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Scripta Nova.
 Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales.
Universidad de Barcelona [ISSN 1138-9788] 
Nº 94 (82), 1 de agosto de 2001

MIGRACIÓN Y CAMBIO SOCIAL

Número extraordinario dedicado al III Coloquio Internacional de Geocrítica (Actas del Coloquio)

MIGRAÇÃO E MUDANÇA SOCIAL: A INFLUÊNCIA DO MIGRANTE DO SERTÃO NORDESTINO
NO NORTE DO BRASIL

Luiz Cruz Lima
Professor do Mestrado Acadêmico em Geografia
Universidade Estadual do Ceará, Brasil

Ana Lia Farias Vale
Departamento de Geografia - Universidade Federal de Roraima
Mestranda em Geografia na Universidade Estadual do Ceará.


Migração e mudança social: a influência do migrante do Sertão Nordestino no Norte do Brasil (Resumo)

Este artigo apresenta o papel da migração como deslocamento da força-de-trabalho da região do semi-árido para abrir fronteiras na região equatorial, tendo que se adaptar a ambiente, físico e cultural, totalmente diferente. O circuito da migração se faz em trajetórias variadas, o que leva o migrante a múltiplas adversidades, na troca de sua vida de agricultor a explorador de minas, a trabalhador urbano ou a ‘cassaco" na construção de estrada. Destaca o papel do migrante cearense, com sua capacidade de refazer seu lugar, tanto cultural como economicamente, em terras distantes. Daí verifica-se o efeito que a migração exerce sobre o crescimento do capital e da força do trabalho no Estado de Roraima, na região da Amazônia Brasileira,

Palavras-chave: migração / mobilidade espacial do trabalho / crescimento econômico / mudança social e cultural.


Abstract: Migration and social change: influence of the migrant of the Sertão region on the north of Brazil

This paper shows the role that migration represents in the displacement of the work force situated in the semi-arid to settle on the equatorial region, having to adjust to a physical and social environment totally diverse from the one it came from. The migration circuit is built in different trajectories that lead the migrant to multiple adversities when he changes his way of living as an agricultor to be a mine explorer, or an urban worker, or a "cassaco" (rural worker on road construction). It is also pointed out the capacity that the migrant from Ceará State has to remake his native place in distant lands both culturally and economically. Therefrom we analyse the effect of migration on the growth of the capital and work force in the Roraima State located in the Brazilian Amazon Region.

Key words: migration / spacial mobility of work / economic growth / social and cultural change.


O deslocamento de populações de áreas da região Nordeste para as áreas da Amazônia, no Brasil, tem sido bem documentado e desempenha papel proeminente em muitas estratégias de desenvolvimento econômico, do Governo Federal. No entanto, o rápido e desorientado crescimento que se vem observando na Amazônia, principalmente a partir da década de 80, gera dúvidas sobre os benefícios desses deslocamentos maciços de população, dúvidas estas que dizem respeito tanto aos próprios migrantes, como aos que se dedicam ao estudo do desenvolvimento do país.

Uma das evidências dos resultados negativos da transferência de populações refere-se ao elevado ritmo do aumento demográfico, desproporcional ao que os governos implantam em infraestrutura, acarretando problemas já conhecidos pelas comunidades dos grandes centros urbanos do País.

A fim de permitir a formulação sensata de políticas de população e migração, faz-se necessária uma melhor compreensão dos efeitos sócio-culturais e econômicos da intensa entrada de nordestinos e nortistas na região norte. Um número crescente de estudos vem demonstrando que os migrantes não somente são sensíveis a incentivos econômicos, mas que também tendem a elevar suas rendas e a apresentar padrões de rendimentos e de exigências de consumo. No caso aqui tratado, nordestinos têm encontrado meios para se inserir nesse quadro de aceleração econômica, depois de tentativas frustadas em plena Amazônia.

Migração: trajetórias e adversidades

Dados censitários revelam que migrantes interestaduais passam por mais de uma etapa, antes de chegar ao destino registrado no Censo. Quando se trata de regiões de expansão industrial ou da fronteira agrícola, esta percentagem chega a aumentar num nível de quase 50,0%, em alguns estados (1). Em Roraima, pelos dados levantados junto a cearenses, sabemos que muitos deles, antes de saírem com destino a Roraima, já percorreram outros caminhos, até fixarem residência no estado.

