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Scripta Nova
REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98
Vol. VII, núm. 146(145), 1 de agosto de 2003

A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL ATRAVÉS DAS REDES EM UMA CIDADE MÉDIA DO  NORDESTE DO BRASIL : GARANHUNS-PE

Edvânia Torres Aguia Gomes
Michel Saturnino Barboza
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Brasil

A organização espacial através das redes em uma cidade média do  nordeste do brasil : Garanhuns-PE (Resumen)

O trabalho em questão busca analisar a dinâmica sócio-espacial do Muncípio de Garanhuns no contexto regional e sua articulação em redes de diferentes escalas, visando compreender o seu papel a partir da atual organização espacial da Mesorregião do Agreste Pernambucano. Para o atingimento dos objetivos gerais buscou-se, dentro de uma pesquisa maior intitulada “Estudo sobre Cidades Médias no Estado de Pernambuco”, identificar os elementos significativos para a definição de um sistema de hierarquização urbana estadual. Este trabalho apresenta-se como mais um esforço no sentido de firmar um diagnóstico que fundamente uma interpretação das principais matrizes de desenvolvimento e vetores de permanência e transformação de Garanhuns. Para a sua consecução foi realizado um levantamento bibliográfico e iconográfico, juntamente com o perfil sócio-econômico, através das informações obtidas em órgãos como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), FINEPE (Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco), SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), EMPETUR (Empresa Pernambucana de Turismo), etc., complementando a pesquiasa foi realizado um trabalho de campo visando constatar “in loco” a dinâmica existente no muncípio de Garanhuns.

Palavras-chaves: cidades médias, geografia urbana, redes geográficas.

The spacial organization through nets in an average sized city: Garanhuns-PE (Abstract)

This work tries analyse the sociospacial dynamics of the Garanhuns Municipality in the regional context and articulation between nets of different scales and densities, trying to understand their role in the present spacial organization of the Agreste Mesoregion of Pernambuco. To achieve the general aim we tried, inside a larger research titled: Study about average sized cities in the Pernambuco State. Identifying the elements meaningful to the definition of a urban stadual hierarquization system. We situate this work as one more effout to stablish a diagnostic that fundaments an interpretation of the main nuances of development and vectors of performances and transformations in Garanhuns. To its obtainment, iconographic and bibliographic documents were researched, data was consulted and collated at IBGE, as well as official socioeconomic state information. Visits were made to official organs and institutions, complementting the primary information collected through field visits to the municipality in question.

Key words: medium sized cities, urban geography, geographic networks.

A pesquisa urbana na América Latina tem, quase que hegemônica e tradicionalmente, no estudo e análise sobre as grandes cidades seu foco privilegiado de observação (GOMES, 2000a), visto que são nesses espaços onde concentram-se com maior evidência os problemas de ordem social, econômica e ecológica (BÄHR/ MERTINS 1995).

Neste contexto de pesquisas urbanas, as cidades médias vieram a ser foco de interesse na América Latina há cerca de 10-15 anos atrás, embora de porte e expressão incomparavelmente menor que aquelas realizadas para as grandes cidades. E, no Brasil, os estudos e pesquisas tiveram sua maior concentração tão somente no final da década de 70 e meados de 80, do século passado. Mesmo assim, consideradas, primordialmente, segundo a classificação pelo seu número de habitantes (Mertins 1999a).

Isso vale também para a recente pesquisa realizada no Brasil (ALMEIDA A./VALENTE p. 1998, ALMEIDA A. u.a. 2000), onde os movimentos migratórios representam um ponto central na análise das cidades médias, assim como a função de suburbanização e o processo de reversão da metropolização ou contra-polarização das grandes metrópoles (reversão de fluxos, ocupação das áreas periféricas às grandes áreas metropolitanas). Esses dados relacionam-se por sua vez ao fato de que as cidades médias estão classificadas e diferenciadas, no Brasil,  em função do número de habitantes- 50 – 100.000 hab.; 100 – 250.000 hab.;250 – 500.000 hab. (ALMEIDA A./ VALENTE S. 1998, p. 4), classificação essa que não contribui ao entendimento de cidades médias, quanto local intermediário das redes, onde estas têm um papel de ponto de convergência de espaços, com uma menor inserção no meio da sociedade informacional.  Observado-se, especialmente na realidade investigada que é aquela relativa a das regiões Sertão e Agreste do Nordeste – Pernambuco.

