públicos ?
 
 

Notas:

(1)Texto base para comunicação na mesa-redonda “A Guerra dos Lugares” na 14ª Semana do Geógrafo, promovida pela AGB-Curitiba/UFPR/CREA-PR entre 18 e 22 de junho de 2001.

(2) O Orçamento Participativo é uma prática de participação política baseada na democracia direta na qual os cidadãos elegem diretamente as prioridades a serem adotadas no orçamento público.

(3) BOBBIO, Norberto et alii. Dicionário de Ciência Política. 6.ed. Brasília: EDUnB, 1994.

(4) O historiador Décio Freitas, ao apresentar e descrever a intensidade da Revolução Federalista e as atrocidades cometidas por chimangos e maragatos, sugere que não houve conflito na História que tivesse matado tanto proporcionalmente em relação ao pequeno período, a área e a população envolvida. Resultaria do enfrentamento o nascimento de uma ditadura com viés modernizador-conservador que seria a base do Estado Novo e da Ditadura pós-1964. Ver: O homem que inventou a ditadura no Brasil. Porto Alegre:LP&M, 1999.

(5) BOSI, Alfredo (1993) apresenta uma elucidativa análise com sugestivo título de arqueologia do Estado-providência. HEIDRICH (2001) faz detalhado estudo na constituição do regionalismo gaúcho para uma geografia “além do latifúndio”.

(6) Apenas dois exemplos: passados cerca de dois anos da posse da atual administração estadual, ainda tramitam na Assembléia Legislativa e no Poder Judiciário processos envolvendo a implementação do OP e a desistência da Ford em instalar uma unidade montadora de veículos na Região Metropolitana de Porto Alegre. No limite há o pedido de impeachment do governador Olívio Dutra.

(7) As 22 regiões do OP são as mesmas dos COREDES (Conselhos Regionais de Desenvolvimento): Alto Jacuí, Campanha, central, Centro-Sul, Fronteira Noroeste, Fronteira Oeste, Hortências, Litoral, Médio Alto Uruguai, Metropolitano do Delta do Jacuí, Missões, Nordeste, Noroeste Colonial, Norte, Paranhana, Produção, Serra, Sul, Vale do Caí, Vale do rio dos Sinos, Vale do rio Pardo e Vale do Taquari.

(8) O ex-prefeito de Porto Alegre e ex-governador do RS, Alceu Collares conseguiu em 1999 uma liminar judicial que impedia as assembléias do OP e a divulgação pública do orçamento estadual. Entre a intelectualidade enraizada no RS as críticas mais agudas ao OP e à administração Olívio Dutra foram tecidas e apresentadas em junho de 1999 por Dacanal (2000). O mesmo Dacanal em entrevista ao economista Cézar Busatto (ex-secretario de Antônio Britto) e ao jornalista Juremir Machado da Silva, reitera as críticas e tem referendada sua posição de interlocutor mais preparado para enfrentar a surpresa da derrota eleitoral das forças do bloco de apoio a candidatura de Antônio Britto (O PT, Marx e o cristianismo. Porto Alegre: Soles, 2000).

(9) http://www.estadao.com.br (edição/18/07/1999).

(10) Apenas como exemplo: entre 1916 e 1917 o governo do RS deu isenção total de impostos estaduais para pelo menos quatro frigoríficos (Swift em Rio Grande, Armour e Wilson em Santana do Livramento e Cia. Frigorífica Rio Grande em Pelotas).

(11) Revista Veja, ano 29, n. 34, ed. 1458, 21/08/96.

(12) Folha de São Paulo, 06/03/2000, p. 1-9.

(13) Folha de São Paulo, 06/03/2000, p. 1-10.

(14) Folha de São Paulo, 25/02/2000, p. 1-11.

(15) Gazeta Mercantil, 24/10/2000.

(16) Exame - melhores e maiores/2000. Junho/2000, p. 286.

(17) “A Bahia é Ford ... PT Saudações”. Germinal (Jornal de Oposição Sindical). http://sites.uol.com.br/ger. Consultado em 31/05/2001.

(18) http://www.estado.com.br (edição 08/11/1998)

(19) Folha de São Paulo, 12/06/2000, p. 7.

(20) http://www.estadao.com.br (edição 17/07/1999).

(21) Palavras de Vitor Ramil na canção tomada de Bob Dylan (“Joey”, do LP “Desire” de 1975/76) com o nome de “Joquin” no LP “Tango” de 1986/87 e relançado em CD em 1996 pela Sony/PMPA/Fumproarte.
 

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