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REVISTA BIBLIOGRÁFICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona
ISSN: 1138-9796. Depósito Legal: B. 21.742-98
Vol. VII, nº 400, 25 de septiembre de 2002

PELA CONTINUIDADE DA GEOGRAFÍA CRÍTICA
SOBRE A THIRD INTERNATIONAL CONFERENCE OF CRITICAL GEOGRAPHY

Wendel Henrique
Universidade Estadual Paulista – UNESP/Rio Claro – Brasil
Departamento de Planejamento Territorial
wendelh@rc.unesp.br


Palabras clave: geografía crítica, geografía y método, congresos geográficos

Key words: critical geography, Geography and methodology, geographical congresses


Este artigo possui duplo objetivo. O primeiro está relacionado ao relato dos debates e fatos da III International Conference of Critical Geography (ICCG), realizada na cidade de Béckéscsaba (Hungria), entre os dias 25 e 30 de junho de 2002, promovida pelo International Critical Geographical Group e sediada no Center for Regional Studies of the Hungarian Academy of Science.

O segundo objetivo visa ultrapassar o limites do relato da Conferência e tecer algumas reflexões sobre o papel, desenvolvimento e continuidade da Geografia Crítica. Entendemos a Geografia Crítica a partir de abordagem métodica, uma visão de mundo segundo Ortega y Gasset, e não apenas uma postura política ou ideológica. A Geografia Crítica é uma possibilidade de explicação real/concreta do presente a partir de categorias de análise próprias e não apenas um discurso inflamando ou uma retórica crítica.

Durante os dias do evento, mais de 120 geógrafos de 35 países estiveram reunidos para discutir e debater a Geografia Crítica. Segundo os organizadores do evento, a III Conferência de Geografia Crítica foi ‘mais internacional’ do que as outras duas realizadas em Vancouver (Canadá) e Taegu (Coréia do Sul). Apesar desta ‘internacionalização’ maior dos participantes, haviam poucos oriundos dos países mais pobres ou a margem do eixo Europa-EUA, como por exemplo 2 brasileiros, 3 argentinos, 1 nigeriano (que reside e estuda em Dublim/Irlanda). Será que algum dia uma Conferência Internacional poderá orgulhar-se de uma participação geograficamente bem distribuída ?

Salientamos que nossa participação nesta Conferência foi possível graças ao suporte financeiro oferecido pela Revista ANTIPODE, através da Comissão Organizadora do evento. Desta forma, agradecemos a revista ANTIPODE – A Radical Journal of Geography, pela possibilidade de estarmos em Béckéscsaba e publicarmos nosso Trabalho "The Concept of Nature in the Brazilian Critical Geography – Reflections from some Milton Santos's Work".
 

Geografia e Método

Referir-se ao Método, principalmente na Geografia é sempre uma questão árdua, mas indispensáveis ao avanço da Geografia. Segundo Quaini (1979), os geógrafos [explicando a indiferença mútua entre a Geografia e a Filosofia] retribuem a atitude dos filósofos, não somente ignorando a filosofia mas, o que é mais grave, considerando supérflua toda a reflexão sobre as regras lógicas de sua produção científica". O geógrafo italiano cita Yves Lacoste para completar sua análise, escrevendo que

"a maior parte dos geógrafos teoriza o menos possível e se satisfaz afirmando sem nenhum pudor, que ‘a geografia é uma ciência sintética’ (...) Por outro lado, muitos geógrafos não escondem seu desprezo pelas ‘considerações abstratas’ e fazem disto um mérito e declaram sua predileção pelo concreto" (Lacoste, Y. La Géographie, 1973:243 apud Quaini, 1979)

Acreditamos que esta análise do final da década de 70 ainda é muito pertinente para o momento atual da Geografia, onde assistimos um aumento do fetiche pela técnica – SIG/GIS - e pela empiria – Meio Ambiente e Turismo. Como ensina Ortega y Gasset (1961), a necessidade de idéias e reflexões se faz cada vez mais presente.

Retornado a evidenciação da Geografia Crítica através de um método, definiremos método como visão de mundo, pois, ainda com Ortega y Gasset (1961), "não pode meu pensamento copiar a realidade, recebê-la em si, se esta por sua vez não se assemelha a meu pensar".

Assim, a qualidade metódica ‘crítica’ está na forma de ver, ler e conceber o Mundo, é a forma ‘crítica’ que o sujeito/indivíduo vai inteirar-se no mundo, receber a realidade e revelar-se no mundo, de diferentes formas, de acordo com sua história, com suas circunstâncias, com sua vida e com o indissociado do movimento da sociedade.

