Scripta Nova |
QUALIDADE AMBIENTAL E
ADENSAMENTO URBANO NA CIDADE DE PRESIDENTE PRUDENTE/SP
Camargo,
Carlos Eduardo Secchi
Aluno
do Curso de Pós-Graduação
E-mail:
duvert@gmail.com
Amorim,
Margarete Cristiane de Costa Trindade
Professora
Doutora do Programa do Pós-Graduação
E-mail: mccta@prudente.unesp.br
Qualidade ambiental e
adensamento urbano na cidade de Presidente Prudente/SP (Resumo)
Pesquisas
relacionadas ao ambiente citadino mostram a expansão urbana associada ao
planejamento ineficaz como o motivo de degradação do ambiente, com
interferências na qualidade de vida. Para suportar o aumento da demanda
populacional, é necessária a realização de um planejamento urbano que considere
os indicadores de qualidade de vida. A metodologia desta pesquisa engloba a
aglutinação de dados (atributos) cartografáveis da cidade de Presidente
Prudente/SP para posterior cruzamento e elaboração da Carta de Qualidade
Ambiental. Densidade Populacional, Uso e Ocupação do Solo, dentre os outros
atributos, são importantes no estudo da qualidade ambiental, pois interferem
diretamente nas características físicas e ambientais da cidade. Resultados
preliminares mostram que a cidade de Presidente Prudente/SP possui grande
concentração de pessoas, que, devido a questões financeiras, se instalaram em
ambientes deteriorados e de péssima qualidade ambiental, locais pobres, de
baixo custo de vida e sem infra-estrutura, comprometendo a saúde e o ambiente
habitado.
Palavras-chave: densidade urbana,
qualidade ambiental, urbanização.
Environmental quality and urban densification
in the city of Presidente Prudente/SP (Abstract)
Researches
related to the environment city dweller shows the associated urban expansion to
the inefficacious planning as the reason of degradation of the environment,
with interferences in the quality of life. To endure the increase of the population
demand, it has the necessity of the accomplishment of an urban planning that
considers the pointers of quality of life The methodology of this research
encloses the union of data (attributes) that can be mapped of the Presidente
Prudente/SP city for a later combination and elaboration of the Map of Ambient
Quality. Population density, Use and Occupation of the Soil, amongst the others
attributes, are important in the study of the ambient quality, therefore, they
intervene directly in the physical and ambient characteristics of the city.
Preliminary results show that the city of Presidente Prudente/SP possess large
concentration of people, that, just because financial questions, settles down
in spoiled places with a very bad environment quality, poor places, of low cost
of living and no infrastructure, compromising the health and inhabited places.
Keywords: urban density, ambient quality, urbanization.
Introdução
A
partir da década de 1960 o crescimento e o adensamento que ocorreu nas
principais cidades brasileiras tem resultado em modificações do ambiente que na
maioria das vezes interfere na qualidade de vida das pessoas.
A
crescente urbanização, conforme destaca Lombardo (1985) constitui uma
preocupação de todos os profissionais e segmentos ligados à questão do meio
ambiente, pois as cidades avançam e apresentam um crescimento rápido e sem
planejamento adequado, o que contribui para uma maior deterioração do espaço
urbano.
Dentre
outros fatores, as cidades cresceram em conseqüência do êxodo rural provocado
principalmente pela mecanização da agricultura ou pela substituição das
atividades agrícolas pelas pastagens. A grande quantidade de pessoas que
passaram a fazer parte do contingente urbano a partir deste processo, se
estabeleceu em áreas, muitas vezes, desvalorizadas e consideradas “sem
utilização” e em áreas de proteção ambiental.
A
expansão urbana associada ao planejamento ineficaz fez com que houvesse a
degradação do ambiente com interferências na qualidade de vida. As cidades
possuem características específicas tais como: diferenciados usos e ocupações
do solo, modificações climáticas e ambientais, que acabam por gerar um
ecossistema próprio dos centros urbanos. Através disso, a cidade se mostra como
uma segunda natureza, modificada pelo homem que expressa as relações sociais de
um espaço produzido para se viver dentro dos parâmetros mundiais de
modernização.
