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Geo Crítica
Scripta Nova
REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98
Vol. IX, núm. 200, 1 de noviembre de 2005

DA EUROPA PARA AMÉRICA: A TRAJETÓRIA DO MOVIMENTO OLÍMPICO BRASILEIRO

Katia Rubio
Universidade de São Paulo

Recibido : 27 de mayo de 2005. Devuelto para revisión : 14 de junio de 2005. Aceptado : 14 de julio de 2005.
Resumo

Originados como um ritual em homenagem a Zeus, os Jogos Olímpicos foram recriado no final do século XIX e enfrentaram diversas dificuldades de estabelecimento até conquistar a condição de um dos principais fenômenos socioculturais contemporâneos. Atravessou o século XX acompanhando par e passo a dinâmica social e os interesses comerciais e políticos que foram sendo acoplados direta ou indiretamente ao universo esportivo. Nascido e desenvolvido na Europa foi conquistando adesões em todos os continentes. Os atletas contemporâneos, que em princípio tiveram sua condição social e identidade associadas a amadores, amantes da prática esportiva e representantes de um grupo social que se dedicava exclusivamente às realizações atléticas, viram esse papel ser alterado em função das transformações às quais os Jogos Olímpicos foram submetidos. O objetivo desse trabalho é apresentar a dinâmica do desenvolvimento do esporte e do movimento olímpico moderno e sua chegada ao continente americano, mais precisamente ao Brasil. Nesse processo fica evidenciado que mais que uma prática lúdica e amadora a implantação e desenvolvimento tanto do esporte como do movimento olímpico tiveram um caráter político e comercial que foi ampliado ao longo de seus 108 anos de existência.

Palavras-chave: Jogos Olímpicos, Brasil, esporte.

Abstract

Originated as a ritual in Zeus’s honor, the Olympic Games were recreated in the end of XIXth century the Olympic Games faced many difficulties to be established until acquire the condition of most important contemporary social culture phenomenon. They crossed over the XXth century strictly following the social dynamic and the politic and commercial interests that had been attached to this event. Created and developed in the Europe they were expanding to all continents. The contemporary athletes, that at the beginning had their social condition and identity as amateurs, lovers of sportive practice and representative of a social group dedicated only to the athletic realizations, saw this role be changed by the transformations of the Olympic Games. The purpose of this research is presented de development of sport and modern Olympic movement and its arrive in the American continent, specifically in Brazil. In this process it’s clear that the sport and the Olympic movement have politic and commercial character that was multiplied during the last 108 years.  

Key words: Olympic Games, Brazil, sport.

As condições que levaram o esporte moderno a se organizar denunciam as particularidades do lugar e momento histórico em que esse fenômeno se desenvolveu.

A Inglaterra tornara-se a principal potência da Europa e dominava parte do continente americano, africano e asiático, com um modelo diferente do ibérico que havia predominado nos séculos anteriores. No século XVIII já não bastava descobrir, explorar e/ou colonizar. Era preciso expandir mercados para o escoamento da produção industrial que crescia com a invenção de máquinas e novas tecnologias. As escolas ganhavam destaque nesse cenário preparando os representantes do império, responsáveis por levar a cultura e a ideologia britânicas às colônias e ao novo mundo, tanto no plano das idéias como no físico.

As práticas esportivas ganharam um papel de destaque nesse processo e momento histórico. Hobsbawn (1997) entende que nesse período, final do século XIX e início do século XX, o esporte ocupou um lugar privilegiado na sociedade européia e norte-americana por colaborar para a construção de identidades nacionais. A esse processo os autores denominam de tradição inventada.

Cultura e tradição tornam-se valores preciosos na conquista de novos mercados, responsáveis pela criação de necessidades desconhecidas e pela implementação de comportamentos e atitudes inéditos.

O Brasil passou a fazer parte dessa zona de influência a partir do início do século XIX, assimilando parte dessa cultura e transformando outra, agregando valores que já lhe eram próprios.

O Movimento Olímpico, por sua vez, participou de uma dinâmica de busca de ações internacionalistas e de paz. Nasceu no continente europeu, berço das diversas guerras dos séculos XIX e XX e buscou se contrapor aos desdobramentos desses conflitos com uma proposta pacífica. As competições esportivas rapidamente se se identificaram com um grande evento competitivo, e os Jogos Olímpicos tornaram-se uma nova metáfora para o ganhar e o perder. Nesse cenário não se fazia necessária a ruína do derrotado.

Já o Movimento Olímpico Brasileiro surgiu como um desdobramento dessa ‘tradição inventada’ em solo europeu, como sugere Hobsbawn (1997), e buscou sua própria identidade no decorrer do século XX, experimentando em parte os conflitos sociais vividos na Europa – esportes de elite e populares – em parte as peculiaridades da organização social brasileira.

O esporte moderno

O esporte e a atividade física chegaram ao século XIX acompanhando as transformações políticas e sociais que começaram nos séculos anteriores demonstrando, desde então, uma tendência a servir como uma tela de projeção da dinâmica social.

Merece especial atenção o processo ocorrido na Inglaterra dos séculos XVIII e XIX, uma vez que nesse país surgiram e se difundiram vários elementos do esporte moderno em um modelo que se chama de popular.

Conforme Mandell (1986) o esporte como se conhece na sociedade contemporânea surgiu em um momento histórico marcado por condições sociais particulares e foi modelado conforme cânones de prazer e ócio de determinadas classes sociais.

No entender de Hobsbawn (1997) vários fatores contribuíram para a afirmação desse fenômeno como o local e preço dos equipamentos utilizados bem como a defesa do amadorismo (condição exclusiva daqueles que podiam usufruir de forma desinteressada do esporte). Esses fatos dificultavam, e até impediam, o acesso da classe operária às práticas esportivas. Entretanto, essa situação se transformou em parte por pressão de reivindicações, em parte por um política de cooptação de várias instituições interessadas em ampliar seus quadros, aproximando as camadas médias da elite.

As peculiaridades do sistema esportivo inglês estão relacionadas diretamente a história da Inglaterra e a dinâmica das relações sociais que ali se desenvolveram.

Diferentemente do que ocorria do outro lado do Canal da Mancha, o status aristocrático inglês dependia muito mais da riqueza, da influência na corte e dos lucros acumulados por antepassados aristocráticos. Diante disso, muitos ingleses experimentaram novos meios de controle de recursos e de criação de riqueza favorecendo a Revolução Industrial e o esporte moderno.

Salvador (2004) afirma que o esporte é filho das revoluções burguesas, neto do Renascimento e da Idade Média surge de meios culturais diversificados que convergiram para um único modelo esportivo: a mercantilização. O esporte moderno evoluiu rapidamente por via do industrialismo, tendo o liberalismo como ideologia e o capitalismo como modelos que haviam de ser seguidos.

O aliado inconteste para o desenvolvimento prática esportiva era o sistema educacional inglês. Devido ao isolamento rural das escolas e universidades das classes altas foi necessário que essas instituições de ensino se abrissem aos filhos dos ricos comerciantes, o que levou a uma amável convivência entre essas classes sociais.

Denominadas public schools, diferentemente do que sugere o nome, eram os centro educativos mais seletos do reino, onde os filhos varões da aristocracia e da alta burguesia tinha, sua educação encomendada, conforme González (1993). O autor afirma que as public schools assemelhavam-se às instituições totais e caracterizavam-se por uma grande disciplina interna, que levavam ao abuso, à tirania e a crueldade física dos alunos mais velhos e maiores sobre os mais novos e pela mais completa autonomia dos alunos no uso de seu tempo livre. Embora os garotos tivessem tradicionalmente o direito de desfrutar e dispor de seu tempo livre como melhor desejassem, porque se supunha que essa liberalidade fosse fundamental para ao formação de um espírito independente dentro da tradição liberal, era preciso regulamentar algumas práticas que pareciam fugir ao controle das instituições.

A necessidade de regulação das atividades de ócio levou a uma reformulação das instituições educacionais ao longo do século XIX. Esse momento foi marcado pela utilização do esporte como parte da estratégia de controle das atividades dos adolescentes das classes dominantes e, em um período muito curto de tempo, transformou-se em um dos conteúdos curriculares mais importantes dessas instituições.

Até então tradicionalmente os estudantes tinham garantido o direito de desfrutar e disponibilizar de seu tempo livre de acordo com seu desejo, porque se supunha que tal liberdade era de fundamental importância para a formação do espírito independente dos futuros líderes sociais. Como resultado dessa postura era comum que após o período regular de estudos os estudantes buscassem refúgio em lugares distantes da escola e realizassem atos de vandalismo e atividades proibidas (como a invasão de propriedades, caça e pesca) ou se ocupassem com práticas populares (formas tradicionais de futebol e outros jogos com bola, perseguições etc.) que assumiam também o caráter iniciático dos mais jovens que eram obrigados a desempenhar o papel de sofredores.

Essas condições acabaram por gerar uma necessidade de normatização de conduta e de regras. Elias e Dunning (1992:224) apontam que a concepção e organização do esporte moderno na Inglaterra estão intimamente relacionadas aos complexos processos sociais e políticos que viveram esta nação ao longo dos séculos XVII e XVIII, e justificam:

“No decurso do século XIX e, em alguns casos, mais cedo, na segunda metade do século XVIII, com a Inglaterra considerada como um modelo, algumas atividades de lazer exigindo esforços físicos assumiram também em outros países as características estruturais de ‘desportos’. O quadro de regras, incluindo aquelas que eram orientadas pelas idéias de ‘justiça’, de igualdade de oportunidades de êxito para todos os participantes tornou-se mais rígido... A ‘desportivização’, em resumo, possui o caráter de um impulso civilizador comparável, na sua orientação global, à ‘curialização’ dos guerreiros, onde as minuciosas regras de etiqueta representam um papel significativo.”

A crueldade, a vulgaridade e a rudeza das práticas de tempo livre realizadas pelos estudantes ingleses levaram as autoridades educacionais a reconsiderar o princípio da liberdade e independência, instalando um sistema de vigilância que teve importantes desdobramentos para a organização das atividades esportivas. Alguns passatempos tradicionais foram prontamente proibidos e outros considerados suscetíveis de serem regulados, de ajustar-se melhor a um marco espacial definido ou de fomentar espírito de equipe, foram adotados.

Os processos de regulação a que foram submetidos os passatempos tradicionais pré-esportivos foram produto de assembléias de cursos e escolas, de discussões entre os estudantes até serem transformados em esportes como por exemplo o futebol e o rugby. Como conseqüência foram sistematizados os códigos, os gestos apropriados e homologadas as similitudes e as variedades das diversas modalidades (González, 1993; Ulmann, 1982).

Nesse contexto quadras, campos, piscinas e pistas converteram-se em verdadeiro celeiro de líderes que iriam atuar na indústria, na política, no exército, nas empresas comerciais e na administração do império colonial e a influência socializante dos jogos era enfatizada para promover liderança, lealdade, cooperação, autodisciplina, iniciativa e tenacidade, qualidades necessárias à administração do Império britânico. Em algumas décadas uma geração originária dessas instituições, a chamada cristandade muscular (Mangan, 1986), conquistou postos de direção no governo, no parlamento, na igreja, em empresas privadas e na educação e difundiu com muito êxito a nova mensagem esportiva. Segundo esse autor desde que o Império britânico se estabeleceu as public schools tornaram-se seu suporte. Os alunos oriundos dessas instituições subscreviam totalmente o imperativo ético imperial. Eles desempenhavam o papel de agentes de persuasão da hegemonia, ou seja, eram executores autocratas, com capacidade para impor seu ponto de vista exercendo o papel moral não pela força, mas pela autoridade: ocupavam os púlpitos das igrejas, participavam das competições esportivas, da caçada na selva, realizavam palestras em escolas ou escreviam os editoriais dos periódicos oferecendo à sociedade sua versão da realidade. Os formandos das public schools serviam para legitimar as convicções dominantes, conquistando a juventude e criando unidade no terreno da ideologia.

