Biblio 3W. Revista Bibliográfica de Geografía
y Ciencias Sociales. |
RIBEIRO, Luiz Cesar de Queiroz. Dos cortiços aos condomínios
fechados: as formas de produção da moradia na cidade do Rio
de Janeiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; IPPUR/UFRJ;
FASE, 1997, 352 p.
1. Reseña de Paulo Roberto Rodrigues Soares
2. Reseña de Rosali Braga Fernandes
Reseña de:
Paulo Roberto Rodrigues Soares
O livro origina-se de tese de doutorado apresentada na Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo em 1991, orientada
pela Profa Ermínia Maricato, que oportunamente
foi publicada. O autor é pesquisador e professor vinculado ao IPPUR
(Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional) da Universidade
Federal do Rio de Janeiro e possui larga experiência e produção
científica nos estudos urbanos, principalmente nos temas referentes
à questão da habitação e ao planejamento urbano,
integrando o grupo de trabalho "Acumulação Urbana e
a Cidade" e relacionando-se a diversos movimentos sociais. A obra
está entre as selecionadas para concorrer ao Prêmio "Jabuti"
de melhor livro de 1997 na categoria Ciências Humanas.
O tema central é a análise das diferentes formas de produção
da moradia na cidade do Rio de Janeiro das últimas décadas
do século passado, até o início da década de
90, abordando desde os primeiros ensaios de formação de um
mercado de habitações (com a construção de
moradias coletivas conhecidas como "cortiços"), até
a constituição da moderna empresa incorporadora que hegemoniza
as formas de produção da moradia, impondo um novo padrão
de organização do espaço urbano na cidade (que tem
nos condomínios fechados de casas ou apartamentos a sua forma mais
moderna de produção). O objetivo do autor é compreender
o processo de formação, estruturação e reprodução
do setor mais avançado no processo de produção de
moradias: o capital incorporador.
O autor realiza uma excelente reconstrução histórica
da promoção imobiliária na cidade do Rio de Janeiro
valendo-se de uma grande quantidade de fontes de dados estatísticos
e documentais extraídos de censos demográficos, arquivos
históricos e publicações (jornais, revistas, relatórios,
levantamentos) dos períodos analisados. Estes são apresentados
no livro em trinta e oito tabelas e catorze gráficos. A colocação
dos mesmos ao longo de toda obra auxilia na compreensão das questões
analisadas. O texto combina, com exemplar equilíbrio, passagens
onde se exige uma certa iniciação do leitor no referencial
teórico-metodológico, com trechos onde prevalece a descrição
histórica dos processos, estando estes segmentos muito bem articulados.
O marco temporal é o conjunto de transformações da
sociedade brasileira nas décadas finais do Século XIX, que
tiveram como epicentro o Rio de Janeiro, então capital federal.
O conhecimento da conjuntura econômica e política brasileira
que dá suporte à periodização do autor auxilia
bastante a compreensão do texto, porém não é
condição básica para seguir a leitura do livro.
Na introdução temos o reconhecimento, por parte do autor,
que "todo trabalho intelectual é datado" e "marcado
pelas condições da sua produção". Procura,
assim, demarcar a sua própria evolução no debate político
e teórico relacionado à questão urbana (e da habitação
em particular) no Brasil, acirrado a partir dos anos 70 no bojo das lutas
pela redemocratização do país, então sob o
domínio da ditadura militar e que atravessa a década de 80,
acompanhando a transição democrática, sendo ainda
hoje central na sociedade brasileira. A promoção imobiliária
no Rio de Janeiro é considerada "exemplar" e a sua compreensão
permite que se extrapole o conhecimento para outras realidades.
O livro divide-se em duas partes sendo a primeira dedicada ao "enquadramento
teórico" sobre a propriedade fundiária urbana e a produção
da moradia. São discutidos o espaço urbano e a produção
de mercadorias, as contradições da urbanização
capitalista, onde a cidade é caracterizada por apresentar um valor
de uso complexo, sendo que nenhum dos capitalistas individuais nela aportados
é capaz de produzir o conjunto de objetos que determinam a sua reprodução.
