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Índice de Scripta Nova

Scripta Nova
REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98
Vol. XII, núm. 270 (131), 1 de agosto de 2008
[Nueva serie de Geo Crítica. Cuadernos Críticos de Geografía Humana]

NOVAS TERRITORIALIDADES OU MULTIPLAS TERRITORIALIDADES? TRABALHADOR MIGRANTE BRASILEIRO EM BARCELONA[1]

Maria Geralda de Almeida
Universidade Federal de Goiás
mgdealmeida@gmail.com

Novas territorialidades ou múltiplas territorialidades?Trabalhador migrante brasileiro em Barcelona (Resumo)

Desde os anos 1980 milhares de brasileiros fizeram a escolha de viverem  em reterritorializações provisórias, com a finalidade de buscarem melhores trabalhos. Em Barcelona eles eram cerca de 6.300, em 2005. O objetivo desse trabalho, uma pesquisa qualitativa, é o de discutir a condição de ser brasileiro em terras do “Outro” levando em conta a diversidade cultural. Neste sentido, o sentimento de “ser brasileiro” evidencia-se, sobretudo no cotidiano, pelo permanente contato que os imigrantes mantêm, via internet, e, fundamentalmente, pelos investimentos feitos por eles  em sua terra. Os imigrantes reinventam novas formas de interpretar o cotidiano fora do contexto nacional construindo uma visão híbrida do mundo e elaborando formas que os mantêm aqui, mas, de algum modo, os deixam, também lá, no Brasil.  Embora haja uma política de “integração” do imigrante na Catalunha, ela é discutível, pois, nela, persistem aspectos da segregação, da discriminação e da exclusão social para com os imigrantes.

Palavras-chave: Trabalhador brasileiro migrante, diversidade cultural, novas territorialidades, políticas de migração, Barcelona.

Nuevas territorialidades o múltiplas territorialidades?Trabajadores inmigrantes  brasileños en Barcelona (Resumen) 

Desde los años 1980, en busca de trabajo, miles de brasileños han hecho la elección de vivir  en reterritorializaciones provisionales. De hecho, en Barcelona eran 6.300 brasileños aproximadamente (2005). Se busco, en una investigación cualitativa, discutir la condición de ser brasileño en tierras del “otro” considerando la diversidad cultural. En este sentido, “Ser” brasileño se pone en evidente, mayormente, en el cotidiano, en los contactos permanentes con la familia vía internet y, lo fundamental, las inversiones en su tierra. Los inmigrantes reinventan nuevas formas de reinterpretar el cotidiano fuera del contexto nacional y construyen una visión híbrida del mundo, elaboran sus formas que lo mantienen a éste y si están en Barcelona de cierta forma están aun en Brasil. La política de integración de los inmigrantes en Barcelona es discutible, pues persisten los aspectos de la segregación, de la discriminación y de la exclusión social de inmigrantes.

Palabras clave: Trabajador brasileño inmigrante, desterritorialización/reterritorialización, nuevas territorialidades, políticas de inmigración, Barcelona.

New territorialities or multi territorialities? Brazilian migrant workers in Barcelona (Abstract)

There are various factors that lead an individual to mobility and to a temporarily  reterritorialized life. Since the 1980s thousands of Brazilians have made the decision to live under this condition. Officially there were about 6300 Brazilians in Barcelona in 2005. Based on qualitative methodological proceedings, this research aimed in particular at discussing the condition of being Brazilian in the place of the “Other”, taking into account the cultural diversity. The immigrants reinvent new forms of reinterpreting their daily life outside their national context and construct a hybrid view of the world. Although there is an “integration” policy for the immigrants in Catalonia, it is questionable, since aspects of segregation, discrimination and social exclusion persist. The Brazilian worker elaborates his/her modes that maintain him/her her in Spain, but, at the same time, he/she is also there in Brazil.

Key words: Brazilian  migrant worker, deterritorialization and reterritorialization, policy for the immigrants, cultural diversity,  Barcelona.  

