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Scripta Nova
REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98
Vol. VII, núm. 146(086), 1 de agosto de 2003

AS CONDIÇÕES DESIGUAIS DE ACESSO À MORADIA EM FORTALEZA, BRASIL

Sérgio Cesar de França Fuck Júnior
UECE - Univ. Estadual do Ceará - Fortaleza-CE, Brasil


As condições desiguais de acesso à moradia em Fortaleza, Brasil (Resumo)

Através da (re)produção social do espaço urbano (mediação pelo trabalho), a sociedade se apropria da natureza, parcelando-a e atribuindo-lhe valor econômico. Assim, a expansão urbana atual no Município de Fortaleza está intimamente vinculada ao mercado imobiliário, do qual é, dialeticamente, resultante, meio e condicionante, enquanto espaço geográfico; bem como é comandada, em última instância, pelas classes dominantes, que representam a demanda solvável do mercado de imóveis e orientam o ordenamento do espaço. Também a própria ação do Estado, no tocante à (re)criação de infra-estrutura urbana adequada, habitação e legislação, propicia a valorização do solo, acarretando um padrão residencial de classes médias e alta em boa parte deste território, implicando novas formas e funções; "contraditoriamente", permite manterem-se ou (re)criarem-se áreas desvalorizadas neste mesmo território, não-privilegiadas pelo mercado imobiliário, gerando características específicas e ações distintas de seus habitantes. Discute-se como se dá o acesso à moradia e os modos de ocupação, uso e controle, cujas condições diferenciadas constituem a segregação espacial.

Palavras chave: valorização do solo urbano, segregação espacial, acesso à moradia.

The inegal conditions of housing access in Fortalez, Brasil (Abstract)

Through the social (re)production of the urban space (mediation for the work), the society if appropriates of the nature, parceling out it and attributing economic value to it. Thus, the current urban expansion in the City of Fortaleza intimately is tied with the real estate market, of which it is, dialektikaly, resultant, way and condiction, while geographic space; as well as it is commanded, in last instance, for the ruling classes, that represent the to pay demand of the market of property and guide the order of the space. Also the proper action of the State, in the moving one to the (re)criation of adjusted urban infrastructure, habitation and legislation, propitiates the valuation of the ground, causing a residential of middle classes and high standard to a large extent of this territory, implying new forms and functions; "paradoxically", allow to remain themselves or to (re)criate not-valueable areas in this territory, exactly not-privileged for the real estate market, generating characteristic specific and distinct actions of its inhabitants. It is argued as if it gives the access to the housing and the ways of occupation, use and control, whose differentiated conditions consistute the space segregation.

Key word: valuation of the ground urban, space segregation, housing access.

Por que ocorre a valorização diferenciada das diversas áreas da Cidade, e a quem isso beneficia? Qual o seu uso? O que permite ou impede à população em geral o acesso ao solo urbano e à moradia? Até que ponto se pode averiguar se a condição do espaço como condicionante, meio e reflexo social é direta ou indireta?

A valorização econômica do espaço construído

"Sob esse modo de produção [o capitalismo], o espaço é, antes de tudo, objeto, veículo e produto do capital. Por isso mesmo, em termos das determinações gerais, o processo de valorização capitalista do espaço não é outro que a própria valorização do capital [...] No caso da fixação, que é um pressuposto do capitalismo, ocorre não um simples assentamento de população, mas uma gigantesca agregação de valor ao solo sob a forma de capital fixo." (MORAES & COSTA, 1999:168)

O valor do espaço urbano tem um aspecto ontológico-econômico[1]. O seu valor monetário, expresso nos preços dos terrenos (e imóveis), será agora considerado como parte do processo sócio-espacial geral. Na malha urbana, a partir do acesso ao solo, a construção de moradias é o principal processo implementado, acompanhado de instalações de alguns tipos de indústrias e da construção de estabelecimentos para outras atividades econômicas, sendo a infra-estrutura e os equipamentos[2], e os serviços necessários, implantados, realizados ou facilitados pelo Estado, de acordo com a importância relativa de cada área (ou, lamentavelmente, de quem as possui!).

A acumulação de capital e a reprodução social fazem da grande cidade capitalista um lugar privilegiado, pois criam funções, formas espaciais, atividades e suas materializações, que constituem a própria distribuição espacial urbana. A expansão urbana em Fortaleza tem na atuação do mercado imobiliário apenas um dos determinantes dessa configuração territorial(embora o consideremos o principal, pois representa a demanda das classes dominantes). A valorização do solo se dá de acordo com a concentração/localização das edificações/ocupações e usos, gerando um movimento específico na economia, que tem reflexos além de seus próprios limites, condicionando novos processos (haja vista todos os habitantes necessitarem de um espaço para viver e produzir). Os agentes capitalistas interessam-se pelo valor-de-troca do solo, e os imóveis (terrenos e edificações) são capital constante (fixo) na composição orgânica do capital dessas empresas. E isto pressiona a própria recriação da legislação e da infra-estrutura urbana. Por fim, os grupos sociais "excluídos" passam a ser dependentes desta dinâmica.

"Em suma, a conexão entre o valor de uso da localização, que é um produto social, e o preço pelo uso do espaço, que é expropriado pelos particulares, é percebida quando entendemos o mercado imobiliário como um elo mediador no processo de acumulação de capital." (GOTTDIENER, 1993:180)

Com o crescente processo de expansão urbana em Fortaleza, e os conseqüentes aumentos populacional (local e migrante) e produtivo, as áreas não-urbanizadas são então incorporadas (para a necessária expansão espacial), revalorizando o capital nelas contido (auferindo renda da terra) e investido (gerando lucro)[3]. Ou seja, esse crescimento demográfico-espacial do Município provoca a necessidade de novos terrenos e imóveis, cuja existência dependerá da incorporação (pelo capital) e sua posterior transformação formal e funcional - o loteamento e a construção -, bem como da infra-estrutura agregada (CORRÊA, 1995).