A emergência de conflitos pelo uso do solo urbano decorrentes da
fragmentação e monopolização (por uma classe
ou fração de classe) da propriedade da terra gera a necessidade
da regulação estatal do processo de produção
da cidade derivando daí o planejamento urbano. Percebe-se nitidamente
a principal influência teórico-metodológica do autor:
a da vertente da sociologia urbana marxista francesa. A definição
dos diferentes tipos de renda da terra que emergem na sociedade capitalista
serve de base para a análise das condições que regulam
os vários momentos da produção e circulação
da moradia e para identificação dos respectivos agentes desta
produção: incorporadores, construtores, instituições
de crédito e proprietários rentistas.
Esta parte conclui-se com um capítulo dedicado à questão
da moradia em sua dimensão histórica e estrutural. A análise
apoia-se na leitura dos trabalhos clássicos de Frederich Engels
"A Questão da Habitação e "A Situação
da Classe Trabalhadora na Inglaterra". Um quadro esquemático
sintetiza os diversos aspectos e as relações entre os agentes
envolvidos na produção capitalista de moradias. O autor conclui
indicando que esta forma de produção somente se viabiliza
quando o capital contorna os obstáculos da propriedade privada da
terra urbana e da estreiteza do mercado consumidor. Três formas de
produção de moradia são identificadas: aquela em que
o proprietário é simultaneamente capitalista e usuário
da moradia (chamada de produção não-mercantil); a
do proprietário que é o capitalista, mas não é
o usuário (que poderia ser considerada como produção
mercantil) e, por fim, a forma de produção de moradias em
que proprietário, capitalista e usuário constituem-se em
entes distintos (a forma capitalista de produção da moradia).
São estas formas de produção da habitação
que são analisadas na segunda parte do livro intitulada "Capital,
Propriedade Fundiária e Produção da Moradia no Rio
de Janeiro". Esta é a de maior interesse ao leitor empenhado
em conhecer um dos componentes da questão urbana brasileira em uma
das cidades mais emblemáticas do país (talvez a mais conhecida
mundialmente). O Rio de Janeiro das favelas, do samba e das praias fica
em segundo plano para que possamos conhecer uma outra faceta da construção
da cidade. Reunindo vários dados estatísticos temos um completo
panorama da produção de moradias no Rio de Janeiro que passa
por sucessivas fases que indicam a hegemonia de cada uma das formas de
produção indicadas na primeira parte da obra.
O primeiro capítulo (Transformações do Parque Imobiliário
- 1870/1930) analisa um momento histórico de transição
na sociedade brasileira, quando a cidade na posição de capital
federal atrai grande contingente populacional sofrendo o impacto das migrações
provocadas pela abolição da escravidão. É a
época da emergência da crise de moradias e da super-ocupação
das habitações no Rio de Janeiro. O capital imobiliário
é aplicado na produção de moradias para aluguel e
na compra e venda de lotes de terra anteriormente utilizadas para fins
agrícolas. Ribeiro identifica aqui um processo de deslocamento das
aplicações dos excedentes do capital mercantil da cafeicultura
(o setor principal da economia brasileira até 1930) para posições
mais rentáveis situadas no espaço urbano. Desesenvolvem-se
serviços urbanos (redes de água e esgoto, transportes, iluminação,
gás), explorados por empresas estrangeiras sob a concessão
do Estado; formam-se grandes empresas para a realização de
obras públicas; comerciantes e usuários passam a viver das
atividades de intermediação dos antigos imóveis situados
no centro da cidade promovendo o "cortiçamento" (amontoamento,
aglomeração) da população trabalhadora. Entre
estes empreendedores o autor identifica proprietários rentistas,
nobres, comerciantes, profissionais liberais e, até mesmo, ordens
religiosas.
O processo de ocupação da área central do Rio de Janeiro
por residências insalubres conduz a cidade a um estágio de
"caos higiênico e sanitário" produzido pelas péssimas
condições de moradia da população que habita
os cortiços. As constantes epidemias que assolam o Rio no final
do século levam à adoção de políticas
de reforma urbana e higienização da cidade. Este período
já despertou o interesse e vem sendo suficientemente estudado por
geógrafos, historiadores, urbanistas e cientistas sociais. A "ideologia
sanitarista" culmina com a emblemática "Reforma Passos"
(porque realizada na gestão do prefeito Pereira Passos) que constituiu-se
na maior intervenção realizada no espaço urbano carioca
até então com uma plêiade de leis, decretos, regulamentos,
demolições, além da abertura e alargamentos de avenidas
e ruas. As conseqüências desta política são, de
um lado, o surgimento e crescimento das "favelas" nos morros
(que tornar-se-ão um dos ícones da urbanização
brasileira) e, de outro, segundo Ribeiro, o surgimento de inúmeras
companhias construtoras e empresas imobiliárias que irão
promover a construção de casas e o loteamento dos subúrbios.