No século XX assistimos o crescimento do intercâmbio generalizado entre as diferentes partes do planeta sendo, o espaço mundial, um espaço de transação da humanidade. Nunca antes, na historia da humanidade, se registrou uma aceleração de transformações tão fortes como aquelas ocorridas nos últimos cinqüenta anos. Os crescimentos são em todos sentidos, pois  “há globalização em tudo e em tudo ela interfere”, como enfatizam Valença e Gomes (2002, 9). Pode-se afirmar que a globalização  é uma realidade contemporânea que ultrapassa os regimes e as ideologias, apesar de refletir o estado das forças, das idéias e dos sistemas técnicos e, sobretudo, o capitalismo, o mercado, o neoliberalismo e os sistemas tecnológicos buscando a melhor produtividade.

Revoluções  tanto da eletroeletrônica como na informática  impulsionaram o mundo para ser, ao mesmo tempo a diversidade de situações no meio  das tensões e, a aparente homogeneização por meio de alguns mega-eventos, grandes acordos mundiais e pela difusão de alguns produtos de consumo de massa. A contemporaneidade técnico-cientifico-informacional da globalização simultâneamente resulta e possibilita a intensificação e a aceleração de trocas. Essas trocas se multiplicam nos mais variados fluxos de informações, de mercadorias, de capitais e de pessoas como os trabalhadores, turistas e  imigrantes. Nos interessa aqui realçar estes últimos no contexto atual, com enfoque para os imigrantes brasileiros.

A imigração é um fenômeno que faz com que se repensem as atuais concepções sobre sedentarismo e mobilidade, pois ambas encerram a idéia mais ou menos abstrata de espaço, bem como a de esferas identitárias e zonas de produção de evidências mais ou menos compartilhadas. Falar dela – da imigração - implica levar em conta conceitos como os de territorialidade, de desterritorialização e de reterritorialização que podem envolver uma pessoa ou um número variado delas. A imigração ocorre em um mundo no qual o “sentido del espacio, de la distancia se ha modificado y el trânsito instantáneo entre lugares distantes es un rasgo comun de la experiencia social. Los confines y limites de las naciones se han vuelto permeables y en ciertos aspectos se han anulado”, nas palavras de Wolf (1994, 195). O que estaria na base das modificações tempo-espaço e da permeabilidade das nações, e mesmo dos Estados, é a profunda mudança tecnológica e econômica em escala-mundo que ocorre, desde o final do século XX. Concomitante a isto, a partir dos anos de 1970, a crise do modelo econômico gera transformações sociais em escala planetária e implica a mobilidade e flexibilidade de todos os fatores produtivos, inclusive o da mão-de-obra. O trabalho se mundializa[2].

Alguns autores, como Tello (1997),  Aja et al (1999) mencionam como causa do aceleramento dos fluxos migratórios: a) um mundo conturbado por numerosos conflitos étnicos e políticos, dominado por uma ordem econômica injusta, com políticas sistemáticas de ajuste econômico, deixando os setores mais desprovidos da sociedade à margem e, b) o aceleramento da degradação ambiental, levando uma parcela da população a deslocar-se, numa tentativa de fuga deste contexto. Já Massey (1998) atribui o aceleramento, ocorrido a partir dos anos de 1970, sobretudo a uma maior influência da chamada economia pós-industrial e as significativas transformações geopolíticas do Ocidente no século XX. Essas transformações ocorreram em diversas ordens e em esferas distintas da sociedade.

Os fenômenos migratórios, portanto, respondem a processos estruturais, mas, principalmente, à questão do trabalho resultante da diferença da política e economia que há entre o país de origem e o de destino daquele que migra.  Na América Latina, apontam-se como causas desencadeadoras do primeiro grande êxodo generalizado do continente, a partir de 1960, primeiramente os regimes políticos antidemocráticos em alguns países e, mais tarde, a crise econômica que, em alguns deles, se tornou crônica.  As correntes latino-americanas orientaram-se para a Europa, para os Estados Unidos e, no caso do Brasil, também para  o Japão.