A partir de dados coletados diretamente em empresas imobiliárias e em classificados de jornais locais, verificamos que a valorização do espaço se dá de forma bastante complexa, partindo-se de certos "centros" ou "núcleos" e das principais vias de transporte, onde os preços dos terrenos tendem a diminuir à medida que se distancia desses locais (dependendo também, além desse aspecto "localização", do próprio tamanho do terreno e da construtibilidade específica de cada ponto). Mas, quanto ao preço dos imóveis propriamente, das edificações - para compra ou aluguel -, têm pesos determinantes o padrão da construção e o padrão estético do entorno imediato (a ocupação), e as atividades desenvolvidas na área (o uso).[4]

A segregação espacial

"O modo pelo qual o indivíduo terá acesso à terra, como condição de moradia, vai depender do modo pelo qual a sociedade estiver hierarquizada em classes sociais e do conflito entre parcelas da população. Assim, o tipo, local, tamanho e forma de moradia vai depender e expressar o modo como cada indivíduo se insere dentro do processo de produção material geral da sociedade." (CARLOS, 1994:171)

Em Fortaleza, a incipiente expansão nos anos 1930 começa a configurar também uma segregação espacial na Cidade (COSTA, 1988), com a divisão funcional em setores a partir da área central e de sua periferia imediata, e a seguir para periferias mais distantes: o centro, comercial; o oeste, industrial e residencial de classe baixa; o leste, residencial de classes médias e alta.[5]

A população de Fortaleza cresceu acentuadamente a partir da segunda metade do século XX e, por uma série de motivos - principalmente no que diz respeito ao sistema viário instalado e à questão da propriedade privada e da (des)valorização do solo urbano -, a Cidade estruturou-se na atual "divisão" leste-oeste (espacialmente, quanto às residências das classes sociais...).[6]

Entre 1950 e 1960, a taxa de crescimento foi de quase 100%, resultando no aparecimento de diversos núcleos espalhados pela periferia, totalmente desprovidos de infra-estrutura. No início dos anos 1970, com a expansão para leste, partindo-se da Aldeota, foi construído o Conjunto Habitacional Cidade 2000, "um conjunto popular em um bairro não popular"[7]. Conforme relatou COSTA (1988), sua implantação era necessária para a expansão naquela direção e a conseqüente valorização do solo em todo o entorno daquela área da Cidade, com grandes obras de aterramento de lagoas e terraplenagem (com remoção de dunas), e implantação de outros "sistemas de engenharia" (na concepção de SANTOS, 1991).[8]

Atualmente, no sudeste do Município, ocorre tanto a segregação imposta como a auto-segregação espacial[9], concomitantemente à descentralização espacial das atividades terciárias[10]. Mas esta auto-segregação se dá por "saturação", em parte como extensão da "Grande Aldeota": estaria acontecendo uma "fuga" das classes média alta e alta e do poder político[11] para esta área da Cidade.

Segundo VILLAÇA (1998), ambas as segregações identificadas por CORRÊA (1995) seriam um único processo dialético, pois a (auto-)segregação das classes dominantes (de mais alta renda) propiciaria o controle de todo o espaço urbano (e da sociedade):

"... As forças atuantes sobre a estruturação de nossas metrópoles produzem uma resultante que tende a fazer com que estas tenham apenas uma área de grande concentração das camadas de alta renda. [...] Os interesses das classes em questão levam a uma única área geral de sua segregação [auto-segregação], e isso vem ocorrendo há cem anos em nossas metrópoles." (VILLAÇA, 1998:133)... "A segregação é um processo necessário para o exercício da dominação social por meio do espaço urbano, decorrendo, portanto, da luta de classes em torno das vantagens e desvantagens do espaço construído..." (ibidem:29)

Assim, a dinâmica/dialética espacial não gera um "equilíbrio espacial" mas, ao contrário, acentua a contraditoriedade da produção capitalista do espaço. Identificamos então esses processos espaciais intra-urbanos que chamamos de aldeotização e (des)periferização, gerando novas formas e funções e sendo por elas gerados. Como estão indissociados, o primeiro processo relatado - a aldeotização[12] - torna-se também "(des)periferização", no sentido em que continua ocasionando a remoção de habitantes de renda muito baixa destas para outras áreas, passando a incorporá-las as classes média alta e alta, agora não mais como espaço "periférico", mas periurbano.

"O termo periferia urbana pode ser utilizado em dois sentidos, podendo ser inclusive contraditórios. Por um lado, para referir-se às chamadas 'franjas' ou 'bordas' urbanas, que seriam os loteamentos que se encontram nos limites da mancha urbana mais compacta, e que podem abrigar tanto uma população de alta renda (como os condomínios fechados, com 'muito verde, segurança e conforto'), quanto abrigar população de renda baixíssima... pode representar, por outro lado, a idéia de áreas desprovidas de meios de consumo coletivo, e que não são necessariamente distantes do 'centro urbano.'" (HORA, 1998:38)

Verifica-se que na expansão em áreas pouco adensadas, em quaisquer bairros, instalam-se primeiro as residências, mesmo se há uma infra-estrutura urbana precária. Mas, o sistema viário é essencial - sendo também um diferencial nos padrões das "frentes" de expansão nos bairros[13] -, assim como as redes de energia elétrica e de abastecimento de água. Os demais sistemas, como o esgotamento sanitário, tornam-se secundários[14]. Com isso, os terrenos tendem a ser mais baratos e, com a posterior instalação e/ou melhoria das infra-estruturas, essas áreas tenderão a valorizar-se muito mais do que outras áreas (especificamente se se tratarem de bairros de status, de expansão das classes abastadas[15]).

Quanto aos estabelecimentos comerciais e de serviços, verifica-se que nos bairros das classes médias e alta (e nos de expansão imobiliária recente) são bem mais abundantes, por exemplo, as agências bancárias, os shopping centers, as clínicas particulares, e mesmo muitos dos equipamentos e instituições públicas tendem a concentrar-se nessas áreas[16], enquanto que os pequenos comércios e as lojas em rede (farmácias, padarias...) espalham-se por toda a Cidade, mas podem ser mais abundantes fora das áreas "nobres" e de expansão (ambas "centrais" ou "potencialmente centrais").

"Os interesses das burguesias locais a respeito do espaço local constituem o principal elemento intra-urbano da estrutura espacial metropolitana... Os demais componentes fundamentais dessa estrutura - o centro principal, os bairros residenciais das demais classes sociais e os subcentros de comércio e serviços - formar-se-ão interagindo com os elementos anteriores, mas sendo, em última instância, por eles determinados." (VILLAÇA, 1998:134)

Ratificando as condições já destacadas, lembramos da dificuldade para grande parte da população do acesso à terra, onde o próprio imóvel construído sobre o terreno tende a ser uma "mercadoria" cada vez mais cara, inacessível a este contingente populacional. Conforme a professora SPOSITO (1988, p.73), "o acesso a uma moradia decente não depende de se dar tempo para a construção de mais casas, mas de se poder pagar por elas. Alguns podem fazê-lo; para a maioria isto se apresenta como um problema". Este acesso, pela compra ou aluguel, está subordinado ao nível salarial ou, de modo mais abrangente, ao nível de rendimento.[17]

"O nível de renda também é função da localização do individuo, o qual determina, por sua vez, a situação de cada um como produtor e como consumidor. [...] Essa seletividade do espaço ao nível econômico, assim como social, é, a nosso ver, a chave da elaboração de uma teoria espacial." (SANTOS, 1979:15)

A seguir, apresentamos o quadro 1, com dados salariais dos "chefes de família" no Município, por domicílios particulares permanentes[18]

Quadro 1
Valor do rendimento nominal médio mensal das pessoas
com rendimento responsáveis pelos domicílios particulares permanentes
Município, Distritos e Subdistritos
Pessoas com rendimento responsáveis pelos domicílios particulares permanentes
Valor do rendimento nominal médio mensal das pessoas com rendimento responsáveis pelos domicílios particulares permanentes (R$)
Fortaleza
473 236
846,68
Antônio Bezerra
46 087
453,33
Antônio Bezerra*
33 902
478,68
Conjunto Ceará*
12 185
382,81
Fortaleza
181 641
1 315,74
Antônio Bezerra*
13 407
484,27
Barra do Ceará
64 004
560,44
Centro
56 012
1 437,22
Mucuripe
48 218
2 408,38
Messejana
72 170
732,42
Cidade dos Funcionários
28 064
1 080,41
Messejana
44 106
510,99
Mondubim
107 785
431,11
Conjunto Ceará*
52 507
363,41
Conjunto Prefeito José Walter
55 278
495,42
Parangaba
65 553
632,63
Parangaba
65 553
632,63
* de acordo com a legislação vigente, um Subdistrito não está necessariamente restrito ao território de apenas um Distrito (IBGE).
Fonte: Censo Demográfico 2000 (IBGE).

