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Scripta Nova.
 Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales.
Universidad de Barcelona [ISSN 1138-9788] 
Nº 94 (61), 1 de agosto de 2001

MIGRACIÓN Y CAMBIO SOCIAL

Número extraordinario dedicado al III Coloquio Internacional de Geocrítica (Actas del Coloquio)

O PAPEL DO ESTRANGEIRO NA FORMAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DA ÁREA CENTRAL E PERI-CENTRAL DO RIO DE JANEIRO

Anna Maria Soares Lebigre
Professora da Universidade Federal de Alagoas
Doutoranda da Universidade Paris III – Sorbonne Nouvelle


O papel do estrangeiro na formação e transformação da área central e peri-central do Rio de Janeiro (Resumo)

O que chamamos hoje de área central e peri-central do Rio de Janeiro, constituiu, basicamente, toda cidade colonial , tal como aparece nos mapas datados da primeira década do século XIX. Fundada por colonos portugueses, nela identificaremos seus habitantes como o homem do lugar, face ao qual, qualquer outro homem vem a ser o estrangeiro. Tratando-se de uma capital, sede dos regimes políticos instituídos no país: colonial, real, imperial e republicano, a cidade foi objeto dos planos de melhorias urbanas, que a modernizaram, dizimando completamente seus traços coloniais. Ao contrário de certos estudos atuais ,- que creditam como fatores de transformação a entrada do país ao capitalismo internacional e ao regime republicano -, acreditamos que o desaparecimento da cidade colonial se processou paulatinamente, através de inúmeras ações, muitas vezes motivadas pelas relações duráveis ou efêmeras, estabelecidas com os estrangeiros.

Palavras chave: centro de cidades / Rio de Janeiro / história da cidade / cultura urbana


The foreigner's paper in the formation and transformation of the central and peri-central area of Rio de Janeiro (Abstract)

The central and peri-central area of Rio de Janeiro as we call it today, is basically constituted by the whole colonial city, the way it appears on the maps in the first decade of the XIXth century. We shall identify the inhabitant of the city founded by Portuguese settlers as the man of the place, any other inhabitant being considered as a foreigner. As a capital sheltering successively a colonial, royal, imperial and republican regime, the city undertakes urban projects which modernise it, but damages completely its colonial features. Unlike some present studies which consider as factors of extinction the entry of Brazil into the international capitalism and republican regime, we believe the colonial city disappeared gradually, through many actions, most of the time motivated by stable or short time relations established with foreigners.

Key words: city centers / Rio de Janeiro / city history / urban culture


O papel do estrangeiro na formação da cidade do Rio de Janeiro foi de certo modo primordial, pois que aparece, simultaneamente, como obra e motor de seu desenvolvimento. Sua presença, constante, era garantida, não somente pelo trabalho dos engenheiros-militares de várias nacionalidades, que à serviço do rei de Portugal intervinham na cidade, mas pela vida doméstica de sua população em seus dois contrapontos: a exercida pelo homem livre comum, português, formado e aberto à mestiçagem, outro exercido pelas elites administrativas e a nobreza, que introduziam os valores de uma Europa reunida no absolutismo e nos postulados da Renascença. De certo modo, como povo irradiador de culturas, Portugal assumiu em suas colônias, o papel que caberia ao estrangeiro. A chegada do monarca português ao Rio de Janeiro, providenciando as reformas e a intervenção de artistas franceses na cidade, são fatos que parecem indicar que à nobreza destinava não apenas o papel de modelo, a quem caberia copiar, mas veículos voluntários de outras culturas, à ela coube o papel do estrangeiro, que a cidade deveria tanto acolher como assimilar.

Durante as três primeiras décadas que se seguiram ao descobrimento do Brasil (1500-1531), o povoamento seria obra esporádica e efêmera, feito por homens comuns, da plebe, através das chamadas feitoria. , entrepostos de comércio predominantemente de pau-brasil ,estabelecidas ao longo do litoral. Nos meados do século XVI, Portugal muda de atitude em relação à colônia e, retirando-a do estado de abandono em que se encontrava, efetua um vasto programa de fundação de cidades, no intuito de reconquista e defesa efetiva de seu território.
 

Fundação da Cidade do Rio de Janeiro e sua transferência para o Morro do Castelo

Movido pela necessidade de reconquista da Guanabara aos franceses, que dela se tinham apossado desde 1555, Estácio de Sá, em 1º de março de 1565, funda a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. A cidade, assumindo características de uma praça forte, tal como se impunha o momento, foge inicialmente das ordenações reais (1); estas últimas seriam depois retomadas nos atos do fundador, ao conceder seis léguas de raio para rocio e, légua e meia de testada e outras tantas de fundo, para termo da cidade. O lugar escolhido, exíguo, entre os Morros Cara de Cão e Pão de Açúcar, só se justificava pela sua significação militar como sentinela da barra e trampolin para a conquista da baía da Guanabara, então em poder de Villegaignon e seus aliados, os Tamoios, que dominavam a região. Mesmo assim, a cidade ali permaneceu por dois anos. Logo depois da derrota infringida aos franceses, de que resultou a morte de Estácio, coube ao seu tio, Mem de Sá, vindo da Bahia especialmente para ajudá-lo na luta, não somente substituí-lo na governança, como a transferência da cidade para o Morro de São Januário ou do Descanso (depois conhecido por Morro do Castelo, Alto da Sé e Alto da São Sebastião).

Durante o período em que esteve na Guanabara (18 de janeiro de 1567 a maio de 1568), Mem de Sá, amplia a sesmaria patrimonial urbana, e, ergue ele próprio a nova cidade no alto do Morro, cercando-a de muros com muito baluartes cheios de artilharia. Em seu interior, constroe o conjunto administrativo composto pela Casa de Câmara e Cadeia , os Armazéns da Fazenda Real, "também sobradados, telhados e com varandas"; a Igreja dos Jesuítas, e a , de três naves, todos "telhados e bem consertados", dando ainda ordem e favor para que fizessem muitas outras casas "telhadas e sobradadas (2)".

Nos documentos dos dois primeiros séculos, a cidade seria referida, tal Salvador, como "praça forte (3)". Em seu traçado, não havia fronteiras entre a arquitetura militar e o urbanismo. Os edifícios principais se ordenavam segundo posições estratégicas, interligando-se através de muros ou muralhas.

A cidade, desenhada nos traços de uma fortaleza assim se resguardaria até o fim do século XVIII , sob constante ameaças dos ataques de corsários, sobretudo , franceses. No entanto, cidade naturalmente portuária, devido as características do sítio ela igualmente se abriria a todo tipo de comércio e encontros, desenvolvendo-se através da várzea, a despeito das características do terreno que, mesmo acidentados, não inibiriam sua expansão e crescimento .
 