E assim, a Inglaterra passou a exportar as práticas esportivas juntamente com suas mercadorias e poder bélico para a Índia, para a África, para a América e onde mais se descortinasse um mercado consumidor. De acordo com Mangan (1986) algumas modalidades esportivas como o criket definiam claramente o conceito de cavalheirismo, embora o rugby e o futebol propusessem os valores mais apropriados para o imperialismo: a coragem, o autocontrole e o companheirismo.

O Movimento Olímpico

O Movimento Olímpico contemporâneo tem como principal ideólogo Pierre de Freddy, conhecido pelo título nobiliárquico de Barão de Coubertin. Educador, filósofo e historiador, quando se empenhou na reorganização dos Jogos Olímpicos almejava revalorizar os aspectos pedagógicos do esporte mais do que assistir à conquista de marcas e quebra de recordes. Sua preocupação fundamental era valorizar a competição leal e sadia, o culto ao corpo e à atividade física.

Embora de origem aristocrática Coubertin resistia à idéia e a prática de perpetuar um modelo político social que havia levado a França a três monarquias, dois impérios e três repúblicas em menos de cem anos. Por essa razão definia-se como um republicano e embora desacreditasse da política desejava promover ações que levassem à transformação de uma sociedade que lhe parecia enferma.

Nesse contexto começou a freqüentar a École Supérieure des Sciences Politiques na qual teve contato com a pessoa e a obra de Hipólito Taine e com um núcleo anglófilo que buscava compreender a dinâmica cultural inglesa capaz de proporcionar uma estabilidade social que faltava à França.

De acordo com Tavares (2003) duas características da sociedade inglesa interessavam a Coubertin e iriam influenciar sobremaneira sua obra e suas ações: uma delas era o “‘espírito de associação’ da sociedade inglesa corporificado nas associações privadas de patronato das mais diversas causas” (p. 40); o segundo foi o sistema educacional inglês, “inclusive as atividades esportivas nas escolas que Taine discute sublinhando seu valor como uma preparação para a vida numa sociedade democrática” (p. 40).

Mas, sobretudo as obras Notes sur l’Anglaterre de Hippolyte Taine e Tom Brown’s Schooldays de Thomas Hughes iriam provocar profunda identificação de Coubertin com o sistema educacional e esportivo ingleses. Hughes foi aluno de Thomas Arnold na escola de Rugby, marco da institucionalização do esporte nas escolas inglesas, e na obra Tom Brown’s relatou de forma romanesca e apaixonada o cotidiano e as preocupações de uma pedagogia pelo esporte. A fundamentação dessa pedagogia se assentava na responsabilidade e na hierarquia. A responsabilidade estava associada ao uso da liberdade e do cumprimento de normas e tradições que entre, outras ações, refletia-se no uso do tempo ocioso. A hierarquia demandava a compreensão e aceitação de uma ‘ordem natural’ imposta pelos veteranos, por aqueles que primeiro chegaram à instituição impondo a perpetuação de uma cultura que deveria ser reproduzida pelos mais novos.

Embora Coubertin encontrasse em Taine o eco necessário para a reflexão sobre um modelo pedagógico é em Frédéric Le Play que a reforma social por meio de uma pedagogia esportiva encontrará seu porto seguro. Organizador da Société d’Économie Sociale e da Unions de la Paix Sociale, Le Play sociólogo e filósofo da segunda metade do século XIX exerceu grande influência sobre Coubertin que iria afirmar em seus escritos no final da vida que “Le Play foi, juntamente com Arnold, o mestre a quem dedico minha gratidão no momento em que o fim se aproxima. A esses dois homens eu devo mais do que eu posso dizer” (Mangan, 1986:83).

Coubertin começou a se preocupar em desenvolver um modelo de reforma social por meio da educação e do esporte em uma perspectiva internacionalista depois de obter pouco sucesso com programas de caráter educacional em seu país, a França. MacAloon (1984) aponta que durante os idos de 1880 visitou inúmeras escolas inglesas, uma verdadeira peregrinação, em busca de referência para seu projeto esportivo-pedagógico, deslocando, entretanto esse micro sistema –a educação– do macro sistema –a sociedade– no qual ele estava inserido e situado. Não satisfeito com isso, em 1889, partiu para os Estados Unidos para conhecer de perto o modelo americano emergente e distinto do inglês, agora não mais na condição de observador, mas como comissário oficial do governo francês ligado ao ministério da educação. Em quatro meses visitou escolas e universidades de Chicago e Nova Iorque até Nova Orleans e Flórida. Nessa oportunidade Coubertin mostrou-se surpreso com os ‘sentimentos democráticos do catolicismo americano’ que separava igreja do Estado e tolerava a liberdade de culto, fato menos comum na Inglaterra. Talvez essa questão tenha lhe chamado tanta atenção em virtude da resistência que os países de cultura puritana ofereciam à idéia dos Jogos Olímpicos, relacionando-os com uma festa pagã, extinta pelo imperador Teodósio, um católico fervoroso, a pedido do bispo de Milão, San Ambrosio, no ano de 394.

Foi, sobretudo, o renascimento do interesse pelos estudos clássicos, fazendo reviver na intelectualidade de então a fascinação que a cultura helênica exercia sobre a cultura européia, além das descobertas de sítios arqueológicos que permitiam desvendar acontecimentos relacionados aos Jogos Olímpicos da Antiguidade, que levou Pierre de Coubertin a tomar para si a tarefa de organizar uma instituição de caráter internacional com a finalidade de cuidar daquilo que seria uma atividade capaz de transformar a sociedade daquele momento: o esporte.

Tavares (2003) aponta que o estabelecimento do Movimento Olímpico nos idos de 1894 coincide com a criação e proliferação de um amplo espectro de organizações de cunho internacionalista, cujo principal objetivo era a promoção da paz. Isso porque, embora durante o século XIX tivesse ocorrido um grande desenvolvimento das ciências humanas e da produção de idéias, os conflitos ainda eram resolvidos de forma brutal por meio da guerra. As organizações internacionalistas buscavam a resolução de conflitos, tanto de ordem interna como externa, pelo uso da razão e das leis, e não pelas armas. Dentro dessa lógica a competição esportiva era uma forma racionalizada de conflito, sem o uso da violência.

O projeto de restauração dos Jogos Olímpicos como na Grécia Helênica foi apresentado em 25 de novembro de 1892 quando da ocasião do 5° aniversário da União das Sociedades Francesas de Esportes Atléticos, que teve como paraninfo o Barão de Coubertin. Naquela ocasião ele manifestaria seu desejo e intenções com relação os Jogos: “É preciso internacionalizar o esporte. É necessário organizar novos Jogos Olímpicos” (López, 1992:21)

A tarefa audaciosa de promover uma competição esportiva de âmbito internacional, espelhada nos Jogos Olímpicos gregos, com caráter educativo e permanente demandava a criação de uma instituição que desse o suporte humano e material para a realização de tal empreitada.

E assim, em junho de 1894, na Universidade Sorbonne, em Paris, diante de uma platéia que reunia aproximadamente duas mil pessoas, das quais setenta e nove representavam sociedades esportivas e universidades de treze nações, teve início o congresso esportivo-cultural, no qual Coubertin apresentou a proposta de recriação dos Jogos Olímpicos.

Inicialmente o Barão intentava realizar a primeira edição dos Jogos Olímpicos na capital francesa em 1900, como parte das comemorações da virada do século que ocorreria em seis anos. Entretanto, diferentemente do que havia sugerido o proponente, a competição foi antecipada para o ano de 1896, para Atenas, como uma deferência aos criadores dos jogos originais (Rubio, 2002.a).

Algumas particularidades marcaram a criação do Comitê Olímpico Internacional e sua dinâmica ao longo do século XX.

Constituído por representantes de várias nacionalidades indicados pelos participantes do encontro da Sorbonne, o COI tinha como missão e intenção a organização dos Jogos Olímpicos bem como a normatização das modalidades disputadas, muitas delas recém-criadas e sem um corpo de regras universalizadas.

A idéia inicial, e que posteriormente foi perpetuada, era da celebração de uma competição de caráter internacional, com realização quadrienal, cujos participantes estariam vinculados a representações nacionais.

Subjacente a essa proposta, lembra Tavares (2003:64), estava a idéia e o princípio de

“uma organização não ideológica, destinada a promover uma idéia, se organizar em torno de uma elite e servir a humanidade em regime de total independência de correntes políticas e de governos nacionais.”

A proposta de criação da instituição nessas bases guardava preocupações com a isenção, autonomia e independência de um movimento que se propunha internacional, apolítico e apartidário. Como decorrência dessa perspectiva Coubertin idealizou o Movimento Olímpico sustentado na força dos comitês olímpicos nacionais, mas principalmente na cooptação e atuação dos membros do Comitê.

Os dirigentes do Comitê Olímpico Internacional são indicados, desde sua constituição, pelos membros já participantes, ou seja, o regime que sustenta a organização olímpica não está pautado em uma concepção democrática. Tavares (2003) enfatiza que Coubertin se baseou no princípio da representatividade reversa dos membros do COI como forma de garantir a independência de sua organização.

Embora reconhecida como defeituosa e limitada seu idealizador acreditava que a dinâmica impressa na instituição garantiria sua estabilidade e defendia essa posição com o seguinte argumento:

“Nós não somos eleitos. Não somos auto-recrutados, e nossos mandatos são limitados. Existe qualquer outra coisa que pudesse irritar mais a opinião pública? O público tem visto de maneira crescente o princípio da eleição se expandir, gradualmente, colocando todas as instituições sob seu domínio. Em nosso caso, estamos infringindo essa regra geral, uma coisa difícil de tolerar, não é mesmo? Bem, nós temos muito prazer em tomar a responsabilidade por esta irregularidade e não estamos nem ao menos preocupados com ela.” (Müller, 2000: 587-589)

A prática de indicação pelo próprio Comitê persiste até os dias atuais e seus membros são considerados embaixadores dos ideais olímpicos em seus respectivos países e não delegados de suas nações junto ao Comitê, numa tentativa de destituir aqueles que lidam com o esporte de qualquer relação com manobras políticas (Sagrave, 1988). Isso vem representar um paradoxo uma vez que embora não haja representação nacional dentro da estrutura burocrática do COI, a um atleta só é permitido participar de uma edição de Jogos Olímpicos desde que tenha os índices necessários, obtido em situações em que ele tenha representado seu país em eventos internacionais. Ou seja, é vetada a participação independente de qualquer pessoa, mesmo habilidosa, sem que ela defenda as cores de uma bandeira nacional.