Desta
forma, as cidades necessitam de um planejamento urbano adequado e que ofereça o
suporte necessário ao seu crescimento, contribuindo com as necessidades básicas
de qualidade de vida para a população. Assim uma proposta eficaz e rápida para
o aumento da demanda populacional seria a realização de um planejamento urbano
que considere os indicadores de qualidade de vida.
A
qualidade de vida está diretamente ligada à qualidade do ambiente e para se
estabelecer esta relação é necessário realizar previamente uma análise
ambiental. Para se realizar esta análise ambiental deve-se levar em
consideração vários elementos como, por exemplo: presença de vegetação,
densidade populacional, uso e ocupação do solo, clima. Desta forma, áreas
verdes, baixa densidade populacional, lotes e moradias adequadas e condições
climáticas favoráveis, são de extrema relevância para se ter uma qualidade ambiental
e de vida adequada (Amorim, 1993).
De
acordo com Lombardo (1985, p. 16) a qualidade da vida humana está diretamente relacionada com a
interferência da obra do homem no meio natural urbano. A natureza humanizada,
através das modificações no ambiente alcança maior expressão nos espaços
ocupados pelas cidades, criando um ambiente artificial.
Como
características cada vez mais marcantes das cidades, fatores como a elevada
densidade demográfica, a concentração de áreas construídas, a pavimentação
asfáltica do solo e as áreas industriais podem provocar alterações no clima
local, essencialmente nos valores da temperatura do ar (Lombardo, 1985, p. 27).
A
forma como acontece o uso e a ocupação do solo urbano relacionada à disposição
do relevo pode gerar significativas alterações no campo térmico urbano. Deste
modo, o descontrole processual em que se dá o uso desse solo dificulta
tecnicamente a implantação de infra-estrutura, produz altos custos de
urbanização e gera desconforto ambiental, tanto em nível térmico, acústico,
visual ou de circulação. Tudo isso contribui, de acordo com Lombardo (1985, p.
18) para uma contaminação ambiental que resulta num ambiente desagradável para
o convívio humano.
Considera-se,
de maneira geral, que a qualidade de meio ambiente constitui fator determinante
para o alcance de uma melhor qualidade de vida. Assim sendo, Oliveira (1983)
apud Machado (1997) salienta que a qualidade ambiental está intimamente ligada
à qualidade de vida, pois vida e meio ambiente são inseparáveis, o que não
significa que o meio ambiente determina as várias formas e atividades de vida
ou que a vida determina o meio ambiente. Na verdade, o que há é uma interação e
um equilíbrio entre ambos que variam de escala em tempo e lugar.
Para
Machado (1997), os padrões de qualidade ambiental variam entre a cidade e o
campo, entre cidades de diferentes países ou do mesmo país, assim como entre
áreas de uma mesma cidade. Isso ocorre, segundo a autora, porque a qualidade do
meio ambiente depende de processos nacionais, em nível urbano e rural e de
políticas adotadas em todas as esferas: federal, estadual ou municipal, pública
ou privada.
Muitos
autores destacam que as variáveis utilizadas para se definir o padrão de qualidade
ambiental de um determinado espaço geográfico são muito discutidas, pois o que
é valorizado ou desvalorizado no meio ambiente para determinar a sua qualidade
depende da concepção de cada cidadão, inclusive do pesquisador e do planejador.
Dessa forma, acredita-se que não há consenso quanto à utilização de variáveis
que definem a qualidade ambiental urbana, ficando o pesquisador apto a definir
os atributos (ou variáveis) que permitam melhor realizar a análise do espaço
geográfico em estudo.
Para
Mota (1980, p. 22), algumas características do meio podem ser
usadas como elementos que orientarão a definição dos diversos usos do solo. Por
outro lado, o conhecimento dos impactos ambientais das diversas atividades em
um meio urbano é importante no disciplinamento do uso do solo urbano.
Segundo
o exemplo dado por Nucci (2001), as propostas de planejamento urbano para o
município de São Paulo têm ajudado a solucionar os problemas de qualidade
ambiental ocasionados pelo adensamento urbano, provocado pelas demandas
sociais.
O
adensamento significa a intensificação do uso e ocupação do solo vinculando a
disponibilidade de infra-estrutura e as condições do meio ambiente. Estas
características se aplicam a empreendedores que parcelam a terra com o objetivo
de construir para futuramente negociar os imóveis. No caso da ocupação
individual, a ausência de infra-estrutura não impede a instalação irregular de
pessoas, e isto acarreta diversos problemas de ordem ambiental e sanitária que
influenciam na qualidade de vida destes moradores (Nucci, 2001).
