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Scripta Nova.
 Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales.
Universidad de Barcelona [ISSN 1138-9788] 
Nº 69 (56), 1 de agosto de 2000

INNOVACIÓN, DESARROLLO Y MEDIO LOCAL.
DIMENSIONES SOCIALES Y ESPACIALES DE LA INNOVACIÓN

Número extraordinario dedicado al II Coloquio Internacional de Geocrítica (Actas del Coloquio)

TURISMO, INOVAÇÕES E CRESCIMENTO ECONÔMICO LOCAL1

Rita de Cássia da Conceição Gomes2
Departamento de Geografia - UFRN, Brasil
Valdenildo Pedro da Silva3
Centro Federal de Educação Tecnológica, Natal, Brasil



Turismo, inovações e crescimento econômico local (Resumo)

O artigo estuda a atividade turística na cidade do Natal,  estado do Rio Grande do Norte - Brasil, por ser este um espaço onde esta atividade vem apresentando, desde os anos 80, uma expressiva expansão. O objetivo é analisar a atividade turística, enquanto promotora de inovações no espaço. Além da construção de novos territórios, o turismo tem propiciado o crescimento econômico, ainda que reestruturando valores, costumes e hábitos da sociedade local, constituindo-se em uma nova opção econômica, responsável pela geração de empregos diretos e indiretos. Destaca ainda a problemática socioambiental decorrente dessa inovação, uma vez que o turismo está se dando através do binômio sol e mar, contribuindo para que as áreas litorâneas desse Estado venham a ser apropriadas inadequadamente, tornando-se, portanto, uma das preocupações para o estudioso da ciência geográfica.

Palavras-chaves : turismo/ inovação/ crescimento econômico/ espaço/ território



Tourism, innovation and local economic growth (Abstract)

This paper focuses on tourism in Natal in the state of Rio Grande do Norte, Brazil. Natal has witnessed an outstanding growth of tourism since the 1980s. Here, the objective is to analyse the tourism as an agent of spatial transformation and innovation. In addition to building new territories, tourism has brought about economic growth - although impacting on local values - and is now responsible for the creation of new posts in the labour market. The paper also highlights the socio-environmental impact of tourism in Natal as this activity has revolved around the three S’s: sea, sun and sand. Geographers have increasingly been concerned about the inadequate occupation of the coastal areas where tourism takes place.

Key-words: tourism/ innovation/ economic growth/ space/ territory


O turismo é na atualidade um fenômeno mundial e, nos últimos tempos, inúmeras discussões aconteceram em torno dessa nova atividade econômica. Tomando como referência a realidade brasileira essa discussão parece ter virado moda, até porque as atividades de turismo passaram a ter expressão a nível econômico a partir dos anos sessenta, em especial, após a criação da Empresa Brasileira de Turismo - EMBRATUR - em 1966. Entretanto, após muitos anos de infrutíferas tentativas de elaboração de uma Política Nacional de Turismo junto às autoridades públicas nacionais, ela é elaborada em 1996, sob a responsabilidade dessa instituição.

O modismo de que nos referimos, ora se expressa por meio de análises que contemplam somente os alardeados ganhos socioeconômicos, ora os males socioambientais decorrentes da atividade turística.

Nesse sentido, pontuamos como prenúncio de nossas reflexões o pensamento de Coriolano (1998, p.9) quando afirma que "a importância e o significado do turismo no mundo tem crescido de forma tão expressiva que vem dando a esta atividade lugar de destaque na política geoeconômica e na organização espacial, vislumbrando-se como uma das atividades mais promissoras para o futuro milênio".

No entanto, no âmbito da ciência geográfica, um grande número de análises procura evidenciar um quadro de referências negativas promovidas pela atividade turística, uma vez que esta responde, principalmente às demandas capitalistas, no sentido de produzir e reproduzir formas diversas para o processo de acumulação.

No caso específico deste trabalho, a nossa pretensão é de analisar o turismo numa outra vertente, numa dimensão de totalidade, dessa feita atrelada ao entendimento da atividade turística como propulsora de desenvolvimento e crescimento econômico, mas também, proporcionadora de perversões socioespaciais. Esse crescimento por si só apresenta um quadro dialético na sua reprodução, sendo, portanto, gerador de conflitos e contradições, devendo estes serem, também, aqui contemplados.