O receio de lidar com conflitos internos e o ceticismo com a democracia levou Coubertin a estruturar e organizar o COI como uma instituição unipartidária, em um modelo próximo ao oligárquico, tendo como documento norteador de sua prática a Carta Olímpica, elaborada pelo fundador do movimento olímpico em aproximadamente 1898 (Valente, 1999).

Regidos desde então por princípios fundamentais contidos na Carta Olímpica, os Jogos Olímpicos pautaram-se por um conjunto de valores que são a referência fundamental do Movimento Olímpico até os dias atuais.

De acordo com Tavares (1999.a:15) os Jogos Olímpicos eram para seu reinventor a institucionalização de uma concepção de práticas de atividades físicas que “transformava o esporte em um empreendimento educativo, moral e social, destinado a produzir reflexos no plano dos indivíduos, das sociedades e das nações” – concepção que expressava a formação humanista e eclética de Coubertin. E, é justamente o ecletismo uma das chaves para compreender a lógica interna do corpus de valores do Olimpismo, uma vez que a definição contida nos Princípios Fundamentais da Carta Olímpica (Comitê Olímpico Internacional, 2001) é pouco precisa – ou em última análise, como afirma DaCosta (1999) uma filosofia em processo durante o tempo de vida de Coubertin – o que tem levado estudiosos do tema a discussões extensas e inconclusivas (Lenk, 1976; Sagrave, 1988; Grupe, 1992).

Vale ressaltar que o termo Olimpismo refere-se ao conjunto de valores pedagógicos e filosóficos do Movimento Olímpico, e não aos aspectos formais e/ou burocráticos que sustentam a instituição e o fenômeno olímpico.

A Carta Olímpica (2001) apresenta o conceito de Olimpismo no Princípio Fundamental nº 2 enquanto

“uma filosofia de vida que exalta e combina em equilíbrio as qualidades do corpo, espírito e mente, combinando esporte com cultura e educação. O Olimpismo visa criar um estilo de vida baseado no prazer encontrado no esforço, no valor educacional do bom exemplo e no respeito aos princípios éticos fundamentais universais” (pag. 8).

E apresenta como objetivos no Princípio n° 3:

“Colocar em toda parte o esporte a serviço do desenvolvimento harmonioso do homem, na perspectiva de encorajar o estabelecimento de uma sociedade pacífica preocupada com a preservação da dignidade humana. Neste sentido o Movimento Olímpico se engaja em cooperação com outras organizações e dentro do limite dos seus meios, em ações para promover a paz.” (p. 8)

E no Princípio n° 6:

“Contribuir para a construção de um mundo melhor e pacífico pela educação da juventude através do esporte praticado sem discriminação de qualquer tipo e no espírito olímpico, o qual requer entendimento mútuo com um espírito de amizade, solidariedade e fair play.” (p. 9)

Alguns autores buscam definir o conceito de Olimpismo, contemplando as idéias originais de Coubertin e assimilando as transformações ocorridas tanto no esporte como na sociedade do século XX.

É o caso de Müller (2000:14) que entende o Olimpismo como

“Uma espécie de excesso de esforço, de transcendência do homem enquanto uma unidade psicossomática, os quais revelados pela e na prática do esporte e ativado pelos constantes esforços do indivíduo em seguir princípios estéticos e morais, são encontrados na consciência, para integrar todos os valores humanos na educação do corpo e da mente.”

As modernas Olimpíadas, ou seja, o período em que ocorrem as edições dos Jogos Olímpicos, dividem-se em Jogos de inverno e de verão, são realizadas de quatro em quatro anos, como na Antigüidade, alternando-se a cada dois anos entre os Jogos de Verão e os de Inverno. Diferentemente da dificuldade para definição da sede ocorrida nas edições iniciais, na atualidade, a realização das competições é disputada por grandes metrópoles dos cinco continentes, em um processo que demanda alguns anos.

O crescimento da importância do evento pode ser observado nos números entre Grécia em 1896 e Atenas em 2004. As modalidades saltaram de 9 para 26. Os países participantes passaram de 13 para 197. De 250 atletas homens na Grécia o total entre mulheres e homens em Atenas ficou em torno de 10 mil. A evolução dos números é um bom indicador de que na atualidade os Jogos Olímpicos adquiriram a importância e o prestígio de que desfrutavam na Grécia Helênica, embora as razões para isso sejam bastante distintas.

Para os gregos, os Jogos representavam um momento de trégua nas guerras e conflitos de qualquer ordem para que competidores e espectadores pudessem chegar a Olímpia. Ao longo desses cento e oito anos de competições os Jogos Olímpicos da Era Moderna já sofreram interrupção por causa das duas Grandes Guerras e boicotes promovidos por Estados Unidos e União Soviética na década de 1980, indicando que o Movimento Olímpico não está alheio às questões sociais e políticas do mundo contemporâneo como desejava Pierre de Coubertin.

Apesar dos boicotes e das inevitáveis gestões diplomáticas para a superação de conflitos internacionais foi basicamente dois preceitos olímpicos fundamentais que mais fizeram o Movimento Olímpico ver sua estabilidade abalada: o fair play e o amadorismo.

O fair play

Considerado uma das bases do movimento olímpico o termo fair-play foi utilizado pela primeira vez por Shakespeare, em 1595, sem qualquer relação com a prática esportiva (Mangan, 1996). A partir de 1880 foi incorporado ao esporte para designar um tipo de conduta.

O fair-play, ou ‘espírito esportivo’, ou ‘jogo limpo’, ou ‘ética esportiva’ pode ser definido como um conjunto de princípios éticos que orientam a prática esportiva, principalmente do atleta e também dos demais envolvidos com o espetáculo esportivo.

O fair-play presume uma formação ética e moral daquele que pratica e se relaciona com os demais atletas na competição, e que este atleta não fará uso de outros meios que não a própria capacidade para superar os oponentes. Nessas condições não há espaço para formas ilícitas que objetivem a vitória, suborno ou uso de substâncias que aumentem o desempenho.

De acordo com Turini (2002) o fair play é entendido como um dos principais valores do Olimpismo sendo considerado a ética do esporte moderno cujo propósito é orientar a conduta do competidor na prática esportiva.

Dentre os valores culturais ingleses com os quais Pierre de Coubertin teve contato, o fair play foi sem dúvida aquele que mais influência exerceu sobre sua concepção de Olimpismo. A gênese do fair play está fincada no cavalheirismo, espécie de comportamento social que contemplava a nobreza de caráter, os valores cristãos e humanistas relacionados ao Renascimento. Esse ethos cavalheiresco era a base do comportamento que definia um gentleman, o ideal de homem na sociedade inglesa do século XIX. A transposição para o âmbito esportivo dessa atitude social foi idealizada e empregada desde o surgimento do Movimento Olímpico contemporâneo, afirmando a relação de projeção que existe entre sociedade-cultura e movimento olímpico-esporte. Nesse sentido, embora a Inglaterra representasse a principal potência no cenário geopolítico de então, exercendo uma forte hegemonia sobre países europeus e americanos, seus padrões culturais não eram universais, e assim, era de se esperar que o fair play também não representasse uma unanimidade.

Tavares (1999.b) endossa essa afirmação apontando que as implicações do fair play enquanto um conjunto de valores normativos dos comportamentos no ämbito da competição reflete a formulação de um ambiente cultural específico.

“Desse modo, ainda que o Olimpismo de um modo geral, e o fair play em particular, tenham adquirido alguma expressão hipoteticamente universal, é altamente recomendável que se examine a significância atual do fair play a partir de um cenário cultural multidimensional.” (p. 178)

Em outro trabalho Tavares (2003) cita o filósofo alemão Gunter Gebauer para discutir o paradoxo inerente ao esporte que associa a ‘liberdade de excesso’ (altius, citius, fortius) e o cavalheirismo (fair play) por serem dificilmente compatíveis diante das codificações éticas e princípios morais em um campo onde o que prevalece são as ações práticas. Há condições objetivas que levam a essa conclusão.

“Mesmo quando as regras não mudam ou mudam pouco, o desenvolvimento da preparação física, o aumento da ‘seriedade’ da competição e toda a carga de mudanças competitivas trazida pela crescente lógica profissional do esporte, determinam uma dinâmica e um sentido novos que fazem um mesmo esporte se tornar um jogo bastante diferente. A busca pela vantagem, por sua chance, é o que determina a perspectiva interna que um atleta tem na situação competitiva, a maneira como organiza ações e a quantidade e a qualidade dos recursos que ele mobiliza para atingir seus objetivos.” (p.102)

Diante do universalismo sugerido e desejado pelo Olimpismo seria de se esperar que o multiculturalismo fosse contemplado em respeito aos diversos atores sociais que protagonizam os Jogos Olímpicos, a principal manifestação do Movimento Olímpico. Não obstante, assim como o ideal de amadorismo, o fair play foi concebido a partir de uma perspectiva cultural dominante, e como decorrência natural eurocêntrica (ou anglocêntrica), em um momento em que a estrutura e organização olímpicas restringiam-se a um pequeno grupo de pessoas que tinham a si próprios como referência para a criação de regras.

Diante desse quadro, Abreu (1999:75) destaca que

“O Olimpismo e, conseqüentemente, suas bases multiculturais guardam conceitos tradicionalmente transmitidos pela cultura universal e posições contestadoras referentes a problemas atuais. Portanto, conforme a experiência histórica, a atividade esportiva é ensinada e vivida de forma diferente em cada sociedade, sendo interpretada segundo valores da cultura local.”

A atividade esportiva, bem como a competitiva, são criações culturais localizadas histórica e geograficamente. A universalidade desejada é construída demandando tempo para a sua assimilação. Um exemplo dessa dinâmica são as regras para a aceitação de uma nova modalidade esportiva em Jogos Olímpicos.

Conforme a Carta Olímpica (2001: 78) para que uma modalidade esportiva venha a fazer parte dos Jogos Olímpicos é preciso que ela seja praticada em um mínimo de setenta e cinco países em quatro continentes para homens e em, no mínimo, de quarenta países de três continentes para mulheres. Essas modalidades terão, em um primeiro momento, apenas caráter de exibição, e em sendo reconhecidas e aprovadas passam a fazer parte do programa oficial.

Os estudos sobre o fair-play têm recebido a atenção de estudiosos do Olimpismo preocupados com as transformações que vêm ocorrendo nas regras e conduta dos praticantes das diversas modalidades esportivas, bem como do avanço dos estudos culturais (Lenk, 1986; Loland, 1995; Mangan, 1996; Marivoet, 1998; Tavares, 1999.b). Isso porque o próprio Movimento Olímpico criou padrões, normas e orientações que norteiam e influenciam a prática e o entendimento do esporte, tanto por parte de quem o pratica como de quem o assiste.