É explícita a diferenciação salarial média entre os habitantes dos diversos subespaços do Município, e isto representa a própria segregação espacial, também percebida na paisagem (na estética do espaço construído e na infra-estrutura urbana, na forma), conforme verificamos, por exemplo, na comparação dos dados relativos ao Subdistrito Mucuripe (onde se inclui a Aldeota e adjacências) com o restante do Município, e do Distrito de Messejana, comparando-se os conjuntos de bairros ao norte (Subdistrito Cidade dos Funcionários) e ao sul (Subdistrito Messejana).

Apresentamos, a seguir, a Figura 1, com a estratificação social por rendimentos: percebe-se a região geral[19] de auto-segregação.[20]

 
Figura 1. Município de Fortaleza - renda média domiciliar por setores censitários.
Fonte: EstatCart - IBGE, 2002.

Destarte, em vista das necessidades sobretudo de habitação e de trabalho (reais e ideológicas), emergem também os movimentos sociais urbanos[21], reivindicatórios, visando à "cidadania", à moradia em sentido amplo, que em distintos momentos (e com distintos significados) são a "expressão de uma metrópole em fase de expansão... a partir da visibilidade da moradia e pobreza urbana como questões sociais. Os moradores da periferia urbana são, assim, uma categoria símbolo do fenômeno das diferenciações que, pondo em questão a modernidade expansiva da cidade, apresenta o reverso das vitrines." (BARREIRA, 1992:13). É o que consideraremos a seguir.

A luta pela moradia

"... O homem retorna à caverna, envenenada agora pela pestilência mefítica da civilização, e ele a habita apenas precariamente, como um poder estranho, que pode escapar dele a cada dia, e da qual pode a cada dia ser expulso, se não pagar." (KARL MARX, Manuscritos Econômico-Filosóficos, 1844, apud GIANNOTTI et al, 1978:17 e LEFEBVRE, 1999a:34)

Segundo KOWARICK (1993), no problema habitacional há dois processos interligados, e em ambos o papel do Estado é fundamental: a exploração do trabalho e a pauperização da classe trabalhadora. É a socialização dos custos com a apropriação privada dos benefícios: os mais pobres são os que pagam relativamente mais caro pela habitação e pelos serviços urbanos. Em decorrência, advindo dessa contradição fundamental da sociedade capitalista, aparece o conceito de espoliação urbana[22], que "é o somatório de extorsões que se operam através da inexistência ou precariedade de serviços de consumo coletivo, apresentados como socialmente necessários em relação aos níveis de subsistência, e que agudizam ainda mais a dilapidação realizada no âmbito das relações de trabalho" (ibidem:62).

"Sendo o consumo produtivo (e privado) do espaço o fundamento de sua valorização, a espoliação será uma tônica desse processo. Nesse sentido, sob o capitalismo, não existe aquele espaço construído como resultado 'idílico' das necessidades da existência, aquele do 'gênero de vida'. Na verdade, não existe espaço 'exterior' à lógica do capital." (MORAES & COSTA, 1999:160)

É na periferia geográfica, nos bairros mais distantes do "núcleo" da Cidade, que os problemas da falta de infra-estruturas e serviços públicos atingem uma significativa parcela da população urbana. Esses praticamente só são oferecidos na medida em que propiciam a "necessária" reprodução da força-de-trabalho, uma necessidade do capital[23].Assim, "a relação entre exploração do trabalho e carência e precariedade habitacionais é mediatizada pelo mercado imobiliário" (RIBEIRO, 1997:142).

"Por toda a parte, estar distante é sinônimo de ser prejudicado; nos países subdesenvolvidos, estar distante é ainda pior; é se condenar a ser pobre. O termo distância deve ser tomado numa acepção sócio-econômica que caracteriza a situação geográfica das periferias; não é uma questão de distância física, mas de acessibilidade." (SANTOS, 1979:229-230)

Assim, o espaço segregado e sua gestão implicam não só o controle da reprodução da força-de-trabalho per se, mas também do próprio espaço e do cotidiano[24]. Segundo VILLAÇA (1998, p.359):

"É necessária uma certa geografia, uma certa configuração espacial (a segregação) para viabilizar a dominação através do espaço. Sem essa configuração, seriam talvez impossíveis - ou extremamente difíceis - a dominação e a desigual apropriação dos frutos do trabalho despendido na produção do espaço".

Segundo o Censo Demográfico 2000 (Sinopse Preliminar), dos 524.717 domicílios particulares no Município de Fortaleza (eram 461.615 em 1996), 85.872 são "não-ocupados" (cerca de 17%). "Constata-se que, apesar de Fortaleza ser a 5ª cidade mais populosa do país, ocupa a 4ª colocação em termos de déficit habitacional absoluto e a 3ª posição em déficit habitacional relativo." (PMF, 2001), sendo também o 3º município mais povoado dentre os 31 mais populosos[25] dos 5.560 municípios brasileiros. Verifica-se ainda que, ao lado do grande déficit habitacional em Fortaleza - cerca de 150.000 moradias novas, com a existência de 621 favelas e 79 "áreas de risco" ocupadas[26], locais de assentamento de milhares de "sem-teto" e "sem-terra urbanos" - há muitos terrenos desocupados, sendo objetos da especulação fundiária e imobiliária. Percebe-se, portanto, o quão desiguais são essas condições de acesso ao solo urbano (à moradia) em Fortaleza.

Nos anos 1960, a criação (em 1964) do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e do Banco Nacional da Habitação (BNH) representou o auge da intervenção governamental na produção da moradia. Em 1966, passou-se a financiar a construção da "casa própria"[27] e toda a política habitacional estatal pelos recursos do FGTS - Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - e das Cadernetas de Poupança. Com essa política, o Estado criou principalmente conjuntos habitacionais e sistemas de saneamento básico no País, que foram muitos, mas sempre insuficientes para atender a demanda por moradia (além de ter "periferizado" geograficamente os pobres, expandindo as cidades, fomentando a especulação urbana...[28]).