Se o método, enquanto uma esfera, uma determinação filosófica é uma visão de mundo, ele é a própria liberdade, ou seja, a escolha na forma de receber e revelar-se no mundo. Entretanto, há uma outra determinação no método, uma esfera científica/acadêmica, que define o método a partir de determinadas categorias de análise, as quais vão produzir um sistema de conceitos, organizados segundo uma determinada lógica (objetivação do conhecimento/busca da verdade – conhecimento verdadeiro/sistematização dos processo de captação da realidade/racionalismo), que no caso da postura crítica estará ligada a uma lógica material (dialética).

Segundo Koninck (1998), escrevendo a respeito de idéias de Habermas e Rioux, revela que as ciências que tomam uma postura dialética, ou uma postura crítica, se distinguem das demais ciências (positivas e hermenêuticas) por contém um interesse emancipador, criativo e otimista por estarem associadas a uma ‘autocriação do homem e da sociedade’.

Se período atual da história humana, ainda é marcado pelas fortes desigualdades sociais, econômicas e políticas, a Geografia Crítica e o Método Dialético ‘ainda’ é a possibilidade ‘lógica’ de explicação unitária e totalizante do mundo presente ou do espaço geográfico. A Geografia e um Método que pressupõe a realidade como processo e a verdade sempre como provisória são os pressupostos para romper as separações formais entre teoria X prática; sujeito X objeto, sociedade X natureza.

Como nos diz Althusser (1967), a dialética está presente diante de nós, é possível repelí-la, mas é impossível ignorá-la. Afinal, segundo o próprio, a filosofia dialética é a forma "lógica" de tratar o conhecimento como processo histórico, ou seja, que trata o mundo como uma totalidade em movimento. Althusser (1967) também nos explica a existência de duas possibilidade deste mesmo método:

o materialismo histórico, como sendo a ciência da História, ou como a ciência dos modos de produção – estrutura, constituição, funcionamento, etc...
o materialismo dialético, como a base filosófica do método, que permite o entendimento da produção do conhecimento, uma Teoria da História do Conhecimento, ou seja, o processo de produção do conhecimento – condições materiais e sociais e sua prática, ao mesmo tempo.

Além disto, o método dialético, como nos lembra Lefèbvre (1969), permite penetrar sob as aparências – que são a marca do período atual – e explicar e refletir sobre seu conteúdo mais profundo, sua essência. Na Geografia Crítica, isto está ligado a compreensão do espaço geográfico, segundo Milton Santos (1996), como um conjunto de objetos (forma/aparência) e ações (conteúdo/essência). Desta forma, uma abordagem crítica/dialética na Geografia revela a essência dos objetos, indo além do fetiche pela paisagem.

Em seu livro clássico sobre Geografia e Marxismo, Quaini (1979:19) mostra este alinhamento é decisivo para a Geografia (re)valorizar-se no momento histórico atual, sendo assim imperioso aos geógrafos (re)resgatar a obra e o método de Karl Marx, definido como

"o único método que vai do abstrato ao concreto, apresentando como único método que permite ao pensamento apropriar-se corretamente do concreto, do real, isto é, em relação à abordagem empírico-vulgar (...) Trata-se de partir de um uso rigoroso das categorias mais simples (por exemplo, conceitos de trabalho, divisão do trabalho, valor de troca, etc.) para dar de novo com a população, mas desta vez não com uma representação caótica de um todo, porém como uma rica totalidade de determinações e relações diversas."

A Geografia emprega, está ligado ao fato de que a Geografia é uma ciência do presente, ou seja, uma obra sempre aberta, sempre em movimento, sempre num (re)fazer-se. Desta forma, reafirmamos que é o método dialético empregado na Geografia foi o que produziu categorias analíticas que preenchem de conteúdo um sistema de conceitos que dão conta da EXPLICAÇÃO do presente.
 

A Geografia Crítica.  Movimento do Mundo e a Explicação do Espaço Presente

Como o título do trabalho busca uma continuidade da Geografia Crítica, julgamos necessário fazer uma breve situação das bases da Geografia Crítica, destacando geógrafos brasileiros e estrangeiros.

Na introdução de Por Geografia Nova – da crítica da geografia a uma geografia crítica, de 1978, Milton Santos já indicava o conteúdo ou o espírito da Geografia Crítica – o movimento e a renovação no presente.

Silva (1981), também remete a necessidade da geografia, para ser Crítica, incorporar este movimento da realidade, mas em suas particularidades. Acrescenta ainda que o espaço da geografia "é um espaço da ciência e da ideologia" (pp:23) e "é o discurso que extrapola a subtotalidade, na consciência realizada como compreensão do real no todo e na parte" (pp:24).

