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Scripta Nova.
 Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales.
Universidad de Barcelona [ISSN 1138-9788] 
Nº 69 (20), 1 de agosto de 2000

INNOVACIÓN, DESARROLLO Y MEDIO LOCAL.
DIMENSIONES SOCIALES Y ESPACIALES DE LA INNOVACIÓN

Número extraordinario dedicado al II Coloquio Internacional de Geocrítica (Actas del Coloquio)

PRIVADO E PÚBLICO: INOVAÇÃO ESPACIAL OU SOCIAL?

Angela Lucía de Araujo Ferreira e Sônia Marques
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal /RN ­ Brasil*



Privado e público: inovação espacial ou social? (Resúmen)

A questão do espaço público vem sendo debatida, desde os anos 60, por especialistas de diversas áreas. Ao mesmo tempo novos tipos de espaços semi-privados ou semi-públicos aparecem como o cenário por excelência da vida urbana familiar e profissional: shopping, espaços de lazer de condomínios privados, casa de recepções, etc. Isso significa a privatização da vida pública? Ou a publicização da vida privada? Neste artigo, os autores tentam discutir essa questão baseada em observações de alguns desses espaços em Natal, cidade do nordeste brasileiro. Esta nova sociabilidade está se desenvolvendo em um caminho próximo ao enfatizado por autores contemporâneos (Huysen, Jamesson, Harvey) revela o crescente narcisismo e estetização de vastos domínios da vida cotidiana atual.

 Palavras chave: Espaços Públicos/ Sociabilidade/ Estilo de Vida/ Natal



Private and public: spatial or social innovation? (Abstract)

The fate of traditional public space has been debated since the 60’s. Meanwhile a new kind of space in-between private and public grows and appears as the scene "par excellence" of urban life of familiar and professional events: malls, leisure rooms in private apartments, ballrooms, etc. Does it mean the privatization of public life? Or rather the publicization of private life? In this paper, the authors attempt to discuss this question based on observations of spaces such as those referred above in Natal, a town in the Northeast of Brazil. There, new sociabilities are emerging in a way similar to that stressed by contemporary authors (Huysen, Jamesson, Harvey) which reveals the growing narcissism and aestheticization of wide realms of current everyday life.

Key-words:  Public Space/ Sociability/ Life Style/ Natal



Já se tornou comum a afirmação de que os espaços públicos, praças e centros históricos das cidades brasileiras se degradaram e morreram ou estão à beira da morte. Esse processo de morte ou degradação acompanhou uma fase de desinvestimento progressivo do Estado Brasileiro no planejamento. Logo, ambos os fatos foram aceitos como consumados. Em contrapartida, temos assistido a uma série de iniciativas em diversas cidades no Brasil - utilizando a parceria entre a esfera pública e a privada - para revitalizar ou ressuscitar com criatividade o espaço público.

Porém, como é sabido, o declínio do espaço público está longe de ser uma especificidade brasileira. De fato, desde a década de sessenta, arquitetos e urbanistas vêm discutindo essa questão, colocando-a inclusive no cerne das propostas do que se tem denominado de New Urbanism.

No presente texto1, as autoras pretendem discutir o tema do espaço público ultrapassando a dimensão política e sócio-econômica. Em primeiro lugar, ressaltam, de maneira breve, a própria redefinição corrente do conceito de espaço público e privado, acompanhando uma profunda mudança sociocultural. Em que medida, o que acontece no Brasil não estaria seguindo a tendência mais geral de uma inversão: a vida pública sendo privatizada enquanto a vida privada torna-se publicizada?

É o que este trabalho tenta demonstrar em seguida, através da observação empreendidas em espaços selecionados na cidade de Natal, nordeste do Brasil, segundo dois critérios privilegiados:

Os mecanismos de acesso (controles explícitos e não explícitos, barreiras visíveis e invisíveis, códigos visuais, lingüísticos e outros)

As sociabilidades decorrentes dos usos (atitudes dos grupos e indivíduos, isolamento versus agrupamento).

A questão do espaço público

A questão espacial: declínio ou requalificação?