Mertins, apresenta importantes critérios para investigação do crescimento das cidades médias e seus respectivos significados funcionais, em especial para os seus entornos, conforme foi documentado e ilustrado a partir da Colômbia (MERTINS 2000 a, b).Esses critérios, grosso modo, corresponderiam aos seguintes aspectos:

- Análise e comportamento dos percentuais demográficos atinentes à evolução da  população ( não número de habitantes!) e escala do crescimento espacial;

- Grau e amplitude da diferenciação funcional e sócio-espacial;

- Importância regional, especialmente considerando o abastecimento do entorno através da prestação de serviços públicos e privados, assim como enquanto centro de distribuição e área de influência;

- Empregos e percentuais de crescimento relativos aos setores secundário, terciário e quaternário, por exemplo, envolvendo valores relativos ao crescimento do PIB/ habitante,  renda per capita, entre outros aspectos;

- Condição e função regional e interregional da malha viária.

Garanhus – um ponto de convergência

Situado no Estado de Pernambuco, o município de Garanhuns, pertence a Mesorregião do Agreste Pernambucano e tem o papel de cidade central da Microrregião de Garanhuns (IBGE). Com uma distância aproximada de 230 km da cidade do Recife.

Fixada no Planalto da  Borborema,  mas especificamente  no planalto de Garanhuns, à 896 m de altitude,  chegando à 1.030 m de altitude no seu ponto mais elevado, e possui uma extensão territorial de cerca de 493 km2.

Quanto aos aspectos demográficos, encontra-se de maneira suscinta distribuídos na Tabela 1, alguns dados da evolução demográfica nos últimos trinta anos e das taxas de urbanização acompanhada da direta relação com o contigente populacional.

Tabela 1
Aspectos Demográficos
 

1970

1980

1991

2000

População Total

71.623

87.038

103.341

117.587

Masculina

33.487

40.565

48.257

55.543

Feminina

38.136

46.473

55.084

62.044

Urbana

51.574

67.347

89.206

103.283

Rural

20.049

19.691

14.135

14.304

Taxa de Urbanização (%)

72,01

77,38

86,32

87,84

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Censos Demográficos, 1970, 1980, 1991 e 2000.

 

Desde o início da década de 1970 tem-se verificado o interesse em cidades como Garanhuns em decorrência dos crescentes índices encontrados através do processo de descentralização populacional nas áreas metropolitanas, para áreas, cuja tendência do movimento migratório se dá não mais no sentido campo-cidade, como se caracterizava o processo de urbanização predominante, mas no sentido inverso. Além do mais, este processo recente está associado a mudanças nas formas de produção - mais flexível - e consumo dos grandes centros urbanos, associados também aos avanços tecnológicos, qualidade de vida, e meio ambiente, encontrados nas cidade de médio porte.

O espaço geográfico, de maneira sintética, entende-se como “um produto histórico e social das relações que se estabelece entre a sociedade e o meio circuncidante”. (CARLOS, 1989:15). E desta forma a presença dos fenômenos interligados com outros recortes espaciais, gerando novas relações dialéticas de produção e reprodução espacial. Tendo na técnica a criação de condições sociais inéditas modificando assim, a ordem econômica mundial e transformando os territórios.

A influência direta do capital no espaço urbano, atrelado as relações de dominação e poder, vem modificando-o e simultaneamente sendo palco de encontro e difusão de técnicas e redes necessárias a dinâmica urbana tendo em sua gênese as mais diversas naturezas e posteriormente densidades complexas.

Este trabalho consiste em analisar a dinâmica sócio-espacial do Município de Garanhuns num contexto regional, a partir de suas articulações em rede, de suas formas de produção do espaço urbano, e compreenção da redefinição de seus papéis regionais na perspectiva de desenvolvimento descentralizado.

As redes configuram os Espaços. Espaços que, tomando de empréstimo a idéia de Milton Santos[1], são sistemas compostos de objetos e de fluxos indissociáveis, que, se interconectam num modo contínuo. Dessa forma, tratamos aqui, ao abordamos a questão urbana das cidades como sistemas urbanos[2] que interagem em diferentes escalas, onde se fluidificam redes e sub-redes, através de distintas práticas sócio-espaciais.

A freqüência e intensidade desses fluxos e conexões dessa rede dependem em grande parte da raridade e da especificidade dos objetos que constituem focos de interesses das práticas sócio-espaciais. Assim Garanhuns, tem-se uma densidade de fluxos a partir da oferta de equipamentos hospitalar especializado,  Instituiçoes de Ensino Superior, ou simplesmente da oferta de vagas nos estabelecimentos, dentre outros exemplos, da rede visível e materialmente visível e materialmente sensível. Por outro lado, as agências bancárias caracterizam ao lado das multinacionais, formas próprias de redes, que, polarizam interesses e intensificam relações, sem serem necessariamente visíveis.