A busca de categoria dialéticas para a explicação do espaço e, principalmente, na definição do espaço como um produto social, pode ser encontrada em Corrêa (1981), quando este explica que o espaço possui um valor de uso e um valor de troca.

Veremos também Moreira (1981:35) escrevendo a respeito do espaço geográfico a partir de modos de produção e socialização da natureza. "O processo de socialização da natureza pelo trabalho social, ou seja, a transformação da história natural em história dos homens (ou da história dos homens em história natural), implica uma estrutura de relações sob determinação social. E é esta estrutura complexa e em perpétuo movimento dialético que conhecemos sob a designação de espaço geográfico".

Já Oliveira (1981), integra Espaço e Tempo usando leis da dialética buscando ‘fazer uma geografia marxista’. Modo de produção capitalista, divisão do trabalho, continuidade e descontinuidade do espaço e do tempo, etc.

Peet (1982:226) não usa o termo Geografia Crítica, mas sim Radical, e escreve que

"a ciência radical mostra os desvios, expõe as explicações existentes à crítica, providencia explicações alternativas que tracem a relação entre os ‘problemas sociais’, na superfície, e as causas sociais profundas, e encoraja as pessoas a engajarem-se na construção de sua própria teoria. Sobre as bases das explicações alternativas resultantes, levanta-se um programa político radical para a reestruturação da sociedade enquanto ao redor deste programa desenvolveu-se uma cultura que reflete a experiência e o anseio de uma população redespertada. A ciência radical é, então, o agente consciente da mudança política revolucionária. E a Geografia Radical é uma parte dela, partilhando a mesma aspiração, usando o mesmo método, mas especializada num certo conjunto de relações a partir das quais a sociedade é feita".

Esta busca por mudanças – talvez radicais - muito mais presentes na geografia depois dos acontecimentos de 11 de setembro e da permanência do modo de produção capitalista, como motor hegemônico do período histórico atual, servirá de eixo condutor para análise de três aspectos referentes a prática da Geografia Crítica e sua constituição epistemológica, presentes nas falas e nos discursos elaborados no III ICCG – International Conference of Critical Geography.

Primeiramente, observamos que esta ‘necessidade’ por uma mudança radical no panorama político ou econômico/cultural pode ocasionar uma postura Crítica mais relacionada a uma ideologia do que a um método. Enquanto prática geográfica e constituição epistemológica, este fato pode levar a destituição de conteúdo geográfico desta mudança, voltada muito mais para uma explicação de fenômenos através de categorias oriundas da economia ou da sociologia. Destacamos um alerta de Moraes & Costa (1981) que irá ajudar-nos a refletir um pouco mais sobre o III ICCG. Na busca desta construção marxista da geografia, muito mais concentrada num dogmatismo ideológico do que numa obstinação teórica ou metódica, levou e leva muitos Geógrafos Críticos a esquecer o espaço.

O debate sobre o papel e a importância da Geografia Crítica deve residir muito mais sobre os métodos do materialismo histórico e dialético, evitando assim um aspecto panfletário da Geografia Crítica.

No caso brasileiro, a guerrilha geográfica crítica, no caso brasileiro, se mostrou como um desvio da Geografia para a Economia e para a Sociologia – Rural e Urbana – muito preocupada com a ‘mudança’ revolucionária do Mundo, os geógrafos se esqueceram do espaço e da teoria geográfica. Além de contribuir para uma crescente dissociação entre uma Geografia Humana Crítica e de uma Geografia Física Quantitativa ou Tradicional.

Outra questão, também do ponto de vista da prática da Geografia Crítica, relaciona-se a uma maior integração ou cooperação entre os Geógrafos Críticos. Esta ampliação do caráter internacional do evento, segundo os participantes e organizadores do evento, passa por uma quebra do domínio da língua inglesa. Esta ampliação na esfera lingüística visa principalmente uma ampliação nas origens dos participantes, uma tentativa de inclusão de geógrafos de países onde o inglês ou o francês não eram línguas oficiais, ou seja, de grande parte dos países mais pobres. Entretanto, o idioma único – apesar de ser um evento bilíngüe (inglês/francês) –era o inglês.