Pode-se dizer que, em grande parte, a preocupação com a perda de vitalidade dos espaços públicos tradicionais se deu paralelamente a uma certa crítica às propostas do urbanismo modernista e sobretudo à utilização do zoneamento como instrumento de racionalização do espaço urbano. Na década de sessenta, livros como o de Kevin Lynch (1960) e o de Jane Jacobs (1961), hoje clássicos, levantavam a questão da necessidade de espaços de convivência e de significado simbólico. Os debates norte-americanos daqueles anos estão longe de apontar para um consenso, como bem demonstrou Alexander Tzonis e Liliane Faivre (1998). Pois se alguns estimavam que o problema era de natureza meramente econômica e que apenas arquitetos ingênuos acreditavam no poder do espaço em criar interações sociais, outros, ao contrário, acreditavam na capacidade das configurações urbanas em gerar ou possibilitar formas de interação social mais ou menos válidas.

O fato é que, primeiramente, assistiu-se nos Estados Unidos a todo um movimento esforçado em re-urbanizar a arquitetura. Mais adiante, chegou-se a uma certa perspectiva de "retorno" ao centro da cidade, em parte capitaneada pelo movimento do New Urbanism. O padrão de urbanização norte-americano predominantemente suburbano, como é sabido, difere em grande parte do padrão europeu. Na Europa, a moradia urbana é um padrão corriqueiro, inclusive no centro das cidades. Mesmo assim, observou-se em cidades européias um fenômeno de operações como o da criação do Fórum Les Halles, e do Centro Cultural Georges Pompidou, em Paris, entre outros, que lançaram paradigmas de estratégias de revitalização de áreas degradadas. Desta forma, em que pese a diversidade dos padrões de urbanização, as iniciativas norte-americanas e européias revelam um processo semelhante de requalificação e revalorização das áreas urbanas, atravessado pela segregação; o que, no Brasil, torna-se mais flagrante talvez face à escala de desigualdade social.

Na verdade, o que parece saltar aos olhos é uma certa "confusão" entre degradação ou morte dos espaços urbanos com a pauperização desses espaços. As operações para a implantação do complexo Yerba Buena, com o novo Museu de Arte Moderna, em São Francisco, estão viabilizando a vivência no centro dessa cidade. Essas operações foram feitas a um certo custo social com a expulsão dos que ali moravam, certamente em condições degradadas. O mesmo pode ser dito, em termos genéricos, do bairro do Marais em Paris, onde se ergue, desde a década de setenta, o Centro Georges Pompidou. É claro que as especificidades contam. Pois, como já foi assinalado, os padrões de urbanização prevalecentes às revitalizações são bastante diversos. Além disso, quando se fala em custos sociais, essas especificidades podem também ser muito importantes. Assim, por exemplo, sabemos que, no caso brasileiro, a expulsão ocorrida no bairro do Pelourinho, na cidade de Salvador, na Bahia, para a revitalização do centro histórico, não pode ser comparada àquela ocorrida no chamado pólo Bom Jesus, no bairro do Recife, na cidade de mesmo nome, onde havia menor contingente populacional residente. No geral, porém, o processo reveste-se da mesma característica e não difere da matemática aplicada por Haussmann no século dezenove: revaloriza-se o fundiário urbano expulsando seus moradores, seja de forma brutal ou induzida mansamente.

O que se torna curioso é que o sucesso que vêm alcançando essas realizações tem provocado uma certa morte anunciada dos espaços com características semelhantes nas demais cidades. Todas aspiram por ter um centro revitalizado amanhã e para isto apressam-se em denunciar a morte de seus espaços. A eutanásia espacial, obsolescência provocada ou induzida, passa a ser antevista e prenunciada pelo senso comum. É habitual ouvir-se dizer, por exemplo, que o centro da cidade de Natal está morto, vazio, quando na verdade ele está vivo e dinâmico. Porém, evidenciam-se grupos residuais de idosos e uma população de renda inferior que permaneceu e cresceu, quando aquela que originalmente também o ocupava saiu. As elites abandonaram o centro, deslocando-se para áreas de serviço e comércio mais definidos e especializados, mas, nem por isso, ele está abandonado. Esse processo foi, aliás, criticamente estudado por Flávio Villaça (1998), mostrando como as elites brasileiras utilizam as estratégias de qualificação, requalificação e obsolescência constante dos espaços das cidades, desde as franjas marítimas aos pitorescos lugares históricos.