Mota
(1999), em seus estudos sobre o planejamento municipal, diz que a política de
desenvolvimento deve ser executada pelo poder público municipal, conforme
diretrizes gerais fixadas em lei com o objetivo de ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade garantindo o bem estar de seus
habitantes. O planejamento deve ser dinâmico e não deve se limitar à área
urbana do município, mas vincular-se ao meio rural e a toda a região onde a
mesma está inserida, completa o autor. Os instrumentos básicos para o
planejamento municipal, segundo Ceará apud Mota 1999, são: - lei orgânica municipal; -
plano diretor de desenvolvimento urbano; -
plano plurianual; - diretrizes
orçamentárias; e - orçamentos
anuais.
A
urbanização tem causado muitos impactos no meio ambiente, o resultado ambiental
do processo de urbanização do Brasil é descrito por Mota (1999), como causador
de graves mudanças ambientais seja através da utilização de recursos naturais
ou pela emissão de resíduos. Ainda segundo Mota, as principais alterações
provocadas pelo homem são: o desmatamento; movimentos de terra;
impermeabilização do solo; aterramento de rios, riachos, lagoas, etc;
modificações nos ecossistemas; poluição ambiental e alterações de caráter
global como efeito estufa e destruição da camada de ozônio.
Cabe
ao Geógrafo, realizar estudos que se referem à qualidade ambiental necessária
para o desenvolvimento da vida humana, colaborando na solução dos problemas
enfrentados no meio urbano. Neste sentido, a cidade deve ser vista não apenas
como um mero “conjunto de edificações”, mas sim, como um fato geográfico que
envolve relações físicas, socioeconômicas e políticas, que são estabelecidas e
que se desenvolvem neste meio predominantemente humano.
O
processo de urbanização ocorrido
Desta
forma, o crescimento urbano de Presidente Prudente se deu a partir da migração
rural - urbana e urbana - urbana e como aborda Alegre (1970, p.71),
Foi, certamente o café, a grande mola
propulsora do desbravamento desta área, mas também o algodão e o gado têm
considerável participação na história da região lembrando que uma das suas
características foi o rápido crescimento que conheceu. Na década de quarenta,
Presidente Prudente foi o município paulista que maior número de imigrantes
nacionais recebeu. Passada a febre e a euforia de uma produção agrícola
abundante, cansado o solo pouco fértil, pela ocupação intensa e dos maus tratos
provenientes de uma técnica agrícola rudimentar e danosa, rendia pouco e
forçava o homem a substituir as culturas, conformar-se com o pequeno ganho ou
sair.
A
cidade passou então a receber os lavradores afugentados do campo, que vieram
ganhar a vida de qualquer modo. Havendo uma redefinição das relações cidade e
campo.
Na
década de
Com
o crescimento da população urbana, as pessoas passaram a viver em péssimas
condições de vida, com habitações à beira de córregos poluídos, próximas a
"lixões", etc, comprometendo a saúde e o ambiente habitado.
O processo de crescimento que vem ocorrendo na cidade de
Presidente Prudente nas últimas décadas deu à cidade uma configuração urbana
característica das principais cidades médias brasileiras. Esta configuração se
mostra a favor da expansão urbana a qualquer custo, baseada na especulação imobiliária
que se dá em áreas consideradas como eixo de expansão do município. No caso de
Presidente Prudente, este eixo leva a cidade, a sua população e seus problemas,
para a região oeste do município, devido à topografia favorável do terreno,
colinas amplas e levemente convexizadas, o que facilita a implantação de
loteamentos.
Hoje as áreas circunvizinhas a Presidente Prudente estão
praticamente tomadas pela criação de gado, havendo o predomínio de extensas
áreas cobertas por pastagens, caracterizando o ambiente rural prudentino.
Neste
contexto, a cidade cujo planejamento não acompanhou o seu crescimento se vê
defronte a uma concentração de pessoas, que saíram do campo em busca de uma
vida melhor, e que foram obrigadas, por questões financeiras, a se instalarem
em ambientes deteriorados, de péssima qualidade ambiental, locais pobres, de
baixo custo de vida, sem nenhuma infra-estrutura sendo que grande parte delas
vivem em péssimas condições de moradia com esgotos correndo a céu aberto,
córregos completamente poluídos, lixos espalhados pelo solo, etc. (Amorim,
1993).