A formação do homem do lugar

Os povos naturais da terra

Tendo em vista a vasta extensão do litoral brasileiro, é válido considerar o grande número de tribos e nações indígenas que, certamente, interagiram com os colonos das primeiras feitorias, arraiás, vilas e cidades, fundadas ao longo da costa brasileira no século XVI. A despeito de reconhecer tal diversidade, ainda denominaremos pela forma genérica de: o índio, o silvícola ou o indígena, quando no imperativo de referenciá-los, nas fontes consultadas, estejam ausentes de identificação, a tribo ou nação à que pertencem.

Evitaremos, entretanto, a utilização do termo " homem natural da terra" – tal como empregou em suas cartas, o Padre Antônio Vieira (4). Nesta noção sobressai-se o indivíduo que, retirado de sua estrutura tribal, geralmente organizada sob um território definido, nada lhe identifica dos demais. O direito do índio ser livre, por que lutava a Companhia de Jesus, era na concepção jesuítica, permitir que os índios vivessem isentos do trabalho escravo, mas, condicionados aos aldeamentos por eles construídos, as famosas Missões, onde era feito o trabalho de catequese - o que se conformava nos moldes, de um povoado da coroa portuguesa. De modo que à expressão "homem natural da terra", sugerimos a dos "povos naturais da terra", que no Brasil eram muitos.

Uma das maiores contribuições dos povos indígenas foi a língua, que, em sua grande família tupi-guarani, considerada a "língua-geral do país (5)" foi certamente assimilada pelos primeiros colonos, alojados nas feitorias. É certo que esses homens, isolados da metrópole, falassem fluentemente as línguas das tribos em cujos territórios se estabeleciam. Em que pesem as controvérsias, há testemunhos documentais que em certos lugares, tal a Capitania de São Vicente, o tupi era no século XVI, XVII e até meados do século XVIII, a primeira língua dos colonos portugueses; o fenômeno deve-se, entre outros fatores, ao bandeirantismo– expedições armadas de particulares que adentravam o sertão para a captura do índio e à "administração" do índio para os trabalhos caseiros e da lavoura, ou seja, pela necessidade e prática de mantê-lo em cativeiro (6).

A descrição, que faz Afonso Arinos sobre o que seriam as primeiras feitorias (7) - "pontos frágeis e móveis, acampamentos de acaso que pouco acima estariam das tribos nômades dos selvagens, paradeiros sem vida cristã, sem nenhum arremedo de vida social ou política" - permite por um lado apreciar a influência do indígena junto aos primeiros colonos portugueses, e, por outro lado, observar o modo depreciativo pelo qual foram avaliados alguns de seus traços culturais. Nesta noção, o indígena é julgado mais severamente que o foi, em épocas precedentes, pelos padres da Companhia de Jesus: um homem imerso na desordem, alheio à qualquer regulação, sem território definido, um errante, um selvagem. Salva-se no entanto em tal declaração o espírito arredio do indígena, contrário a todo vínculo de permanência, próprio das sociedades urbanas.

No caso do Rio de Janeiro, as relações com os povos indígenas, não nos são seguramente fornecidas. Sabemos da existência de uma feitoria portuguesa no local, abrigando alguns colonos, cujos edifícios, poucos, teriam sido construídos com materiais locais e técnicas utilizadas pelos índios. Material e técnica, aliás, rejeitados por Estácio de Sá para a fundação da cidade do Rio de Janeiro, que entregue às batalhas com os franceses, evitou tudo o que lhe parecia frágil e de fácil combustão.

Talvez não seja impróprio afirmar que o espírito de franca rejeição das tribos locais tanto aos portugueses no momento da fundação do Rio de Janeiro, quanto à cidade, aliado ao desejo de fuga ante a ameaça de cativeiro, mantiveram os indígenas para além de seus arrabaldes. De modo que se o indígena interagiu com a cidade, é porque o encontro foi intermediado pelo campo, lá, nas chácaras e fazendas que o mantinham como escravo, que na cidade propriamente dita. Esta interação mostrou-se proveitosa ao colono já que os índios introduziram alimentos novos, como o nhame e a mandioca, nas refeições decerto magra,do português da época. De mesmo que foi assimilado alguns de seus costumes, como o uso do fumo e o da rede, para repouso e dormida, equipamento ainda largamente utilizado no nordeste brasileiro. Tais costumes e hábitos se perderam no Rio de Janeiro colonial, sendo hoje praticamente banidos de suas residências urbanas. Ademais, por mais que tenham sido fortes estas influências, elas interfeririam no cotidiano da cidade e não em sua aparência.

O escravo negro

Ao contrário do indígena, cuja presença, era apenas perceptível no homem do lugar, em seu linguajar e nas refeições, o escravo negro fazia parte predominante da paisagem colonial, fosse ela rural ou urbana. No caso do Rio de Janeiro, que se figura como principal porto da chegada desses povos, como mercadoria e de sua comercialização, ela será ostensiva e intensa (8). Tal presença é plenamente testemunhada, seja pelos relatos, seja pelas ilustrações feitas da cidade, por artistas e viajantes estrangeiros, posteriormente publicados.

Enquanto o escravo índio estava sujeito às restrições de toda ordem , o negro não gozava de nenhum direito, confiado apenas à brandura problemática dos senhores. Assim como o engenho de açúcar, com suas promessas de lucros avultados, provido de financiamentos largos, teve sua base sobre o escravo negro, encarregado sobretudo da lavoura, a cidade criou um sistema onde o uso de seus edifícios e os serviços urbanos nele igualmente se apoiava. Se tal sistema não oferecia grandes lucros, como nas lavouras, garantia à burguesia local uma vida doméstica ligada ao ócio e, isenta do esforço empreendido pelos trabalho físico, avessa a qualquer empreendimento.

A influência do escravo na cidade foi enorme, tanto em sua vida doméstica, quanto em sua arquitetura, influindo ainda na organização espacial da cidade. "Para tudo servia o escravo. É sempre a sua presença que resolve os problemas de bilhas d'água, dos barris de esgotos (os 'tigres') ou do lixo, especialmente nos sobrados mais altos das áreas centrais, que chegavam a alcançar quatro, cinco, ou mesmo seis pavimentos(9)". Esta dependência do trabalho escravo no meio urbano, ligava-se, ao nível tecnológico primitivo, em que se encontravam os serviços urbanos e as construções dos edifícios.

O africano, de outro lado, era incapaz de servir nos moldes que exigiam habilitação técnica, quer nos engenhos e nas minas, quer nas cidades ou no transporte. Dessas origens – o lavrador dependente e a mão-de-obra especializada – se formará a tênue classe média da colônia, com oportunidades adversas de ascensão, cujo status social se degradaria com o trabalho manual, reservado à população servil. Ademais, como tão bem explana Sérgio Buarque de Holanda, "no Brasil, a organização dos ofícios segundo moldes trazidos do reino teve seus efeitos perturbados pelas condições dominantes: preponderância absorvente do trabalho escravo, indústria caseira, capaz de garantir relativa independência aos ricos" o que segundo o autor entravava, "o comércio, e, finalmente, escassez de artífices livres na maior parte das vilas e cidades(10)".