No capítulo seguinte o autor mergulha nas origens do capital imobiliário
no Rio de Janeiro e a evolução dos empreendimentos imobiliários
na cidade, desde as formas iniciais ("cortiços, casas de cômodos
e estalagens"), até o surgimento de uma forma "pequeno-burguesa"
de promoção imobiliária destinada a produzir moradias
higiênicas e econômicas para as classes pobres da cidade (as
chamadas "vilas", "avenidas" e os "correres de
casas"). Inicia, segundo Ribeiro, a definição das feições
dominantes na paisagem urbana da cidade: o contraste entre o centro dominado
pelas habitações precárias (referindo-se aqui a habitação
da classe trabalhadora) e a "Zona Norte" marcada pela atuação
do pequeno capital imobiliário (na construção de moradias)
e o "grande capital" imobiliário que promove grandes loteamentos
que serão ocupadas por casas "auto-construídas"
que caracterizam a periferia das cidades brasileiras (e latino-americanas)
juntamente com os vazios urbanos. A trajetória e a atuação
das principais empresas imobiliárias criadas nas primeiras décadas
do século no município do Rio de Janeiro (a maioria organizada
pelo capital industrial, mas também com a presença do capital
estrangeiro e bancário) é apresentada neste capítulo.
Após a Segunda Guerra ocorre a mudança no acesso à
moradia que se dava pelo aluguel (até os anos 30) e que é
substituído pelo princípio (por muitos autores considerado
"ideologia") da "casa própria" que se desenvolve
com a construção de apartamentos paralela à expansão,
na periferia, da auto-construção e das favelas.
O capital imobiliário constituiu-se em "Capital Incorporador"
baseado num notável crescimento do número de empresas de
construção e na expansão dos empreendimentos em direção
à "Zona Sul" da cidade, nos bairros de Copacabana, Ipanema
e Leme. Trata-se, segundo o autor, de "um novo produto" criado
pelo capital incorporador: o "apartamento-zona sul" que vai ser
destinado às camadas médias de alto poder aquisitivo. Aqui,
Ribeiro nos introduz uma tese interessante: a de que a verticalização
na cidade do Rio de Janeiro não é uma necessária conseqüência
do encarecimento do solo em função da sua escassez, mas também
é derivada da diferenciação social e espacial que
se estabeleceu no Rio de Janeiro entre a Zona Norte (do operariado) e a
Zona Sul (da classe média). A formação de um setor
do capital voltado para o financiamento da construção de
habitações competiu para a formação do capital
incorporador. L. C. Queiroz Ribeiro salienta que nos anos 40/60 na ausência
de um verdadeiro sistema financeiro habitacional, o crédito imobiliário
foi concedido por um conjunto de entidades governamentais e privadas como
Caixa Econômica, Instituições de Previdência
Social e organizações privadas que investem nos empréstimos
hipotecários.
O capítulo final constitui-se na analise da atuação
do capital de incorporação no período iniciado em
1964 (ano do Golpe Militar), até o final da década de 80,
passando pelo período do chamado "milagre econômico"
(1968-1973) e pela longa recessão dos anos 80. Embora este seja
o período de consolidação do capital incorporador,
paradoxalmente se constitui também no de maior expansão da
auto-construção da moradia no Rio de Janeiro, como demonstram
as tabelas apresentadas. O capital incorporador foi o responsável
por menos de um quarto das unidades habitacionais produzidas na cidade.
O paradoxo da produção capitalista da moradia que se expande
"sem transformar integralmente as relações sob as quais
a moradia na cidade é produzida" é explicado por Ribeiro
pela afirmação da incorporação imobiliária
como produção voltada para as camadas de maior poder aquisitivo.
Combinam-se assim "novas" e "velhas" formas de produção
da moradia, reproduzindo-se uma especificidade típica do capitalismo
brasileiro.