Na mesma lógica do processo de requalificacão, encontram-se os processos de gentrificação, que podem significar tanto o enobrecimento de locais anteriormente considerados populares, como o re-enobrecimento de locais que perderam temporariamente a nobreza, e que a readquirem através das estratégias de revalorização. Magali Sarfatti-Larson, no entanto, salienta que a gentrificação convida a especulação. Mas enquanto as operações de 'revitalização' associam-se com expulsões e mudanças dos moradores, a gentrificação pelos proprietários age mais sutilmente. (...) O fator econômico não é o único que conta. O conflito entre 'estilos de vida' no bairro é também muito significativo. Quem quer que tenha visto gentrificação pode dizer, o choque entre quem bebe cerveja (...) e aqueles que degustam vinho branco em seus jardins, entre tabernas irlandesas e bares, entre velhos comerciantes e recém- chegados queijos franceses, entre esquadrias de alumínio e Vitorianas restauradas, não são assuntos triviais, mas carregados de ressentimento e de um justificado sentimento de despossessão por parte da população nativa.(Sarfatti-Larson, 1993, p.91)2

Público e privado: um deslocamento do conceito?

Por outro lado, em que pese todas as insistências e discursos sobre a necessidade de revalorizar o espaço público, as ruas, as praças, os centros históricos, o que parece evidente é que um novo conceito de público já está em vigor. De fato, o próprio conceito de público e privado parece ter-se afastado do conceito tradicional que o associava ao conceito jurídico de propriedade: ruas e praças, instituições governamentais, administrativas ou de oferta de serviços. E isso na medida em que novos espaços privados, semi-privados ou semi-públicos parecem haver assumido a função de abrigo da vida coletiva urbana. Abertos, em tese, de maneira irrestrita ao público, esses espaços, localizados no interior de áreas comerciais (shopping centers, casa de recepções) ou mesmo residenciais (condomínios horizontais ou verticais) são atualmente o palco de grandes eventos profissionais e familiares.

O novo conceito de espaço público, ou melhor, da relação entre o espaço da vida pública e o espaço da vida privada, associa-se, desta forma, ao desenvolvimento de novas sociabilidades, como vêm analisando diversos autores. Por exemplo, em seu livro sobre o declínio do homem público, Richard Sennett (1993) assinala o fato, colocando-o como um desdobramento lógico do cosmopolitismo capitalista urbano moderno, desde a flânerie de Baudelaire. Outros autores, sobretudo os que lidam com a sociologia da cultura, preferem estabelecer uma ruptura entre a modernidade e a pós-modernidade. A essa última estariam associados os fenômenos da publicização e da esteticização da vida, da vivência da simultaneidade em tempo/espaço. Para Fredric Jameson (1987), por exemplo, o Hotel Bonaventure, em Los Angeles, de autoria de John Portman's, é um edifício típico da atual sociedade pós-moderna pela simultaneidade de atividades que permite fruir. Ele permite a contemplação passiva e simultânea dos eventos da cidade. Não é mais o indivíduo que se desloca, mas a cidade que se desloca aos olhos do indivíduo. A concepção desse edifício com seu restaurante giratório, proporcionando uma visão espetacular, causou tanto sucesso que logo outros semelhantes foram concebidos, como o famoso Hyatt de São Francisco. Mas não apenas edifícios desse porte caracterizariam os espaços da nova sociabilidade. Os novos museus, dentro do espírito da "museumania" assinalado por Andreas Huyssen (1996), também desenvolveram equipamentos com boutiques, anfiteatros, cafeterias, e mudanças na própria técnica de exposição, de maneira que os limites entre os espaços da "grande cultura tradicional" e da indústria do entretenimento parecem dissipar-se. Entre os parques temáticos de diversão, as Disneylândias e o museu Guggenheim de Bilbao, o consumidor pode não estabelecer grau de diferença algum.

Evidentemente, a relação entre esses novos edifícios, o espaço urbano público e privado se faz mais visível nas grandes cidades da sociedade pós-industrial. No entanto, ainda que as tecnologias construtivas nem sempre permitam edificações de porte tão espetacular, um mesmo movimento parece ser observado nas sociedades periféricas e em cidades de porte médio, conforme se depreende do caso de Natal, cidade situada no litoral nordestino brasileiro.

O caso de Natal

Requalificação: Segregação, pauperização e gentrificação no espaço natalense

A característica talvez mais marcante da cidade de Natal, hoje com uma população entorno de 700.000 habitantes, é a voracidade com que o processo de modernização, associado à requalificação espacial, foi introduzido e se intensifica, impondo-a uma paisagem urbana quase que totalmente contemporânea. A cidade fez quatrocentos anos, mas as marcas quatrocentenárias são raras e têm que ser buscadas porque estão completamente à margem dos percursos estratégicos contemporâneos da cidade. Vale lembrar que até a segunda guerra mundial, Natal era uma provinciana cidade de 54.836 habitantes (FIBGE). Se as elites locais nas décadas anteriores haviam promovido modernizações no seu cenário urbano e introduzido novos costumes no cotidiano da cidade, o cosmopolitismo veio realmente com a chegada dos norte-americanos e com as conseqüências da instalação de sua base militar e de atividades subsidiárias. A população cresceu 88 por cento entre 1940 e 1950; criaram-se novos hábitos de consumo individual e coletivo; surgiram novos vetores de crescimento urbano; intensificou-se a ocupação de bairros residenciais de mais alto padrão como Tirol e Petropólis e expandiram-se os limites do perímetro urbano com a criação de um mercado de terras e a construção de segundas residências em áreas afastadas do centro e em zonas praieiras.