Com o crescimento aparentemente desordenado da malha urbana,
que atendem aos interesses do modo de produção capitalista, surgem diversas
transformações sócio-ambientais, que repercutem muitas vezes de maneira
negativa na vida das pessoas. Muitas delas vivem em péssimas condições de
moradia, saúde, educação, etc. O ambiente passa também a reagir contra o
próprio Homem, acarretando diversos custos sociais.
Assim,
as demandas populacionais, associadas ao caráter expansionistas de agentes
imobiliários e comerciais, acabam por produzir áreas dentro do sítio urbano,
com diferentes usos e ocupações.
O
uso e ocupação do solo são aspectos do planejamento urbanístico, pois trata da
forma como se organiza a cidade segundo a aplicação de instrumentos legais de
controle deste aspecto. Para isso são considerados diversos tipos de fatores
que influem mais diretamente nesta questão como a densidade populacional, a
densidade das construções e a destinação da terra. Segundo Silva (1997) estes
instrumentos legais são englobados por instituições e institutos jurídicos sob
o conceito de zoneamento do solo, sendo um instrumento legal do poder
público para controlar o uso da terra, as densidades de população, a localização,
a dimensão das construções e seus usos específicos em prol do bem estar geral.
Silva
(1997) afirma que o zoneamento consiste na repartição do território municipal à
vista da destinação da terra, uso do solo ou das características
arquitetônicas. No que se refere ao aspecto da destinação da terra o município
se dividirá em zona urbana, zonas urbanizáveis, zonas de expansão urbana e zona
rural, definindo assim as qualificações urbanísticas do solo, que se destina
aos principais usos como o uso residencial, o uso industrial, o uso comercial,
o uso de serviços, o uso institucional, o uso viário e o uso especial.
Ainda
segundo este autor, em uma cidade desordenada esses usos desenvolvem-se
promiscuamente, com grande prejuízo ao bem estar da população. Isto explica por
que o urbanismo propõe “zonificar” os aglomerados urbanos, conjuntamente com o
campo, estabelecendo zonas de uso mais ou menos separadas. Portanto, o
planejamento urbanístico é de suma importância para o crescimento e
desenvolvimento das cidades com um uso e ocupação do solo ordenado, a fim de
que estas não se tornem conglomerados com altas densidades populacionais e de
construções.
Com
este estudo, pretendeu-se compreender em que medida o adensamento urbano,
através dos diferentes tipos de uso e ocupação do solo, é responsável pela
qualidade ambiental na cidade de Presidente Prudente. Assim sendo, tem-se a
possibilidade de fornecer subsídios para a elaboração de políticas de gestão
ambiental urbana junto aos órgãos públicos municipais de planejamento.
Desta
forma a importância de estudos dessa natureza está em viabilizar o maior
conhecimento sobre o planejamento urbano de Presidente Prudente e auxiliar na
melhoria da qualidade de vida da população.
Procedimentos
Metodológicos
A
metodologia utilizada neste trabalho se baseia nos procedimentos utilizados por
Nucci 2001, que elaborou uma “Carta de Qualidade Ambiental” para o Distrito de
Santa Cecília/SP. Essa metodologia tem como principal ferramenta à
espacialização dos atributos ambientais para posterior análise sistêmica. A
preocupação é, portanto, aglutinar o máximo de dados cartografáveis da área em
estudo para posterior cruzamento e elaboração de uma carta de qualidade
ambiental.
Conforme
destaca Nucci (2001), o método proposto para análise da qualidade ambiental
trabalha com inferências, com base nas informações detalhadas sobre o uso do
solo urbano, já que vários autores relacionam sempre a qualidade das variáveis
do ambiente com o tipo de utilização do solo. Esse método tem como base geral
os estudos realizados em Ecologia e Planejamento da Paisagem, que pode ser
entendido como uma contribuição ecológica e de ordenamento para o planejamento
do espaço, onde se procura regulamentar os usos do solo e dos recursos
ambientais, salvaguardando a capacidade dos ecossistemas e o potencial
recreativo da paisagem, retirando-se o máximo proveito do que a vegetação pode
fornecer para a melhoria da qualidade ambiental.