Em 1980, das nove regiões metropolitanas de então, Fortaleza era a que tinha o maior percentual de população favelada: 11%. Também tinha um dos menores índices de imóvel próprio (só a moradia propriamente, de barracos a mansões): 63% (RODRIGUES, 1997)[29]. Pouco antes, o BNH criara o programa Promorar - Programa de Erradicação da Sub-Habitação (RODRIGUES, 1997; BRAGA, 1995). O Promorar começou a realizar o que hoje se conhece por "urbanização de favelas", erradicando apenas a sub-habitação - e não mais removendo os seus moradores[30] -, implantando infra-estruturas urbanas nessas áreas e legalizando a posse das mesmas (porém, isso não significou o fim do processo de remoção de moradores para outras áreas...)[31]. Com a própria crise econômica dos anos 1980, e o conseqüente aumento do desemprego, os recursos do BNH escassearam, e o Banco foi extinto em 1986, passando suas funções para a CEF[32].

Nos dias atuais, o que se tem é uma dificuldade em pagar as prestações da "casa própria", sobretudo pelas classes mais baixas, haja vista o modelo econômico adotado no País[33]. O desemprego, o subemprego e os baixos salários (ou quaisquer rendimentos) jamais acompanham os juros dos financiamentos, mesmo se "amortizados" pelo Estado. Continua a "eterna crise" (cíclica) da habitação[34]. Parte-se para o aluguel, que extrai do inquilino mensalmente de 0,5 a 1% do preço do imóvel[35] (terreno e edificação), em favor do proprietário.

Agora, não se trata mais de uma humanidade em geral frente a um espaço em geral: a propriedade impõe-se como mediação contraditória (restritiva). O acesso ao espaço não depende, agora, apenas da possibilidade de expansão do ecúmeno, mas principalmente da posse jurídica privada de porções desse ecúmeno. A manifestação mais eloqüente dessa contradição pode ser observada, por exemplo, na 'coexistência' de grandes extensões de terras desabitadas e ociosas ao lado de populações numerosas sem acesso ao espaço necessário à sua vivência e produção." (MORAES & COSTA, 1999:176)

Como nem todos os habitantes ocupam terrenos dos quais se detém o direitode propriedade (domínio), ou mesmo podem pagar por eles e suas edificações, criam-se "duas cidades", a "legal" e a "ilegal": a primeira, de acordo com a regulamentação jurídica; a segunda, em desacordo (nas chamadas "ocupações", sobretudo em áreas "não-urbanizáveis" - das quais grande parte dos habitantes estaria também vinculada ao circuito inferior da economia[36] -, e mesmo em grande parte dos parcelamentos urbanos "reconhecidos", porém não-registrados).

Segundo recente propaganda do Governo do Estado, muitas dessas famílias ocupantes de "áreas de risco" estavam sendo removidas desde 2001, como as das favelas do Mangue/Gato Morto e Lagoa da Zeza/Tijolo, sendo reassentadas em outros terrenos no próprio Distrito, inicialmente em casas precárias, de madeira compensada, ao lado do Conjunto Tancredo Neves (198 famílias) e na Avenida Rogaciano Leite (180 famílias) - ambas no bairro Jardim das Oliveiras[37] -, e no bairro Cajazeiras (460 famílias), onde construíam novas casas de alvenaria em regime de mutirão.

RODRIGUES, citada por CARLOS (1994, p.174) afirma que:

"No desenvolvimento do capitalismo no Brasil a favela é produto da conjunção de vários processos: da expropriação de pequenas populações rurais e da super exploração da força de trabalho no campo, o que conduz à migração rural-urbana, ao empobrecimento da classe trabalhadora em seu conjunto e ao aumento do preço da terra urbana que conduz à necessidade de sucessivos deslocamentos no espaço urbano até a ocupação de áreas. A favela exprime a luta pela sobrevivência e pelo direito ao uso do solo urbano de uma parcela da classe trabalhadora."

Na maioria das vezes, as "melhorias" em determinada área periurbana acontecem através da luta dos moradores[38]. Porém, a vinda desses serviços públicos acarreta o aumento do preço da terra, e isso beneficia os especuladores[39]. Assim, os movimentos sociais urbanos[40], no que concerne ao acesso à moradia ("integral"), representam os conflitos e estratégias gerados pela pauperização de grande parte da população e pela (des)valorização do solo urbano, resultando no aumento dos assentamentos "ilegais", na revenda de lotes e construções clandestinas, na revenda das "chaves" ("contrato de gaveta") etc.

Quanto ao saneamento básico, importantíssima infra-estrutura urbana, em Fortaleza cerca de 13% dos domicílios não tem água canalizada pela Cagece[41], e somente 44% estão ligados à rede geral de esgoto (IBGE). Alguns bairros periurbanos têm maior proporção de domicílios ligados à rede geral devido pertencerem a conjuntos habitacionais estatais. Mas, muitas vezes esses números são fictícios[42], dada a precarização e o abandono a que se submetem posteriormente essas áreas que, como dissemos, são "desvalorizadas" pelo mercado (não há investimentos e/ou manutenções[43]).

Segundo SANTOS (2001), nos últimos anos, com a "globalização perversa"[44] e a desvalorização da força-de-trabalho, a "exclusão social" passou a ser estrutural e global. Essa "exclusão" significa que os pobres, em realidade, não são "marginais" ao sistema social (sem acesso aos bens de consumo, como se tratava a pobreza no funcionalismo dos anos 1960 e 1970), mas "economicamente explorados" e "politicamente oprimidos"[45]. Quando se conscientizam e se organizam, a cidadania aparece, permitindo-se até um certo grau de consumismo, e um exemplo disso é a organização existente no Conjunto Palmeiras (bairro Jangurussu), aonde há alguns anos vem efetuando-se a chamada "economia solidária" entre seus habitantes, com a criação do Banco Palmas e de uma "moeda" e sistema de crédito próprios, que permitem o acesso aos itens básicos de consumo (como os alimentos) para essa população que é carente (de baixa renda), mas que ao reconhecer sua condição de escassez, tomou consciência de que precisava comandar e realizar o seu próprio cotidiano46]. Com isso, também se incrementou a prestação de serviços comunitários entre os próprios moradores (isso sem falar na implantação de alguns equipamentos sociais pelo Governo Estadual).

E, relacionados diretamente às lutas na questão habitacional, relatamos a seguir dois casos específicos verificados em pesquisa direta - no bairro Cajazeiras - que sintetizam muito do que foi discutido até aqui... Primeiro: no Condomínio Residencial Morada dos Bosques[47], a Prefeitura construiu, à época das eleições municipais de 2000, uma quadra de esportes (dentro desse Conjunto Habitacional), com supostas intenções "eleitoreiras". Cerca de seis meses após as eleições, com a pressão popular por parte dos não-moradores (porém habitantes do bairro), da Imprensa e dos partidos de esquerda, a Prefeitura tentou derrubar o muro do Conjunto, alegando permitir-se o acesso da população do bairro à quadra de esportes, ou então iria destruí-la... Só não conseguiu realizar nenhuma dessas ações devido ao movimento organizado que mobilizou os moradores do Conjunto.