A modernização da tradicional indústria local e a implantação do distrito industrial na década de setenta, mesmo não apresentando o êxito esperado, produziram mudanças na distribuição setorial da população ativa, na tipologia das ocupações, assim como na renda familiar. Esses fatores, aliados à política nacional de habitação com uma visão expansionista de planejamento urbano, provocaram a consolidação das áreas periféricas segregadas e dinamizaram a construção civil com a implantação dos conjuntos habitacionais, tanto populares quanto para setores médios e altos da população. O contigente populacional que chegou a Natal pela ampliação das atividades militares do Estado brasileiro e pela instalação da Petrobrás e de empresas subsidiárias, no final dos anos setenta e início dos anos oitenta, veio reforçar esse processo de crescimento disperso da cidade, como também mudou visivelmente o poder de compra e a forma de consumo tanto dos espaços urbanos e de moradia como dos objetos. As atividades terciárias tiveram grande impulso e se diversificaram. Surgiram as redes de supermercados; o comércio e os serviços se descentralizaram das zonas tradicionais e novas centralidades se formaram: eixos comerciais, ruas de comércio especializadas, centros comerciais e shopping centers localizados principalmente nos eixos estratégicos de entrada da cidade ou à caminho das praias localizadas fora do centro urbano. As exigências da nova clientela mudaram a qualidade dos materiais construtivos e dos espaços oferecidos. Evidenciaram-se novidades na esfera do marketing, nas formas de financiamento das moradias, nos equipamentos coletivos incorporados aos espaços fechados e controlados dos condomínios e nos espaços internos das casas e dos apartamentos.

Finalmente, o turismo adotado como principal atividade econômica desde a metade da década de oitenta, e a implantação dos principais hotéis na via costeira, consolidaram o processo não somente de introdução de novos costumes, como também de rompimento da antiga lógica de centralidade e de desenho da cidade. O redesenho de percurso da cidade seguiu, como não podia deixar de ser, a lógica da requalificação espacial: ele é marcado pelas grandes vias, que lembram, em pequena escala, uma combinação do modelo norte americano de free way. Esse percurso começa por um recém inaugurado complexo rodoviário, seguindo pelos eixos das avenidas Salgado Filho e Roberto Freire, com saídas para a praia de Ponta Negra e para a Via Costeira. As melhorias no acesso às áreas situadas ao norte da cidade e a abertura de uma nova ponte para a zona norte deverão criar outros eixos centrífugos, principalmente com a localização de um outro aeroporto nesse setor. A lógica é a do automóvel e do estacionamento.

Neste padrão de evolução urbana, a Cidade Alta e a Ribeira, bairros mais antigos de Natal, ficaram à margem desses eixos dinâmicos. São por isto, hoje, considerados mortos e em conseqüência vocacionados a serem "ressuscitados". É justamente nesses bairros que encontramos os espaços públicos tradicionais, as praças, localizadas geralmente em frente às sedes administrativas governamentais ou às igrejas, bem como, instituições mais modernas de lazer e serviços como antigos cinemas, bancos, etc. A freqüência de uma população desfavorecida no centro da cidade é visível. Nos bairros de Tirol e Petrópolis as antigas mansões deram lugar a edifícios residenciais de alto padrão, os quais avançam também em áreas de ocupação mais recente como no bairro de Candelária. Por outro lado, a periferia emergente dos anos setenta, os bairros de Neópolis, Lagoa Nova, Dix-sept-Rosado e Nova Descoberta, gentrifica-se e se integra cada vez mais à cidade, beneficiada pela melhoria do acesso viário, pelos novos equipamentos comerciais e pela acessibilidade aos shoppings. A gentrificação dá-se pela melhoria e consolidação dos bairros existentes. A presença de inúmeros carros novos indica o possível aumento de renda da população local, ou o remanejamento populacional de outros bairros. A gentrificação também parece ocorrer em zonas que sofreram um processo de pauperização, como a Praia do Meio. Os sinais evidentes de requalificação dessa área já podem ser percebidos acompanhando a lógica da acessibilidade, com a construção da nova ponte que unirá, pelo litoral, as duas partes da cidade, dando uma continuidade às praias de norte a sul da cidade.