Mesmo inexistindo uma política nacional para o turismo no pais, em Natal esta atividade começa a ser implementada numa perspectiva econômica por volta dos anos 70, contando apenas com ação de gestores locais. Essa nova opção econômica começa a emergir em Natal através do projeto Parque das Dunas - Via Costeira que passou a inserir esse território nos principais roteiros turísticos do País. No curso dos últimos anos, essa atividade vem apresentando um crescimento bastante acelerado, tornando-se uma das atividades econômicas mais importante no cenário econômico do Estado, sendo a cidade do Natal o principal espaço de produção turístico-recreativa, quer seja pelos seus atrativos turísticos, quer seja pela infra-estrutura construída para atender a expansão dessa atividade.

Natal nascendo para o turismo

A cidade do Natal, capital do Estado do Rio Grande do Norte teve sua fundação em 1599, quando os portugueses resolveram tomar posse da área litorânea brasileira. Como tantas outras cidades, Natal teve seu sítio inicial no estuário do rio Potengi e, graças à sua localização cercada de dunas, Natal, durante os três primeiros séculos de sua existência ficou praticamente no anonimato, a não ser como um ponto de apoio para os portugueses, já que o Forte se constituía no espaço de proteção, ora dos portugueses, ora dos holandeses.

Na década de 1920, Natal entra na rota dos vôos internacionais, dado o fato de Parnamirim servir de campo de pouso para os aviões comerciais que se destinavam a Argentina. A freqüência deste fato, suscitou a idéia da construção de um hotel já que por algumas vezes, os apartamentos de luxo do hospital Miguel Couto serviam de hospedagens para os que na cidade tinham que pernoitar. Mas o hotel idealizado, somente em 1939 foi inaugurado. Era o Grande Hotel, localizado na Ribeira. Até a década de 60, este era o único hotel da cidade.

Somente no período da Segunda Guerra mundial é que Natal ganhou status de cidade mundial, digamos assim, isto porque, com a instalação da base aérea americana a cidade ganha uma visibilidade. O centro urbano de Natal foi totalmente modificado. Podemos dizer que Natal participa "definitivamente" do moderno.

A Segunda Guerra termina e a cidade, embora tenha conseguido viabilizar um processo de urbanização relativamente alto para a época, não consegue manter o ritmo de crescimento que vinha sendo efetuado. Isto deve ser apontado como resultado da inexistência de uma atividade econômica que possibilitasse tal dinamização. A atividade administrativa era, portanto a única fonte de emprego que existia para o mercado de trabalho até então existente.

Na década de 60, quando era governador do estado o senhor Aluízio Alves, um novo hotel foi idealizado, dessa vez, o Hotel Internacional dos Reis Magos, com o objetivo de atender às demandas daqueles que pernoitavam em Natal. Nesta época, o Grande Hotel já não existia mais.

É importante ressaltar que, no Rio Grande do Norte, até a gestão do governo acima mencionado, prevaleciam no poder representantes das oligarquias rurais. O Governo citado procurou viabilizar uma administração voltada para um desenvolvimento de caráter urbano-industrial. É portanto, a partir desse período que se começava a despertar para uma atividade que daria um outro encaminhamento a economia não apenas do município, mas, também, para o estado, isto é, o Turismo.

Para que essa atividade pudesse vir a se desenvolver era necessário que inúmeros empreendimentos fossem realizados, tais como a construção da Ponte de Igapó criando, assim, as condições necessárias para viabilizar o fluxo de automóveis que se dirigiam para a Praia da Redinha, espaço de lazer importante da época; também foi realizado a pavimentação da estrada que ligava Natal à Barreira do Inferno, local de lançamento de foguetes; e, desponta neste contexto a praia de Ponta Negra, que até os dias atuais ainda se constitui num dos mais importantes pontos turísticos da cidade. Todos estes empreendimentos repercutiram diretamente sobre o território. É o início da construção de um novo território, o do turismo. A partir de então, a atividade turística, mesmo ainda incipiente, começava a promover mudanças territoriais e, por conseguinte, sociais no território de Natal.