Para Gebauer a idéia de cavalheirismo e fair play formuladas por Coubertin funcionam como uma ideologia que não permite ao atleta explorar o limite das possibilidades de uma competição. Sendo assim, o rígido código de conduta a que são submetidos os participantes de um embate é ‘injusto e intelectualmente desonesto’ para o esporte moderno e para a criação de uma atmosfera intelectual nos Jogos. É, contudo, a ‘perspectiva interna do praticante’, a partir de uma moral egocêntrica, que permitirá a criação de valores culturais, ou sua destruição. Sobre esses valores morais Gebauer afirma:

“Elas podem ser julgadas triviais, mas também podem enriquecer a imagem do ser humano. O reconhecimento desta moral vai depender de até que ponto a sagacidade é valorizada e até que ponto as intenções do esporte e os objetivos do Movimento Olímpico parecem desejáveis.” (apud Tavares, 2003:102-103)

A compreensão e aplicação do fair play envolvem elementos emocionais e cognitivos que levaram Lenk (1986) a postular duas manifestações possíveis: o fair-play formal que está relacionado diretamente ao cumprimento de regras e regulamentos escritos e formalizados que o participante da competição deve cumprir, em princípio, sendo considerado como uma ‘norma obrigação’ (must norm). É o comportamento normatizado, caracterizado como um comportamento objetivo; o fair-play não formal ligado ao comportamento pessoal e aos valores morais do atleta e daqueles envolvidos com o mundo esportivo. Não está limitado por regras escritas e é legitimado culturalmente. A ausência de uma regulamentação oficial confere a ele um caráter subjetivo. É o comportamento efetivo influenciado pelos estados emocionais e motivacionais.

Apesar de caracterizado por uma abordagem normativa e conservadora do comportamento atlético, o fair-play serviu durante longo período como orientação para os protagonistas do espetáculo esportivo, ainda que não fosse seguido durante todo o tempo.

Assim como o conceito de amadorismo foi abolido do Olimpismo, assiste-se a mudanças no que se refere ao fair-play. Tavares (1999.b: 190) justifica essa transformação porque

“o esporte vem sofrendo deslocamentos de sentido nos últimos trinta anos, apontando para uma possível relativização dos valores tradicionais ligados à prática esportiva, entre eles o fair-play.”

O autor tenta justificar essa guinada situando, principalmente, o fair-play dentro de uma nova ordem cultural.

É preciso discutir, entretanto, a motivação intrínseca do Olimpismo atual que está pautada na potência comercial que o COI se tornou. Dentre os muitos interesses que cercam o cumprimento de normas ou uma atitude cavalheiresca com um adversário estão os interesses de empresas e meios de comunicação de massa responsáveis pela divulgação e espetacularização do evento esportivo.

Sensível à transformação irrefreável que os Jogos Olímpicos vêm sofrendo Tavares (1999.b) considera que

“talvez o próprio conjunto de valores do fair-play necessite ser repensado em função de um cenário cultural bastante diverso do ambiente aristocrático do século passado em que surgiu o Olimpismo, incorporando novos valores sociais contemporâneos ao mesmo tempo que mantendo seus elementos essenciais, numa articulação entre tradição e mudança.” (p. 190)

Parece acaso, mas o lapso temporal apontado pelo autor coincide com o fim do amadorismo e o início do profissionalismo no esporte, conferindo uma nova moral, ao Olimpismo. E mais uma vez os ideais olímpicos Coubertinianos são postos à prova.

De 1896 em Atenas a 2000 em Sydney, os Jogos Olímpicos cresceram em número de países e atletas participantes e em importância. Tornaram-se um evento significativo tanto do ponto de vista esportivo, como econômico e político. Já não possui o purismo sonhado por Coubertin, que idealizava o esporte como um momento de celebração quase religiosa entre os povos. Na atualidade os Jogos Olímpicos são o principal evento esportivo competitivo do mundo, principalmente naquilo que se refere a índices de desempenho atlético, número de provas, de modalidades, de esportistas e de países participantes, além de ser um evento com forte apelo turístico e comercial.

Contribuiu grandemente para essa transformação o advento das transmissões televisivas, principalmente ao vivo a partir de 1960 em Roma, que permitiram o acompanhamento em tempo real das façanhas realizadas nas pistas, quadras, piscinas e ginásios, por atletas que começaram a ver seus papéis transformados ao longo do século XX (Rubio, 2001).

Marivoet (1998) considera que o desenvolvimento do modelo profissional de atuação esportiva deve ser considerado um dos principais perturbadores do fair play. Isso porque ao nível da mais alta competição que o profissionalismo impõe a dedicação em tempo integral a que o atleta é submetido, exige contrapartidas pecuniárias que assumem elevadas somas em algumas modalidades.

O amadorismo

Como já discutimos anteriormente, o esporte foi originalmente concebido como uma prática tipicamente aristocrática e da alta burguesia, tido como uma atividade de ócio e um meio de educação social dos filhos dessas classes sociais, fato que sofreu grandes transformações com a massificação do esporte.

Essa concepção levou o atleta amador a ser definido como aquele que

“Pratica esporte apenas por prazer e para usufruir tão somente dos benefícios físicos, mentais e sociais que derivam dele e cuja participação não é nada mais do que recreação sem ganho material de nenhuma natureza, direta ou indireta.” (Bastos, 1987: 75)

Posto que organizadores e praticantes do esporte criaram e defenderam o esporte como uma atividade de poucos e para poucos não é de se estranhar que o amadorismo tenha se constituído como um dos pilares fundamentais sobre qual se assentou o Movimento Olímpico. Preocupados com a perda do controle da prática esportiva originária em seus domínios, aristocratas e burgueses lançaram-se em defesa dessa atividade alegando que a permissão para o seu exercício seria dada apenas àqueles que pudessem tê-la para uso no tempo ocioso, distanciando o trabalhador da participação em esportes institucionalizados e dos Jogos Olímpicos.

Embora associado a uma atividade não remunerada, o conceito de amadorismo viu-se envolvido em ambigüidades devido às transformações sociais ocorridas ao longo do século XX. Uma das questões principais dessa discussão se deu após a entrada dos países do bloco socialista nas disputas olímpicas. Para o mundo capitalista parecia não haver dificuldades em identificar amadores e profissionais. Amador era todo aquele atleta que não recebia qualquer bem ou valor em troca de sua atuação esportiva. Profissional, por sua vez, tinha a sua força de trabalho, a performance, paga pelos clubes que negociavam passes e salários, gerando a razão de ser do capitalismo: o lucro. Já para os participantes do chamado bloco do leste, o argumento da socialização dos meios de produção era utilizado para negar a existência de profissionais do esporte, afirmando a condição amadora de todos seus atletas-cidadãos.

Diante disso, afirmam Salles e Soares (2002), o status de atleta estava relacionado com uma atitude do esportista, representava um estilo de vida e diante da dinâmica das relações internacionais passou a ser determinado por questões internas dos diversos Estados participantes dos Jogos Olímpicos.

“Portanto, os valores estabelecidos sobre amadorismo são apropriados em diferentes contextos, não aceitando as mesmas determinações em todos os países devido ao fato das estruturas políticas e culturais serem distintas.” (p. 438)

O amadorismo foi no passado tema tão tabu quanto o uso de substâncias dopantes, considerado uma virtude humana e condição sine qua non para qualquer atleta olímpico. Mas, mais que um valor ético essa imposição era um qualificador pessoal e social dos atletas que se dispunham a seguir a carreira esportiva (Rubio, 2002.b).

Envolvida em uma discussão ideológica tanto para os que defendiam esse princípio como para os que o atacaram, a história olímpica contemporânea está pontuada por ocorrências que demonstram o uso parcial desse preceito.

Entre os muitos casos de falta de amadorismo um dos mais destacados se deu nos Jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912, quando um americano de origem indígena chamado Jim Thorpe perdeu suas duas medalhas de ouro no pentatlo e no decatlo, acusado de competir pela liga profissional americana de football entre os anos de 1909 e 1910.

López (1992), bem como Cardoso (2000), classificam essa atitude menos olímpica do que racista, visto que um outro medalhista olímpico, o ginasta italiano Alberto Braglia, havia passado os quatro anos que separaram os Jogos Olímpicos de Londres-1908 a Estocolmo-1912 trabalhando como acrobata de circo, fazendo uso de suas atribuições e habilidades esportivas. Foram necessários 70 anos para que o COI revisse o ocorrido e reabilitasse Jim Thorpe. No ano de 1982, as medalhas confiscadas do campeão olímpico foram entregues a seus filhos, em um ato de reconhecimento pelos feitos atléticos do pai e de revisão de decisão que não em tese, mas de fato, feriam o espírito olímpico. Thorpe havia morrido alguns anos antes como indigente, pobre e esquecido.

Embora episódios como esse fizessem o tema amadorismo freqüentar com constância as reuniões e congressos do Comitê Olímpico Internacional, para Coubertin a questão não era de toda solucionada a ponto de fazê-lo se posicionar claramente. Tanto é assim que quando em Antuérpia-1920 pela primeira vez se hasteou a recém criada bandeira olímpica e se prestou, também pela primeira vez, o juramento olímpico, ambos obra de Pierre de Coubertin, nenhuma referência se fazia ao amadorismo ou profissionalismo, mas sim se prometia respeito aos regulamentos.

Em seu livro de memórias publicado em 1997 Coubertin finalmente esclarece sua posição sobre o tema. Deixa claro que a questão do amadorismo não era central para si, mas diante da importância que adquiria para a comunidade britânica e do peso político desse grupo dentro do Comitê Olímpico Internacional, era então necessário tomar uma atitude contra o ‘perigo’ que o profissionalismo poderia representar para os Jogos Olímpicos.

“Pessoalmente, eu não estava particularmente preocupado com isso (o amadorismo). Hoje eu posso admitir: essa questão nunca realmente me preocupou. Ela servia como pano de fundo para reunir os participantes do Congresso que tinham por objetivo recriar os Jogos Olímpicos. Diante da importância do tema nos círculos esportivos, eu sempre apresentei o entusiasmo necessário, mas era um entusiasmo sem convicção real. Minha própria concepção de esporte sempre foi diferente de um grande número de membros da Academia – senão da maioria. Para mim o esporte era uma religião, com suas igrejas, seus dogmas, seus serviços... mas, acima de tudo um sentimento religioso... Os ingleses eram particularmente sensíveis a essa questão. Era um sinal e um presságio do poder do Comitê Olímpico Internacional quando eles voltaram a pedir ajuda.” (Müller, 2000: 653-654)

Até ser superado definitivamente pelo profissionalismo, o amadorismo foi tratado como uma questão central do Olimpismo, conforme atestam as palavras de Coubertin.

Tanto foi assim que em outra passagem de suas memórias Coubertin frisa uma vez mais seu desapego a esse ideal e entende que essa discussão camuflava outras questões centrais do Olimpismo, que ganhavam vulto, na medida que os Jogos Olímpicos cresciam em visibilidade e importância.

“¡Siempre el amateurismo! Hacía ahora dieciséis años que habíamos pretendido ingenuamente acabar con el problema, y he aquí que seguía candente, idéntico e inalcanzable: un auténtico balón de waterpolo con esta peculiar manera de resbalar y escurrirse bajo la presión de la mano, como el gato, alejándose unos metros. Personalmente, ello me tenía sin cuidado; hoy me atrevo a confesar con franqueza que este asunto jamás me ha apasionado. Desde luego, me sirvió de pretexto para convocar el Congreso destinado a restablecer los Juegos Olímpicos. Viendo la importancia que se le atribuía en los medios deportivos, le dediqué la máxima atención pero era un celo sin convicción real” (Coubertin, 1989:65).