Espaços públicos tradicionais degradados ou empobrecidos; privatização das praias, como na valorizada Via Costeira pontilhada por hotéis de luxo; ocupação privada (comércios, serviços e garagens) de áreas, muitas vezes abandonadas, destinadas ao uso coletivo nos conjuntos habitacionais; privatização do espaço público tradicional como ruas, calçadas e canteiros centrais das avenidas, tomadas por comércios ambulantes mais ou menos consolidados e por estacionamentos de carros, é somente uma face do processo recente de urbanização. Mas, se a cidade de Natal, como a maioria das cidades brasileiras, foi conhecendo progressivamente o declínio do seu centro comercial tradicional, em prol do desenvolvimento de novos setores comerciais nucleados, capitaneados por uma edificação importante, nesses ocorre um novo fenômeno: a publicização da vida nos locais privados, de "acesso" ao grande público, onde as novas sociabilidades se desenvolvem.

Das novas sociabilidades e de seus espaços:

As novas formas de morar

Um dado importante para compreender as novas sociabilidades no espaço natalense é a média de moradores por domicílio. Com um índice equivalente a 4,5hab/domicílio (FIBGE), ela indica que está sendo deixado para trás o modelo "moderno" da vida familiar de cinco membros, que, no Brasil , ainda acrescia os empregados. O número de famílias monoparentais de chefia feminina vem aumentando, bem como de indivíduos morando sós, de famílias recompostas, de idosos, entre outros, confirmando uma tendência mundial, ainda que em outra escala. O número de flats e apart-hotéis que vêm proliferando são indicadores de uma nova forma de morar que implica em novas sociabilidades. Come-se fora com mais freqüência e o espaço de moradia está longe de ser o espaço da privacidade familiar tradicional. Nos domicílios tradicionais, os primeiros dados de uma pesquisa em curso, indicam que embora os espaços físicos nem sempre demonstrem as transformações, nas entrevistas e nas visitas in loco para o estudo do cotidiano doméstico, elas findam por aparecer. As salas de jantar, ainda que permaneçam, são cada vez mais espaços decorativos, pouco usados. A mesa de refeições nem é o espaço de reunião domiciliar nem é o de recepção de amigos e familiares, ela também virou objeto de decoração. Os quartos dos filhos são pequenos espaços privados, microcosmos isolados dentro da casa, cheios de equipamentos individuais. As salas de "convívio tradicional", de jantar e estar, saíram do ambiente familiar e foram para a vida pública.

A publicização das salas de jantar e de estar

Come-se nos diversos estabelecimentos do tipo self-service, festeja-se e celebra-se com amigos nos salões de festas dos edifícios condominiais ou nas casas de recepção que disseminam-se pela cidade. Esses locais tornaram-se, assim, um novo meio de publicização da vida privada; o que se realizava dentro de casa acontece agora em lugares "públicos". Na verdade, esses locais são privados no sentido da propriedade, mas acessíveis ao público em geral, desde que tenham os meios para consumir. A lógica, portanto, dessa nova forma de sociabilidade não é tanto impedir aos convidados a eventual entrada num espaço doméstico privado, mas a de dar em espetáculo uma parte da vida familiar privada, num local que pode ser utilizado amanhã por outros. O diferencial , ou a individuação, neste caso, só pode ser atribuído aos efeitos visuais decorativos e à qualidade, entre outros fatores, do cardápio.

Os centros comerciais

Acompanhando a lógica do desenvolvimento viário, da popularização do automóvel e das novas formas de morar e consumir os espaços urbanos, os seis centros comerciais analisados são verdadeiros pólos diretores da dinâmica urbana de Natal, chegando por vezes a redefini-la.

Isto aconteceu com os empreendimentos dos CCABs (Centro Comercial Aluísio Bezerra), localizados ao norte e ao sul da cidade, o Shopping Cidade Jardim, o Shopping Via Direta, o Praia Shopping e o Natal Shopping.