Devido
à abordagem sistêmica de dados cartografáveis, este estudo não tem valor
quantitativo, os atributos são analisados qualitativamente de forma relativa,
ou seja, cada atributo terá o mesmo peso que o outro. Uma área caracterizada
como sendo de baixa qualidade ambiental terá uma quantidade maior de atributos
associados a elas. Outra área com boa qualidade ambiental terá pouco ou nenhum
atributo associado.
As
cartas não são sobrepostas de uma só vez, desse modo são geradas sínteses
parciais para a análise, conforme metodologia utilizada por Nucci. Por exemplo,
sobrepõe-se a carta de densidade populacional com a carta de uso e ocupação do
solo gerando assim uma terceira carta a qual é sobreposta a carta resultado da
sobreposição entre as cartas de ausência de áreas verdes e isotermas, e assim
sucessivamente até se chegar ao resultado final a partir da análise deste
processo.
Os
atributos escolhidos para esta análise estão intimamente ligados à baixa ou
alta qualidade ambiental de um determinado lugar, por isso sua indicação
tornou-se necessária. Densidade Populacional, Uso e Ocupação do Solo, Pontos de
Enchentes dentre os outros atributos são características importantes no estudo
da qualidade ambiental, pois interferem diretamente nas características físicas
da cidade e na capacidade de uma área ser adensável ou não. Em poucas palavras,
o adensamento urbano é a intensificação do uso e ocupação do solo e, sua
desvinculação com a disponibilidade de infra-estrutura pode gerar grandes
problemas para o meio ambiente e para as pessoas que vivem nele. Portanto, uma
área sem impedimentos para o adensamento é caracterizada pela presença de
infra-estrutura e respeito às leis e limites ambientais.
Foram utilizados softwares para desenhar, espacializar e
sobrepor as cartas de atributo. Para o desenho e sobreposição das cartas, foi
utilizado o software gráfico CorelDRAW[i]
que trabalha com um sistema de camadas que serão úteis no processo de
sobreposição virtual das cartas. Para a espacialização da temperatura, foi
utilizado o software de interpolação de dados Surfer[ii],
que utiliza coordenadas geográficas X e Y para gerar as cartas.
Resultados e
Discussões
A cidade de Presidente
Prudente no decorrer dos anos teve seu crescimento direcionado para a porção
oeste da malha urbana. Este direcionamento foi ocasionado pelo relevo plano e
pouco acidentado, que facilitou a implantação de conjuntos habitacionais e a
criação de áreas de especulação imobiliária, que foram sendo habitadas. O eixo
de expansão urbana da cidade, como dito, é direcionado principalmente para
oeste, mas a cidade também apresenta sinais de expansão para as direções
noroeste e sudoeste. A região leste da cidade teve seu crescimento prejudicado
devido ao desenho do relevo que, ao contrário do eixo de expansão, é acidentado
e com muitas ondulações, o que onera a implantação de construções e
conseqüentemente o crescimento para este lado da cidade.
A cidade no início de sua
história ocupou o espigão divisor de águas localizado onde hoje é a Estação
Ferroviária e suas proximidades, na região leste do município. Esta
característica da cidade de surgir em um espigão com a linha férrea separando o
que hoje é a zona leste, do restante da cidade, também influiu para que a
expansão e o adensamento urbano ocorressem para oeste. Essa situação fez com que,
em contrapartida, na direção leste, a cidade crescesse pouco, atualmente
contando com apenas alguns bairros, em sua maioria formados no início da
história do município.
Um outro fator que
concentrou o adensamento urbano da cidade a oeste, é definido por Jacobs (2000)
como as zonas de fronteiras. Segundo esta autora, zona de fronteira é o
perímetro de um uso territorial único de grande proporção.