Atualmente a cidade de Garanhuns, vem exercendo um papel regional de relevante importancia para o desenvolvimento sócio-econômico do Estado, e pode-se destacar as atividades agropécuarias, o setor educacional, saúde, e o grande fluxo do capital através das atividades de comércio e serviços. A região vem sofrendo ações governamentais para o desenvolvimento do seu espaço, como exemplo temos o incentivo ao turismo e a duplicação de uma importante Rodovia, a BR-232, que mudará a configuração espacial e a diminuição do tempo de circulação entre os municípios facilitando o fluxo de pessoas e mercadorias.

No espaço municipal, encontra-se um agente global, administrando a antiga CILPE (Companhia de Industrialização do Leite de Pernambuco). Atualmente pode-se identificar nesta multinacional  as interligações que a mesma tem com outros estados e países. Portanto, o antigo pólo leiteiro que existia em Garanhuns teve continuidade com outras configurações, e principalmente com a mudança na relação dos pequenos e médios produtores de leite e a empresa. Esta se encontra em fase de expansão e também com a implementação de um instituto de pesquisa e análise leiteira de alta tecnologia.

O setor de saúde apresenta grande destaque devido à organização e a existência de serviços médicos especializados e uma rede de hospitais e clínicas interligadas, sendo referência regional. No entanto, ja é possível identificar sedes de empresas de seguro saúde, seguindo a lógica nacional do sistema de saúde privado.

Com a presença de Instituições de Ensino Superior (FFPG-Faculdade de Formação de Professores de Garanhuns da Universidade de Pernambuco e FAGA – Faculdade de Administração de Garanhuns), Centros Profissionalizantes (SENAC-Serviço Nacional do Comércio- e  SEBRAE-PE), escolas tradicionais de ensino fundamental e médio, e da Diretoria Regional de Educação do Agreste Meridional (Setor da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco) que  atende a 21 municípios do Agreste. Com estes aspectos, o município atrai também alunos de toda a região, que irão consumir os seus espaços prestadores de serviços educacionais.

A atividade de maior consolidação e expressão é o comércio e a produção artesanal, que esta é escoada para diversas localidades dentro e fora do Estado. Portanto, atrelado ao sistema de saúde encontra-se também grandes redes de fármacias e drogarias, lojas, e magazines, especializados na venda de artigos de diferentes origens. Em campo verificou-se também a ação da rede bancária, que está concentrada no centro da cidade, e apresenta agências estatais e privadas.

A logística informacional acompanha a dinâmica da organização espacial, das redes visíveis e sensíveis, através da informatização dos principais atores de circulação do capital no município. Desta maneira, este processo teve sua gênese recentemente iniciado no sistema de saúde seguido pelo educacional e acompanhando os outros agentes locais .

Por fim, vê-se na identificação dessas redes e na sua análise sendo de grande importância para o entendimento do espaço e do papel do capital através de sua circulação, modificando-o, e os demais aspectos sociais e culturais vigentes. Portanto, com a pertinente tentativa de reafirmação de uma hierarquização urbana para Garanhuns, busca-se na instigação de debates e das análises dos vetores de desenvolvimento presentes no município, apontar seu papel frente à Microrregião de Garanhuns, bem como a sua inserção no cenário da Região Agreste e no Estado de Pernambuco. O que servirá como base para uma compreensão das escalas de desenvolvimento econômico nos distintos níveis, que vai mostrar a força das correlações do Global ao Local, bem como a sua antítese.

 

Notas

[1] SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. 2.ed. São Paulo: Hucitec, 1997. 

[2] A complexidade e os possíveis problemas associados ao conceito de rede explicam os questionamentos de SANTOS sobre a validade de se discutir a condição de rede urbana na realidade latino-americana, sugerindo talvez em seu lugar a denominação “sistemas urbanos”. Cf: SANTOS, Milton. Manual de Geografia Urbana. São Paulo: Hucitec, 1981. p.154-160.

 

Bibliografia

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© Copyright Edvânia Torres Aguia Gomes y Michel Saturnino Barboza., 2003
© Copyright Scripta Nova, 2003

 

Ficha bibliográfica:
GOMES, E. T. A., BARBOZA, M. S. A organização espacial através das redes em uma cidade média do  nordeste do brasil : Garanhuns-PE. Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2003, vol. VII, núm. 146(146). <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-146(146).htm> [ISSN: 1138-9788]

 
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