Os CCABs: a escala das pequenas cidades - As características desses dois centros comerciais são bastante diversas, tanto em razão de suas localizações, quanto dos equipamentos que oferecem. Os CCABs funcionam sobretudo como comércios de bairro, dispondo de lojas de confecção e de alguns serviços como cabeleireiros e agências de viagens. O horário de funcionamento geralmente encerra-se relativamente cedo. Muito embora tenham adotado um padrão espacial que lembrariam o comércio de uma pequena cidade, com ruas para pedestres em escala acolhedora, as pessoas quase nunca passeiam nesses espaços. O percurso mais comum descrito pelo usuário eqüivale ao deslocamento do estacionamento aos estabelecimento desejado, e vice-versa. Vale ainda estabelecer uma certa hierarquia entre os dois conjuntos. No caso do CCAB Norte, onde predominam lojas de confecção de marcas de prestígio nacionais e internacionais, há dois salões de beleza e alguns pequenos serviços como farmácias e lanchonetes. Verifica-se nele a predominância do público feminino, principalmente daquele residente em seu entorno, tornando-o ponto de apoio ao bairro tipicamente residencial e de classe alta. Já no CCAB Sul, as agências de viagens, a proximidade com a Universidade Federal e a existência de choparias e restaurantes que dispõem de mesas ao ar livre, permitem maior sociabilidade e permanência, além de um público mais heterogêneo no que diz respeito ao gênero e poder aquisitivo.

Os pequenos shoppings tropicais - Numa outra categoria está o Shopping Cidade Jardim e o Praia Shopping, que são edificações de maior porte que ocupam um quarteirão inteiro e adotam o padrão de ruas internas cobertas, próprias da configuração dos shopping centers. A diferença é que ambos são abertos e não climatizados (apenas as lojas o são). A localização privilegiada e os equipamentos são seus diferenciais. Ambos situam-se na avenida Roberto Freire, via estratégica de acesso ao setor de maior desenvolvimento da cidade, ou seja, os bairros de Capim Macio e Ponta Negra, bem como às praias do litoral sul. Neles encontram-se terminais bancários, além de oferta de alimentação mais diversificada. Esses fatores são, por sua vez, também os que contribuem para o diferencial entre esses dois estabelecimentos. O Praia Shopping, mais próximo da orla marítima, tem um padrão mais turístico, um caráter mais extrovertido e uma praça de alimentação que oferece comida local, nacional e internacional, nas modalidades de sistema self-service ou serviço à la carte, acoplado a um prático sistema de gestão do pagamento integrado. Ele consegue assim associar as ofertas comuns das típicas "praças de alimentação" aos tradicionais bares de beira de praia das cidades brasileiras. O número de usuários cresce visivelmente a partir das sete horas da noite, concentrando-se na praça de alimentação, onde se pode ver turistas ou viajantes a negócios que encontram-se hospedados nos hotéis das cercanias, homens sós ou pequenos grupos de homens e mulheres recém-saídos do trabalho. É um local que tem a reputação de abrigar as happy-hours ou os namoros pós-trabalho, em sintonia com grupos familiares e adolescentes. Existe uma sociabilidade como num clube, onde todos podem tornar-se membros temporariamente, participando de experiências simultâneas como cita Jameson (1987). Há música ao vivo até às onze horas, seguida por espetáculos de artistas ou grupos anônimos. Não tem limites para o término de suas atividades, podendo estender-se até o dia amanhecer.

O shopping outlet - O Shopping Via Direta foi previsto para funcionar como um outlet, um centro comercial de periferia, que atenderia principalmente a revendedores, o que não ocorreu. Compreende um grande edifício não climatizado construído no local de uma antiga fábrica, freqüentado por raros turistas e servindo a um público menos elitista. Mais uma vez, o diferencial é dado pelos dois fatores: localização e serviços ofertados. Implantado num ponto de convergência de linhas de ônibus, possibilita o acesso de moradores de bairros mais populares. Um grande banco, a Central do Cidadão (órgão de prestação de serviços da administração pública) e, mais recentemente, uma escola de preparação de alunos pré-universitários são os motivos do grande fluxo existente, além de uma loja de eletrodomésticos pertencente a uma rede nacional. A esses somam-se, instalados estrategicamente na entrada, outros equipamentos existentes nos shopping tropicais: farmácia e fotocopiadora. O fluxo de convergência para seus estabelecimentos nem sempre se desdobra para gerar uma maior permanência das pessoas. De qualquer forma, no Via Direta também se vê passeando um público jovem, masculino e feminino, classe média e média baixa. Na praça da alimentação à noite há música ao vivo e uma grande tela de projeção de vídeo, mas, afora os estudantes, o conjunto é visivelmente freqüentado por um público menos favorecido do que o do Praia Shopping. Se a paisagem vista da praça de alimentação é muito mais agradável do que a do Natal Shopping (descrito a seguir), um lugar alto de onde se pode apreciar o campus universitário e ter um panorama do lado norte da cidade, o estacionamento é descoberto. Tal aspecto, durante os dias de muito calor, desestimula o seu uso em comparação com o estacionamento no subsolo do Natal Shopping, que permite um rápido acesso ao espaço fechado e climatizado.