A realização do II Congresso Brasileiro de Turismo em Natal, no ano de 1969, pode ser vista como um marco importante para a inserção de Natal na rota do Turismo. Este evento contou com 300 pessoas dos vários estados brasileiros. Foi um momento importante para impulsionar as mudanças na configuração territorial da cidade, despertando nas autoridades e interessados nesse setor a necessidade de se implementar políticas voltadas para tal e, ao mesmo tempo, fez ver aos congressistas presentes as potencialidades turísticas de Natal. Sendo assim, podemos assinalar que o referido congresso foi o marco na construção da imagem de Natal para o desenvolvimento do turismo.

A partir de então, tanto os governos municipais como os estaduais começaram a dar prioridades a projetos urbanísticos que viabilizassem a atividade turística. Dessa forma, vários empreendimentos foram viabilizados como sejam: criação de um centro de turismo, para tal foi utilizado o prédio da antiga casa de detenção de Natal; a construção do Bosque dos Namorados, localizado no parque das dunas; assim como a proteção ao cajueiro de Pirangi, reconhecido como o maior cajueiro do mundo, hoje uma das atrações turísticas do Estado. Além disso, foram realizadas obras de asfaltamento de ruas para facilitar o trânsito, construção de viadutos; enfim obras que objetivavam atender às demandas de um novo sujeito que começava a fazer parte da cotidianidade do território natalense, ou seja, o turista. Nesse intuito, a cada dia o cenário urbano se modificava e, nesse processo de modificação contínua, surge a obra de maior significado para a atividade emergente que foi a construção da Via Costeira.

Trata-se de uma via asfaltada com 15 Km de extensão ligando as praias localizadas no Centro de Natal à praia de Ponta Negra (zona sul); tendo como propósito maior, o de copacabanizar Natal. Porém, diante da magnitude de tal projeto e, por sua implementação ser na área do cordão dunar que cerca a cidade na sua parte leste, este projeto foi bastante criticado. Isso porque, previa inicialmente a construção de 12 hotéis, todos com 5 estrelas e com 15 andares cada um, fato que iria provocar forte degradação sócio-ambiental nessa área. Esse projeto passou por várias modificações sendo que na última, ficou definido a construção de 19 hotéis, com apenas 3 andares, podendo os mesmos serem até de 3 estrelas.

A construção da via costeira, proporcionou as condições para a criação de uma rede hoteleira de grande porte, conforme pode ser visualizada na paisagem em tela, contribuindo para a realização de um turismo de categoria nacional e internacional, que dia à dia requer que novos projetos urbanísticos e de infra-estrutura seja pensados e concretizados, para dar continuidade ao desenvolvimento da atividade turística do município, que atualmente já é considerada como um dos setores mais significativo para a economia do Estado.

O desenvolvimento dessa atividade tem criado novos espaços de atratividade turística que vão além dos limites territoriais da cidade do Natal. Isto é, as melhorias na infra-estrutura, que aqui entendemos, também, como inovações, ampliaram e abriram uma expansão dessa atividade pelos demais municípios litorâneos que circundam a "cidade do sol" - NATAL , seja no litoral sul ou norte.

Assim sendo, falar do turismo em Natal significa incluir Parnamirim, Nísia Floresta, Extremoz, Tibau e tantos outros municípios que se constituem em espaços turísticos vendidos nacional e internacionalmente, graças às suas belas paisagens naturais, em que os componentes sol e mar dão o tom do turismo norte-rio-grandense.

Nesse contexto espacial a cidade do Natal se constitui no grande pólo turístico do estado, de vez que, as melhorias constantes de infra-estrutura, de serviços públicos e privados têm, cada vez mais, no curso dos últimos tempos, atraído turistas para esse território. Isto é constatado pela evolução do fluxo e da renda turística em Natal, nos últimos anos correntes, conforme expresso nos gráficos 1 e 2.

Gráfico 1
Fluxo turístico global da Grande Natal - RN - 1991/1999

Fonte: Secretaria Estadual de Turismo – RN, fevereiro, 2000.

Gráfico 2
Receita gerada pelo turismo naGrande Natal - RN - 1991/1999

Fonte: Secretaria Estadual de Turismo – RN, fevereiro, 2000.
 