Pode-se pensar na hipótese dos migrantes, percorrendo suas trajetórias, passarem por um conjunto de etapas, numa espécie de socialização progressiva, até chegar a um destino final, onde seriam plenamente absorvidos pela economia e sociedade. O emigrante tenderia, no seu destino final, depois de um determinado tempo de residência, a aumentar a sua capacidade de integração no lugar de destino, melhorando o seu nível de educação e ocupação e, consequentemente, a sua renda(2).

Nas décadas de 1980 e 1990, o estado de Roraima, através dos setores administrativos, procurou estabelecer medidas para alavancar seu crescimento econômico, pois com a Constituição de 1988, passou da condição de Território Federal para mais uma unidade administrativa estadual. A implantação de atividades produtivas e de obras públicas favoreceu a forte onda de migração e de fixação dos novos migrantes.

Contudo, apesar do grande poder de atração do estado, Roraima não retinha uma boa parte dos seus imigrantes, ocorrendo a migração de retorno. Muitos foram os migrantes que chegaram a Roraima, mas nem todos foram capazes de superar a seletividade imposta pelos processos sociais e econômicos e foram empurrados para uma migração de retorno ou a uma nova etapa migratória.

A seletividade é um dos componentes intrínsecos das trajetórias migratórias que, como caminhos estruturados socialmente, refletem os inúmeros obstáculos impostos à mobilidade social ascendente pela dinâmica econômica e social no Brasil (3).

As trajetórias e a sua seletividade só podem ser compreendidas se considerarmos o Brasil como um país que cultua a migração, com trajetórias estruturadas e que assumem relevância dentro da dinâmica econômica e social porque existe uma forte cultura ou "tradição migratória".

O impulso a migrar do brasileiro é um fato histórico e faz parte da organização da sociedade e da produção do espaço nacional. "A rigidez da estratificação social no Brasil é tão grande que para "melhorar de vida" ou "ascender socialmente", para uma grande maioria da população, sempre esteve associado à migração ou, melhor ainda, só era possível com a migração. Uma trajetória migratória se fundamenta nesta cultura"(4).

A cultura migratória faz a intermediação entre as trajetórias estruturadas social e economicamente e o nível da decisão individual de migrar. Mesmo que no processo de decisão esteja envolvida uma forma de alienação, em função da ilusão migratória, deve ficar claro que as migrações não são um processo exclusivamente determinado pelas necessidades estruturais da sociedade e da economia e pelas imposições políticas do Estado. Os migrantes não passeiam "inconscientes" pelas trajetórias migratórias, podem até fazê-lo, de um certo modo, em função da ilusão migratória ou da enorme adversidade social no lugar de origem, mas não são, somente, marionetes nas mãos dos desígnios estruturais.

A articulação entre os reservatórios de força de trabalho e os estados ou regiões com maiores oportunidades econômicas, não é só um problema de "excedente demográfico" ou "regiões inóspitas" disponíveis, mas precisamente da capacidade de mobilizá-lo socialmente. Mesmo que o migrante saiba que a sua possibilidade de êxito seja pequena, a motivação é forte, sustentada na tradição e na cultura migratória. Neste sentido, uma trajetória migratória é mais que uma estrada para o migrante, esse passa a ser um caminho social para o qual ele é mobilizado, uma alternativa aberta pela sociedade e sujeita, portanto, aos mesmos crivos das desigualdades sociais, sujeita à mesma seletividade(5).

No Brasil, além da forte tradição migratória, um sistema de difusão de informações possibilita ao indivíduo (ou grupo) se motivarem a migrar, reforça o hábito e o costume da mobilidade espacial. Nem sempre essa dinâmica é prioritária nas vidas desses indivíduos. Não se pode deixar de reconhecer que as ondas migratórias tendem a ser, também, impulsionadas pelos meios de comunicação de massa. Combinados a esses meios, existem as "redes de interação social", através das quais as informações e o "sistema de apoio inicial" no lugar de destino são socializados entre os imigrantes(6).