 
Figura 2. Movimento social de protesto contra a Prefeitura (bairro Cajazeiras)
Foto: moradores, 2000.
 

No outro caso, verificamos a situação em terrenos vizinhos ao Conjunto mencionado. Lá, os loteamentos começaram há cerca de dois anos, de onde se pôde constatar a luta pelo espaço e o processo de valorização imobiliária em três pequenos loteamentos[48] - "Cajazeiras I", "II" e "III", da MF Empreendimentos Imobiliários Ltda -, e numa "ocupação" vizinha49]. Em entrevista com um dos sócios-proprietários da citada empresa[50], o mesmo apresentou queixas quanto ao processo legal de loteamento, tendo que arcar com muitas responsabilidades e despesas, segundo ele, devido às leis vigentes, sendo que há "invasores" no terreno ao lado que nada pagam. Somente tendo vários loteamentos no Município (como possui), é que este empresário consegue maximizar seus lucros.

Esse empreendimento começou apenas com o loteamento Cajazeiras I, e a expansão deu-se paulatinamente, seis meses (Cajazeiras II, 2000) e um ano depois (Cajazeiras III, 2001), autorizados pelos órgãos municipais competentes. Neste último, houve uma denúncia de estar-se ocupando área de preservação permanente (a menos de 100 m da margem do rio Cocó), e fiscais do CREA-CE constataram que se tratava de ocupação apenas parcial da planície de inundação do rio (mesmo estando a mais de 100 m da margem... assim como o loteamento I)[51]. Toda essa área é permeada por micro-lagoas "temporárias", e o aterramento impermeabiliza o solo, eleva o nível hidrostático etc.; qualquer chuva mais forte revela este fato. Mas, como ocorre freqüentemente, o processo de expansão desse espaço construído é irreversível[52].

Voltando à questão principal, constatamos então que nessa área existe um conflito "frio" pela posse da terra, pois ao lado desses loteamentos há uma "ocupação" popular (como dissemos), a favela Santa Maria Goreti. Os seus moradores têm medo da especulação imobiliária, e temem ser retirados da área (muitos já vieram expulsos de outras áreas do Município, como do "Lagamar"), enquanto que o empresário (dizemos novamente) reclama do "custo" em fazer um loteamento legalizado[53] e ter uma vizinhança "indesejada".
 
 
Figura 3. "Ocupação" Santa Maria Goreti - fachadas e aspectos internos das residências.
Fotos: FUCK JR. e Ana Maria Matos ARAÚJO, 2000.

Esta "ocupação" deu-se em 1996, num terreno abandonado pela empresa têxtil "Del Rio" (que faliu). Aterrou-se uma pequena lagoa, e foi-se construindo moradias precárias. Ao entrevistarmos alguns moradores, sobre suas histórias de vida e nível de organização político-comunitária, soubemos que se tentou retomar o terreno, à época, ocasionando diversos conflitos e situações como a queima dos barracos, mas a população ocupante resistiu[54]. Hoje, há casas de alvenaria com boa estética e acabamento, e muitos domicílios possuem equipamentos eletrodomésticos, como televisão e geladeira, e fogão. Com o tempo, e o próprio crescimento dessa "ocupação", implantou-se uma infra-estrutura precária, mas funcional (água e luz).[55]

A despeito do "temor" de lado a lado, novas áreas não-loteadas de terrenos particulares "abandonados", vizinhas à Santa Maria Goreti, foram ocupadas - em meados de 2002 - por grande contingente populacional vindo do Interior e de outras áreas da Cidade (cerca de 800 famílias), e a questão da luta pela direito à moradia continua - nesse processo de expansão urbana -, devendo até agravar-se no local[56].

 

Notas

[1] A "ontologia" fica por conta de MORAES & COSTA (1999)... Por sua vez, SILVA (1986) também nos mostra a concreticidade das categorias analíticas (dentre elas o espaço intra-urbano).
Outra questão semântica e conceitual: enfatizamos que o "solo urbano" é "espaço produzido" e, quando adotamos o termo "solo", é devido a este ser mais usual (não implicando um conteúdo conceitual "antigo", ligado à questão dicotômica campo-cidade enquanto "realidades isoladas"...).
 
[2] Os loteadores têm arcado cada vez mais com a construção (precária) de: vias laterais, calçamento, acessos às redes de energia elétrica e água (dependendo do projeto e das leis específicas, a partir da Lei Federal nº 6.766, que regulamentou o uso e ocupação do solo urbano). A expansão é assim acompanhada da implantação de novos equipamentos, serviços, infra-estruturas, e do disciplinamento do uso do solo, que se tornam também instrumentos da especulação fundiária/imobiliária. O aumento do preço da terra urbana decorrente desta ação dificulta o acesso às terras mais "centrais" por parte dos trabalhadores (RODRIGUES, 1997).
 
[3]MARX, em seus Manuscritos Econômico-Filosóficos, de 1844, falava, cf. LEFEBVRE (1999a, p.33), "... da extensão da propriedade fundiária no espaço urbano, isto é, da 'ligação entre o crescimento do aluguel e o da miséria'. De fato, 'como aumentam o aluguel, a renda fundiária e o lucro da terra sobre a qual é construída a casa'".
 
[4] Aqui pensamos resgatar as discussões teóricas de multi(poli)centralidade urbana de SPOSITO (baseada em LEFEBVRE); de valor do ponto de VILLAÇA; e outras.
 
[5] A partir da década de 1930, o espaço urbano de Fortaleza sofreu crescimento desordenado e de forma espontânea, que deu lugar a aglomerados de edificações precárias na periferia da Cidade, algumas destas com características de favelas (Pirambu, Mucuripe...). Para as camadas dominantes, a expansão e o adensamento do perímetro central fez com que se transferissem do Centro para áreas periféricas desocupadas, formando-se os primeiros bairros "ricos". Entre as décadas de 1920 e 1930, bairros como Jacarecanga (família Filomeno...), Benfica (família Gentil...), Praia de Iracema e Aldeota passaram a ser sucessivamente habitados pelas elites (que começaram a valorizar também a proximidade com o mar). Nessa época, a função industrial realizava-se principalmente na Avenida Francisco Sá, no Jacarecanga (beneficiamento do algodão...).
 
[6] Essa "divisão" no Município de Fortaleza é marcante, fato observável até mesmo pela distribuição dos seus grandes terminais de ônibus urbanos, sendo cinco no lado oeste e apenas dois no lado leste da Cidade (refletindo condições tanto populacionais quanto socioeconômicas dos usuários). Como vimos, todo o processo histórico de formação dos bairros atuais, passando pela criação primeira dos Povoados e Vilas, às margens de recursos hídricos e estradas de ferro, também explicam parte da configuração territorial do presente.
 