O shopping padrão internacional - O Natal Shopping, por fim, oferece o algo a mais. Nele, além de tudo que existe nos precedentes, localiza-se duas salas de cinema, equipamento definitivo para a sua diferenciação, considerando que são praticamente as únicas salas de cinema existentes na cidade (uma vez que os outros cinemas se encontram em condições de deterioração). Deve-se também considerar o fato que no Natal Shopping o usuário se sente mais seguro, confortável e participando de um ambiente cosmopolita semelhante ao das metrópoles. A clientela é mais eclética: jovens fazem ponto, grupos de excursão de turismo, famílias tradicionais e grupos de amigos se reúnem na praça de alimentação. É o lugar por excelência para o lazer e o footing que o centro da cidade já não mais oferece ou permite. Esse shopping, mais que os outros, talvez por dar a sensação de proteção, de segurança, de "ilha de fantasia" (Pintaudi, 1992, p.28) tornou-se uma espécie de "praça inter-bairros" que organiza a convivência de jovens procedentes de diversos locais da cidade e que se traduz na busca de sociabilidade (Frúgoli, 1992, p.78), como acontece em outras cidades brasileiras.

Dois contrastes, uma mesma lógica: da bolha de proteção ao nostálgico cenarizado. Vila Colonial e o Shopping da Educação

O fenômeno mais recente neste processo de redefinição foi o lançamento do colégio conhecido como CAP (Central de Aulas Particulares). Num local onde antes havia o Shopping Rota do Sol, instalou-se o CAP Shopping da Educação. Nesse estabelecimento oferecem o ensino fundamental e o médio, livraria e papelaria, academia de ginástica, cursos de idioma e informática, lanchonete e restaurante, outros serviços ligados à educação além de lojas de confecções e material esportivo. A propaganda difundida pela televisão enfatizava o efeito de proteção do local, associado a um estilo de vida restrito àquele espaço, privilegiando os aspectos da oferta em esporte, lazer e educação para jovens. Os pais não precisariam deslocar-se para levar seus filhos em aulas de informática, natação, judô ou inglês. Tudo estaria no CAP.

Por outro lado, na avenida Afonso Pena, no tradicional bairro do Tirol, um pequeníssimo centro comercial, o Vila Colonial, surge como um local prazeroso, em pequena escala, com uma decoração "coloniosa", cheia de citações do casario colonial, ou numa "releitura" do casario colonial - a vila. Com uma série de pequenas lojas cria uma praça, um espaço jamais existente no período colonial, em que se mistura as citações do casario com as de um bistro europeu, chamado "Douce France". A sensação de que se está a andar numa rua antiga é enganosa, como se fosse o quartier latin ou uma ruela colonial (onde de resto, não havia praças, nem bistros). O que desperta curiosidade é a inserção do Vila Colonial no tecido urbano. A nova praça pastiche neocolonial dá continuidade a uma franja de residências, onde algumas já estão se transformando em serviços. À noite esses serviços, bem como as próprias lojas do Vila Colonial, não funcionam. A praça colonial ou bistro do Quartier Latim, com o pequeno bar "Douce France" reina sozinho na vila e só recebe clientes que vêm de carro. A configuração espacial, pois, remete à uma referência de padrão de pedestre. Mas, embora teoricamente os moradores do bairro pudessem ir até ele a pé, o passeio na rua é inviabilizado pela insegurança. A acessibilidade ­ seja pela distancia, pela segurança, ou pela configuração do edifício ­ contribui para a segregação de espaços como o CAP e o Vila Colonial, ao mesmo tempo em que a arquitetura corrobora a criação de um mundo cenarizado.

Embora apareça como algo muito distinto, uma vez que o Shopping da Educação afirma o seu fechamento para o mundo e a Vila Colonial parece sugerir uma volta à rua, ao pedestre, essas realizações são faces da mesma moeda. Em ambas só se chega de carro, em ambas, a segregação social é operada pela acessibilidade, em ambas há um mundo cenarizado. O efeito oásis é o mesmo, seja a bolha fechada ou aberta.