É importante frisar que a atividade turística é por demais complexa. Para que a mesma aconteça é necessário que pares dialéticos se reproduzam tais como: o moderno e o arcaico; o natural e o artificial, e o humano e o tecnológico; o cultural e o modismo. Esta reprodução traz para a cidade mudanças sócioespaciais de grande expressividade. Envolvendo uma diversidade muito grande de atividades, o turismo promove a geração de empregos e de renda, que refletem também no território, através das diversas territorialidades que vão se estabelecendo para atender a esta diversidade.

Considerando os elementos acima mencionados, partimos do pressuposto básico de que o desenvolvimento e a expansão da atividade turística em Natal se constitui num marco importante no processo de construção do território, uma vez que, trata-se de uma atividade que requer ampla infra-estrutura e diversidade de prestação de serviços, que diga-se de passagem, devem ser de excelente qualidade em virtude das exigências emanadas pelos turistas. Assim sendo, é notório em Natal uma reconfiguração paisagística que vem confirmar a inovação desse território e, por conseguinte, um crescimento local.

Fazendo parte do conjunto dessas inovações expressamos as novas relações que vêm sendo estabelecidas, as quais, na essência, são conflitantes e contraditórias, portanto, refletidas dialeticamente, no espaço construído e cotidianamente em construção.

Diante de tais elementos expressos não podemos esquecer que a atividade turística no Rio Grande do Norte e, em particular, em Natal sempre esteve atrelada aos elementos do quadro natural, que conta com belas paisagens naturais, muito sol e lindas praias. É nesse contexto que nasce o turismo em Natal que vem contribuindo para a construção de um cenário urbano expresso no através de imagens e de formas espaciais que se materializam no território. Ou seja, uma nova configuração territorial entra em evidência no urbano de Natal a partir do desenvolvimento do turismo, que no nosso entendimento tem sido a atividade que mais contribuiu para a transformação socioespacial desse cidade nessas últimas temporalidades.

Turismo em Natal: inovações e crescimento local

A Natal dos dias atuais, com mais 600 mil habitantes, guarda do passado, além dos monumentos de importância cultural e arquitetônica, o leque de atrativos naturais e o clima privilegiado, que vêm transformando-a num dos destinos brasileiros mais concorridos recentemente para o turismo doméstico e internacional.

O turismo que se desenvolve nessa cidade está associado basicamente ao lazer, o turismo de negócios e de eventos ainda é praticamente insignificante. No entanto, é importante frisar que recentemente o turismo de evento passou a ser mais uma nova opção no turismo natalense, uma vez que o Governo do Estado terceirizou o Centro de Convenções, visando incrementar mais este tipo de turismo. Só para se ter uma idéia, no período de março a dezembro de 1999, o Centro de Convenções realizou mais eventos do que no ano anterior. Para os novos dirigentes, a meta este ano (2000) é movimentar esse espaço turístico em pelo menos 200 dias ao ano. Isso significa dizer que, de cada 30 dias no mês, o Centro estará ocupado em 20 dias. Esses números denotam que o turismo de evento em Natal começa a se tornar realidade.

Porém, como assinala Sánchez (1991), o lazer se apresenta na atualidade, como um setor de amplas potencialidades no que se refere ao desenvolvimento de tecnologias as quais têm um campo de aplicação bastante numeroso que vai desde a produção visual e virtual até a construção civil.

A região Nordeste apresenta-se no contexto nacional brasileiro como uma das mais pobres do ponto de vista econômico. No entanto, é ainda uma das regiões onde o quadro natural se apresenta com uma certa originalidade, dispondo de praias belíssimas que, associadas a uma presença solar quase que durante todos os 365 dias do ano se constitui em uma excelente opção para o lazer. Nesse sentido, turismo e natureza são realidades que encontram-se intimamente relacionadas, considerando que os atrativos naturais constituem um dos principais fatores motivadores dos fluxos turísticos.

Assim sendo, o lazer tem emergido no Nordeste brasileiro e, particularmente, no litoral norte-rio-grandense como uma expressão da sociedade de consumo, que necessita dele para a reprodução ideológica e material da sociedade. Em Natal ele vem acontecendo por meio do binômio sol e praia. Suas potencialidades, no sentido anteriormente colocado, são evidenciadas através de demandas de novas tecnologias que se materializam na produção do espaço turístico.