Exemplo dessas "redes de interação social"é bem demonstrado quando um nordestino migrante encontra um conterrâneo (mesmo que de outro estado da região), recebe-o como um grande e velho conhecido: "Encontrar um conterrâneo é como encontrar uma família, é como encontrar um parente, a gente vai tirando essa sensação só com o tempo, vai começando a ver as pessoas daqui também com essa mesma emoção, com essa mesma utilidade. No começo, quando eu encontrava um cearense no meio da rua, tinha vontade de trazer pra dentro de casa, talvez pra amenizar a saudade, talvez pra falar dos mesmos assuntos, pra dividir as experiências. Agora eu vejo esse fluxo migratório dos cearenses pra cá e pra todas as partes do mundo como uma demonstração de coragem, eu acho que é um pouco muito corajoso pra se ajustar se adaptar nos ambientes, não é muito acomodado, talvez pela própria condição de vida lá no Ceará, pela miséria, pela dificuldade de conseguir ‘as coisa’ com mais facilidade, eles são mais desprendidos, é uma contradição, ao mesmo tempo em que eles são desprendidos pra conquistar novos espaços, permanecem muitos fiéis as suas origens com carinho muito grande as vezes até guardando a esperança de voltar, mesmo que isso não aconteça, mas é uma característica"(7).

Fato como esse imprime na alma da gente brasileira a fixa idéia de apoio, de reencontro com o lugar "deixado", animando o indivíduo a migrar e criar raízes no lugar encontrado. As "promessas" de acesso à propriedade da terra nas regiões de fronteira, como Roraima, foram embutidas numa ideologia migratória ilusória de ascensão social que muitas vezes tinha uma correspondência real; muitos migrantes conseguiam, de fato, ascender socialmente e só assim ela adquiria a força de uma ideologia motivadora e mobilizadora.

Além dos fatores de expulsão nas regiões de origem, a economia, com suas aceleradas taxas de crescimento e altíssima capacidade de geração de emprego, assim como a sociedade se modernizando, criavam um amplo leque de oportunidades que, se não eram plenamente acessíveis a todos os migrantes, devido à seletividade, eram, de fato, reais e possibilitavam o êxito de alguns. Essa realidade, por certo, reforçava o migrante a se estabelecer e firmar-se na terra nova.

Em Roraima existe o fator fronteiriço que pesa na possibilidade maior de ascensão social. Existe um fluxo econômico inerente de fronteiras geopolíticas. As crises econômicas enfrentadas pelos países limítrofes – Brasil/Venezuela - possibilitam a ascensão econômica de um, quando o outro baixa. Lembrando que no final da década de 1980, eram os moradores da cidade de Boa Vista que cruzavam a fronteira com a Venezuela para lá adquirir bens, numa viagem de 180 km, saindo, contudo, viável para o roraimense abastecer o carro e fazer suas compras domésticas, além daqueles que abasteciam seus estabelecimentos comerciais.

Depois de cinco anos, o processo se inverteu e eram os venezuelanos que cortavam a fronteira com o Brasil no município de Pacaraima(8), distante apenas 17 Km. Dessa forma vários comerciantes, em maioria cearense abriram filiais de suas matrizes de Boa Vista em Pacaraima, onde conseguiram retomar o aquecimento da economia do estado.
 

O "Ceará" mora em Roraima

A migração, fenômeno complexo essencialmente social com determinações diversas, apresenta interações particulares com as heterogeneidades de uma formação histórico-social concreta que tende a assumir feições próprias, diferenciadas e com implicações distintas, para os indivíduos ou grupos sociais que a compõem e a caracterizam(9).

A mobilidade populacional, por ser componente demográfico, relacionado às condições históricas das mudanças (social, econômica, estrutural etc.), constitui importante mecanismo de reprodução ou alteração numérica da sociedade. Pode-se medir ou refletir processos que se refletem indiretamente sobre outros processos demográficos ou, diretamente, sobre as relações de classes que determinam a formação e composição do mercado de trabalho de uma região. Na mobilidade da força de trabalho, a migração deixa de ser conseqüência ou reflexo do espaço transformado para atuar como agente de transformação(10).

Se deseja comprovações, a história da produção do espaço de grande parte do Brasil está repleta do papel dos migrantes, especialmente nordestinos, na contextura dos vários ciclos de nossa economia e no surgimento de inúmeros objetos geográficos, como as cidades e os grandes eixos de comunicação.

Os nordestinos são tidos como reserva de mão-de-obra e esses circulam no país, de acordo com a mobilidade do capital, sendo responsáveis por transformações de grande parte do território brasileiro.