Alguns autores chegaram a afirmar que essa questão poderia comprometer a própria razão de ser do Movimento Olímpico, caso suas bases não fossem revistas.  É o caso de Donnely (apud Gomes & Tavares, 1999) para quem o amadorismo é fundamental para o Olimpismo. Embora seu desenvolvimento tenha se dado dentro de um contexto bastante específico – uma Inglaterra regulada pela moral vitoriana – veio a sofrer verdadeira mutação com o estabelecimento de uma relação causal entre dinheiro e desempenho esportivo. Por isso, o Olimpismo é para esse autor, uma atitude em extinção no mundo olímpico

“mais do que solidariedade e respeito mútuo, o principal referencial para a realização do esporte de alta competição atualmente é a capacidade de gerar remuneração financeira para todos os envolvidos direta ou indiretamente.” (p. 248)

Como conseqüência desse processo e do esforço de muitos, o amadorismo foi sendo esquecido como um dos elementos fundantes e fundamentais do Olimpismo no final da década de 1970, emergindo um movimento de disfarce de atletas em funcionários de empresas para que escapassem à condição de profissionais do esporte. Esse esforço foi substituído definitivamente e com sucesso pelos contratos com patrocinadores e empresas interessadas em investir no esporte, surgindo a partir daí outros tipos de problema.

Muitos foram os valores implicados nessa mudança. A transformação do espetáculo esportivo em um dos negócios mais rentáveis do planeta foi talvez a principal motivação para a reconsideração sobre o que era e qual a finalidade do amadorismo na participação do atleta em Jogos Olímpicos.

A profissionalização acabou por imprimir uma grande alteração na organização esportiva tanto do ponto de vista institucional como na atividade competitiva em si, levando o esporte a se tornar uma carreira profissional cobiçada e uma opção de vida para jovens habilidosos e talentosos.

A competição atlética ganhou visibilidade e complexidade ao se tornar espetáculo esportivo e produto da indústria cultural. E assim, interesses econômicos aliados a disposições políticas e intervenção estatal produziram e reforçaram uma das instituições mais robustas do planeta.

Conforme Bourdieu (1993) algumas chaves constitutivas do dispositivo esportivo, esboçadas no século XIX, não se transformaram plenamente até meados do presente século. Uma das mudanças mais significativas teve relação com a crescente intervenção do Estado, isso porque a esportivização da sociedade constitui uma parte importante da intervenção e do desdobramento de distintas agências que, durante sua atuação, se autodefiniam e recriavam. Além disso, a filosofia do amadorismo, que dominou o Olimpismo praticamente até os Jogos Olímpicos de 1984, em Los Angeles, tratou sempre de apresentar as práticas esportivas independentes dos poderes públicos, como produto da iniciativa individual e do associacionismo voluntário.

Os protagonistas do espetáculo esportivo são na sociedade contemporânea figuras espetaculares, por realizarem feitos incomuns aos cidadãos médios, e públicas, por serem alvo de projeção e de identificação, principalmente pela população infantil e jovem. Esses olimpianos, como os designaria Morin (1997) são o exemplo de um profissional possível em um mundo onde o trabalho se torna escasso.

No entender de Brohm (1993) o atleta competitivo é um novo tipo de trabalhador que vende a um patrão – clubes e patrocinadores – sua força de trabalho que é um espetáculo capaz de atrair multidões a espaços públicos ou de reter milhões de telespectadores diante de um aparelho eletrônico. O valor de troca de sua força de trabalho, regulado pelas leis de oferta e procura do mercado, está determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário para sua fabricação. O amadorismo deixou de existir quando esse trabalhador do esporte teve agregado ao seu esforço o distintivo de um clube ou a logomarca de uma empresa.

Enquanto ideal olímpico o amadorismo constituía um imperativo de igualdade de circunstâncias entre os atletas. Ainda que desde cedo não tenha tido eficácia prática, Marivoet (1998) afirma que o princípio que lhe subsiste tem sido remetido para a diferenciação dos quadros competitivos, de acordo com as especificidades dos atletas e das suas competências, de modo a garantir uma posição mais igualitária, assim como um maior equilíbrio na dimensão competitiva.

A atividade esportiva como profissão é um fenômeno recente, posto que a profissionalização no esporte, exceto para o futebol onde isso já ocorria, só se tornou uma realidade a partir do início da década de 1980. O marco desse evento coincide com os Jogos Olímpicos de Los Angeles e os procedimentos que marcaram essa prática nas nações ricas do planeta, com fortes investimentos privados e públicos, diferem em muito dos países pobres ou em desenvolvimento onde o esporte ainda se estrutura em bases amadoras e/ou familiares.

O profissionalismo

A intenção de limitar o esporte a nobres e aristocratas intentava sobreviver dentro de uma concepção anacrônica de amadorismo derivada, em parte, de conceitos medievais de hierarquia social, em parte do ideal renascentista de habilidades plurais sem práticas específicas.

Defendido arduamente por nobres e aristocratas, o amadorismo foi enfrentado ainda no século XIX, justamente na modalidade que sintetiza a organização do esporte moderno.

Dunning e Sheard (1976) analisaram a cisão do esporte inglês em 1895 quando dissidentes do Rugby Football Union (RFU) fundaram a Rugby League Professional (RLP). O conflito imediato surgiu por causa do rígido senso de amadorismo da RFU a qual não admitia qualquer tipo de pagamento para seus atletas e clubes por treinos e jogos, exceto medalhas. A questão central desse procedimento era a natureza social do esporte como instituição. O centro dessa controvérsia era o receio de nobres, aristocratas e alta burguesia ver a prática esportiva cair nas mãos da classe operária, principalmente na região industrial inglesa, ao norte. Em outras palavras, ainda que a elite das public schools tendia a racionalizar seu ethos no esporte stricto senso, grande parte deles desejava preservar as características originais do esporte carregadas das hostilidades regionais e de classe. A condição amadora era um instrumento de estado de guerra de classes.

A exclusividade e a apropriação da prática esportiva deixou de existir na medida em que ela se tornou uma manifestação cultural maior que a expressão de um valor social. Guttmann (1992) lembra que uma forma dos players (como eram chamados os profissionais) se distinguirem dos gentlemen (amadores sem qualquer atividade remunerada) foi a apropriação lenta e sistemática de atividades esportivas competitivas que culminaram nos Jogos dos Trabalhadores no ano de 1920. Organizado pelos socialistas europeus esses Jogos tinham por finalidade democratizar a prática esportiva competitiva, uma vez que a busca de bons resultados e índices estavam levando os atletas a se especializarem e se dedicaram com exclusividade à prática esportiva, impedindo o trabalhador de participar de forma igualitária do processo. Esses Jogos viriam a se repetir nos anos de 1929, 1933 e 1937 com grande sucesso de público e de participantes, tendo sido interrompidos em função da guerra.

Os Jogos Olímpicos da Era Moderna atravessaram o século XX e sobreviveram a duas Grandes Guerras, dois boicotes declarados e alguns disfarçados, mas não suportou a força do poder financeiro que prevaleceu sobre o espírito do amadorismo após os Jogos de Los Angeles – 1984. Entre os vários motivos que favoreceram essa abertura está a falta de entendimento generalizado do que seja a condição amadora.

Guttmann (1976) profetizou o que ocorreria com o esporte a partir do entendimento que países capitalistas e socialistas tinham sobre o papel desempenhado por seus atletas no cenário olímpico.

“As nações do bloco capitalista devem abolir a distinção entre amadorismo-profissionalismo na presente forma porque ela é tão antiga quanto anacrônica e também porque ela tem sido corroída pela hipocrisia e falsidade da prática das nações comunistas nas quais os ‘amadores’ têm mais tempo para o esporte do que nossos ‘profissionais’.” (p. 32)

A disparidade provocada em algumas modalidades pela utilização de atletas do bloco socialista em disputas olímpicas levou à alteração da regra do futebol nos Jogos de Los Angeles – 1984 quando poucos meses antes da competição a FIFA proibiu a participação nos Jogos Olímpicos de atletas que já haviam disputado alguma Copa de Mundo independente da idade. A questão não era complexa. As seleções que disputavam a competição olímpica dispunham de atletas jovens, talentosos, mas com pouca experiência. Quando em disputa com as seleções dos países do bloco socialista a disparidade física ficava evidente, bem como os vários anos a mais de vida e de carreira. O argumento da falta de paridade prevaleceu. Isso levou, no caso do Brasil, à dissolução da equipe que já se preparava para a competição, com vários atletas ainda jovens, mas com experiência profissional em Copa e o convite, primeiro ao Fluminense do Rio de Janeiro, e posteriormente ao Internacional de Porto Alegre para representar a seleção nacional.

Outro elemento que não pode ser desprezado na transformação dos valores do amadorismo foi a possibilidade de transmissão televisiva a partir dos Jogos de Roma. Uma cadeia transnacional de televisão transmitiu os jogos ao vivo para 200 milhões de espectadores em dezenove países da Europa Ocidental. Estados Unidos e Japão também puderam assistir às imagens das competições por videoteipe, o que rendeu ao COI na época a quantia de 50 mil dólares. Nos Jogos de Tóquio-1964 a transmissão seria via satélite, ao vivo e em cores e abrangeria os Estados Unidos, a Europa e o Japão e o valor pago ao COI foi de 65 mil dólares. Nas edições subseqüentes dos Jogos Olímpicos os valores não pararam de crescer, superando a marca do milhão nos Jogos de Sydney-2000. A televisão passaria a incorporar o espetáculo olímpico tanto quanto os próprios atletas (Cardoso, 2000).

No gráfico abaixo é possível observar a evolução da participação da televisão nos Jogos Olímpicos nas duas últimas décadas.

Gráfico 1. Valores pagos pela transmisão dos
Jogos Olímpicos, 1980-2008 (em U$ milhões)
Fonte: Krajewski, Guimarães e Ribeiro (2003: 215).

Uma nova ordem comercial se estabeleceu com a entrada da televisão no mundo olímpico. A visibilidade que os atletas ganharam estimularam empresas comerciais a terem suas marcas associadas àqueles seres sobre-humanos capazes de realizações incomuns. Diante do risco que a celebração de contratos podia representar para a carreira dos atletas, o caminho era burlar as normas por meio de atitudes inusitadas. Foi o que fez Mark Spitz nos Jogos de Munique-1972 que tendo se destacado como ganhador de sete medalhas de ouro com sete recordes, um feito nunca antes realizado por nenhum atleta, subiu ao pódio com um par de tênis... no pescoço. Embora com o mundo a seus pés era na porção superior do corpo que sua marca ganhava destaque.

Simons e Jennings (1992) tornaram-se ilustres no meio esportivo não por serem jornalistas competentes, mas principalmente por apontar em uma obra contundente The lords of rings (e não confundi-la com a obra homônima de J. R. R. Tolkien) como o poder econômico minava os ideais olímpicos tão duramente defendidos por Pierre de Coubertin ao longo de sua vida. A questão central dessa investigação era a relação próxima e discutível entre o COI, a FIFA e a Adidas e os benefícios pessoais que essa associação estava proporcionando. Parecia difícil admitir que diante da nobreza da proposta olímpica justamente a corrupção, e não exatamente o profissionalismo ou o doping, pudesse manchar a honra de uma instituição internacionalmente respeitada.

Tavares (2003), em um trabalho sobre a democracia dentro do Comitê Olímpico Internacional e suas instâncias de poder, discute essa questão a partir do escândalo da escolha da cidade de Salt Lake City como sede dos Jogos de Inverno-2002, ocasião em que diversos membros do comitê responsável pela vistoria das cidades candidatas foram subornados, colocando em risco a idoneidade da instituição.