Camargo e Menotti, 2002,
tratam deste assunto afirmando que “estas áreas geralmente criam bairros
decadentes e, por conseqüência, uma fronteira social. No caso da zona leste da
cidade de Presidente Prudente, os bairros situados do outro lado da linha,
ficaram marginalizados social e economicamente. Isso ocorre por um problema
básico, as fronteiras costumam configurar a cidade de maneira a gerar becos sem
saída para a maioria das pessoas que utilizam as ruas, formando “hiatos” de
usos em suas redondezas. Desta forma, quanto mais estéril essa área
simplificada se torna para empreendimentos econômicos, menor será a quantidade
de usuários, e mais improdutivo será o próprio lugar, gerando um processo de
desconstrução ou deterioração da área”. (Camargo e Menotti, 2002, p.25)
Esta facilidade natural
em expandir-se para oeste, Figura 1, fez com que a cidade crescesse rapidamente
sem muita preocupação com o planejamento ambiental e urbano das áreas
construídas. Isso fez com que diversas áreas da cidade ficassem prejudicadas em
questões importantes como, por exemplo, no uso e ocupação do solo e na não
efetivação de áreas verdes como tal, a fim de serem aproveitadas como deveriam.
Estas questões, quando analisadas de forma conjunta, nos mostram várias
situações em que certos tipos de uso do solo que necessitam de cobertura
vegetal, devido as suas características, mas são deficientes neste ponto,
causando assim diversos tipos de desconfortos, tanto térmicos como ambientais e
também sociais.
A partir da Planta 2004
de Zoneamento de Uso e Ocupação do Solo da Prefeitura Municipal de Presidente
Prudente, os diversos tipos de uso e ocupação do solo que caracterizam a
cidade, retratam um ambiente tipicamente citadino dividido
Figura Nº1
Evolução e crescimento
para Oeste da cidade de Presidente Prudente/SP
Fonte: Adaptado de Leal,
2002.
Essa pequena descrição
dos tipos de usos e ocupação do solo caracteriza Presidente Prudente como uma
cidade média típica e, também, traz consigo os problemas de centros urbanos
deste porte como poucas áreas verdes efetivadas, mau planejamento, excessivo adensamento
urbano, desconforto térmico, pontos de enchentes entre outros males
característicos de diversas cidades na faixa dos 200.000 habitantes.
Comparando a carta de uso
e ocupação do solo com a carta de áreas verdes da cidade, notamos que, com
exceção da parte nordeste, os diversos pontos de concentração das áreas verdes
estão localizados em ZR’s de baixa é media densidade populacional de ocupação
vertical e horizontal de até dois pavimentos. Esta vegetação, em grande parte
rasteira, é formada por 147 locais espalhados pela cidade que, segundo Amorim
2000, é constituída de praças e alguns parques urbanos.
Ainda segundo esta
autora, há diversas áreas destinadas à arborização e ao lazer, mas o problema
está nas condições em que estas áreas se encontram, pois, na maior parte das
vezes houve apenas a destinação para tais fins e não a efetivação, sendo que em
diversas áreas o verde ainda não existe e o suporte para o lazer da população
não foi implantado. A vegetação primária da cidade de Presidente Prudente não é
mais encontrada no município devido a diversos fatores típicos de uma cidade em
expansão, como, por exemplo, o desmatamento para a construção de conjuntos
habitacionais, existindo apenas alguns pontos florestados não originais
caracterizados como ZPPA’s.
Afirmando isso, chegamos
à conclusão que se as poucas áreas verdes existentes no município se localizam
nas ZR’s de baixa e média densidade populacional, as ZR’s de alta densidade
populacional, que devido as suas características necessitariam mais deste
atributo, são deficientes neste quesito. A partir da comparação da carta de uso
e ocupação do solo com a carta de áreas verdes da cidade percebemos esta
realidade, lembrando que
“a cobertura vegetal é de
fundamental importância para que haja um equilíbrio entre o solo e o clima,
interferindo tanto no processo de absorção e escoamento das águas pluviais,
como minimizando as altas temperaturas, tendo assim, um efeito positivo no
balanço microclimático. Além disso, deve-se considerar o papel que a cobertura
vegetal exerce na diminuição das enchentes, um grave problema que provoca
transtornos à população”. (Amorim, 2000, p.303).
A impermeabilização do
solo acarreta diversos problemas tanto relacionados ao escoamento e infiltração
da água da chuva como ao conforto térmico. Diversas cidades médias do porte de
Presidente Prudente possuem problemas com o acúmulo das águas pluviais em
épocas de chuva intensa, e isso é ocasionado principalmente pela
impermeabilização quase que total de quintais e áreas públicas como as quadras
poliesportivas e centros de lazer.