Observado o estado de Roraima, considera-se não só o cearense, como todo "bom" nordestino, responsável pela formação de novas territorialidades e novas formas de concepção do uso e do processo de domínio do território de caráter econômico e social. Vale lembrar o conceito de território não deve ser confundido com o de espaço ou de lugar, estando muito ligado à idéia de domínio ou de gestão de uma determinada área. Dessa forma, deve-se ligar sempre a idéia de território à idéia de poder(11), quer se faça referência ao poder público, estatal, quer ao poder das grandes empresas que estendem os seus tentáculos por grandes áreas territoriais, ignorando as fronteiras políticas(12). Isso é notório na região norte do país.

Em Roraima, toda uma carga de influência cultural nordestina é absorvida pela população nativa expressa em nome de estabelecimentos comerciais, nome de bairros, grupos folclóricos, nomes de pessoas etc., havendo dessa forma uma nova territorialização do espaço roraimense, que se modifica através da influência de um povo simples, que conserva valores tradicionais de seus lugares de origem. Ao mesmo tempo observa-se uma reterritorialização, resultante das perversas condições da desterritorialização de vários contingentes de pessoas provenientes dos sertões nordestinos.

As ações das forças impulsionadoras (estrutura social, econômica e fundiária, assentamentos rurais, relações de poder, programas governamentais, desemprego estrutural), e dos atores sociais (latifundiários, promovedores da migração, força de trabalho migrante), são fatores fundamentais, que levam o cearense a migrar.

Entre Ceará e Roraima ocorre uma mobilidade dinâmica, numa correlação de forças. O elo dessa corrente migratória com os fatos políticos, econômicos e sociais que assolam o país é nítido, quando analisadas as crises econômicas, aliadas à seca e à falta de perspectivas econômicas dos jovens que nascem nos municípios da região semi-árida cearense, impulsionando-os à Roraima, através dos agentes sociais (governo, latifúndios) e das "redes de interação social".

Contudo, esses migrantes têm uma característica ímpar: apesar de ter percorrido outras trajetórias migratórias, acabam retornando ao estado de origem para, a partir dali saírem em busca de novas rotas. Esses dados revelam os laços de consangüinidade preservados cearense, mesmo distante de suas raízes, justificando mais uma vez que a migração do cearense é um ato social cultural, mesmo forçado por estímulos externos.

Essa mobilidade entre os dois estados traz novas perspectivas para o Estado de Roraima, com projeções futuras de desenvolvimento, e para os migrantes cearenses, com ascensão social e recuperação da alta estima. Entre os anos 1980 e o ano de 1999 ocorreu um período de elevado crescimento demográfico para Roraima com forte assentamento urbano em Boa Vista e Pacaraima (cidade na fronteira com a Venezuela). Ressalta-se que este último fato se dera em face do êxodo rural dos assentamentos agrícola promovidos pelo Instituto Nacional de Reforma Agrária e pela total pavimentação da BR 174, que liga Manaus à Boa Vista e esta a fronteira internacional, além da transformação do Território Federal em Estado, no final da década de 80.

Mesmo sem o controle da totalidade do fluxo de migrantes, face às diversas modalidades de meios utilizados para se chegar ao Estado (aéreo, fluvial e terrestre), para registro do grande fluxo de migrantes que entraram pela referida BR nos anos de 1996 a 1999 foi montado em 1996, pelo governo estadual, um Centro de Recepção e Triagem em Jundiá, localizado no km 330, da BR 174, no Município de Rorainópolis, no sul do estado, cujo somatório atingiu cerca de 46.393 imigrantes (13). Analisando a procedência dos que foram registrados em Jundiá, por regiões de origem, percebe-se que a Região Norte e a Região Nordeste foram as que forneceram o maior número de pessoas para o Estado de Roraima, 53,1% e 43,4% respectivamente, conforme o quadro 1.
 
 

Quadro 1 
Procedência dos Migrantes de Roraima que entraram pela BR 174 – 1996/1999
Ano 1996 1997 1998 1999 Total
Região Norte 5.186 5.693 7.390 6.372 24.641
Região Nordeste 2.046 4.065 7.708 6.340 20.159
Outras Regiões 455 521 294 322 1.592
Total 7.687 10.279 15.393 13.034 46.393
Adaptado do Relatório da Secretária do Trabalho e Bem-estar Social do Estado de Roraima


Os dados estatísticos nos revelam que o contingente de migrantes, inter e intra-regional, cresce a proporções geométricas, com destaque para o Estado do Maranhão, com 19.192 migrantes, dos 20.159 oriundos da Região Nordeste do País.