Quantos aos artífices livres, faz-se necessário moderar o caráter especializado dos serviços oferecidos na colônia, tendo em vista, como ocorria na maioria das vezes, o grau de improviso no empreendimento dos ofícios e seu pouco ou nenhum compromisso com os regimentos das corporações. Devemos ajuntar ainda, a existência de uma certa hierarquia dos ofícios, testemunhada pela discriminação sofrida por alguns tipos de atividades manuais desempenhadas na cidade colonial.

Os povos livres de Portugal

Se os povos dominados se encontram referenciados numa generalidade desesperante, o dominador, é, ainda que em sentido inverso, estigmatizado, como branco ou europeu. Cada nação européia trazia uma herança cultural formada de diversos povos, nem sempre brancos, nem europeus. Tanto Portugal, quanto a Espanha da época possuíam uma forte herança mourisca. Lisboa no princípio do século XVI, era "uma cidade semi-oriental, com suas lojas cheias de pimenta da Índia, de ouro de Sofala, de marfim da Guiné (...) de marlotas de Constantinopla (...) com seus mouros de aljuba branca e braga de ferro nas pernas, com suas janelas cobertas de guademecins, com seus sobrados de gelosias e de chaminés mudéjares (11)."Assim como "nos castelos, onde não havia uma torre, uma vigia, um palanque, uma cisterna que não recordasse a mão-de-obra do artista mouro".

Comentando sobre os relatos de viagens, registrados nos Jornais das Viagens pela Capitania de São Paulo, Estêvão Pinto comenta, ainda que foi detectado na população da época, "(...)os tipos de características antropológicas fortemente mouriscas. Talvez os dos tipo clássico: pele escura, testa alta, olhos brilhantes, nariz um pouco recurvado, supercílios negros e destacados.". O que valeu o viajante M. Francisco de Andrade escrever:

"Não devo passar em silêncio do que vi nesta digressão de homens, cuja catadura era mourisca sem tirar nem pôr; se em Portugal se vierem com o tempo a perder pela mistura da raça as feições mouriscas, que nos são tão próprias, para as fazer reviver será bom recorrer a esta capitania, onde as há em toda sua pureza (12)."


Estudando a influência árabe na formação do povo brasileiro, o francês Dabané (13) acredita que no primeiro século da colonização, a população emigrada de Portugal era principalmente arabizada. Gente, segundo ele, da "Extremadura espanhola, da Andaluzia, do Alentejo, do Algarves. A plebe moçárabe dos ferreiros, dos sapateiros, dos pedreiros, dos carpinteiros." A despeito da herança medieval, árabe muçulmana, Portugal trazia igualmente os ideais e os valores, inclusive estéticos, da cultura renascentista, cultivados sobretudo nas chamadas classes superiores, de forte influência italiana (14). Nestas se incluem os fidalgos, trazidos para exercerem os cargos administrativos e alguns homens de ciência, para a execução de serviços especializados na colônia, tais os médicos e engenheiros militares, requeridos para os trabalhos de defesa e fortificação, assim como o das letras e artes, podendo aqui serem incluidos, os escrivães e os religiosos, sobretudo os jesuítas.

Devemos igualmente adicionar à bagagem portuguesa, uma forte tradição cristã, influenciada pelo poder da Igreja Romana, ainda mandatária dos tribunais da Santa Inquisição. Trata-se de uma igreja militante, promotora da Contra-Reforma que dará um formidável impulso à arte e a um vasto programa de construção de mosteiros, colégios e igrejas. As ordens religiosas é um poder na colônia que interfere de modo direto tanto no povoamento, quanto na organização espacial da cidade, assim como na estética de seus edifícios. No Brasil, o melhores e mais autênticos exemplos da chamada arte barroca é dada pela arquitetura sacra que tem no século XVIII seu apogeu.

É sob a luz desses múltiplos e antagônicos aspectos, os de uma cultura rica e variada do português quinhentista, que fluirá o traçado urbano da cidade colonial, sobretudo os das primeiras gerações, tanto quanto a sua arquitetura. As contradições e antagonismos, muitas vezes aparentes na cidade colonial, serão pouco a pouco eliminadas, seja pela força de leis, seja pela aquisição de novos gostos e hábitos. Pela imposição e adoção de outras nações e culturas, sobretudo pela presença de alguns estrangeiros na cidade.
 

Os construtores da cidade do Rio de Janeiro

A influência moura se deu na arquitetura colonial, através da planta e da disposição dos cômodos, em alcovas, na arquitetura civil da colônia, tanto urbana quanto rural. Assim como no uso de certos elementos arquitetônicos tais os muxarabis (15) e as gelosias hoje totalmente extintos na cidade, só podem ser vistos nas ilustrações feitas por Washt Rodriguese, Debret, Chamberlain e Maria Graham (16). Ainda que considerados como boas soluções ao clima úmido e ensolarado do país, pois que deixa passar o vento e protege da incidência direta da luz solar, estes dois elementos desapareceram da paisagem urbana brasileira logo nas primeiras décadas do século XIX.

Os traços mouriscos na arquitetura da cidade, de tão visível, foram prontamente reconhecida por não especialistas, tal Gilberto Freire: "Os artífices coloniais a quem deve o Brasil o traçado de suas primeiras habitações, igrejas, fontes e portões de interesse artístico foram homens criados dentro da tradição mourisca (17)." É preciso, entretanto, ponderar tal afirmação sobre o argumento de que a maior parte dos edifícios existentes do período colonial é de autoria desconhecida, constituindo-se num dos principais problemas ao estudo da arquitetura brasileira.

Para Robert Smith, baseando-se no estudo de Adrien Balbi (18) sobre Portugal e Algarves, o anonimato estaria vinculado ao não reconhecimento por parte dos portugueses da profissão de arquitetos, preferindo que os arquitetos militares monopolizassem o ramo civil da arquitetura, restringindo-lhe o ensino às escolas de engenharia militar. O fato, segundo o autor, explicaria por um lado a escassez de obras de qualidades estéticas, ou "(...) a similitude e falta de imaginação características da maioria dos edifícios da autoria de arquitetos militares. As personalidades dos autores desapareceram no emaranhado da burocracia militar", como por outro lado a sua banalidade e profusão pois que " (...)com raras exceções tiveram como rivais os mestres pedreiros e carpinteiros, homens de pouco saber e sem outra habilidade a não ser a de simples artífices (19)".

Construtores de muros e fortificações, mas também de praças, chafarizes e toda sorte de edifícios, públicos e privados, os engenheiros militares exercerão na colônia, o mesmo trabalho que caberia aos arquitetos, a ponto de serem por eles confundidos. Assim, para R. Smith (20),

"aos arquitetos militares portugueses residentes no Brasil, alguns deles formados nas Aulas de Fortificações e Artilharia fundadas na cidade do Salvador em 1699 e no Rio de Janeiro em 1735, coube a tarefa de projetar e construir toda a sorte de edifícios civis".