Outro fato que levou à busca da profissionalização não apenas entre os atletas, mas à estrutura do Comitê Olímpico Internacional como um todo, foi o crescente gigantismo dos Jogos Olímpicos. A necessidade de uma ampla infra-estrutura para realização das competições, bem como a acomodação de milhares de atletas, turistas e técnicos de apoio atrelaram a realização dos Jogos à boa vontade governamental dos países no qual eles ocorressem. Essa dinâmica foi mantida até o Jogos de 1976. Montreal apresentava a particularidade de ser uma cidade representativa da porção francófona canadense e, portanto, minoritária dentro do país. As diferenças entre as comunidades e as rivalidades políticas levaram o governo federal a advertir os organizadores dos Jogos que nenhum centavo seria destinado a obras para essa finalidade. Embora recebesse 34,5 milhões de dólares pelos direitos de transmissão pela televisão, o governo local amargou um prejuízo de aproximadamente 1,7 bilhão de dólares, transformado em impostos que a comunidade quebecoise pagou até o ano de 2000 (López, 1992; Cardoso, 2000)

Depois dessa experiência era certa a necessidade de buscar novas estratégias para o futuro dos Jogos Olímpicos, que começava a ganhar novos contornos com os boicotes promovidos pelos Estados Unidos e seus aliados em 1980 e, posteriormente, pela União Soviética e países do bloco socialista em 1984 e com a eleição de Juan Antonio Samaranch para a presidência do COI em 1980.

A entrada de grandes empresas no financiamento dos Jogos parecia inevitável diante das necessidades impostas à cidade-sede. Los Angeles-1984 serviu como um laboratório para essa experiência. Naquela ocasião, apesar do boicote, o governo norte-americano não retirou nenhuma quantia dos cofres públicos para a realização de obras. Por sua vez o marketing esportivo mostrava sua razão de existir promovendo a captação de recursos suficientes para cobrir todas as despesas e ainda render lucro a seus organizadores. Abrira-se o caminho para novos rumos olímpicos que não haveria de ter volta.

Nos Jogos de Seul-1998 atletas e equipes experimentaram ousar sua capacidade de fazer brilhar a marca de seus patrocinadores, mas foram os Jogos Olímpicos de Barcelona-1992 que apresentaram o símbolo da profissionalização do esporte: o time de basquete norte-americano, chamado de dream team. Originários de um país com uma instituição chamada NBA (National Basketball Association) que promovia um campeonato com 27 times e pagava os mais altos salários do planeta para atletas, Michael Jordan, Magic Johnson e Larry Bird entre outros participaram dos Jogos Olímpicos não para ganhar uma medalha de ouro, que ninguém duvidava que fosse deles, mas para divulgar ao mundo um grande campeão de vendas, o campeonato norte-americano de basquetebol.

Embora fosse apresentado como o símbolo da profissionalização dos Jogos Olímpicos outras modalidades associadas ao mundo do esporte profissional também foram admitidas pela primeira vez em Barcelona. Foi o caso de ciclistas envolvidos em provas como a volta da França, dona do maior prêmio em dinheiro da modalidade, e dos tenistas melhores colocados no ranking mundial, que deixaram de se hospedar em hotéis luxuosos para se hospedar na vila olímpica.

Vale lembrar que Pierre de Coubertin, no Congresso Olímpico de Praga, em 1925, buscou sintetizar as questões relacionadas ao amadorismo apontando que profissionalismo não era apenas o ato de ter seu desempenho esportivo pago com dinheiro, mas também receber benefícios, como hospedagem em locais por demais luxuosos.

Na lógica interna do esporte contemporâneo especialização e profissionalização são inevitáveis. Desde que a capacidade atlética em uma variedade de esportes tornou-se incompatível com a alta performance, a especialização tornou-se inevitável. Dentre os aspectos mais perversos que a busca de resultados tem proporcionado para o movimento olímpico, o doping tem despontado como a questão principal a ser superada no momento contemporâneo.

A origem da utilização do termo doping no esporte é contada por Cagigal (1996) como estando relacionado às corridas de cavalos, primeiro esporte em que se utilizou fármaco clandestinamente para conseguir que um determinado cavalo corresse mais lento e perdesse. Hoje este termo designa a ingestão de medicamentos usados por certos atletas para conseguir justamente o contrário: tentar ganhar.

Espera-se que uma competição seja pautada pela igualdade de oportunidades, baseada no desinteresse para além da competição em si mesma, onde vence o melhor, aquele que reúne mais competências e quem mais trabalhou para alcançar o resultado. Na atualidade essas expectativas nem sempre são verdadeiras: a utilização de substâncias dopantes e o seu refinamento, que leva à inviabilização de sua detecção, desvirtuam o sentido de igualdade que norteia a competição.

Existem diferentes motivos competindo pelo comportamento do indivíduo, e aquele ao qual for atribuído maior significado passará a influenciar sua atitude. Uma visão que tem prevalecido no esporte é a de que as metas dos atletas se concentram na competição e na conquista de marcas sempre superiores. O corpo deste individuo é considerado somente um instrumento para conseguir estes fins (Rodríguez, 1987). Isso vem ao encontro da proposta do esporte atual que privilegia a competição. Quando um atleta tem determinação por vencer a qualquer preço e a instituição e equipe que o cercam compartilham desse espírito, alguns excessos podem ser cometidos, fazendo com que valores éticos sejam preteridos. Assim, a auto-manipulação hormonal mostra-se como um meio eficaz para a superação dos obstáculos que se apresentam (Miah, 2003.a.; 2003.b.). Há uma idéia no esporte de alto rendimento a respeito do perfil do atleta que busca substâncias proibidas: envolvido com o objetivo, o primeiro compromisso desse tipo de atleta é consigo mesmo, depois com os demais e por último, com o regulamento, inviabilizando qualquer aplicação do princípio de fair play (Calderon, 1999).

A razão física para o uso de drogas e mais recentemente, pela remodelação genética (Miah, 2003.b.) é melhorar o desempenho, dando-lhe um maior poder competitivo. A razão psicológica de dopar-se reflete em sua raiz um alto grau de exigência (intrínseca e extrínseca) e de responsabilidade, que leva o atleta a utilizar estimulação artificial optando por uma conduta que lhe faça se sentir menos inseguro, diante das próprias expectativas e de muitas outras pessoas, principalmente pertencendo a uma sociedade que criou como parâmetro produtivo a realização de resultados - e no esporte essa lógica é imediata e evidente. Além disso, quando um atleta faz uso de substâncias proibidas ele busca não somente a vitória e o prazer que esta lhe proporciona, mas o pareamento com retribuição financeira e prestígio social. 

Com o fim do amadorismo, o esporte converteu-se em um meio de vida, uma atividade profissional: homens de excepcionais dotes para a luta ou para a corrida passam a receber altas somas financeiras comprometendo-se a realizar determinadas atuações. Buscando responder a essas exigências, nos últimos anos os campeões do esporte passaram a ser transformados em rendosas mercadorias que são vendidas e negociadas em diversos pontos do planeta (Thomas, Haumont e Levet, 1988; Rubio, 2002.b; Silva e Rubio, 2003).

Os atletas de alto nível, igual aos demais profissionais destacados em suas profissões, permanecem em uma luta constante por sua posição; o que os difere de demais categorias, é a interdependência entre seu rendimento, o qual têm de maximizar em curtos períodos de tempo, e a capacidade de seu corpo, considerando a brevidade de suas carreiras (González, Ferrando e Rodríguez, 1998).

Na transformação da prática da condição amadora para a profissional, não foram apenas os valores nobres e aristocráticos que se perderam. A criação de uma nova ordem olímpica indicava que o mundo do século XX havia passado por grandes e profundas mudanças tanto do ponto de vista prático como moral. O atleta profissional não é apenas aquele que tem ganhos financeiros pelo seu trabalho. Ele é também a representação vitoriosa de marcas e produtos que querem estar vinculados à vitória, à conquista de resultados.

Para Guttmann (1976) o profissional deve ser definido como aquele que recebe uma compensação pecuniária pelo que faz por ter sua vida direcionada para a prática do esporte. Por muito tempo a especialização (codinome da profissionalização) foi o resultado das tensões geradas pela necessidade de disfarçar a condição amadora sob forma de ganhos secundários como bolsas de estudos, apoio governamental e generosidade patronal ao invés de salário.

O Movimento Olímpico no Brasil

Como visto anteriormente a cristande muscular formada nas public schools inglesas levou as empresas e a cultura inglesa, inclusive o esporte, para vários pontos do mundo onde o império pudesse se instalar fosse na América, na África ou na Ásia.

Um episódio no continente europeu facilitou a chegada inglesa em território brasileiro. Diante do descumprimento do bloqueio continental (exigência de não comercialização de produtos ingleses com as nações européias) imposto por Napoleão Bonaparte, o reino de Portugal se viu ameaçado de ser invadido. E assim, sob a proteção de uma esquadra inglesa toda a corte portuguesa, incluindo nobres, ministros e funcionários embarcou rumo ao Brasil trazendo importantes documentos, bibliotecas, coleções de arte e as riquezas de particulares e da coroa.

A chegada da família real portuguesa ao Brasil, em 1808 levou D. João a executar várias medidas econômicas e políticas. A primeira delas foi a permissão para o livre comércio com os países amigos, situação que não ocorria anteriormente. Esse ato ficou conhecido como Abertura dos Portos e permitiu que o capital e os produtos da Inglaterra, então única nação amiga de Portugal, chegassem em terras brasileiras de forma legal. Nessa esteira vieram os bancos, as empresas do setor têxtil, as companhias de mineração e elétricas, de cabotagem e ferroviária responsáveis por um grande contingente de empregados, mas não em número suficiente para a operacionalização de todas as tarefas. Foi assim que os brasileiros, contratados como empregados, se aproximaram dos valores ingleses e tomaram contato com vários elementos da cultura britânica, inclusive o esporte.

Rufino dos Santos (1981) afirma que em função dessa dinâmica começou a despontar nas cidades brasileiras com presença inglesa clubes de criket e de squash a partir de 1850, geralmente ao lado de uma grande fábrica ou no interior das chácaras, espaços dedicados ao encontro da comunidade britânica no estrangeiro.

Mas, não foi apenas a comunidade britânica que trouxe para o Brasil as práticas esportivas. A substituição da mão de obra escrava pela dos imigrantes europeus e asiáticos favoreceu o contato com atividades desconhecidas da população brasileira, possibilitando a criação de clubes e times de diversas modalidades esportivas, em diversas regiões brasileiras, principalmente no sul e sudeste (Jesus, 2001; Francheschi Neto, 1999).

A República foi o período no qual se iniciaram as diversas modalidades esportivas no Brasil, que já vinham sendo disputadas e praticadas em outros países. Exerceu papel fundamental nesse processo a chegada ao país da Associação Cristã de Moços, instituição de caráter internacional que tinha o esporte como um elemento de grande importância nos processos sociais e pedagógicos da juventude (Santos, 2000; Tubino,1992).

No final do século XIX já se praticava de maneira regular o remo, a natação, o basquetebol, o tênis, o futebol e a esgrima.