Esse quadro tem sido um dos grandes potenciais dos diversos Estados Nordestinos para viabilizar uma nova opção econômica a partir do turismo. A paisagem litorânea passou a ser o grande recurso turístico do Nordeste brasileiro e, principalmente a partir dos anos 80, essa região do Brasil foi inserida, mais fortemente, nos roteiros turísticos passando a ser vendido como um Novo Caribe, o Novo Mediterrâneo, a Nova Flórida. Assim, é descoberta Porto Seguro, é fortalecida Salvador. São intensificadas as campanhas para Maceió, Recife, Natal e Fortaleza (Rodrigues, 1996, p.149). Nesse sentido, foram implantados diversos equipamentos receptivos para atender a demanda dessa emergente economia. Para tal foi implementado em 1991 o Programa de Ação para o desenvolvimento do Nordeste - Prodetur/NE, que visava capacitar a região com uma infra-estrutura e serviços para que fosse possível a implementação de empreendimentos turísticos e a consolidação de um polo turístico para o estado.

Segundo esse programa, uma das prioridades para a dinamização da atividade turística do estado era a reforma e a construção de uma nova estação de passageiros do Aeroporto Internacional Augusto Severo, localizado no município de Parnamirim. Essa obra que vem recebendo financiamento do Prodetur, através do Banco do Nordeste do Brasil - BNB, encontra-se em fase conclusão, permitindo em breve vôos ‘charter’, principalmente da Europa.

No Rio Grande do Norte, o Projeto Rota do Sol tem se configurado como a principal intervenção do poder público no sentido de viabilizar a implantação de equipamentos receptivos no estado para dar impulso ao turismo local.

É no trecho territorial – Parque das Dunas, Via Costeira e Rota do Sol – que encontram-se as melhores condições para o desenvolvimento turístico, que vão de suas belezas naturais à receptividade de seu povo, até as atrações artificiais e socioculturais, como bons hotéis, boas pousadas, restaurantes e outros empreendimentos de diversos portes e níveis de conforto.

Em Natal, os hotéis compõem o principal elemento da infra-estrutura turística, sendo hoje um negócio bastante lucrativo, considerando, sobretudo, a crescente demanda de turistas para Natal e os incentivos dos órgãos públicos e financeiros. É bom destacar que a oferta hoteleira apresenta-se ainda tímida, contando, recentemente, com um total de 162 meios de hospedagem (incluindo hotéis, pousadas, chalés, albergues e apart-hotéis) e com uma taxa de ocupação média de 49,28 por cento, no decorrer dos anos noventa.

Natal possui apenas 76 hotéis com classificação de estrelas que vão de uma a cinco. Predomina na cidade a hospedagem em pousadas (cerca de 69), economicamente mais acessível para a maior parte dos turistas. A cidade conta também com 12 apart-hotéis (flats) e alguns em construção.

É importante ressaltar que o Prodetur/NE financiando o turismo do Estado, beneficiou na sua primeira fase os municípios de Natal, Extremoz, Parnamirim, Nísia Floresta, Tibau do Sul e Senador Georgino Avelino, através da implantação de uma infra-estrutura (estradas, hotéis, serviços etc.) que no geral aconteceu de maneira desigual, visto que as melhorias para o turismo ficaram concentradas principalmente na capital. Recentemente, outros municípios vêm sendo contemplados, destacando-se, especificamente, a construção de rodovias.

Efeitos da atividade turística no território

A implementação dessa nova atividade econômica tem sido responsável pela geração de um número considerável de empregos diretos e indiretos (comércio, serviços e artesantos) ao longo do trecho turístico do litoral do Estado, e, em particular, do natalense, dinamizando, dessa forma, a economia local e, por conseguinte promovendo a geração de divisas para o estado do Rio Grande do Norte.

Entretanto, salientamos que essa atividade tem gerado efeitos perversos (prostituição, marginalização, exclusão social, aculturação, agressão à "natureza natural") o que tem sido motivo de preocupação de inúmeros estudiosos, antropólogos, sociólogos e mesmo os geógrafos.

Não é só isso que se constituiu enquanto preocupação de uma leitura socioespacial para nós geógrafos, mas também, a expansão e crescente construção de uma infra-estrutura voltada para a atividade turística em Natal, que vem se coadunar com a afirmação de Sánchez expressa anteriormente, visto que os sistemas de telecomunições, de energia, de transporte e acesso viário dentre outros tiveram que se modernizar para atender às demandas do lazer turístico produzido no espaço em tela e, não para atender às necessidades essenciais da sociedade natalense.