As enchentes são
conseqüência do mau planejamento das áreas de fundo vale, muito comuns em
qualquer cidade, que são urbanizadas com a canalização dos córregos
simplesmente com fins estéticos. Dificilmente há algum tipo de planejamento por
parte das autoridades competentes para o aproveitamento dessas áreas como
pontos de infiltração para a água da chuva, com a restauração de tais áreas e o
trato no sentido de deixá-las com um aspecto agradável para a população. Muitas
vezes, os fundos de vale se tornam depósitos irregulares de lixo e entulhos,
fazendo com que a população local reivindique sua urbanização com o intuito de
sanar um problema, mas criando um outro de proporções bem maiores.
Presidente Prudente já
teve, e ainda tem, muitos problemas relacionados a enchentes em épocas de
fortes chuvas, áreas como o Parque do Povo, o estacionamento do Prudenshopping,
Avenida Tancredo Neves e Avenida Manoel Goulart são potenciais pontos de
enchentes na cidade, pois estão em cima de córregos de grande vazão, e, devido
a isso, a Prefeitura Municipal vem tomando providências no sentido de aumentar
a capacidade dos tubos a cada novo rompimento provocado por chuva mais intensa.
Mas isso são apenas medidas paliativas para um problema maior, que é o
desrespeito ao curso natural do rio de sua área de vazão. Excetuando o Parque
do Povo, que está
Outro problema enfrentado
Estes dados, associados
com a carta de áreas verdes, mostram o quão importante é a efetivação das áreas
verdes na cidade. O ponto menos quente citado é a maior área verde da área
urbana, o que contribui para ser um lugar de temperatura mais amena e
agradável, tanto localmente como em seu entorno mais direto. Estes dados
mostram que a presença da vegetação é responsável pelo conforto térmico com a
amenização da temperatura local, melhorando sensivelmente o micro-clima, o que
influi diretamente na qualidade de vida da população.
Figura Nº2
Carta de Isoterma da
cidade de Presidente Prudente/SP
Fonte: Amorim, 2000.
Após a análise dos dados
diretamente relacionados ao ambiente citadino de Presidente Prudente,
passaremos a analisar quais são as conseqüências disso na população com a
Análise Espacial da Exclusão Social da cidade. Segundo dados do Conjuntura
Prudente, 2002, observa-se na Figura 3 uma expressiva área de inclusão social
na porção central e sul da cidade, onde as variáveis analisadas não registraram
situações de risco, privação, precariedade e exclusão. Já as áreas de alta
exclusão social localizam-se quase que integralmente nas periferias noroeste,
norte e leste da cidade. Esta situação pode ser explicada juntamente com as
informações já mencionadas, de que a cidade cresce para o oeste, ou seja, o
rápido crescimento gera altas concentrações populacionais com pouca ou nenhuma
infra-estrutura, acarretando ambientes de péssima qualidade de vida.
Grande parte dos
“elementos negativos” deste trabalho, como as altas densidades populacionais, o
desconforto térmico, a não efetivação ou a completa ausência de áreas verdes,
extensas áreas impermeabilizadas, pontos de enchentes, etc. estão localizadas
na periferia da cidade, que infelizmente, também abriga a população mais
carente e desprovida de recursos financeiros para melhorar de vida com uma
possível mudança para um ambiente menos degradado e de melhor qualidade de vida.
Figura Nº3
Análise Espacial da
Exclusão Social
Fonte: Conjuntura Prudente, 2002.
A associação e análise destes
dados mostram a necessidade de políticas públicas que tenham como objetivo um
desenvolvimento que privilegie não somente o lucro, como a especulação
imobiliária e a construção de conjuntos habitacionais em áreas sem uma
infra-estrutura natural que comporte tal empreendimento, mas que leve em
consideração principalmente o ambiente, pois, como visto, este tem influência
direta na população urbana que em muitos casos não passa de um mero personagem
num jogo de forças e poder.
[ii] Surfer é marca registrada
Golden Software.
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©
Copyright Carlos Eduardo Secchi Camargo y Margarete
Cristiane de Costa Trindade Amorim,
2005
© Copyright Scripta Nova, 2005
Ficha bibliográfica:
CAMARGO, C.; AMORIM, M. Qualidade ambiental e adensamento urbano na
cidade de Presidente Prudente/SP. Scripta
Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales. Barcelona:
Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2005, vol. IX, núm. 194 (46). <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-194-46.htm>
[ISSN: 1138-9788]
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