A fundação do Banco Nacional da Habitação e
a criação das Associações de Poupança
e Empréstimo e das Sociedades de Crédito Imobiliário
aumentam a capacidade de captação do sistema e ocasiona a
expansão da incorporação. Entre 1972/1976 crescem
as construções voltadas essencialmente para a população
de alta renda na "área nobre" da cidade, os bairros da
orla marítima na Zona Sul. A tendência de concentração
da produção imobiliária na Zona Sul só começa
a ser invertida a partir de 1979, quando ocorre a mudança na distribuição
dos empreendimentos em direção à zona norte. Em seu
trabalho, Queiroz Ribeiro explica esta nova tendência como um "transbordamento"
para determinados bairros com melhor infra-estrutura na chamada zona suburbana.
Todavia, para o autor, o grande responsável por esta mudança
é o lançamento de um novo produto do mercado imobiliário:
o bairro da Barra da Tijuca, caracterizado pelos condomínios fechados.
Com originalidade, temos a tese de que o capital imobiliário "inventa"
uma nova diferenciação sócio-espacial que "produz"
a "obsolescência simbólica" da Zona Sul e "fundamenta
uma nova frente de geração de sobrelucros de localização".
Comprovando esta tese, temos a indicação de que a Barra da
Tijuca concentrou 24,4% dos investimentos imobiliários do Rio de
Janeiro em 1982 e 50,3% dos mesmos em 1989. A grande maioria dirigidos
as camadas de mais alta renda da população. A oligopolização
da incorporação é a marca da produção
imobiliária da Barra da Tijuca, com um reduzido número de
empresas que atuam associadas entre si e aos proprietários de terras,
produzindo em grande escala. O autor conclui observando que novamente o
capital imobiliário promove um novo ciclo de produção
que resulta em uma nova divisão social do espaço. A tese
fundamental é que esta decorre da própria ação
do capital de incorporação, fundada "em uma lógica
que reproduz a escassez social da terra", pois baseia sua rentabilidade
"em diferenças materiais e simbólicas do espaço
urbano".
O leitor profissional de geografia provavelmente perceberá a
ausência de mapas ou fotografias que permitissem a visualização
da riqueza de informações apresentadas no livro, bem como
o pequeno número de geógrafos nos 104 trabalhos relacionados
na bibliografia. Estes aspectos - a nosso ver provenientes da formação
acadêmica do autor - de maneira alguma comprometem a qualidade da
obra: excelente leitura para conhecer uma importante variável da
questão urbana no Brasil.
Este livro originou-se da tese de doutoramento do autor, apresentada em 1991 na Universidade de São Paulo (USP) e trata sobre o processo de formação do mercado imobiliário na cidade do Rio de Janeiro. Ele é composto, de duas importantes apresentações, de introduções, conclusões, bibliografia e relações de tabelas e gráficos, além de oito capítulos agrupados em duas partes. A primeira Capital, Propriedade Fundiária e Produção da Moradia: Enquadramento Teórico, composta de quatro capítulos e uma conclusão, é teórica e discute basicamente as relações entre propriedade fundiária e capital na produção da moradia; a segunda parte Capital, Propriedade Fundiária e Produção da Moradia no Rio de Janeiro, que conta com uma pequena introdução mais os quatro capítulos restantes, é mais empírica e se fundamenta na produção imobiliária no Rio de Janeiro, entre 1870 e 1980.
As apresentações são de Erminia Maricato e de Lícia Valladares, dois grandes nomes brasileiros no que tange à problemática urbana. Em ambas, é destacado o valor desta obra tanto a nível acadêmico como na construção do debate em busca de mais justiça social na questão da moradia.
Na introdução o autor oferece ao leitor os contornos do tema e da problemática desenvolvidos no trabalho e faz uma avaliação das diversas formas de encarar o processo de urbanização brasileiro.
O capítulo 1 se denomina A Urbanização e a Questão Fundiária. Nele o autor explica como e porque o debate sobre a questão urbana no Brasil passa a girar em torno da defesa de uma política fundiária em função da crença em que o mercado de terras é o principal gerador dos problemas urbanos e do abandono do princípio do mercado na distribuição equilibrada das atividades no espaço. Neste capítulo Luiz Ribeiro estabelece as bases teóricas para a compreensão de que , sendo a terra um bem não produzido, o seu preço é um reflexo da disputa entre os diversos capitalistas pelo controle das condições que permitem os sobrelucros de localização.