Como já foi assinalado Natal não é o único espaço turístico do estado. Toda a orla litorânea popularmente denominada de sul e norte tem apresentado diversos atrativos, que embora sejam bastantes significativos, não apresentam nenhuma infra-estrutura de qualidade correspondente às exigências dos turistas. Dado esse fato, Natal tem se tornado o centro de atração e concentração do turista, uma vez que reúne condições básicas de habitabilidade e apoio nos equipamentos e serviços turísticos.

Assim sendo, Natal tem se beneficiado dos investimentos do poder público para essa atividade econômica que se constitui num verdadeiro vetor de inovações, que são refletidas espacial e culturalmente. O reflexo maior da inovação promovida pela atividade turística pode ser visto através da construção de uma rede hoteleira que atende aos padrões nacionais e internacionais, na construção de uma nova infra-estrutura aérea, no melhoramento do sistema viário urbano e regional, na implantação de serviços de transportes alternativos, além de um projeto urbanístico que busca melhorar a imagem da cidade.

A cidade tem recebido no seu cotidiano inovações que se inscrevem, ora no espaço urbano construído, ora em novos modos de vida, propiciando ao turismo áreas históricas e monumentos, como o Forte dos Reis Magos, o memorial Câmara Cascudo, o Farol de Mãe Luiza entre outros e, mais recentemente, o Pórtico de Comemoração dos 400 anos da cidade, o Arco do Sol em Ponta Negra, além de uma infra-estrutura turística da Natal moderna, como shoppings centers, praias urbanizadas como a do Forte, do Meio e dos Artistas, assim como a de Ponta Negra que encontra-se em processo de reurbanização, com drenagem, implantação de saneamento básico e construção de calçadão, estacionamento, equipamentos turísticos e sinalização em toda extensão da avenida Erivan França, principal área de atração turística.

Parece-nos, que ao priorizarem a atividade turística como uma das mais importantes da economia, não só para Natal, mas para todo o estado, o poder público e a iniciativa privada sabem qual é o melhor caminho para fazer crescer economicamente o território, porém esquecem, ou melhor, não constitui em preocupação dos mesmos promoverem o desenvolvimento dessa atividade, com garantia de sustentabilidade da sociedade como um todo. Isto está evidente em Natal e, como exemplos, trazemos à lume a Vila de Ponta Negra e o Bairro de Mãe Luíza, territórios turísticos por excelência, em que ficam expressas as expropriações e explorações da sociedade face à atividade turística em desenvolvimento. A grande maioria da população dessas áreas vivem no entorno dos espaços receptivos de turistas, mas não tem recebido qualquer atenção por parte do poder público, nem tampouco do setor privado, para a sua inserção nessa atividade econômica.

Assim, podemos inferir que a atividade turística por se reproduzir obedecendo à lógica econômica capitalista traz, na sua essência, inúmeros conflitos e, por conseguinte, contradições. Porém, associado a estes, temos uma implementação de ações inovadoras que promovem o crescimento, e, em alguns setores, o desenvolvimento. Um desses setores é o de serviços. Salientamos que esse desenvolvimento deve acontecer proporcionando uma ascensão da felicidade individual e coletiva e não a proliferação da exclusão social aliada à degradação ambiental.

Como salientamos no nosso título bem como no nosso pressuposto, a atividade turística, embora tendo um caráter inovador e, portanto contribuindo, decisivamente, para o crescimento econômico de Natal e de um modo mais global para o Rio Grande do Norte, apresenta-se também, como uma atividade geradora de conflitos.

No momento em que se dá a expansão do turismo, há um crescimento da cidade no que se refere ao espaço urbano. A atividade turística está sempre a requisitar uma melhor infra-estrutura nos diversos aspectos que ao ser implementada promove uma elevação do preço do solo urbano, acompanhada de uma segregação espacial. Neste caso, as populações pobres são obrigadas a deixar as áreas que habitam em virtude deste aumento do preço do solo, passando a ocupar novos espaços em caráter irregular, dando origem à cidade clandestina.

Fato semelhante acontece nas áreas dos municípios atingidos pela política de desenvolvimento turístico a partir da implementação do Prodetur. Além de serem expulsos de suas áreas de habitação antiga muitos ainda passam por um processo de desterritorialização. Estas populações passam por um processo de desterritorialização, no momento em que os mesmos passam a desenvolver novas atividades em substituição àquelas até então desenvolvidas.