Conta Penna Marinho (1979) que o remo era praticado desde o Império, principalmente no Rio de Janeiro, onde foram fundados, em 1892, o ‘Union des Conotiers’, o Club de Regatas Fluminense e o Clube de Regatas Botafogo e no Rio Grande do Sul o ‘Rude Werein Germania’ e o Grupo de Regatas Rio-grandense. Com a criação de vários clubes em outros estados foi possível em 1895 ser criada a Federação Brasileira de Sociedades de Remo.

A natação, embora praticada nas escolas militares, veio a ter caráter competitivo apenas em 1898, com uma prova de 1.500m, no Rio de Janeiro.

O basquetebol, por sua vez, chegou ao Brasil em 1898, trazido dos Estados Unidos por August Shaw para o Colégio Mackenzie de São Paulo e para a ACM do Rio de Janeiro. O primeiro torneio realizado da modalidade aconteceu em 1915.

De todas as modalidades esportivas, aquela que mais manteve sua origem e tradição aristocráticas foi o tênis. Sua implantação no Brasil está associada ao Tennis Clube Walhafa de Porto Alegre, em 1898 e o primeiro torneio realizado, sob os auspícios da Liga Metropolitana de Esportes Terrestre, aconteceu em 1915.

Mas, dentre todas as modalidades de origem inglesa, nenhuma outra se adequou tanto à cultura brasileira como o futebol. Rufino dos Santos (1981) afirma que um brasileiro de ascendência inglesa de nome Charles Miller, que não gostava de criket, organizou o primeiro team football do Brasil, o São Paulo Athletic Club, em 1895. Em 1902 surgiu, no Rio de Janeiro o Fluminense, em 1903, o Fuss-Ball-Club e o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, no Rio Grande do Sul, em 1904, o Sport Club de Belo Horizonte, quase que como uma reação em cadeia.

Essas são indicações de que no Brasil se produzia um movimento de organização do esporte, consonante com outras nações, seguindo proximamente o modelo de esporte aristocrático. Tubino (1992) aponta dois fatos merecedores de registro que marcaram o início do esporte brasileiro. O primeiro deles foi a outorga do diploma olímpico de mérito do Comitê Olímpico Internacional a Santos Dumont, uma das mais célebres condecorações do COI, tendo sido conferida anteriormente apenas ao presidente norte-americano Theodore Roosevelt e ao explorador norueguês Fritjof Nansen. Esse honraria tinha como intenção premiar aqueles que tivessem servido à causa do esporte ou concorrido para a propagação do ideal olímpico. A segunda foi a primeira participação brasileira em Jogos Olímpicos na cidade de Antuérpia, em 1920. Naquela ocasião, apesar das poucas condições materiais da delegação brasileira, foi possível conquistar três medalhas olímpicas: uma medalha de ouro, com Guilherme Paraense no Tiro (pistola tiro rápido), uma de prata com Afrânio Costa também no tiro (Pistola livre) e uma de bronze na pistola livre por equipe com os atletas Afrânio Antonio da Costa, Guilherme Paraense, Sebastião Wolf, Dario Barbosa e Fernando Soledade.

A participação efetiva do Brasil no Movimento Olímpico, conforme Franceschi Neto (1999), ocorreu em maio de 1913 quando o então ministro do Brasil na Suíça, Raul do Rio Branco, filho do Barão de Rio Branco, foi convidado pessoalmente por Pierre de Coubertin a participar do Congresso Olímpico Internacional em Lausanne e posteriormente a fazer parte do Comitê Olímpico Internacional na condição de representante brasileiro.

Seu pouco conhecimento sobre a realidade esportiva brasileira e as muitas tarefas como diplomata não foram argumentos suficientes para convencer o Barão de Coubertin da impossibilidade de aceitar o convite. O argumento derradeiro utilizado pelo Barão foi a inclusão do Brasil em um cenário internacional já compartilhado pelas grandes nações. Embora na Suíça, Raul do Rio Branco fez contato com diversos dirigentes esportivos no Brasil informando sobre sua nova condição. Nessa mesma carta sugeriu a criação de um Comité Olympico Nacional (CON), solicitou informações sobre a condição do esporte brasileiro e pediu sugestões de nomes de outras pessoas que pudessem vir a compor o quadro de dirigentes do Comitê Olímpico Internacional.

Afirma Franceschi Neto (1999) que o diplomata tomou uma atitude de cautela quanto à organização do Movimento Olímpico Brasileiro, chegando a sugerir que fosse feito inicialmente a divulgação dos ideais olímpicos para somente então discutir a participação brasileira nos Jogos Olímpicos.

O Comité Olympico Nacional, juntamente com a Federação Brasileira de Sports que passaria a se chamar Confederação Brasileira de Desportos (CBD), foi criado em 8 de junho de 1914, na sede da primeira entidade organizada do esporte brasileiro, a Federação Brasileira das Sociedades de Remo, no Rio de Janeiro. Essa reunião realizada por iniciativa da Liga Metropolitana de Esportes Atléticos contou com a participação de representantes de sociedades esportivas brasileiras atuantes na época e levou a criação do primeiro Comitê Nacional Olímpico da América do Sul. Era uma tentativa, ainda que incipiente, de organizar instituições e praticantes de esporte que começava a ganhar espaço e destaque nas atividades sociais da época e de viabilizar a participação do Brasil nos Jogos Olímpicos.

O Comité Olympico Nacional foi constituído por representantes de várias entidades esportivas de caráter nacional e contou com a participação dos seguintes dirigentes: Automobilismo, Drs.Fernando Mendes de Almeida e Ernani Pinto; Hipismo e Equitação, Coronel James Andrew, Raul de Carvalho e Tenente Armando Jorge; Turismo, Dr.Candido Menezes de Almeida; Aviação: Comandante Jorge Moller e Tenente Ricardo Kirck; Sports Athleticos, Dr. Alvaro Zamith, Dr.Mario Pollo e G.de Almeida Brito; Natação e Remo, Comandante Raul Oscar de Faria Ramos, Capitão Ariovisto de Almeida Rego, Dr.Antonio de Oliveira Castro e Alberto de Mendonça; Tiro, Major Bernardo de Oliveira e Dr.Alberto Pereira Braga; Gymnastica, Pesos e Alteres, J. Pinheiro Barbosa e J.Pedro Dias.

O passo seguinte foi constituir a diretoria que iria assumir a responsabilidade de fincar as bases do Movimento Olímpico no Brasil. Ela ficou assim composta:

Quadro 1. 1ª gestão do Comité Olympico Nacional

Presidente

Dr.Fernando Mendes de Almeida

1º Vice-presidente

Dr. Alvaro Zamith

2º Vice-presidente

Capitão Ariovisto de Almeida Rego

Secretario Nacional

Almeida Brito

Secretario de Acta

J. Pinheiro Barbosa

Tesoureiro

Raul de Carvalho

Vale ressaltar que os senhores Almeida Brito e Ariovisto de Almeida Rego viriam fazer parte também da Confederação Brasileira de Desportos, fundada em 1916, afirmando a proximidade e convergência de interesses que existia entre as duas instituições.

No entanto esse Comitê, presidido por Fernando Mendes de Almeida, não chegou a exercer plenamente suas funções devido ao cancelamento dos Jogos Olímpicos de Berlim previstos para 1916 em virtude da eclosão da Primeira Guerra Mundial.

Os Jogos Olímpicos de Antuérpia em 1920 levaram a uma mobilização dos dirigentes e atletas para organizar uma equipe que pudesse representar o Brasil. O Comitê Olímpico Internacional enviou o convite ao Comitê Olímpico Nacional, que por sua vez atribuiu à Confederação Brasileira de Desportos a incumbência de preparar os atletas para a competição. A relação amistosa entre a CBD e o CON não tardou a ser abalada, embora a delegação brasileira que foi a Antuérpia contasse com a presença do senador Mendes de Almeida, presidente do Comitê Olímpico Nacional e de Ariovisto de Almeida Rego, presidente da Confederação Brasileira de Desportos (Franceschi Neto, 1999).

É possível afirmar que parte das divergências que marcaram essa relação estivesse no fato de a CBD ter sido organizada como uma entidade ligada ao governo, enquanto o CON tivesse nascido e se desenvolvido como uma entidade de caráter privado, desatrelado das políticas governamentais.

Os estatutos da CBD atestam essa disposição.

“Art.1º - A Condereração Brasileira de Desportos, fundada em 08 de Junho de 1914, com a denominação de Federação Brasileira de Sports, é constituída por todas as Federações, Ligas e Clubs, que nos Estados dirigem os respectivos desportos.    

Paragrapho 1º - Em cada Estado e no Districto Federal, á proporção do desenvolvimento desportivo, existirão tres instituições, uma de desporto terrestre, outra de desporto aquatico e a terceira de desportos aereos, e só estas serão filiadas á Confederação.

Paragrapho 2º - Á Confederação poderão ser filiadas sociedades desportivas isoladas, desde que no respectivo Estado não exista outra sociedade do mesmo desporto.

Art.2º - A C.B.D. terá as seguintes attribuições: 

1º - Representar os desportos nacionaes junto aos poderes constituidos.

2º - Representar os desportos nacionaes no estrangeiro.

3º - Promover o desenvolvimento e congraçamento dos desportos.

4º - Servir de tribunal de ultima instancia para derimir as questões que surgirem entre federações ou sociedades desportivas directamente filiadas.

5º - Procurar uniformisar os regulamentos e codigos desportivos.

6º - Fazer convenções, tratados e relações com sociedades desportivas estrangeiras.” (p.75)

A divergência tornou-se explícita quando da composição da delegação brasileira que foi aos Jogos de Paris, em 1924. Novamente incumbida da preparação dos atletas e gozando de grande prestígio em função das medalhas obtidas em Antuérpia, a CBD recebeu do governo a quantia de 350 contos de réis para custear a representação brasileira. Disputas internas e interesses políticos fizeram essa verba ser suspensa levando a CBD a retirar a inscrição dos atletas brasileiros. Inconformado com essa situação o presidente da Federação Paulista de Atletismo Antonio Prado Junior, responsável pela formação da equipe de atletismo promoveu uma campanha para arrecadar a verba, juntamente com um jornal paulista, buscando angariar os fundos necessários para a inscrição e custeio dos atletas na capital francesa.

Documento do COB (1977) confirma essa situação:

“Entretanto a Federação Paulista de Atletismo, fundada em fevereiro de 1924, resolveu angariar fundos, por meio de subscrição pública, patrocinada pelo Jornal “O Estado de São Paulo” e dentro de algumas semanas obtinha o numerário suficiente para as despesas de viagem e de estada da pequena, porém selecionada, delegação. E assim, no dia 27 de maio de 1924, embarcaram em Santos, no navio Orânia e em segunda classe, com destino a Cherbourg, na França, dez integrantes da seleção da delegação paulista de atletismo.” (p. 56)

De posse da verba era preciso gestões junto ao Comitê Olímpico Internacional para que a delegação brasileira fosse readmitida. E assim Antonio Prado Júnior e José Ferreira dos Santos, mesmo sem a CBD e o CON foram capazes de sensibilizar o COI para que os atletas brasileiros pudessem participar dos Jogos de Paris-1924.

Mas não foi apenas a equipe de atletismo que representou o Brasil em Paris. Os remadores Carlos e Edmundo Castelo Branco também participaram dos Jogos, entretanto sem vinculação com os demais integrantes da delegação brasileira, prerrogativa desconhecida nos tempos atuais. Essa situação é justificada no mesmo documento do COB (1977).