Aqui são avaliados itens como: Espaço Urbano e a Produção de Mercadorias; Contradições da Urbanização Capitalista; e Preço da Terra e Uso do Solo Urbano;
No capítulo 2, Capital e Propriedade: A Renda da Terra na Produção do Espaço Construído, o autor faz colocações gerais sobre a ATeoria da Renda da Terra@ para posteriormente discutir sobre a produção capitalista da moradia, mesmo reconhecendo os embaraços teóricos desta formulação marxista.
São salientados, além de Questões Metodológicas, características e princípios básicos de conceitos como: Rendas Pré-Capitalista e Capitalista (dentro desta são analisadas as Rendas Diferencial, Absoluta e de Monopólio); bem como a Renda na Cidade: capital e propriedade fundiária na produção e apropriação do espaço construído. De acordo com estes elementos pinçados da ATeoria da Renda da Terra@ o autor conclui que o capital encontra dificuldades específicas para a penetração na cidade, cuja superação não passa somente pela Aracionalidade do mercado@.
A Produção Capitalista da Moradia é o capítulo 3. Nele são analisadas as condições específicas que regulam a produção e a circulação da moradia, com a identificação dos agentes como o incorporador, o construtor, as instituições de crédito imobiliário e os proprietários rentistas. O autor defende que neste setor o capital enfrenta limites particulares que geram condições específicas de valorização.
Dentro das condições particulares de valorização do capital no setor imobiliário são discutidos temas como: Os Impasses da Produção Capitalista do Imobiliário; Os Limites à Valorização do Capital Investido na Construção de Moradias; Descrição Empírica do Incorporador; Discussão Teórica sobre a Incorporação Imobiliária; e As Relações entre o Incorporador e os outros Agentes.
No capítulo 4, intitulado Lucros, Rendas e Espaço Urbano: Bases para Comprensão das Práticas do Incorporador, é aprofundado o estudo do funcionamento do sistema de incorporação, com destaque para o papel do incorporador que, comprando o terreno e detendo o financiamento, decide o processo de produção imobiliária.
Segundo o autor, para compreender a ação do agente incorporador é necessário estudar os mecanismos de formação dos preços imobiliários e fundiários e como estes podem permitir sobrelucros e rendas fundiárias depois da compra da terra.
Com este intuito são avaliados temas como: Os Circuitos dos Capitais na Produção e Circulação da Moradia; Lucros e Sobrelucros Imobiliários: condições de ganhos e incorporação; Capital Incorporador e Espaço Urbano: natureza dos ganhos da incorporação; Capital Incorporador e Propriedade Fundiária: a disputa pelos ganhos de incorporação; Prática dos Incorporadores e os Submercados da Moradia; Práticas dos Incorporadores e Transformações Urbanas.
A conclusão da Parte I, Da Propriedade da Terra ao Capital de Incorporação: As Formas de Produção da Moradia traz a discussão dos impasses da produção capitalista da moradia passando inicialmente pela questão da moradia e posteriormente pela construção de elementos teóricos que permitam pensar as condições necessárias ao surgimento da incorporação imobiliária.
Na introdução da Parte II, Capital, Propriedade Fundiária e Produção da Moradia no Rio de Janeiro, o autor diz que o paradoxo existente entre a crise de moradias brasileira em paralelo à expansão das empresas construtoras e à difusão da casa própria na mesma sociedade não deve causar espanto. A história da mercadoria moradia é marcada por particularidades decorrentes do contraditório movimento de expansão das relações capitalistas na produção imobiliária assim, nos capítulos que se seguem, esta história será avaliada tendo-se a cidade do Rio de Janeiro como referência.
Transformações do Parque Imobiliário - 1870/1930 é o capítulo 5, onde, sobre os censos disponíveis, é construído um quadro histórico deste momento de transição das relações sociais as quais fundam a sociedade brasileira. Isto porque, é a partir de 1870 que entra em crise a economia mercantil-escravista e aos poucos se afirma uma economia urbana organizada com base no trabalho livre. Também constata-se a expansão da intervenção sobre a cidade e um extraordinário crescimento demográfico. Todos estes fatores têm impactos sobre a produção de moradias, criando bases para a mercantilização da moradia e do solo.
Para bem avaliar este momento o autor destaca alguns temas e seus respectivos sub-períodos como: Emergências da Escassez de Moradia - 1870/1890; Emergências da Crise de Moradia - 1890/1906; Expansão da Malha Urbana - 1906/1920; Expansão do Parque Imobiliário - 1920/1933.