Tais homens, possuiam tamanha importância e prestígio na sociedade colonial, que geralmente ascendiam aos postos políticos dos mais elevados, tal o de governadores das Capitanias e Províncias. No caso do Rio de Janeiro, o melhor exemplo é dado pelo engenheiro militar José Fernandes Pinto Alpoim, que tendo contribuindo à arquitetura da cidade através de inúmeros projetos, foi ainda, em 1763, um de seus governadores em exercício (21).
 

De cidadela à cidade: a descida para várzea

A descida da cidade do Morro de São Januário (ou Morro do Castelo) para várzea começou ainda no século XVI, quando foram ali erguidas as ermidas de São José, Santa Luzia, Nossa Senhora do Ó e Ajuda, em torno das quais se foi se localizando o casario. Do mesmo período data o Hospício da Misericórdia, localizado na praia, que em 1582 já atendia as vítimas da epidemia que assomou a armada de Valdez.

Começada no sopé do Morro (Rua da Misericórdia) a ocupação se deu sob as restingas arenosas, irradiando-se em dois principais rumos: um, rumo ao Boqueirão ( atual Lapa), e outro, o principal, rumo à várzea de Nossa Senhora de Ó (atual Praça 15) seguindo pela praia de Manuel de Brito (Rua Direita, hoje 1º de março) até o morro de São Bento , formando "uma linha arqueada que serviu de base ao traçado das ruas (22)". Em 1618, a Cidade da Várzea já seria extensa, dez anos depois o povoamento já atingiria São Cristóvão, Inhaúma, Irajá e até Magé e São Gonçalo, do outro lado da baía. Era entretanto, pouco ocupada, com dez ou doze casas apenas, baixas e escuras com ruas não pavimentadas (23).

A partir de 1623 os rumores de próxima invasão holandesa, provocam pânico e um retrocesso na descida para a várzea. Os muros da Cidadela do Castelo são refeitos e as fortificações da barra sã reforçadas; ordena-se, através de Carta Régia, que não se faça obra nem casa fora da fortificação e que a Cadeia e a Casa da Câmara se conservem no sítio alto do morro. Até que, a partir de 1637, Salvador Correia de Sá assume a governança e, sem respeito às proibições, começa a instalar os moradores na cidade "em baixo". De mesmo que em 1633 se ordena a construção de uma Casa de Câmara e Cadeia na várzea, abandonando a antiga que em 1631 os membros do Conselho da cidade dizem estar "muita velha e num deserto (24)". Entra em declínio a cidadela ainda nos meados do século XVII. Seu estado de abandono é tal, que em 1656, "só as ruínas de casas e a grande igreja que ainda permanece testemunham a existência (25)"
 

A cidade colonial na gestão dos governadores: Planos e traçados

A possível influência dos engenheiros Antonelli e Lescolles no traçado da cidade

No Castelo, o traçado das ruas era irregular, mas na Várzea, desde o primeiro século e começo do segundo, já se fala em "cordeamento", "demarcação e há uma relativa regularidade, o que nos alerta Paulo Santos "a que talvez não fosse estranha a presença do engenheiro Batista Antonelli, italiano a serviço do reino unido de Espanha e Portugal, maior figura de fortificador da América (26)". O engenheiro fazia parte da armada de Diego Valdez, que trazia 70 artífices (pedreiros carpinteiros, aparelhadores, etc), permanecendo no Rio em 1582, durante sete meses. No Rio, Antonelli, além de outras atividades, fez projetos de obras portuárias que enviou à Madri ; em 1604, de volta à Espanha, foi mandado à América fazer o levantamento de todos os portos que tinha fortificado, entre eles o do Rio de Janeiro.

Outro engenheiro que deve ter exercido influência na cidade, o engenheiro francês Michel Lescolles (27), que em 1649, toma posse na Câmara do Rio de Janeiro, encarregado pelo conde de Castelo Melhor de fazer a planta da cidade. Teria feito sete. Pouco se sabe da contribuição de Lescolles para o traçado e os edifícios da cidade, supõe-se que ela foi ativa, tanto pela encomenda quanto pelo tempo em que lá trabalhou.

Em 1680, com a fundação da colônia do Sacramento, situada na extremidade sul do território, o Rio cresce de importância estratégica; e na última década do século, com a descoberta de ouro nas Minas, adquire relevo econômico como porto de embarque do metal para a Metrópole. A cidade passa a ser alvo da cobiça de corsários, principalmente da França, que estava em luta com Portugal (devido à sucessão do trono da Espanha). Para fazer frente ao perigo, reforçam-se as defesas da cidade e cria-se nela uma Aula de Fortificaçâo (1699), o que não impede a invasão de Du Clerc (1710) e a conquista de Du Guay Trouin (1711).

O Plano de João Massé

Para corrigir o sistema de fortificação da cidade, a metrópole envia um compatriota dos invasores, o Brigadeiro João Massé (28), que concebe, pela banda de terra uma Muralha com cortina de traçado, escalonado oblíquo e revelim do lado do mar e tenalha com rivelim do lado da terra. Elaborando ainda o mapa da cidade (29). O muro seria abandonado ao tempo de Gomes Freire de Andrade e em 1750, ele já aparece ultrapassado pelas ruas da carioca, Sete de Setembro, Alfândega, São Pedro e Largo de São Francisco.

Outro engenheiro, o Brigadeiro José Fernandes Pinto Alpoim, braço direito de Gomes Freire (30), remodela o Largo do Carmo ao centro do qual foi construído um chafariz de bacia circular, vindo do Reino, de autoria do engenheiro da metrópole Charles Martel, obra que falaremos mais adiante.

Iniciativas em prol da formação de uma elite local

A criação de Escolas e Academias, foi uma prática, tanto na cidade de Salvador quanto na do Rio de Janeiro, menos pelo motivo de terem sido capitais do governo colonial que pelo espírito empreendedor de seus administradores Rio de Janeiro fundou duas Academias literárias que, embora efêmeras, foram as primeiras da colônia, no tempo ainda em que Salvador era a capital (31). O administrador da cidade era Gomes Freire De Andrade (1733-1763) (32) reconhecidamente um homem dinâmico, que estimulou ainda a fundação da primeira topografia do país. À semelhança das Academias, as Aulas de Fortificação e Artilharia foram fundadas na cidade pelo governador antes do mesmo solicitar à coroa, autorização prévia para seu funcionamento. Já em período anterior, no governo de Aires Saldanha (1719-1725) o aqueduto e chafariz da carioca é construído sem licença prévia da metrópole.