O Ceará, apesar de ser o segundo dos estados nordestinos que fornecem migrantes para o estado de Roraima pela BR 174, ele se revela como participante do processo através da via aérea, como podemos atestar em pesquisa de campo. Esse transbordo se faz por meio de parentes alocado em Roraima ou pelos interesses comerciais. Este último meio se consubstancia por futuros patrões (geralmente parentes), através de acordo prévio de vínculo empregatício num período de cinco anos, tendo no final desse período uma passagem de retorno, caso o empregado necessite voltar.

Esse fato pode ser comprovado, nos vários estabelecimentos comerciais de cearenses. Numa das entrevistas com uma funcionária do Bazar Bagaço na cidade de Pacaraima, pode-se perceber esse fato: "Eu trabalhava na Teleceará e fiquei desempregada porque o prefeito que votei perdeu. O irmão do meu marido era gerente do Bazar Bagaço já tinha cinco anos, ai ele foi passear em Coreau em 1998 e trouxe a gente com ele (ela o marido e o irmão), quem pagou as passagens de avião foi o dono do Bazar Bagaço com um contrato verbal de que se a gente passasse cinco anos trabalhando para ele, esse pagaria a passagem de volta.

Tenho uma irmã que não veio por causa do namorado. Porque só não vem de Coreau para Roraima quando tem uma pessoa que atrapalhe (esposa ou esposo, namorado ou namorada, noivo ou noiva) ou se já tem algum empreguinho na cidade, porque o desemprego é muito grande no interior do Ceará"(14).

Além desse fato, os dados do Posto de Triagem do Jundiá deixa bem clara a seguinte pergunta: "qual a procedência"? ao invés de "onde nasceu". Sendo assim, não se pode dizer que todos os que procederam do Pará são paraense, pois já é sabido que muitos cearenses migraram para os estados do Amazonas e Pará onde, na década de 80, intensificou-se a exploração de garimpos de minérios.

O garimpo fora um fator produtivo do espaço roraimense na década de 1980, principal responsável pela migração nesse período. A transição democrática e a elaboração da Constituição Federal nessa década apresentavam-se para alguns, como a conjuntura favorável ao processo de transformação do Território em Estado de Roraima. O período que antecedeu a este processo foi permeado de muitas disputas políticas. Encontrava-se em jogo a possibilidade da conquista do poder, sem a interferência direta do Governo Central.

Os argumentos favoráveis, defendidos por uma parte dos políticos locais, giravam em torno da necessidade de autonomia político - administrativa, à medida que o território apresentava "uma vigorosa expansão na atividade econômica e no quantitativo da sua população" (15). Os argumentos contrários, defendidos por outra parte dos políticos, se baseavam principalmente na falta de condições infra-estruturais necessárias à implementação de uma perspectiva de desenvolvimento para Roraima.

Esses fatos reforçaram os atrativos de Roraima para elevar a corrente migratória, especialmente da região Nordeste. Houve um crescimento significativo da população que passou de 49.885 habitantes em 1970 para 79.159 habitantes em 1980. A taxa média de crescimento populacional de Roraima deste período foi de 6,83% ao ano, a maior apresentada até aquele momento. Pela primeira vez também a população urbana superava a população rural. Em 1980, 61,56% da população concentrava-se nos núcleos urbanos, principalmente na capital de Boa Vista. Os principais motivos desse crescimento foram o incentivo à imigração através dos projetos de assentamento e colonização agrícola, implantados a partir de meados da década de 70 e a descoberta de novos garimpos, principalmente, a partir de 1980 e a total pavimentação da Br 174, que liga Roraima à fronteira com a Venezuela, num extremo e à Manaus no outro.

A atividade mineradora vai se configurar, a partir deste período, no principal atrativo à imigração, mantido durante toda a década de 1980. O resultado deste fluxo migratório refletiu-se na taxa de crescimento demográfico de 10,64%, a maior do Brasil, em 1990. A expansão da atividade de mineração foi conseqüência, de um lado, do esgotamento das jazidas secundárias nos garimpos de outras regiões da Amazônia, principalmente da província garimpeira de Tapajós e Serra Pelada, no Pará; de outro lado, provocado pelo aumento significativo do preço do ouro a partir de 1979. A migração do Ceará para Roraima, na década de 90, tem como fator primordial a mobilidade da força de trabalho favorecida pela pavimentação da BR 174, Manaus - Boa Vista – Pacaraima (município fronteiriço com a Venezuela), além da criação do Estado de Roraima em 1988, já citados anteriormente.