A terceira análise diz respeito a uma mudança de cunho epistemológico. Esta mudança estaria numa destituição do domínio de uma Escola Geográfica Anglo-Americana sobre a Geografia Mundial. Entretanto, acreditamos haver muito mais um domínio de geógrafos anglo-americanos em eventos internacionais – devido as facilidades na obtenção de auxílio financeiro – do que de uma Geografia Anglo-Americana. No caso brasileiro, ao longo da História do Pensamento Geográfico, o grande domínio teórico estrangeiro foi exercido pela Geografia Francesa e somente nas década de 70 e 80, através das abordagens quantitativas houve uma aproximação maior com uma ‘Escola Anglo-Americana’, mesmo assim, sem apagar outras possibilidades de explicação geográfica. Aliás, esta ‘invasão’ quantitativa deu grande impulso a efetiva constituição de uma Geografia Crítica Brasileira, e uma posterior estruturação de uma ‘Escola Geográfica Brasileiro’, graças a geógrafos ilustres como o Professor Milton Santos, que sempre buscou a sistematização de uma Geografia realmente brasileira, de uma explicação geográfica para o espaço brasileiro.

Pensar a respeito destas três questões pode permitir que a Geografia Crítica, enquanto método, ultrapasse o fetiche político-ideológico e construa uma explicação crítica, solidaria e espacial sobre o mundo atual, ou sobre o espaço em seu conteúdo presente.

Entretanto, concordamos que a Geografia Crítica pode e deve também ser um instrumento de uso político para transformação do mundo, mas a partir de uma ação do geógrafo enquanto um pensador da sociedade atual. Desta forma, o geógrafo poderá demostrar suas reais condições para ajudar na construção política de um mundo menos injusto, através muito mais da produção de Conhecimento Geográfico Crítico, enquanto método ou visão de mundo.

Sobre este papel político transformador da Geografia Crítica, destacamos um trecho do estatuto do International Critical Geography Group (ICGG), "we believe that a ‘critical’ practice of our discipline can be a political tool for the remaking of local and global geographies into a more equal world."

A opção pelo uso ou prática da geografia com ferramenta de reconstrução ou melhor, de renovação do mundo, dever ser muito mais uma ferramenta ou uma arma teórica e empírica sobre as desigualdades exacerbadas e exageradas no momento histórico atual, constituindo-se desta forma uma ferramenta política.
 

Identidade Européia e Imigração na Europa: problemáticas atuais para a Geografia Crítica?

Foram duas as grande problemáticas que moveram os debates da III ICCG, sendo ambos relacionados ao entendimento da União Européia – identidade européia e imigração na Europa. O domínio destas duas problemática mostrou-se contraditório perante as idéias gerais do evento que propunham uma discussão ampliada da Geografia, ou seja, uma participação de geógrafos de todo do mundo, aos quais os ‘problemas’ europeus podem ser encarados como secundários.

Mesmo antes do evento iniciar-se, desde o momento que aterrissamos na Europa - Barcelona, vindos do Brasil, estas duas problemáticas nos foram apresentadas de maneira intensiva. Todos os jornais europeus – franceses e espanhóis – traziam em suas manchetes estes assuntos ou produziam dossiês sobre os mesmos, tais como: Le Grand Dossier "L’Immigration en Europe" (Le Monde – França – 10/06/02); Los ecuatorianos se agolpan para emigrar a España (El Periódico de Catalunya – 16/06/02); L’EU durcit as politique d’immigration (Metro – Paris – 19/06/02). Salientamos que durante este período no território europeu estava sendo realizado em Sevilha (Espanha) um encontro de cúpula dos dirigentes dos países da União Européia para discutir normas e leis sobre a imigração.

Desta forma, um Geógrafo Não-Europeu que sido apresentado pela mídia a este debate sobre identidade e imigração, ao chegar num evento acadêmico cuja grande tônica foi ‘desviada’ para a discussão sobre imigração e identidade, esperava que, pelo menos, houvesse uma explicação geográfica crítica sobre estas problemáticas. Infelizmente, durante o evento crítico, novamente pareceu-nos que os geógrafos críticos perderam-se na categorias da economia, sociologia e antropologia, esquecendo-se da Geografia e do Espaço Geográfico. Em geral, os trabalhos que traziam a temática das imigrações ficaram presos ao relato de experiências pessoais, ou seja, como os geógrafos – muito deles imigrantes – foram recebidos e convivem com este novo espaço a ser vivido.