Germes das futuras Escolas Politécnicas e Universidades, tanto as Academias quanto as Escolas tiveram por mérito constituir de modo precoce, uma relativa independência da colônia com relação à Portugal. Tal autonomia, no entanto, não era vista de modo positivo pela metrópole que temia a perda de reconhecimento de sua autoridade. Assim, mesmo havendo contingentes profissionais adequados à demanda da época, tanto quanto capazes de idealizarem e empreenderem trabalhos com igual talento que os da metrópole, alguns serviços e obras são planejados e executados por outros profissionais, sob indicação direta do monarca, em Lisboa . É o que parece nos demonstrar os registros nas câmaras municipais da cidade (33).

Dos inúmeros casos que atesta uma atitude perversa por parte da metrópole à colônia, figura-se o caso do projeto do Chafariz do Largo do Carmo (antigo terreiro da polé, atual praça 15). O projeto, da autoria do engenheiro Alpoim, preconizada para sua execução em pedra do país, depois de aprovado pela câmara da cidade, é enviado ao Conselho Ultramarino, que desaprovando o projeto, tanto em sua solução técnica quanto em sua estética, impõe o nome de outro engenheiro, sob aprovação do Rei, o do sargento-mor Charles Martel, residente no reino, considerado como o "que se tinha de melhor no ramo da engenharia (34)". A Resolução da corte portuguesa, como nos conta Noronha Santos, surpreendera a governança da capitania, pois que tanto o Governador quanto a Câmara tinham o engenheiro Alpoim na mais alta consideração. O chafariz seria depois não apenas planejado em Lisboa mas lá confeccionado, em pedra-de-lioz, sendo apenas montado em suas peças pelo engenheiro da cidade.

A atitude, claramente ambígua da metrópole diante da colônia, desprezando, por um lado o que ela podia oferecer como recursos humanos e materiais, e por outro lado, oferecendo-lhe os préstimos de serviços estimados como de melhor qualidade, atesta o estado permanente de vigília sobre o território, assim como renova, de modo unívoco, sua tutela sobre assuntos de ordem estética e ideológica. Ela ilustra, igualmente, o estado de tensão psicológica, pelo qual a metrópole atinha a colônia nas rédeas de sua dependência
 

A cidade capital do Brasil colonial - a gestão dos vice-reis (1763)

Novos planos para a cidade: Vieira Leão, Funck, Bôhm, Sá e Faria e Róscio

Durante o período do Vice-reinado o Sargento-mor Manuel Vieira Leão é incumbido, pelo conde da Cunha (1763–1767), de levantar o mapa "Capitania do Rio de Janeiro" considerado o mais importante da cartografia colonial. Elaborando o Levantamento da Cidade (1767), que Paulo Santos acredita ter sido feita para servir aos projetos de fortificação que depois se fizeram "e no qual não aparece nenhuma indicação de Muralha, como se já não existissem remanescentes da que iniciara João Massé (35)."

Não desejando os serviços de Alpoim, Conde da Cunha manda vir o Tenente General Henrique de Bôhm e o Brigadeiro Jacques Funck, um "Plano de fortificação", elaborado pelo segundo (1768). Completa-o o Marquês de Lavradio (1769-1779), que constroe ou reforma com cuidadosos estudos de tiros cruzados, quase todas as fortificações da Cidade, incumbindo o Brigadeiro Funck, o Coronel José Custódio Sá e faria e o sargento mor Franscisco João Roscio de apresentar cada um sua "planta de defesa da Cidade".

A planta preferida é a de Roscio, chamada Trincheira ou Fortificação", sendo de todas, a mais complexa. Ela deixava do lado de dentro "os morros do Castelo, S.Bento, Conceição, S.António e toda a várzea, só ficando do lado de fora o Valongo, a Capela de Santana (que deu o nome ao campo, hoje Praça da República) e os seminários da Lapa e Ajuda, e incluindo três redutos de quatro pontas em Stª Teresa, S. Diogo e na Praia (36)." Excetuando as obras de defesa, essas plantas parecem simples levantamentos, sem a inclusão de um projeto urbanístico.

As obras urbanísticas viriam depois, "aterramento de pântanos, construção de pontes, calçamento de ruas centrais, proibição do uso das gelosias ou urupemas, assim como as de incentivo à agricultura, à indústria, ao ensino, às letras e artes, aos estudos científicos, ao teatro, que deram relevo a essa fase do Vice-Reinado (37)." Iniciando uma franca modernização da cidade ainda no século XVIII.

As obras urbanísticas de higienismo e engenharia ( prenúncios da modernidade?)

Luís de Vasconcelos (1779-1790) (38),dispondo de grandes engenheiros, como Funck, Sá e Faria e Roscio, além de obras de arquitetura militar, civil e religiosa, realizou as urbanísticas: construção, à imitação do de Lisboa, de um cais de cantaria com imponentes escadas de embarque e torneiras para aguadas das embarcações, obra de Funck; calçamento de passagens no Largo do Carmo e substituição do chafariz circular existente no centro dele que estava arruinado e por sua localização impedia as paradas militares a que tanto se prestava o local, por outro chafariz, construído à beira do cais, de base quadrada, obra de Mestre Valentim; desmonte do Morro das Mangueiras para aterramento da Lagoa do Boqueirão e construção ali das ruas do Passeio e das Belas artes (Marrecas) e de um Passeio ajardinado e arborizado cujo traçado é atribuído à Mestre Valentim.

Também o Conde de Resende (39) (1790-1801), além de fazer levantamento do litoral, realizou obras de urbanização: aterra os campos da Lampadoza e Sant'Ana com a contribuição dos próprios moradores, o prolongamento do cais do Largo do Palácio pela Praia de D. Manuel, abertura de novas ruas, calçamento de outras, extensão e reforma do abastecimento de água e iluminação da cidade. Esta, antes limitada às lamparinas votivas dos oratórios que havia em grande número e aos lampiões nas ruas principais e dois nas secundárias.

Em 1792 o viajante Stauton, de passagem pela Guanabara (hoje estado do Rio de Janeiro), anotava os melhoramentos da Cidade "o uso da pedra lavrada nas edificações; o traçado da ruas, geralmente rectas, bem pavimentadas e providas de passeios, etc.; e, se muitas delas eram estreitas, isso lhe parecia um benefício num país de clima quente, porque proporcionava sombra (40)."

Enfim, durante o secúlo XVIII são tomadas medidas de higiene pública:

"(...) aterram-se os pântanos, constroem-se pontes proibe-se ( Correição da Câmara de 1735) se atirem imundices na Vala e obriga-se se defaçam os monturos e se joguem as sujidades nas lagoas vizinhas; e que os moradores façam à sua custas, na frente de suas casas... e chãos... cinco palmos de calçadas (as quais em Lisboa, em muitos bairros, até depois do Terremoto (1755) continuavam a não existir (J.Ratton); cobre-se com lajões de pedras a Vala (uruguaiana)(...) baixam-se Posturas (1795) estatuindo que Todo o que fizer casas da vala para a cidade, sem sobrado ao menos na frente, e as que sendo térreas se arruinarem no madeiramento ou nas paredes ainda que se não bula nos alicerces, as não poderá reedificar sem fazer ao menos o dito sobrado à frente, (sob) pena de seis mil réis e demolição da obra, compreendido na mesma o mestre dela (41)."
Estas medidas vão atingir as gelosias ou urupemas, eliminando-as das fachadas. Seu fim foi decretado com a chegada de produtos industriais ingleses tais as grades de ferro e os vidros (42), ajudados pelas medidas de proibição oficiais de se usarem nas portas e janelas das casas.