[7] Cf. COSTA (1988).
 
[8] Destacamos novamente que, com o crescimento populacional do início do século XX (principalmente a partir dos anos 1930), os habitantes de baixa renda foram expulsos da zona central da Cidade (à época, ainda a mais valorizada), ocupando diretamente a periferia espacial, iniciando um processo de favelização que é marcante nos dias atuais. Este processo prosseguiu, e a partir de 1972 a Prefeitura partiu para os primeiros programas governamentais de remoção de favelas, inseridos em projetos de urbanização da Cidade (SOUZA, 1978), com a construção de inúmeros conjuntos habitacionais periféricos (formando-se novos bairros) - como a Cidade 2000 (1971), o José Walter (1974), o Palmeiras (1974), o Ceará (1977-1982), o Esperança (1982) -, tentando "minimizar" o favelamento ao criar habitações "normais" para a população de baixa renda (destacou-se aqui o papel da valorização fundiária e imobiliária urbana...).
 
[9] "Em realidade pode-se falar em auto-segregação e segregação imposta, a primeira referindo-se à segregação da classe dominante, e a segunda à dos grupos sociais cujas opções de como e onde morar são pequenas ou nulas." (CORRÊA, 1995:64).
Para LEFEBVRE (1991b, p.94), "a segregação deve ser focalizada, com seus três aspectos, ora simultâneos, ora sucessivos: espontâneo (proveniente das rendas e das ideologias) - voluntário (estabelecendo espaços separados) - programado (sob o pretexto de arrumação e de plano)".
 
[10]CORRÊA (1995, p.59) distingue a "divisão social" da "divisão econômica" do espaço, e isto se reflete também na fragmentação em geral, tanto territorial quanto sócio-cultural.
 
[11] A descentralização e a segregação espaciais tornam-se também "descentralização política" (locacional, dos "aparelhos do Estado"), haja vista que até mesmo a sede do Governo Estadual e o Fórum de Justiça foram transferidos para o sudeste do Município (bem como a própria criação das SERs, conforme já discutimos neste trabalho).
 
Em seu artigo, ROSNER & VILSMAIER (2001) também demonstram a vinculação da descentralização econômica com a descentralização política (locacional e administrativa), e com a própria segregação em Fortaleza.
 
[12] O termo "aldeotização", para o fortalezense, significa a modernidade, a relação instantânea com o mundo e sua inserção no processo de globalização.
 
Em termos monetários, segundo o economista Wandemberg Pinto (em 2000), vem ocorrendo uma "aldeotização" em várias partes do Município ("e na própria Aldeota"), haja vista a maioria dos imóveis novos custarem no mínimo R$ 50.000,00 (demanda das classes média alta e alta) e haver poucos imóveis novos custando menos do que isso (a média dos preços dos imóveis em conjuntos habitacionais do Estado é de R$ 10.000,00, mas são cada vez menos construídos...).
 
[13] O parcelamento do solo, mesmo com a ausência ou com uma infra-estrutura urbana precária, se dá nas periferias. As lojas de materiais de construção também ali se encontram... Dependendo das "áreas sociais", há no mínimo um calçamento precário (das vias)... ou há verdadeiros "lameiros" (vias que só existem "no papel", se tanto), em áreas desprovidas de valor e de interesse do Poder Público (e do mercado imobiliário), apesar de também se expandirem. "Muitos loteamentos são realizados e colocados à venda, com pouca ou nenhuma infra-estrutura, o que significa que de várias formas os compradores se organizam e lutam para obter os equipamentos e serviços coletivos - asfalto, transporte coletivo, luz , água, escolas, creches, postos de saúde, etc. Beneficiam, sem dúvida, aqueles que estão produzindo seu espaço, mas beneficiam principalmente aqueles que deixaram as terras vazias aguardando 'valorização'." (RODRIGUES, 1997:20).
 
[14] E isto causa problemas de saúde, pois cerca de 70% das doenças (epidemiológicas ou não) têm veiculação hídrica. Mas, novamente, são as classes de baixa renda que acabam sofrendo mais diretamente esses efeitos, embora todo o território pesquisado tenha relativa carência dessa infra-estrutura (na média por bairros).
 
[15] É o que vem ocorrendo atualmente no bairro Sapiranga/Coité e proximidades.
 
[16] Os principais equipamentos de lazer também se encontram ou estão se implantando na parte leste da Cidade.
 
[17] Baseada em CASTELLS (1983), SPOSITO (op. cit.) destaca também que, no capitalismo avançado, a cidade é mais cara do que o campo, tanto no que diz respeito ao acesso ao solo (espaço físico) quanto nos itens que se deve consumir para nela sobreviver.
 
[18] Domicílio particular é o domicílio residencial; não são considerados asilos, orfanatos, conventos, presídios e quartéis, por exemplo. Domicílio vago é o domicílio particular que não tinha morador na data de referência do Censo 2000, 1º de agosto de 2000 (IBGE, 2001).
 
[19]VILLAÇA (1998), ao detectar a existência de uma única região geral nas cidades (metrópoles) em relação à segregação das classes de alta renda, identificava-as em conjuntos de bairros (e não apenas em um ou outro bairro "isolado").
 
[20] O salário mínimo mensal no Brasil, em 2002, era de R$ 200,00.
 
[21] Segundo GOTTDIENER (1993), houve na década de 1970 um interessante debate epistemológico entre Castells e Lefebvre, que envolvia também a questão dos movimentos sociais urbanos e sua relação com a natureza dos papéis do espaço e do Estado.
 
[22]KOWARICK (1993) nos apresenta este conceito em textos escritos entre 1973 e o início de 1979 (que compõem esse seu livro). Aproxima-se do conceito de renda real, de HARVEY (1980). A noção de espoliação urbana, segundo o próprio KOWARICK (2000, p.107), "... pode servir para esclarecer o que foi anteriormente designado como produção de um discurso sobre uma exclusão social ou econômica. Ela se refere, inicialmente, à ausência ou precariedade de serviços de consumo coletivo que, junto com o acesso à terra, se mostram socialmente necessários à reprodução urbana dos trabalhadores (...) se trata de uma construção histórica que decorre das lutas sociais...".
 
[23] Apesar de todas as mudanças no capitalismo e do avanço recente da noção de cidadania.
 
[24] Não vamos aqui entrar no mérito da questão de que esse próprio cotidiano seja alienante, haja vista estar inserido na sociedade burocrática de consumo dirigido (LEFEBVRE, 1991a).
 
[25] Com mais de meio milhão de habitantes (13 destes com mais de um milhão), porém nem todos instituídos como "metropolitanos".
 