Observamos que as abordagens dos Geógrafos Críticos se pautaram muito mais num ponto de vista da identidade cultural do que territorial. O grande questionamento não visavam explicar ou discutir as políticas ou a implicações territoriais – uma divisão supranacional ou comunitária do trabalho? – mas se auto-analisar enquanto um sujeito vivendo diferentes esferas culturais ou tentar empreender a construção de uma única identidade – européia. Tomemos um exemplo: um geógrafo grego que migra para a França, para realizar seus estudos de doutoramento, possui uma identidade cultural com a Grécia e uma identidade cultural européia definida a partir das especificidades gregas. Ao se deparar com uma nova configuração espacial e cultural – a França – este geógrafo passa a tentar construir uma identidade com a cultura francesa e ao mesmo tempo européia, mas desta vez a partir de componentes franceses. Uma questão extremamente complexa, mas tratada muito mais do aspecto antropológico ou psicológico do que geográfico. Assim, os processos migratórios não acabavam sendo analisados como uma forma de cooperação entre lugares, regiões ou territórios.

A pauta das imigrações européias também acrescentavam um novo elemento ‘antropológico’ – o multiculturalismo. Novamente, para os geógrafos não-europeus (que eram uma parcela do evento) não se mostrava como uma grande questão. No caso brasileiro, este multiculturalismo que os europeus parecem agora presenciar ou que agora se materializa em território europeu, já é um traço definido na Geografia Brasileira, pois está presente desde o início de nossa formação territorial.

Acreditamos que cabem aos geógrafos, no caso dos europeus, construir uma explicação espacial deste processo de imigração, ou seja, construir teorias espaciais, a partir de categorias geográficas como Território, Região, Lugar e Paisagem, para entende este ‘novos’ usos e processos de produção deste espaço europeu, que pode se configurar com um único território ou como um aglomerado de lugares.

Cabe aos geógrafos, neste processo muito mais um papel teórico do que um ativismo político. A Cultura compreendida através do Território, por exemplo, pode ser analisados com um viés geográfico crítico ou dialéticos e fornecer grandes subsídios para uma tentativa de entendimento da Europa e que poderiam ser extrapoladas para os processos de imigração que ocorrem em outras partes do mundo.

Por outro lado, os geógrafos também podem buscar entender a Cultura a partir da categoria Lugar, onde a Europa é vista a partir das aglomerações dos lugares. Neste caso, as componentes horizontais do espaço, as solidariedades e as cooperações espaciais são privilegiadas em detrimento de um componente política vertical que se impõe sobre os lugares.
 

Considerações Finais

Ao final deste texto, assim como ao final da III International Conference of Critical Geography, acreditamos cada vez mais no poder renovador e transformador que uma explicação realmente crítica do espaço geográfico atual pode construir. Somente um entendimento profundo dos movimentos contraditórios e dialéticos do mundo em seu período histórico atual podem ajudar os homens a superar os processos de dominação e controle, desigualgualde e falta de oportunidades, exploração e marginalidade, pobreza e fome que, infelizmente, estão geograficamente impregnados em nossa Sociedade.

Apesar desta riqueza, talvez em função da forma como ocorreu seu processo de afirmação e estruturação, a Geografia Crítica foi e é, em alguns momentos, ‘esquecida ou enfraquecida’ enquanto uma abordagem ou uma possibilidade de um método. Esta aparente marginalidade da Geografia Crítica, em seu momento atual, pode ser entendida como resultado de um pragmatismo que afeta toda a Geografia, onde observamos um crescente abandono da teoria para uma maior aplicação da disciplina definida por necessidades dos mercados de trabalho atuais.

Graças ao esforço teórico de muitos Geógrafos, destacamos o brasileiro Milton Santos, a Geografia, em especial a Geografia Crítica ou Ativa – como o Professor Milton Santos se referia em seu último manifesto - , temos a possibilidade concreta de geograficamente entender e explicar o Espaço Geográfico em seu período atual e presente, e assim, usá-la como ferramenta política para movimentar o Mundo.

"Os geógrafos, ao lado de outros cientistas sociais, devem se preparar para colocar os fundamentos de um espaço verdadeiramente humano, um espaço que una os homens por e para o seu trabalho, mas não para em seguida os separar em classes, entre exploradores e explorados; um espaço matéria inerte trabalhado pelo homem, mas não para se voltar contra ele; um espaço natureza social aberta a contemplação direta dos seres humanos, e não um artifício; um espaço instrumento de reprodução da vida, e não uma mercadoria trabalhada por uma outra mercadoria, o homem artificializado". Milton Santos (1978:219)

Por estas razões, muito mais teóricas do que ideológicas, defendemos, acreditamos e esperamos a continuidade da geografia crítica.

Referências Bibliográficas

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© Copyright: Biblio 3W, 2002.

Ficha bibliográfica

HENRIQUE, W. Pela continuidade da geografía crítica. Biblio 3W, Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de Barcelona, Vol. VII, nº 400, 25 de septiembre de 2002.  http://www.ub.es/geocrit/b3w-400.htm[ISSN 1138-9796]



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