A influência da Inglaterra, intermediada por Portugal, cresce na última década do século XVIII, sendo perceptível nos arrabaldes da cidade, algumas chácaras "ao gosto inglês". A época coincide com o interesse em Portugal na arquitetura e ornamentação inglesa e do estabelecimento de súditos britânicos em várias partes do país. A ponto que em 1766, "os negociantes ingleses pareceram a Charles Demouriez tão influentes em Lisboa que ele chamou a cidade de 'colonie anglaise (43)' ".

Ao findar do século XVIII, a cidade tem 43.376 habitantes (1799) e das Lojas relacionadas com a construção, 24 são de ferragens, 12 de Vidros e louças finas, 12 de entalhadores, 64 de marceneiros, 25 de serralheiros e 32 de pintores. Onde

"desenvolvem-se bons preceitos de traçado urbano multiplicando-se os largos e praças que, excluída a do Carmo, praticamente não existiam no princípio do século (...) expande-se o arruamento: na zona Norte da cidade esboça-se o que veio a ser depois a Cidade Nova; e, na zona Sul, ganha o Catete, Laranjeiras, Botafogo e Gávea (44)".


É o período mais substancialmente rico, onde germina uma cultura autóctone, tal a Escola Fluminense de Pintura, onde alguns de seus integrantes, tal o pintor Leandro Joaquim (45), que, junto aos artistas locais, Francisco dos Santos Xavier (Xavier das Conchas) e Francisco Xavier Cardoso (Xavier dos pássaros), integra a equipe encarregada da decoração dos dois pavilhões, erguidos no Passeio Público. Este último, construído sob inspiração do Passeio Público de Lisboa, projetado em 1764 por Reinaldo Manuel (sucessor de Martel na Casa do Risco), cuja traça —como diria Paulo Santos—, "de um geometrismo elementar e ingênuo", seria atribuída à Valentim. Tais artistas, se não produzem obras alheias à influência da metrópole, possuem o mérito de expressar-se oficialmente, interferindo diretamente, no espaço da cidade e em seu público. Tais expressões entretanto, se intimidarão diante da revolução cultural empreendida pelo Príncipe Regente de Portugal na cidade .
 

A cidade capital do reino - o período Imperial a grande transformação

Com a chegada à cidade, em janeiro de 1808, da numerosa armada que trouxe a corte portuguesa ao Brasil – em fuga ante a invasão napoleônica-, a cidade, tanto em sua forma como em seu conteúdo, se transformaria profundamente. A comitiva, em que constava o Príncipe D. João e a Família Real, contava cerca de 10.000 pessoas. Chegava com o monarca ainda "um valiosíssimo material: os arquivos; os milhares de volumes da biblioteca famosa de Barbosa Machado; o prelo e os tipos, ainda encaixotados, mandados vir de Londres para o Ministério dos Estrangeiros de Lisboa, as jóias da Coroa, baixelas; etc (46)."

Na época Rio de Janeiro contava com "uns 50 ou 60.000 habitantes" , à ela se deu, à custa de grandes reboliços e sacrifícios de seus moradores, a tarefa de acomodar de modo improvisado, toda essa gente. Alguns se acomodaram nos principais edifícios administrativos e religiosos, que se ligaram, alguns, por passadiços. Para os demais, foram requisitadas as casas melhores do centro da cidade, "às ruas direita, detrás do Carmo, Quitanda, Detrás do Hospício, da Guarda Velha; no Passeio Público e Lapa; na Glória; no Catete. Moradores houve que as cederam de boa vontade outros à força, mediante intimação do Juiz aposentador (47)".

A este sujeito, revela Paulo Santos, tem-se o depoimento de odiosos episódios, relatados pelos próprios historiadores portugueses: " O Conde de Belmonte, por exemplo morou 10 anos numa casa nova, ainda não ocupada pelo proprietário apropriando-se também dos escravos (A. C.d'A.Guimarães); a duquesa de Cadaval, 10 ou 12 anos numa chácara na Lapa , sem pagar aluguel (Tobias Monteiro) " e, dando a palavra ao historiador Tarquino, sabemos que " houve quem sublocasse residências tomadas a título de aposentadoria e até o caso assombroso do senhorio tornar-se inquilino do seu inquilino (48)".

A requisição das casas contra a vontade de seus proprietários, foi o primeiro incidente sério, que provocaram revoltas da população, atenuadas, entretanto pelas inúmeras reformas e leis liberais acompanhadas da criação de toda uma aparelhagem capaz de transformar a modesta capital da Colônia na sede digna de uma Monarquia européia.

Dois decretos assinados pelo príncipe D. João recém-chegado à cidade, nos permite avaliar a distância a que chegara o habitante e a cidade do Rio de Janeiro dos ideais da metrópole, assim como se produziu, em parte, o choque cultural do encontro. O primeiro deles é o que proíbe as pessoas andarem descalças pelas ruas; o segundo, o que ordena aos proprietários de terrenos vazios na cidade construir fachadas de residências, contíguas às edificações vizinhas, escondendo do transeunte a visão desoladora do vazio dos lotes. A cidade deveria dar —já que não tem— aparência digna de uma capital de reino. A partir de então, todas as medidas tomadas diretamente pelo monarca ou por ele induzida, reafirmarão a cidade do Rio de Janeiro como cenário urbano, ao gosto e à moda da corte portuguesa.

Para abrigar os novos órgãos administrativos, fizeram-se adaptações ou construíram-se edifícios novos. E eles eram muitos: A impressão régia (1808), A Fábrica de pólvora (1808), a Biblioteca real (1811), a Academia Militar, a Academia da Marinha, o Banco do Brasil. Fundaram-se ainda: o jardim Botânico; a Intendência Geral da Polícia; o Conselho de Estado; o Conselho de Fazenda; a Junta de Comércio; a Mesa de Consciência e Ordens; o Desembargo do Poço; a Casa da Suplicação; a Academia de Medicina e Cirurgia ; o Laboratório Farmacêutico; o Instituto Vacínico; a Aula de Comércio, e outros.