[26] Síntese dos dados (oficiais e não-oficiais) divulgados pelo Telejornal da Cidade, TV Cidade - Rede Record, em 23/04/2001. Em fins de 2002, a PMF tinha novos dados: 12 mil famílias habitando em 82 "áreas de risco". Segundo o IBGE, uma favela (aglomerado subnormal) deve ter "pelo menos 51 casas sem condições adequadas de saneamento e sem título de propriedade ou documentação recente (até 1980). Mas a definição de favela, seja do IBGE ou de qualquer outro órgão, está longe de um consenso" (UERJ Clipping - Notícias. Rio de Janeiro, 02/05/2001. Obtido via Internet. http://www2.uerj.br/~clipping/Maio/d02/uerj_favelas_oglobo.html). Ou seja, este conceito de favela não é unânime, sendo contestado por muitas prefeituras e especialistas, e o próprio IBGE pretende reformulá-lo. E, de um total de 2.194 setores censitários no Município, o Censo Demográfico 2000 considerou 402 como de "aglomerados subnormais".
 
[27]LEFEBVRE (1991b) já denunciava a ideologização da idéia de habitat (da "simples" habitação) em vez de habitar (da moradia "integral", que incluiria os benefícios urbanos e o domicílio, propriamente), além do uso político-econômico inescrupuloso que se faz dessa necessidade básica humana, o que CORRÊA (1995) chamou de "ideologia da casa própria".
 
[28] Essa política urbana estatal só reforçou a questão da propriedade privada da terra e da renda auferida pelos proprietários, uma vez que implantou seus conjuntos habitacionais nas periferias geográficas das cidades, expandindo o espaço urbano e encarecendo a implantação de infra-estruturas (haja vista que a malha urbana, nesse sentido, é contínua), mas valorizando os terrenos e imóveis localizados nesse intermezzo, quer fossem "vazios urbanos", quer edificações já existentes. A terra, enfim, se valoriza pela monopolização do acesso a algo indispensável à sobrevivência, mas tornado escasso (e caro) pela propriedade legal (RODRIGUES, apud BRAGA, 1995, p.128).
 
[29] Dados do Recenseamento Geral do Brasil - IBGE, 1980.
SOUZA (1978), com números do Plandirf (de 1972), mostra como esse número vinha crescendo desde os anos 1960, devido, em parte, ao próprio aumento dos conjuntos habitacionais e do favelamento (pois os "barracos" são considerados "imóveis próprios"). As classes médias, em geral, são as que mais pagam aluguéis (por mais paradoxal que pareça).
 
[30] Até então, como vimos, tinha-se como "solução" para o espaço urbano apenas a remoção das favelas para periferias geográficas cada vez mais longínquas, onde o baixo preço do solo permitisse (além da questão de "não-incomodar" as classes dominantes...).
 
[31] Em Fortaleza, em fins dos anos 1970 e início dos anos 1980, destacaram-se algumas lutas dos moradores (reivindicação e participação) pela urbanização e regularização fundiária, como na Favela das Placas, da José Bastos e do Velho Lagamar (BRAGA, 1995). Um exemplo: em 1983, a construção do Conjunto Tancredo Neves representou a "urbanização" do Lagamar ("Novo"), também valorizando os terrenos na área. Nesse sentido, o Promorar teve resultados modestos, em nível nacional, mas representou um avanço no trato social (mas, como nos revela ainda a Profa. ELZA BRAGA (1995, p.45), as políticas sociais geram "espaços contraditórios de dominação e legitimação"; daí podermos supor que tais áreas não eram tão atrativas para o mercado imobiliário, "permitindo-se" a sua "urbanização e oficialização"...).
 
[32] Com a extinção do BNH, a intervenção estatal na política habitacional no Brasil mudou de magnitude... Criou-se posteriormente, em 1997, o SFI - Sistema Financeiro Imobiliário, em substituição ao SFH -, mas é comum ouvir dos especialistas que o sistema habitacional público está falindo, devido ao "círculo vicioso" criado com a própria desregulamentação do trabalho e o aumento da concentração de renda, gerando pouco capital para investimento (FGTS, Poupança...), tornando os imóveis proporcionalmente mais caros, gerando também o aumento da inadimplência etc.
 
[33] O mesmo é válido para os setores habitacionais estaduais e municipais... No Ceará, as verbas públicas destinadas à habitação popular eram: PMF: 1,21%; Governo do Estado: apenas 0,37% do orçamento anual (Sefaz, 1996). E isso para: construções, financiamentos, regularização fundiária, urbanização de lotes, urbanização de favelas, mutirões habitacionais, erradicação da sub-habitação, e melhorias em construções existentes (barracos ou outras edificações).
 
[34] "Numa tal sociedade, a crise da habitação não é um acaso, mas uma instituição..." (ENGELS, A questão da habitação, 1872, apud LEFEBVRE, 1999a:118). "Engels... mostra, por um lado, que há e sempre houve 'crise da habitação' para os oprimidos e explorados; e, por outro lado, que essa questão da habitação não se podia resolver pela burguesia" (ibidem:117).
 
[35] Segundo RODRIGUES (1997).
 
[36] Termo de SANTOS (1979), que seria equivalente ao "setor informal da economia".
 
[37] Com recursos provenientes do projeto Habitar/Bid para a região do Conjunto Tancredo Neves, no bairro Jardim das Oliveiras.
Mas, quanto à "realidade" escondida por trás desse reordenamento urbano, vejamos o que foi dito, pouco tempo depois, numa reportagem do Jornal O Povo (de 03 de setembro de 2002): "Parece até cantiga de Vinícius de Moraes, mas as 198 famílias que foram transferidas da favela do Gato Morto para um conjunto construído pelo Governo do Estado estão vivendo há cerca de um ano sem banheiro dentro de casa... Lá, existem 198 casas construídas para abrigar a população que morava nas áreas da favela do Gato Morto, atingidas pelas chuvas em abril de 2001. Segundo Célio Oliveira, secretário da União das Entidades Comunitárias do Tancredo Neves (Unecom), no último dia 20 os moradores realizaram uma manifestação no local para pedir providências à Secretaria de Infra-estrutura do Estado (Seinfra). 'As 198 casas estão sem banheiros. Os vasos sanitários que estavam em um depósito, esperando só serem colocados, foram retirados daqui'. Ele informa ainda que as contas de água que 'deveriam ser pagas pela Seinfra' estão atrasadas em dez meses e a Cagece já ameaçou cortar a ligação para o conjunto. As casas foram construídas em sistema de emergência em julho de 2001, depois da enchente de abril do mesmo ano que atingiu a comunidade da favela do Gato Morto. Na época, as famílias foram colocadas em casas de madeirite e só depois foram para as casas de alvenaria".
Dentre as organizações sociais fortalezenses que lutam contra a situação de precariedade da moradia, destacamos o Fórum Permanente das Áreas de Risco do Grande Jangurussu (sobre as "ocupações" às margens do rio Cocó; o "lixão", desativado em 1998 - onde trabalha-se atualmente com reciclagem de lixo - etc.). Em janeiro de 2002, havia ainda 9.599 famílias em "áreas de risco" no Município, faltando assim cerca de 10.000 moradias.
 