“A presença do remo, classificada em 4º lugar na categoria de double-sculls, não integrante da equipe chefiada pelo Dr. Américo R. Netto, é justificada pelo fato de que, não existindo COB a participação de desportistas credenciados poderia fazer-se desde que houvesse o beneplácito da CBD.” (p. 56)

Esses episódios e outros interesses levaram os três embaixadores do Olimpismo no Brasil o pioneiro, Raul do Rio Branco, mas, mais efetivamente Arnaldo Guinle e José Ferreira dos Santos a iniciarem um movimento de criação e legalização junto ao Comitê Olímpico Internacional do Comitê Olímpico Brasileiro, em 1927, o que atesta as divergências citadas anteriormente. Enquanto o primeiro havia sido convidado pessoalmente por Pierre de Coubertin, os outros dois foram indicados pelo Conde Henri Baillet-Latour, presidente do COI no período de 1925 a 1942, atestando a proximidade desse grupo com a comunidade olímpica internacional.

A fundação efetiva do Comitê Olímpico Brasileiro aconteceu em 20 de maio de 1935, na sede da Federação Brasileira de Football por iniciativa de representantes de várias instituições esportivas nacionais, sob a coordenação de Arnaldo Guinle e José Ferreira dos Santos. Essa iniciativa contou com o apoio irrestrito e o incentivo do então presidente do COI Conde Henri de Baillet-Latour. Subscreveram a ata de criação do Comitê a União Brasileira de Esgrima, bem como as Federações Brasileiras de Athletismo, Basketball, Remo, Natação, Tennis, Vela e Motor e da Cyclista.

A mesma iniciativa tomou a CBD fundando em 1º de junho de 1935 um segundo COB com o apoio do governo brasileiro.

As razões que levaram à criação do COB foram sintetizadas por Arnaldo Guinle ao evocar o artigo 17° dos estatutos do COI conforme a ata de instalação e fundação:

“Não têm razão os espíritos menos avisados que procuram confundir, em meio às disenções esportivas internas as verdadeiras finalidades dos Comitês que a grande honra de declarar com o apoio das entidades esportivas nacionaes presentes à reunião e perfeito entendimento e solidariedade de seus colegas, delegados do C.I.O., no Brasil, fundado e installado.” (COB, 1977: 23)

Depois de aprovados os estatutos foi eleito para o cargo de presidente o senhor Antonio Prado Junior, organizador da equipe que representou o Brasil nos Jogos de Paris em 1924, e a Comissão Executiva composta por Renato Pacheco, Antonio Prado Junior, Álvaro Prata, coronel Newton Cavalcanti, comandante Attila Aché, Oswaldo Palhares, Bededicto Montenegro, Campos Líbero, Mas de Barros Erhart, Herbert Moses, Octavio da Rocha Miranda e Erasmo Assumpção Junior.

O presidente eleito, após a sessão, proclamou os resultados, referiu-se ao apoio e colaboração de todos os presentes e fez constar da ata de fundação uma situação pouco amistosa com relação a CBD que traria desdobramentos à composição da equipe nacional nos próximos Jogos Olímpicos. Consta o texto:

“[...] e agradece aos representantes em particular e, de modo geral às suas entidades a cooperação prestada na fundação e instalação do Comitê Olympico Brasileiro, lamentando, com sinceridade, não ver entre os presentes o representante da Confederação Brasileira de Desportos, apesar do convite que teve a honra de enviar ao seu digno presidente e dos esforços empregados pelo seu colega doutor J. Ferreira dos Santos para a mesma entidade se fizesse representar na reunião de hoje” (COB, 1977; 24).

Um dos principais episódios das diferenças entre as duas instituições se deu nos Jogos de 1936 quando duas delegações chegaram a Berlim: uma do Comitê Olímpico Brasileiro, reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional e oficial representante do país, e outra da Confederação Brasileira de Desportos, apoiada pelo governo brasileiro. Já em solo alemão e com a intermediação das autoridades olímpicas para que os dirigentes entrassem em acordo foi possível inscrever os 72 atletas brasileiros sob organização do Comitê Olímpico Brasileiro.

Desde sua constituição oficial em 1935 o Comitê Olímpico Brasileiro foi presidido por sete diferentes pessoas, cujos mandatos variaram de alguns meses a várias décadas.

Quadro 2. Presidentes do COB

Período do mandato

Presidentes

1935-1946

Antonio Prado Júnior

1947-1950

Arnaldo Guinle

1951-1962

José Ferreira Santos

1963 (janeiro a outubro)

Almirante Attila Aché

1963-1990

Major Sylvio de Magalhães Padilha

1990-1995

André Gustavo Richer

1996 até o presente

Carlos Arthur Nuzman

Embora os atletas brasileiros não registrassem resultados marcantes nas competições olímpicas, a presença brasileira no Comitê Olímpico Internacional e nas suas instâncias deliberativas é registrada desde o início do século. Vale lembrar que os membros do Comitê Olímpico Internacional são representantes do Movimento Olímpico em seus países e não delegados de seus países no Comitê, o que destitui essa participação de qualquer caráter político nacional. Esses representantes não devem e não podem aceitar de seus governos ou de qualquer outra organização ou indivíduos, instruções que, em qualquer sentido, possam interferir na independência de seu voto.

Os brasileiros a ocupar o cargo de embaixadores do Movimento Olímpico no Brasil foram os seguintes:

Quadro 3.  Representantes brasileiros no COI
Representante
Período
Cargos exercidos
Raul do Rio Branco 1913 a 1918 Membro
Arnaldo Guinle 1923 a 1961 Membro
José Ferreira dos Santos 1923 a 1962 Membro da Comissão Executiva de 1960 até seu falecimento em 1962
Antonio Prado Junior 1938 a 1955 Membro
João Havelange De 1963 até o presente Membro vitalício
Major Sylvio de Magalhães Padilha De 1964 até seu falecimento em 2003 Foi Primeiro Vice-presidente de 1975 a 1979. Ocupou a Comissão Executiva por três mandatos a partir de 1970

Vale ressaltar que os membros do COI têm grande respeito por seu protocolo, cumprindo com rigor a ordem de precedência conforme os membros mais antigos. Ainda que existam membros vitalícios entre seus quadros, destacados como tal de acordo com o antigo regimento, atualmente o regulamento foi alterado impondo o afastamento compulsório do Comitê quando da idade de 75 anos, momento em que esses participantes são convertidos em membros honorários, com direito a participar das discussões da entidade, sem, no entanto, ter direito a voto.

Considerações finais

Se a organização do esporte moderno revela as condições sociais em que ele foi produzido – Inglaterra século XIX – de maneira análoga se processa esse fenômeno no caso brasileiro.

Confundido entre a condição de colonia e vice-reinado o Brasil do século XIX buscava a afirmação de sua identidade nacional por meio de medidas que iam da via diplomática e ampliação territorial. A intenção de Pierre de Coubertin de transformar o Movimento Olímpico em um fenômeno de caráter internacional contribuiu para a sensibilização daqueles que vislumbravam a participação brasileira no cenário político internacional.

A entrada de Raul do Rio Branco no Comitê Olímpico Internacional reforça essa idéia uma vez que o clã Rio Branco já havia protagonizado medidas de afirmação da territorialidade brasileira como na gestão da incorporação do território do Acre e de outras iniciativas diplomáticas. Por meio dessa medida a entrada do Brasil no COI se deu muito mais pelo esforço político, do que pela massificação das práticas esportivas, revelando a mesma origem aristocrática do esporte europeu. Isso se refletirá, de maneira inequívoca, na composição das primeiras delegações brasileiras em Jogos Olímpicos.

Se o Movimento Olímpico Brasileiro surgiu como um desdobramento dessa ‘tradição inventada’ em solo europeu, o que se observa é que no decorrer do século XX buscou sua própria identidade. Dessa maneira experimentou em parte os conflitos sociais vividos na Europa – esportes de elite e populares – em parte refletiu nas suas práticas as peculiaridades da organização social brasileira.

Ou seja, a participação brasileira inicial em Jogos Olímpicos foi marcada pela presença de militares e da aristocracia, grupos sociais que detinham as condições básicas para a prática de uma atividade que previa em suas regras a impossibilidade do exercício de qualquer atividade profissional remunerada de seus praticantes, afastando assim a classe trabalhadora de seus quadros.

No que se refere a manutenção de cânones do esporte europeu, no caso o amadorismo e o fair play, o que se observa é que os mesmos valores que permearam o esporte do norte valeram para o esporte brasileiro. Isso quer dizer que as modalidades olímpicas, organizadas e sistematizadas conforme as regras mundiais, passaram a ser praticadas por atletas de famílias tradicionais, que tiveram a oportunidade de estudar na Europa e conhecer de perto o significado dessa atividade. Com isso reforçou-se no Brasil um modelo de prática esportiva olímpica elitista e excludente que só se transformará após a II Guerra Mundial. Foge a essa regra o futebol, visto que desde o final do século XIX, mesmo quando ainda representava uma modalidade essencialmente aristocrática, ele já havia sido descoberto pela população das periferias de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. A partir daí rapidamente o futebol foi organizado em clubes e, mesmo diante da resistência das agremiações de elite, ele se profissionalizou, destacando-se das demais modalidades olímpicas que permaneceram amadoras até a década de 1980.

A trajetória do esporte olímpico brasileiro seguiu de perto o movimento olímpico internacional no que se refere a organização burocrática de suas instituições (Federações e Confederações esportivas) reproduzindo em âmbito nacional os rumos do esporte mundial.O fortalecimento de uma elite dominante, o desenvolvimento de mecanismos de controle político das instituições, a permanência por longos períodos de tempo à frente das organizações esportivas e o afastamento dos atletas dos âmbitos de poder também se deram no Brasil como na grande maioria dos Comitês Olímpicos Nacionais espalhados pelo mundo, reforçando um modelo institucional fechado, burocratizado e autoritário. A diferença maior entre o Brasil e os países europeus reside na força do poder econômico dos países do norte que assim como no princípio do século XX continuam a proporcionar as condições materiais, na atualidade cada vez mais necessárias para a obtenção de tempos e marcas, razão de ser do esporte contemporâneo.

Se do ponto de vista numérico o Brasil consegue na atualidade participar de Jogos Olímpicos em condições de igualdade com as grandes potências do esporte mundial levando às últimas edições de Jogos algumas centenas de atletas, isso ainda não espelha, do ponto de vista qualitativo, a realidade de uma potência esportiva, visto que a proporção entre número de atletas participantes e medalhas obtidas em Jogos Olímpicos, é ainda bastante reduzida.

Se do ponto de vista regional o Brasil representa uma inspiração e uma preocupação para outras nações latino-americanas, por apresentar um modelo e resultados que o aproximam das principais potências do esporte mundial e por ser o único país com cinco títulos mundiais no futebol, por outro está ainda muito distante do profissionalismo cada vez mais necessário na gestão e no treinamento esportivos.

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© Copyright Katia Rubio, 2005
© Copyright Scripta Nova, 2005

Ficha bibliográfica:
RUBIO, K. Da Europa para a América: a trajetória do Movimento Olímpico brasileiro.
Geo Crítica / Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de noviembre de 2005, vol. IX, núm. 200. <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-200.htm> [ISSN: 1138-9788]

 
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