Ao mesmo tempo que o monarca providencia a vinda dos artistas franceses e obras de modernização e embelezamento da cidade, sua administração empreende igualmente luta contra o que nela deve ser banido. Assim a ofensiva contra o uso dos muxarabis se iniciou na administração do Intendente Paulo Fernandes Viana., no tempo em que a cidade abrigava o monarca português (49). O príncipe-regente temia por sua segurança nas ruas da cidade, à despeito do que ocorrera em Recife um século antes, quando o Governador Sebastião de Castro e Caldas, em passeio, levou um tiro de bacamarte, partido de uma casa velha da rua das Águas-Verdes, possivelmente, acredita-se, vindo de seu muxarabis. Sobre o impacto da medida de sua destruição, Estévão Pinto faz interessante relato:

"O efeito da destruição das urupemas é que foi surpreendente. Uma espécie de vassourada nos preconceitos (...) A impressão era que se tinham deixado as casas em trajes menores – as mucamas passando de um lado para o outro, os meninos nus pinoteando nas esteiras, as mulheres de roupão aberto e chinelas sem meias..."(50)
Da herança arquitetônica mourisca-portuguesa, trazida pelas gelosias e muxarabis, só os cães ou cachorros de pedras, sobreviveram ao tempo —característicos nos sobrados de Recife e Olinda— mas desaparecidos em Salvador e no Rio de Janeiro. A explicação, podendo residir no fato que as duas cidades, administradas por Vice-Reis e Governadores–gerais, cumpriram rigorosamente a proibição de seu uso, de acordo com as posturas municipais. Outro motivo seria o incômodo trazido por sua utilização, como as gelosias, impedindo o trânsito das ruas (51).

A influência inglesa na arte e na arquitetura, decresce, com a medida da abertura dos portos no início do século, tomada pelo monarca português, sob impacto da presença francesa que invade o comércio, assim como todos os campos do conhecimento. Mais uma vez Portugal propicia o encontro com os estrangeiros, e tal como fizera com os ingleses, a oficializa, sobretudo através da chamada Missão Francesa, cujo atributo maior será o de fundar a Academia de Belas Artes e o ensino da arquitetura desvinculado da engenharia. As academias literárias ajudaram ainda a transposição da França ao Brasil. Das primeiras obras traduzidas para o Brasil, o francês passa a ser língua corrente nas camadas mais abastadas e literatas, concorrendo com o latim e o italiano que até então se falava.

Gilberto Freire, prefaciando as publicações das cartas do engenheiro francês Vauthier, assim apresentava o viajante, contaminado pela admiração (52): "Formado na França, numa França célebre, como a de 1830, por seus matemáticos engenheiros e arquitetos e não apenas por seus poetas, seus socialistas e seus revolucionários românticos", em seguida dizia que ele trazia, chegando ao país nos primeiros anos do Brasil Império, "a vaidade de sua ciência francesa de aluno de pontes-e-calçadas da Politécnica".

A descrição de Vauthier sobre uma visita por ele empreendida a um habitante de Recife da época (53), nos fornece a idéia mais ampla da sociedade de então, onde se vê denunciado de um lado a bagagem cultural do burguês colonial, aberto ao que se passava nas grandes metrópoles européias, —para Vauthier, a frança em ocorrência—, e por outro lado, o hábito português de resguardo familiar e de proteção à intimidade – principalmente o ato de esconder as mulheres dos olhares dos visitantes – tão próprio da cultura muçulmana:

"A casa (...) é de um ricaço. É um homem bem educado, que conhece a Europa, fala um pouco de francês, um pouco de italiano, leu Balzac, Eugène Sue e Paul de Kock e que, sacudindo um pouco os preconceitos nacionais recebe em sua casa a sociedade".


A cidade do Rio de Janeiro, no segundo quartel do século XIX, se caracterizava por uma vida doméstica em que aparecia de modo confluente a assimilação dos dois países estrangeiros. Segundo certos cronistas da época, a mesa e a mobília, assim como os aparelhos de louças e os talheres, eram ingleses, enquanto a comida e o serviço eram à moda francesa, cuja língua entre os convivas era falada fluentemente.

O domínio desta língua estrangeira e sua fluidez passou a ser sinônimo de posição social e de modismo tal, que saindo da intimidade doméstica passou a ser objeto de exibicionismo. Certos estabelecimentos comerciais, tais os Cafés e Confeitarias, inaugurados na cidade como seus similares em Paris, passou a ser ponto de encontro da elite da época, preferido pelos políticos e literatos, que tão logo entrava no recinto, passava a se comunicar em francês. Os escritores aliás, muitos deles, ansiavam em viver e, sobretudo morrer em Paris. Segundo, José Murilo de carvalho, "entrou-se de cheio no espírito francês da Belle époque que teve seu auge na primeira década do século (54).
 

Considerações finais

A cidade colonial com seus escravos, em muito aspectos, não era algo estranho à corte portuguesa. Lisboa, ainda no séc. XV e séculos subsequentes era, como em suas cidades coloniais, uma cidade que dependia igualmente dos serviços dos escravos negros: "todos os serviços eram feitos por negros e mouros cativos , que não se destinguiam de bestas de carga, senão na figura (55)" e "que em Lisboa os escravos e escravas são mais que os portugueses". Então, o que havia de estranhar o monarca português diante do Rio de Janeiro do século XIX, se a cidade guardava-se como algo semelhante à Lisboa dos séculos precedentes?

Em muitos sentidos a formação e transformação da cidade do Rio de Janeiro, parece ser fruto de uma luta constante travada no seio da nobreza e das elites portuguesas em sua reafirmação de identidade em prol de uma europeização. Tal luta, que para alguns se inicia no século XIX com a vinda do monarca português, com a prática dos arquitetos da Missão francesa instituindo o neoclassicismo como arquitetura oficial do país (56), e que para outros se inaugura no século XX no período republicano, com a reforma de Pereira Passos, o "Haussmann brasileiro"(57) de fato se origina com a fundação da cidade. O desejo de ordem e de controle, ainda que não fosse requerido por questões puramente estéticas, era expresso, seja em virtude do sítio e da necessidade de defesa, por uma engenharia militar que científica, era autoridade.

Mas que em qualquer outra cidade colonial, a cidade, por ser capital colonial e real, trava um extraordinária luta, plena de conflitos, que diz respeito à natureza do homem e do sítio. A luta do homem contra a ingratidão de um sítio recortado por morros e pântanos, para torná-lo melhor e habitável, sabendo-se que toda a ação neste sentido implica no risco de vulnerabilidade em suas defesas ou de sua destruição. A luta do homem do lugar contra sua própria natureza, adotando medidas e reformas que tanto extirpavam os traços culturais que lhe forjaram a identidade, quanto lhes permitiam assimilar novos valores culturais.
 

Notas

(1) (Santos, P.1968, p87) de acordo com os registros feitos por Anchieta (1931, p 196-257) Cartas XV e XVI.

(2) Paulo Santos, alude ao documento " Instrumentos dos Serviços de Mem de Sá", com o pormenorizado depoimento de muitas testemunhas, em Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Vol. X XVIII, pp. 129 -218. (Santos, P.,1968, p.88),

(3) Fazenda, 1921-127, p. 426

(4) Padre Antônio Vieira refere-se desse modo ao indígena brasileiro. (Veira, 1964)

(5) O linguísta Aryon Rodrigues, calcula em 1200 as línguas indígenas no século do descobrimento, havendo hoje 180 (Rodrigues, 2000). Ver igualmente Holanda, 1997, p.131.