O cearense é bem-vindo em Roraima desde que os primeiros chegaram no local, simbolizando para o nativo uma ligação com o externo num sentido positivo, representando um elo de ligação entre o local e o desenvolvido, o progresso, o novo. Os cearenses, que venceram as barreiras seletivas naturais, em um tempo de espaço relativamente curto, conseguiram ascender socialmente, galgando postos na sociedade local, com reconhecimento e aceitação do nativo.

Muitos são os exemplos de cearenses que em Roraima são respeitados e admirados, tomados como referência. Na política, temos migrantes, chegados nesse período, que alcançaram cargos políticos do alto escalão: a Senadora Marluce Pinto, nascida no município de Jaguaretama; o Vice-Governador do Estado (2000/ 2004) Flamarion Portela de origem do município de Coreaú; o vereador Antônio "Titonho", nascido no município de Crateús, reeleito nesse última eleição.

Entre o Ceará e Roraima existem as chamadas "redes de interação social", através das quais as informações e o "sistema de apoio inicial" ao migrante, como já foi citado anteriormente. O uso desses meios se intenfica entre os cearenses, com o apoio daqueles que galgaram posições de relevância na vida econômica e/ou política da capital ou do Estado. Cada vez mais, Roraima é morada de cearenses.

Não podemos olvidar a migração de massa incentivada pelas políticas de assentamento agrícola do Instituto Nacional Colonização e Reforma Agrária. Esses assentamentos têm resultado em evasão rural após poucos anos de estabelecidos, por questões variadas, entre as quais as relativas à gestão. Em sua maioria, esses assentamentos do INCRA absorvem força-de-trabalho provinda do Maranhão, Pará e Rio Grande do Sul, alimetando o êxodo rural em direção às cidades ou o retorno às suas origens.

A maior incidência de migrantes cearenses da década de 1980 são do município de Crateús dos sertões dos Inhamuns e na década de 1990 são do município de Coreau. A ligação desses migrantes ao local de origem, quese firmaram econômica e socialmente estão em Roraima, é tão forte que se pode perceber nos cartazes de suas lojas, adesivos em seus automóveis e nos nomes fantasias de seus estabelecimentos comerciais. Uma outra característica é a presença da fé religiosa nos santos padroeiros das cidades de origem. Geralmente, as férias são gozadas no período que coincide com a data da festa do santo padroeiro no Ceará.

Em relato feito pelo vereador de Boa Vista, Antônio Francisco Bezerra Marques,conhecido por Titonho, natural de Crateús, percebe-se a angústia e a falta de perspectiva que o agricultor tem no sertão do Ceará. "Eu quando vim passei uns três anos sem sentir saudades de lá, me adaptei muito rápido, já tinha toda a minha família aqui só faltava eu então... Nossa família quebrou totalmente o vínculo com o Ceará vendemos tudo... e era no começo, quando estava começando a grande maioria daquela época vinha pra ficar, com a intenção de ficar, não dava pra vim ver e depois quem sabe voltar, porque era muito caro, a grande maioria vinha de mala e cuia. Há muitos dessedentes de Crateús aqui em Roraima, porque Crateús a agricultura é difícil, tem a concentração de terras, região de coronéis, eu mesmo tinha um padrinho coronel do sertão, os trabalhadores tem dificuldades de trabalhar, meu pai mesmo tinha uma roça num terreno de um tio nosso, tio da minha mãe e meu pai plantava cana, melancia começando a vida dele e de minha mãe ele tinha uma padaria e quando foi com dois anos que ele estava produzindo bem esse nosso tio tomou a terra dele e era porque a gente era da família... Mas o que mais pesa na migração de Crateús para Roraima foram aos primeiros que vinham por atração dos parentes"(16).

Essas declarações do vereador Titonho revelam como se pode reconstruir o lugar deixado: somente com a reunião, a congregação dos entes queridos, a quem se pode confirar e em quem se apoia para conquista do futuro na nova terra. É o caso dos "primeiros que vinham...". Isso reforça o que dissemos antes sobre os laços de consanguidade que o cearense consegue preservar.