Observamos nas áreas onde se desenvolve a atividade turística uma ocupação desordenada o que causa preocupação a todos aqueles que estudam o meio ambiente.

Como já foi mencionado anteriormente o turismo obedece à lógica capitalista de reprodução. Porém, não podemos deixar de nos preocupar com a compatibilização do desenvolvimento da atividade turística e a fragilidade ambiental. A degradação ambiental já começa a ser percebida, principalmente em função do intenso processo de construção de empreendimentos e moradias nas áreas de praia sem um planejamento urbano sustentável, considerando não só a natureza natural, mas a sociedade nativa, isto é, do lugar.

A atividade turística em Natal ao se expandir promoveu a expansão do setor de serviços, notadamente os restaurantes, hotéis e pousadas. Por outro lado, outros aspectos vêm sendo motivo de preocupação por parte do poder público municipal e estadual como seja: a recuperação de monumentos históricos. É o caso da revitalização do bairro da Ribeira. Este é um dos bairros mais antigo da cidade. O que podemos ressaltar é que, embora o objetivo seja criar novos espaços para serem vendidos ao turista, não podemos negar a importância de tal procedimento, uma vez que no Brasil, a memória da cidades tem sido muito pouco conservada.

Outro aspecto que está ligado à viabilização da atividade turística é a melhoria do tráfico urbano. Dada a expansão do espaço urbano tem sido necessário se manter uma maior integração entre as diversas áreas da cidade, em especial a Zona Norte com a Zona sul, visto que através dessas duas áreas podemos ter acesso às praias que ficam nos outros municípios do Estado.

O Governo do Estado junto com a Prefeitura Municipal tem procurado viabilizar uma melhor circulação. Nesse sentido, nos últimos anos, algumas construções e modificações vem sendo realizadas no sistema viário, tais como a construção de túneis e viadutos, bem como a abertura de novas avenidas e integração das mesmas. É percebível que tais melhorias tem como objetivo melhorar as condições de circulação interna da cidade para que a sua principal atividade econômica - o turismo - possa se desenvolver.

Assim, quando assinalamos que a atividade turística tem se apresentado como uma atividade propulsora de inovações, estamos nos referindo a vários empreendimentos, tais como a melhoria de uma infra-estrutura no que se refere ao abastecimento de água, energia, comunicações, tratamento de esgotos, assim como uma maior preocupação com o lixo produzido, ampliação e melhoramentos de estradas. No momento em que as áreas passam a ter uma maior demanda turística, este espaço passa a fazer parte da agenda governamental no que se refere às preocupações com a implementação das melhorias dessas áreas.

Sem colocar um ponto final

O trabalho acadêmico científico deve ser uma atividade contínua, dinâmica, pois a sociedade é dinâmica. Assim entendendo, cada trabalho que, aparentemente se finda, se constitui num fio condutor para outro que vai surgir. É dessa forma que estamos "finalizando" esta análise sobre a atividade turística enquanto propulsora de inovações e crescimento local.

Assim, não podemos perder de vista, face a realidade constatada, a necessidade de se fazer uma gestão dessa atividade de modo que venha assegurar o futuro da sociedade, uma vez que os ambientes costeiros utilizados pela atividade turística, apresentam-se com fragilidades e que, ao serem mal utilizados correm o risco de comprometer a permanência dos recursos naturais. Neste sentido, a sociedade será também afetada.

Por tais motivos, precisamos nos resguardar com relação ao uso desses espaços para evitar que passemos a amargar o lado perverso da atividade turística que, enquanto atividade capitalista, como tantas outras, abandona os espaços deixando-os totalmente esgotados.

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Notas

1 Trabalho produzido na Base de Estudos Sócio-espaciais e Representações Cartográficas do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, contando com a participação dos Bolsistas do CNPq Otair Luiz da Silva e Aristotelina Pereira Barrêto Rocha.
2 Doutora em Geografia Humana pela Universidade  Estadual Paulista (Unesp/Rio Claro)
3 Mestre em Geografia Humana e Professor da Área de Tecnologia Ambiental do Centro Federal de Educação Tecnológica - RN

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