(6) Sérgio Buarque de Holanda cita inúmeros exemplos, onde, o mais famoso é o encontro do bandeirante Domingos Jorge Velho com o Bispo de Pernambuco, no sítio dos Palmares. "o curioso, - diz o autor -, é que o bandeirante paulista precisasse levar um intérprete, porque tal como afirmava o Bispo, nem falar sabia e 'nem se diferença do mais bárbaro tapuia'. (Holanda, 1997, p. 122-127)

(7) Melo Franco 1944, p.30.

(8) A introdução do escravo negro teria começado em 1540. Em 1583, Anchieta estima que, numa população de 57 mil habitantes, 14 mil seriam escravos negros, na proporção de 24%, que chegará à 50% em torno de 1800. Em três séculos, até a extinção do tráfico, variam as estimativas sobre o volume da importação – entre 15 milhões (Rocha pombo) e 2 e meio milhões. Os números mais aceitos pelos historiadores, a partir de dados discutidos e ponderados por Roberto Simonsen situam-se em torno de 3 milhões e 300 mil. A população escrava tinha crescimento vegetativo negativo, com necessidade de conservar a quantidade com importações crescentes. (Simonsen, 1944)

(9) Reis Filho,1978, p.26.

(10) Holanda,1957, p.58

(11) Pinto,1975, p.51

(12) M. F. Andrade, "Jornais das Viagens pela capitania de São Paulo" citado por Estévão Pinto (1975, p.51)

(13) N.J. Dabané . citado por Estévão Pinto (1975, p.51)

(14) Sobre a influência da cultura romana, moura e renascentista sobre o traçado de cidades portugueses ver Santos, 1968, p. 5-37

(15) Assim define Estévão Pinto os muxarabis: " abalcoado bem saliente, apoiado geralmente em cachorros de pedra. Quase sempre as grades estavam providas de postigos movediços, semelhantes aos pára-ventos.(...). Um processo semelhante ao do crivo ou ao das peneiras indígenas". Quanto as gelosias, no dizer de A. de Saint–Hilaire, "Avançavam um pouco obliquamente para a rua, à maneira de alcovas, abrem-se de cima para baixo e são formadas de varas cruzadas e muito próximas" – Viagem às nascentes do rio São Francisco e pela província de Goiás, I, São Paulo, 1937, p.263. (Pinto, 1975, p.79).

(16) Sobre as ilustrações feitas pelos artistas ver Debret (1940), Maria Graham (s/data) e Estévão Pinto (1975, pp.61-63).

(17) Freyre, 1950, p.24

(18) O estudo de Adrien Balbi a que se refere Smith é Essai statistique sur le royaume de Portugal e d'Algarves, Paris, 1822, v.II,p.183, nota 1.(Smith, 1981, p.181)

(19) Smith, 1981, p.181

(20) Ibídem, p.183

(21) Capela dos Capuchinhos italianos em 1739, edifícios da cadeia e alfândega em 1746, residência dos governadores da capitania . R. Smith, cita ainda outros casos: José da Silva Pais, que parece ter sido o arquiteto do palácio real de Vendas Novas em Portugal (1728-1729), foi governador de Santa Catarina de 1739 a 1749, José Custódio de Sá e Faria foi feito governador do Rio Grande do Sul em 1764. E muitos outros Smith, 1981, p.183

(22) Santos, P., 1968, p.89

(23) Conforme o depoimento de C. R. Boxer, tomado por Paulo Santos (Santos, P., 1968, p.90)

(24) Citado por Santos, 1968, p.90

(25) Depoimento do poeta R. Flecknoe, citado por Paulo Santos. ( Santos, P., 1968, p.89)

(26) Santos, P., 1968, pp-92-93

(27) A planta conhecida dessa fase da evolução da cidade é publicada em 1666 pelo cosmógrafo João Teixeira Albernaz sob o título "Aparência do Rio de Janeiro". (Santos, P., 1968, p.91)

(28) Santos, P., 1968 p.92

(29) Freire, 1914, p. 499 e ss

(30) Sobre o Governo de Gomes Freire ver Freire, 1914, p. 536-649.

(31) São elas, a Academia dos Felizes (1736) a Academia dos Seletos (1752)

(32) Sobre o governo de Gomes Freire de Andrade ver Freire (1914, p536-649)

(33) Santos, N., 1978, p.20

(34) Ibídem, p.17

(35) Santos, P., 1968, p.93

(36) Ibídem, p 94

(37) Ibíd, p.94

(38) Freire, 1914, p. 757-875

(39) Santos, P.,1968, p.95

(40) Citado por Santos, P.,1968, p 96

(41) Santos, P.,1977, p.35

(42) No Brasil, as vidraças só entraram em uso corrente , na última década do século XVIII. Em 1792 ainda não havia no Rio lojas especializadas na venda de vidros. Em 1799 no entanto, já havia nove.(Smith,1981.p.176) "Quantas as janelas de guilhotinas, que requer uso de vidros, foram introduzidas em Portugal por negociantes estrangeiros residentes em Lisboa e no Porto, devem ter-lhe propagado o uso os vidreiros ingleses John Butler e Michael Kelly, da fábrica de vidraças estabelecida por D.João V, no começo do século XVIII em Coina, perto de Lisboa, e Williams Stephens, que, em 1769, obteve licença real para fundar a fábrica de Marinha Grande, ainda em funcionamento. Em 1810 foram contratados operários ingleses para ajudar Francisco Inácio de Sequeira Nobre a instalar na cidade do Salvador a primeira fábrica de vidros do Brasil." ( Smith, 1981, p. 175)

(43) Smith, 1975, p.187.

(44) Santos, P., 1977, p.35

(45) Ibídem, p.34.

(46) Tal como o descreve Paulo Santos (1977, p.35)

(47) Santos, P., 1977, p.35-36

(48) Citados por Paulo Santos (1977, p.36)

(49) Lima, 1908, p. 90.

(50) Pinto, 1975, p.69.

(51) Assim descreve Estévão Pinto sobre o incômodo das gelosias : "O reverendo R. Walsh, referindo-se à geloisas do Rio de Janeiro, quase que se queixava: janelas que impediam o trânsito das ruas e através dos quais só se viam os olhos negros, os olhos compridos e espichados das mulheres".(Pinto, 197, p.79)

(52) Ver a introdução feita por Gilberto Freire às cartas de Vauthier ( Vauthier, 1981, p. 3)

(53) Vauthier, 1981,p.44

(54) Ver entre outros, Carvalho (1987, p.39)

(55) Holanda, 1995, p.54

(56) Tal como sustenta em tese Gustavo Rocha Peixoto em sua obra (Peixoto, 2000)

(57) Entre outros, ver Maurício Abreu (Abreu, 1988)
 

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