O cantor George Farias, nascido em Fortaleza, conseguiu conquistar espaço na música do Estado, após 10 anos morando em Roraima. Em seu repertório, músicas e letras de compositores cearenses, com público cativo aos shows que faz nos bares à noite. "Tinha muita gente vindo do Ceará para o Norte, porque aqui era um lugar que estava crescendo, todo um horizonte pela frente e era fácil de conseguir emprego e as pessoas que vinham pra cá geralmente eram pessoas sem formação nenhuma, pessoas do campo, pessoas que não tinham conhecimento vasto, sem estudo e essas pessoas foram quem formaram a consciência aqui, o que é hoje o Estado e essas pessoas que estavam querendo ajudar Roraima a crescer na verdade eles estavam querendo se ajudar, porque eles estavam fugindo da seca, da fome, do desemprego que o nordeste até hoje tem. A oportunidade de trabalho tem em qualquer canto, a variante vai na questão da formação, por menor que seja formação de uma determinada pessoa, o mínimo que ela tenha aprendido em casa com os pais ou numa escola, ela se emprega fácil em qualquer lugar. Em Roraima, a carência de mão-de-obra especializada fazia com que as pessoas, os cearenses, que aqui chegassem com o mínimo de formação conseguisse um emprego. Hoje a migração de cearenses ocorre de forma diferente, no Século XXI as pessoas já chegam sabendo onde vão chegar, o que irão comer. Há duas décadas atrás, os migrantes não sabiam muito bem o que iriam encontrar, Boa Vista, Roraima muito longe, outra parte depois do Amazonas. Não sabiam com quem iam encontrar, sabiam apenas que tinha ouro, diamante, a idéia era que aqui tudo ia ser mais fácil, não sei que ponto de vista seria mais fácil, mas tinha umas certas facilidades.

Achavam que a cidade não existia que era só maloca, que tinha índio andando na rua. Hoje... Vem com casa garantida, terreno garantido, uma cesta básica garantida, e quando chega aqui é tudo outra realidade, essa que está chegando hoje não tem formação profissional e quem chega com uma formação se emprega, tem garantido um emprego tanto no governo como em empresas privadas e chega sempre com o ar de que é o colonizador, achando que sabe tudo e quando chega aqui ele não sabe de nada, o conhecimento que ele tem serve muito bem para ele lá onde ele estava; aqui o conhecimento dele é meio inútil, ele vai ter que adaptar o conhecimento dele a realidade de Roraima hoje"(17).

Farias nos dá a noção das adversidades dos que chegaram ontem, quando ainda era possível garantia. Ele mesmo, como artista, viera trazer um pedaço da cultura e da alma do sertanejo, o cantar, como lenitivo de quem deixa sua terra e sua cultura, porquanto agora onde chega "é tudo outra realidade". Cada um tem que "adaptar o conhecimento dele à realidade de Roraima hoje".

Evidente que a realidade de Roraima teve um grande sobressalto. Em apenas duas décadas (1980-2000), agregam-se 140.000 habitantes aos 180.000 existentes. A capital Boa Vista é um centro urbano de 200.000 habitantes, quatro vezes o que era em 1980. Nesta década, somente um município (Normandia) detinha uma população acima de 7.000 habitantes, enquanto hoje são seis municípios, dos quais quatro têm mais de 10.000 habitantes. Mesmo assim, a Capital ainda mantem-se com, aproximadamente, dois terços da população do Estado. O que nos fala o quadro 2 é muito significativo para compreender o processo da produção do espaço com a grande contribuição de imigrantes, especialmente de nordestinos do Ceará.
 
 

Quadro 2 
População do Estado de Roraima
População 

Municípios

Ano
1980 1985 1990 1995 1996 1997 1998 1999 2000
Amajari         4.623 4.771 4.896 5.020 5.299
Alto Alegr 3.475 5.254 8.865 13.705 13.771 14.409 14.947 15.486 17.886
Boa Vista 51.662 68.306 115.247 174.092 153.936 158.868 163.024 167.185 200.383
Bonfim 4.524 4.533 7.648 11.075 5.660 6.059 6.396 6.733 9.337
Cantá         7.671 8.208 8.659 9.112 8.550
Caracaraí 4.990 4.224 7.127 10.160 9.664 9.888 10.077 10.267 14.238
Caroebe         4.829 4.684 4.562 4.440 5.735
Iracema         2.817 2.836 2.853 2.869 4.777
Mucajai 3.163 6.284 10.603 16.578 10.895 10.968 11.028 11.089 11.198
Normandia 7.713 5.254 8.865 12.308 6.796 6.641 6.510 6.378 6.092
Pacaraima         5.777 5.962 6.118 6.274 6.989
Rorainop.         7.544 7.963 8.315 8.668 17.477
São João 1.531 4.843 8.170 12.919 4.058 3.937 3.834 3.732 5.080
São Luiz 2.101 4.327 7.301 11.364 4.456 4.712 4.928 5.144 5.318
Uiramutan         4.634 4.593 4.558 4.524 5.793
Total RR 79.159 103.025 173.826 262.201 247.131 254.499 260.705 266.922 324.152
Fonte: IBGE