No capítulo 6, Da Propriedade Fundiária ao Capital Imobiliário, Luiz Ribeiro trata sobre o capital imobiliário no que diz respeito a sua origem, às condições históricas que presidem o seu investimento no imobiliário e às formas de produção de moradia que ele assume, a partir da segunda metade do século XIX e em função das transformações urbanas sofridas pela cidade do Rio de Janeiro.
Neste intento são analisados itens como: Origem do Capital Imobiliário; A Produção Rentista da Moradia: Os Cortiços, Casas-de-Cômodos e Estalagens;
A Crise da Produção Rentista; Emergência do Mercado Urbano de Terras: separação entre propriedade fundiária e capital imobiliário; A Produção Imobiliária Pequeno-Burguesa: Aas vilas, avenidas e Acorreres de casas@;e Expansão do Mercado de Terras: periferia, autoconstrução e especulação.
Do Capital Imobiliário ao Capital de Incorporação é o título do capítulo 7. Nele são vistas as condições que permitem o surgimento da incorporação e as modificações que esta forma de produção introduz na cidade, tanto através da identificação das transformações da moradia no período 1937-1960, como da análise do surgimento das duas condições para a manifestação das relações sociais que estruturam a incorporação imobiliária como forma de produção: a emergência de um capital de empréstimo e a diferenciação espacial como base para o surgimento de sobrelucros de localização.
Neste sentido são avaliados tópicos como: Evolução da Produção da Moradia; Do Aluguel à Casa Própria; A Invenção da Incorporação: ACopacabana-apartamento@; As Condições do Surgimento da Incorporação; O surgimento da Diferenciação Espacial; Incorporação Imobiliária: instabilidade e crise.
O último capítulo, de número 8, intitulado Capital de Incorporação: Consolidação, Expansão e Diferenciação, tem por base uma pesquisa realizada pelo autor sobre a produção imobiliária na cidade do Rio de Janeiro entre 1979/1989 e seu objetivo é examinar o processo de consolidação, expansão e diferenciação do capital de incorporação no período de 1964 até os anos 80. Aqui é ainda apresentada uma periodização que articula as conjunturas finaceiras e urbanas.
Para melhor atingir a estes objetivos são abordados itens como: Evolução da Produção Imobiliária no Período de 1965/1989; Mudanças Institucionais; A Consolidação da Incorporação - 1964/1971; A Expansão da Incorporação: a reconstrução da Azona sul@ - 1972/1976; Mudanças no Padrão de Incorporação: novas fronteiras e novas frentes de expansão - 1976/1982; Crise da Incorporação 1982/1985; A Consolidação do Novo Padrão: a oligopolização da Barra da Tijuca - 1986/1989.
A título de conclusões, Luiz Ribeiro retoma a discussão central deste livro ou seja, o movimento de expansão das relações capitalistas na produção da moradia. São salientadas as principais conclusões do trabalho: a inclusão do setor imobiliário na valorização do capital transformou as relações sociais que regulam produção, circulação e distribuição da moradia; sob esta ótica, ao avaliar a produção da moradia na cidade do Rio de Janeiro são identificados e amplamente detalhados três estágios de expansão das relações capitalistas que são a produção rentista, a pequeno burguesa e a incorporação imobiliária.
O autor afirma ainda que o movimento de penetração do capital na produção imobiliária é contraditório e que a instabilidade existente, a despeito das conjecturas de vários autores, resulta dos limites à expansão das relações capitalistas no setor habitacional que são o caráter imóvel do produto e a qualidade Aconstrutível@ da terra que depende dos seus atributos, mas também dos serviços urbanos e dos símbolos sociais que a envolvem.
Finalizando esta resenha torna-se válido salientar que o livro em destaque é de fundamental importância para a elucidação de temas tão destacados como os que giram em torno do processo de formação do mercado imobiliário no Brasil.
Trazendo colocações
teóricas de grande relevância, aliadas a informações
empíricas precisas e profundas sobre o exemplo da cidade do Rio
de Janeiro, este trabalho constitui-se numa leitura obrigatória
tanto para os acadêmicos que se debruçam sobre as análises
urbanas quanto para qualquer cidadão que pretenda lutar por um mundo
menos desigual.
© Copyright: Paulo Roberto Rodrigues Soares, 1998.
© Copyright: Rosali Braga Fernandes, 1998.
© Copyright: Biblio 3W, 1998.