[38] As pequenas melhorias no Conjunto Palmeiras (no bairro Jangurussu) representam um forte exemplo dessas reivindicações conquistadas, haja vista as habitações terem sido entregues aos moradores, nos anos 1970, em condições muito mais precárias que as atuais.
Nesse sentido, PERROT (1988) relata como as reivindicações sociais foram se alterando através do tempo (histórico), do trabalho à moradia.
 
[39] Quando há atendimentos às reivindicações populares na questão da moradia, as pequenas conquistas da classe trabalhadora acabam promovendo repetidos ganhos do setor imobiliário e seguidas derrotas da natureza (COSTA, 1988).
 
[40] Cf. BARREIRA (1992), os movimentos sociais urbanos, iniciados em Fortaleza em fins dos anos 1950, intensificaram-se a partir dos anos 1970... Hoje, não são mais "novidade", passando muitas vezes despercebidos pela população em geral.
 
[41] De acordo com a assessoria de imprensa desse órgão, já é possível a cobertura de 60% dos domicílios com rede de esgoto e, destes, 37% das residências já fizeram a ligação. "De dezembro de 1992 a julho de 1999 o Governo do Estado investiu US$ 265,5 milhões para a instalação da rede de saneamento em Fortaleza. Era a primeira etapa do programa Sanear. A partir dele, a cobertura sanitária em Fortaleza saltou de 18% para os atuais 60% e permitiu que o abastecimento de água atendesse 96% da população." (Jornal O Povo, 09/09/2002).
Segundo o Iplance (a partir de dados do IBGE), em 1995 Fortaleza tinha abastecimento d'água em 77% dos domicílios, mas somente 40% possuía instalações sanitárias adequadas.
 
[42] E os próprios dados disponíveis (oficiais ou não), embora tratem dos mesmos aspectos, são contraditórios, apresentando-se diferentes quando advindos de distintas fontes.
 
[43] A favela, o abandono, a precarização e mesmo a "favelização" de conjuntos habitacionais estão aliados à também precarização, ou mesmo à ausência, das infra-estruturas (e serviços).
 
[44] Movida pela mais-valia global e legitimada pelo "pensamento único"... Nesse contexto, também as relações sócio-político-econômicas locais, na ocupação e expansão da Cidade, tendem a levar em conta os interesses privados e não o interesse público, representando a dominação social. Quanto a isto, em Fortaleza, basta verificarmos as "vantagens" que têm muitos dos proprietários fundiários e empresários imobiliários em suas relações com os diversos níveis do Poder Público - o que torna todos os envolvidos verdadeiros "parasitas sociais" -, histórica e efetivamente controlando a formação social.
 
[45] Expressões de Gunder Frank (apud SANTOS, 1979, p.153). Para Santos, isso cria e mantém o circuito inferior da economia urbana dos países subdesenvolvidos (embora o próprio SANTOS (1999, p.259) reconheça que atualmente esse conceito se estende a todos os países...).
 
[46] Decorrente dos chamados "efeitos de vizinhança" (SANTOS, 2001), do tempo de comando dos "homens lentos" e da cultura popular (SANTOS, 1999).
 
[47] Conjunto habitacional construído pela Cohab-CE, atualmente sob responsabilidade da CEF.
 
[48] O loteamento I (4,8 ha, 3 quadras) originou-se de uma pequena fazenda vendida pela viúva do Cel. Lívio França (descendente do Cel. Zacarias José de França, que tinha muitas terras no bairro, restando hoje uma vasta residência da família - além da menção ao nome da família nas ruas e logradouros públicos do bairro); o loteamento II (14 ha, 8 quadras) eram terras pertencentes à mãe do sr. Roberto Feijó (ex-presidente da Junta Comercial do Ceará), onde havia uma vacaria.
 
[49] Em termos de paisagem e atividades econômicas, a área representa o que estamos chamando neste trabalho de "fronteiras rural-urbano" no Município, cujo processo de expansão tem se acentuado nos últimos anos.
 
[50] Sr. Marcílio Fiúza.
 
[51] Segundo o Telejornal do 10, TV Verdes Mares - Rede Globo, em 07/05/2002.
 
[52] O licenciamento ambiental para o desmembramento das glebas e implantação dos loteamentos é de responsabilidade municipal, da Semam (constatamos que as placas informativas sobre isso - com renovação bianual da validade - estavam desatualizadas... Sendo essa área próxima ao rio Cocó, aterrada e sujeita a inundações, tal fato suscita dúvidas quanto aos procedimentos adotados nesta regularização...).
 
[53] O aterramento (adaptação ambiental à construção) e a implantação da infra-estrutura urbana requerem custos... No loteamento "legal", observamos a obediência à legislação (com relutância), no que concerne ao percentual de áreas reservadas para o sistema viário (20%), banco de terras (5%), área verde (15%) e área institucional (5%). (Os projetos de urbanização especial - habitação de interesse social -, para famílias de baixa renda (de até três salários mínimos), exigem menores áreas verdes e institucionais nos loteamentos, bem como dos próprios lotes). Os proprietários "legais" alertam para o "abuso" dos "invasores" e dos pequenos loteadores "ilegais" das periferias. É evidente, porém, que se esses proprietários "legais" não tivessem grandes lucros nesse negócio, jamais estariam nesse ramo comercial/"industrial".
 
[54] A empresa, falida, talvez nem tivesse mais o direito à essa propriedade, que então poder-se-ia tornar pública e reverter para projetos de reassentamento urbano (hipótese jurídica...).
 
[55] E alguns dos ocupantes atuais compraram parcelas desse terreno ainda dos primeiros habitantes, que já se mudaram. Mas, a ocupação e a revenda "ilegais" não impedem que os novos moradores invistam na área, deixando-a com um aspecto de "bairro popular", e reivindicando a legitimação das propriedades pelo Estado (para eles, reivindicação até mais importante do que os serviços de energia elétrica, água, esgoto...). Percebemos, porém, a insegurança dos moradores quanto a continuarem residindo na área, haja vista o próprio processo de expansão que, prática e intuitivamente, eles entendem que pode expulsá-los novamente.
 
[56] A moradora srª Denise, líder comunitária, informou que parte dessas famílias, que foram removidas de "áreas de risco" em 2001, seria assentada nesse mesmo local e em áreas próximas, mas que nada fora feito até o presente momento (esse local também constitui uma "área de risco", pois é parcialmente pertencente à planície de inundação do rio Cocó, e bordeado por micro-lagoas... Assim, o "círculo vicioso" se renova...).
 

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© Copyright Sérgio Cesar de França Fuck Júnior, 2003
© Copyright Scripta Nova, 2003

 

Ficha bibliográfica:
JÚNIOR, S. C. F. F.
As condições desiguais de acesso à moradia em Fortaleza, Brasil. Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2003, vol. VII, núm. 146(086). <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-146(086).htm> [ISSN: 1138-9788]

 
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