Segundo a Federação do Comércio do Estado de Roraima, responsável pelo comércio formal, em levantamento realizado durante o ano de 2000, constatou-se que existe um grande número de cearenses atuando no comércio de Boa Vista, sendo este responsável por grande parte da moeda que circula no comércio do estado. Dos 2433 comerciantes formais registrados pela Federação do Comércio de Roraima, 283 é registrado em nomes de cidadãos que nasceram no estado do Ceará.

A diretora dessa Federação relata que o cearense é um empreendedor e os motivos que o leva a procurar Roraima para reproduzir seus bens, dependem dos vários momentos políticos que o país tem passado, entre eles um que moveu uma grande quantia de renda para o estado em meados dos anos oitenta: o garimpo. Contudo, foi na década de 90, quando se registrou no comércio formal um aumento significativo no número de cearenses proprietários de casas comerciais em Boa Vista.
 

Considerações Finais

O processo migratório intenso, das últimas décadas, traz no seu bojo a dinâmica da expansão do desenvolvimento capitalista adotado para a região Norte, no qual Roraima se inclui na última etapa.

A transferência de força-de-trabalho tem sido instrumento para expandir o sistema para as áreas de fronteira, como o extremo norte do país. Com reduzido investimento público inicial, a mineração representou o momento da acumulação primitiva, resultando no processo a gestação do poder político, galgado e mantido por aqueles que souberam manejar acordos preliminares.

Através dos relatos dos migrantes entrevistados, percebe-se a participação na sociedade de "cidadãos roraimenses" nascidos no Ceará e que chegaram em Roraima nas duas últimas décadas, com perspectivas de mudar a história de um povo que luta contra a miséria e abandono.

Em Roraima, os cearenses têm encontrado oportunidades negadas em seu estado de origem e, com a garra de homens que não se cansam de labutar, encontram apoio que tanto almejam em sua terra natal. Mesmo com a quebra total de vínculos que lhes ligam ao Ceará,esses homens não negam nem omitem a sua origem simples de sertanejo. Com ou sem destaque social, o cidadão roraimense nascido no Ceará faz desse estado seu lar definitivo.
 

Notas:

1. BRITO, 2000.

2. MARTINE, 1994.

3. BRITO, CARVALHO  E SOUZA, 1999.

4. DURHAM, 1984.

5. BRITO, 2000

6. MASSEY, 1994.

7. Declaração da Assessora do Gabinete do Reitor da Universidade Federal de Roraima, Vângela Maria Isidoro, nascida em Piquet Carneiro,
Ceará, desde 1994 em Roraima.

8. Elevado à categoria de município pela lei estadual No.96 de 17 de outubro de 1995, desmembrado do município de Boa Vista.

9. SALIM, 1992:119.

10. SALIM, 1992:127.

11. RAFFESTIN, 1993.

12. ANDRADE. 1998:213

13. Todos os dados descritos são de migrantes que entraram no Estado de Roraima pela BR 174, de transporte coletivo interestadual e
datam de janeiro de 1996 a dezembro de 1999.

14. Declaração da balconista do Comercial Bagaço, localizado na fronteira do Brasil com a Venezuela, município de Pacaraima, nascida em Coreau, no estado do Ceará,.Chegou em Roraima em 1994.

15. RODRIGUES, 1997:12

16. Declaração do Vereador Titonho, reeleito pelo segundo mandato pela cidade de Boa Vista, nascido em Crateús, chegou em Roraima em 1980, acompanhando os pais.

17. Declaração do cantor George Farias de Rodrigues, nascido em Fortaleza, chegou em Roraima em 1989, apenas para fazer um show.
 

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