Os Estados, submetidos aos imperativos do poder econômico e às leis do mercado, se convertem, nas últimas décadas, em exportadores e importadores de recursos humanos. Para que os interesses deste mercado sejam supridos, eles necessitam manter a idéia da total permeabilidade das fronteiras, para a livre circulação da mão-de-obra, ainda que, ao mesmo tempo, façam uso das prerrogativas de controle de qualidade migratória. Assim, os Estados instituem políticas que restringem a imigração e,  normatizam as condições, a regularidade dos fluxos, o que choca com os direitos humanos e com as necessidades do capital transnacional, que exige uma oferta de mão-de-obra estável. A despeito disso, o deslocamento de pessoas, atualmente, é tão intenso que até se referem ao tempo presente como sendo o da “era das migrações”.

São diversos os fatores que, conforme já foi dito, empurram o indivíduo a atuar fora de seu território, a viver na condição provisional e a reconhecer-se como cidadão de uma hipotética “aldeia global”. Tornar-se um imigrante - mormente, um ato voluntário - também suscita um angustiante sentimento de desterritorialização[3].

Muitas das vezes o “desterritorializado” tem problemas de relacionamento no país que o acolhe já que certos indivíduos ou comunidades têm, para com eles, atitudes de racismo, rechaço, discriminação, como conseqüência de sua identidade racial ou étnica ou, ainda, de sua origem territorial.

Na Espanha, o discurso sobre o imigrante, geralmente, mescla termos e busca distinção referindo-se aos “estrangeiros” ( todos aqueles os não espanhóis), para passar a falar de critérios de classes (os pobres), étnicos, (incluindo como imigrantes os ciganos espanhóis) ou critérios culturais, (enfatizando grupos atrasados ou fechados) segundo o caso. Esse modo de qualificar reflete uma combinação de argumentos articulados, sobretudo, para a rejeição[4].  

Um dos argumentos mais utilizados pelos que se posicionam contrariamente à imigração é o da perda da identidade européia ou da perda da identidade espanhola. Mas ele se esgarça quando não é mais sustentável a noção de uma cultura autêntica, ou uma identidade como um universo autônomo internamente coerente. O argumento é também questionável quando diz respeito à qual identidade européia e à espanhola se refere. Sobretudo, ele o é no que se reporta à Espanha, já que o país é, reconhecidamente, fragmentado pelas reivindicações de reconhecimento identitário dos bascos, dos catalães, dos galegos...

Este assunto será oportunamente discutido, porém, é mencionado, presentemente, para situarmos a participação de imigrantes na população européia.. Em 2008, de acordo com dados do Jornal Latino, com quase 19 milhões de imigrantes nomeados extra-comunidade européia, em toda a União  Européia, estes imigrantes eram numericamente distribuídos como, por exemplo, Reino Unido com 1.982.000, Alemanha 5. 075.900, França com 2.186.000, Portugal com 186.800, Espanha 2.300.700 e Itália com 1.931. 300 imigrantes. Estes números revelam um decréscimo se os compara com os dados de 2000, e se explicam, principalmente, devido às restrições impostas pelas  políticas de imigração  que  se enrijecem (LATINO, 23/06/2008).A Espanha, com 44.709.000 habitantes em 2006, contava com um percentual aproximado de 9,3% % de imigrantes (www.ine.es). Internamente, a distribuição geográfica regional revelava que em 2006, 22% estavam na Catalunha e, em Madrid, eram 19,3% dos imigrantes. O restante, já em proporção inferior, espalha-se pelas demais regiões.

Em março de 2006, 73.704 brasileiros estavam com autorização de residência na Espanha. Madrid e Barcelona aglutinavam a maior parcela desse todo. Em janeiro de 2007, eles eram 6.985 só em Barcelona, segundo os dados oficiais (www.bcn.es). Ainda assim, o número dos autorizados deve ser visto com cuidado, pois ele não revela um universo significativo de migrantes sem registro de moradia, estando, por isso, em condições de ilegalidade, no país. Também, outro fato a ser considerado é o de que o contrato de trabalho, sendo facilitado para aqueles portadores de documentos, leva inúmeros brasileiros a adquirirem, no mercado negro, registros de nacionalidade que os proclamam, falsamente, como sendo portugueses, o que altera, também, os dados estatísticos relativos ao número de brasileiros na Espanha.