Das praias às academias de ginástica: o corpo em vitrine

Já vão longe os tempos em que se cultivava o hábito do banho de mar, considerados como bom para a saúde, tempos em que as elites ocuparam as franjas privilegiadas das praias com suas casas de veraneio, como bem assinala Villaça (1998). As praias, de fato, parecem ser um local de sociabilidade moderna, completamente em decadência, ou submetida também a um processo de requalificação. Os pobres vão às praias mais próximas, mais acessíveis, mais poluídas e levam sol em horários nocivos. Os mais abastados consomem os oásis temporários: praias de alto padrão, só acessíveis por carro, como a praia de Pipa. Em Natal, dos hotéis da via Costeira, os quais segundo as pesquisas são os preferidos pelo fluxo turístico, poucos dão acesso à praia. De um lado, em grande parte dessa orla o mar é violento. De outro, o turista parece gostar mesmo é de ficar no hotel, usufruindo de seus serviços e da piscina privada. Mais ainda, o culto contemporâneo do corpo com a indicação dos perigos do sol para o envelhecimento decretou guerra às praia. Anda-se na praia - de preferência com um personal trainer - nas primeiras horas da manhã, ou ao cair da tarde.

O culto do corpo, por outro lado, dá-se em vitrine. As academias de ginástica, antes locais de exercícios com turmas separadas por faixa etária e sexo e resguardadas da visão pública, são hoje grandes vitrines situadas em locais estratégicos nos eixos viários de grande passagem: a la vista de todo el mundo (Relea, 2000). Assim, a vivienda de cristal que causou tanta curiosidade e polêmica entre os habitantes de Santiago do Chile e que, segundo seus idealizadores, tem como objetivo plantear una reflexión sobre los límites entre lo público y lo privado (ibid.) está se concretizando nestas academias de ginásticas, fenômeno que não é específico ao caso brasileiro.

Conclusões

No Brasil, alguns autores (Pintaudi e Frúgoli, 1992) vêm mostrando como esses novos espaços do tipo shopping introduzem um cosmopolitismo em cidades de porte médio. Eles adotam assim, uma perspectiva menos negativa que a dos teóricos da sociologia da cultura, que apresentam uma visão extremamente crítica em relação ao assunto. De fato, a crescente estetização da vida cotidiana, fenômeno da chamada condição pós-moderna, (Huysen, 1986; Jamesson, 1987; Harvey, 1989) aparece quase sempre como algo ilusório, dentro de um contexto cenarizado e de mau gosto. É possível que essa seja uma visão viesada, pré-conceituosa, tal como a visão aristocrática de Morris nos século XIX, ou uma visão nostálgica "de que no passado tudo era melhor", da qual não escapou nem mesmo Engels, por exemplo, quando idealiza um passado melhor, quebrado pela revolução industrial. De qualquer forma, para o bem ou para o mal, as mudanças observadas em Natal, como na maioria das cidades brasileiras, seguem uma tendência contemporânea. Sem dúvida, elas confirmariam as teses de Sennett (1996a,b), quando esse autor indica o narcisismo reinante na atual fase do capitalismo, que tem sua base nas novas classes emergentes, cujo padrão de mobilidade social é baseado em critérios de personalidade e carisma. O sucesso dos padrões difundidos por revistas como Caras (versão brasileira da revista espanhola Hola ) e Ricos e Famosos não deixam muita margem de dúvidas. O homem público, conceito que justamente implicava em que havia uma esfera da vida privada resguardada, é agora cada vez mais julgado não pela sua atuação pública, mas pelos seus gostos pessoais, sua vida afetiva e sexual, etc. É certo, também, que, como afirma Senett (1993, 1996a), nesse quadro, os tradicionais biombos de separação entre o público e o privado só podem cair por terra.
 
 

Notas

* Angela Lúcia de Araújo Ferreira
Doutor em Geografia Humana pela Universidad de Barcelona
Telefone : (55-84) 236.4418
E-mail : angela@ct.ufrn.br

Sonia Marques
Doutor em Sociologia
Telefone : (55-81) 423 0408
E-mail : sonia@ct.ufrn.br
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo
Departamento de Arquitetura - CT
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Campus Universitário
59 072 -970 Natal - RN
Brasil
 

1 Este texto resulta da reflexão conjunta dos autores a partir de pesquisas que estão desenvolvendo atualmente: Ferreira, Angela Lúcia de Araújo. A produção imobiliária privada em Natal/ Rn: diferenciações e mudanças sócio-espaciais e Marques, Sônia. Novas formas de Habitar à Natal.

2 Tradução realizada pelas autoras.
 

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