A par do contexto, já registrado por Canclini (2000, 195), em relação aos imigrantes mexicanos nos Estados Unidos, “o porquê do ‘cultivo’ de um território, quando as fronteiras nacionais tornam-se porosas; as culturas que se desterritorializam e a reconstrução complexa de identidades dos imigrantes”, cabem algumas questões sobre a territorialidade construída pelos brasileiros em Barcelona, como aquelas expostas no título como norteadoras desse artigo.

Para obter dados para essa análise, foi realizada uma pesquisa qualitativa com entrevistas semi-estruturadas, efetuadas com um total de 32 brasileiros que residem em Barcelona, escolhidos aleatoriamente. Foram considerados, apenas, os que se declararam terem vindo por questões de trabalho, ou seja, os migrantes econômicos. Eles foram localizados nas filas, nas dependências  do Ayuntamiento de Catalunha, no espaço físico do Consulado do Brasil, nas ruas, metrôs e por indicação de brasileiros, já contatados. As questões das entrevistas versaram sobre: tempo de permanência em Barcelona; procedência; como foi efetivada a vinda; trabalho que exercia no Brasil e as atividades já realizadas em Barcelona; o cotidiano; as formas de vínculos com o Brasil; comparação entre a moradia brasileira e a atual; hábitos anteriores e atuais; trabalho e salário no Brasil e, atualmente, o modo com que percebe seu país, sua cidade, suas atividades  e suas relações sociais.       

A primeira seção deste artigo será dedicada ao esclarecimento de algumas representações sobre o imigrante; a segunda enfocará o território de Barcelona e, para finalizar, discutir-se-á sobre a territorialidade de brasileiros identificados em Barcelona. Não é pretensão, de, nesse trabalho, esgotar o assunto, pois se tem a clareza de sua multidimensionalidade, além do fato de que alguns processos da dinâmica estão na fase inicial. A contribuição será, sobretudo, instigar o debate.  

As representações sobre migrantes e estrangeiros

A imigração tem sido analisada, principalmente, sob o ponto de vista da teoria economicista do push-pull e o da socializante da marginalização e exclusão, porém, como tem apresentado um crescimento rápido, tem provocado a inclusão de outras leituras e interpretações.

A categoria “imigrante” é ampla e, como as demais, sujeita a interpretações distintas. Ao referir-se a um “imigrante”, corre-se o risco de impor rótulos e discursos, apenas com o intuito de torná-lo distinto de um autóctone. Chamá-lo de “Outro” é ignorar que, nas diversidades e diferenças que caracterizam as cidades e os lugares mundializados, todos são “Outros”. Entretanto, é sobre o imigrante que recaem os rótulos de “diferente”. E esses rótulos mascaram algumas lógicas de exclusão: de diferenciação e  distinção, nacionalista e culturalista.  

As lógicas de diferenciação e distinção parecem operar de forma específica quando os “Outros” são apresentados como “estrangeiros”. Por exemplo, há proprietários de imóveis em Barcelona que se recusam a alugar seus bens para “estrangeiros”. A distinção não está construída de forma igual,  nem com os mesmos elementos, como mostram os diferentes discursos empregados pela sociedade de acolhimento. Esses “estrangeiros” não aceitos podem ser identificados como sendo os marroquinos, distintos pela cultura, o que os torna “atrasados e não dignos de confiança”. Aceitos, entretanto, são os “sudacas” – etiqueta que se aplica, na Espanha, aos emigrantes, aos exilados pobres e anônimos, procedentes da América Latina, a despeito de ter uma conotação pejorativa. O uso desse termo denota uma rejeição de classe social já que ele não é usado para designar, por exemplo, o escritor peruano, MarioVargas Llosa, que escolheu a Espanha para sua “nova” pátria. Não se rejeitam, também, os investidores japoneses e os xeiques árabes. Aos brasileiros se aplica, com menos freqüência, o termo “brazuca”, nem sempre de forma negativa e aceito pela maioria como sendo uma forma de distingui-los dos outros latinos.

No que se refere ao domínio lingüístico, essa lógica de diferenciação também atua. Até por que, inclusive, ela serve de parâmetro para medir a distância cultural entre os variados falantes. Essa distância varia de acordo com a seguinte escala: aqueles que têm o espanhol como língua materna (latino-americanos, exceto os brasileiros); os que têm uma língua de prestígio como o inglês, o alemão e francês e aqueles de outros grupos lingüísticos, como os africanos, os asiáticos. Estes têm maior dificuldade para o processo de inserção social, sobretudo em Barcelona  bilíngüe onde, correntemente, fala-se o catalão e o espanhol.

Pela lógica nacionalista, há uma naturalização do Estado e ele é a expressão de uma realidade “essencial” (a nação/ nacionalidade) que tem que ser defendida. O “normal” é cada população residir em seu Estado-nação. Por este raciocínio, as migrações internacionais introduziriam uma anomalia naquela ordem. Assim, surgem os discursos enfatizadores de que os autóctones, os nacionais tenham, prioritariamente, acesso aos recursos sociais como assistência à saúde, escola, entre outros. Para tanto, delimitam o campo do que é “estrangeiro” aos imigrantes pobres, que aparecem muito mais como consumidores de recursos, do que como produtores de riqueza, na percepção da sociedade autóctone.

O discurso da lógica culturalista se apóia em duas razões básicas: a cultura dos “estrangeiros” é um  universo imutável e existiria devido ao fato de eles pertencerem a sociedades inferiores, fechadas; a outra razão seria a de que, segundo a lógica culturalista,  as culturas seriam mutuamente incompatíveis pois o “Outro” é portador de atraso, de tradicionalismo  e de agressividade. Isso pode resultar em uma segregação absoluta e negar as possibilidades de um intercâmbio mútuo e até mesmo as de uma convivência agradável. Tal discurso é construído em função das ressignificações que são feitas sobre “aquele que vem de fora”. E, conforme já foi dito, a diversificação de imigrantes, na Espanha, cria uma defesa da “integridade cultural”. Dessa forma, os defensores desta lógica, vêem os imigrantes como ameaça. Delgado Ruiz (2000) é enfático ao afirmar que os termos recentes aplicados ao imigrante como: “multiculturalidade” e “interculturalidade” servem para indicar a presença  de pessoas “diferentes” entre os “normais”. Esses “diferentes”, também, tornam os “normais” mais distintos, na medida em que, com suas características culturais “anômalas”, se distinguem, distanciando-se das que eles detêm. O emprego destes termos serve para ressaltar a visão que se tem dos imigrantes em contraste com aquela sob a qual é vista uma suposta maioria “autóctone”, que não se inclui em nenhuma etnia ou maioria cultural. Pode-se resumir esta discussão com as palavras de Cavalcanti (2006) para quem o imigrante é um personagem imaginário, vestido de princípios negativos, cuja intencionalidade passa pela ordem ideológica.

Assim, segundo as lógicas apresentadas, o fato de ser um imigrante gera implicações culturais e identitárias. Para Bourdieu (1989), ele - o imigrante - pode estar neste lugar onde não é nem cidadão nem estrangeiro; ou seja, ocupa a fronteira entre o ser e o não-ser social. Isso obriga os interessados no assunto a repensarem completamente a questão dos fundamentos legítimos da cidadania e da relação entre o Estado e a nação ou a nacionalidade. Alguns autores, como Garcia Canclini (2000), consideram o imigrante como sendo portador de um biculturalismo ou uma identidade fragmentada. Exemplificando, o brasileiro que imigra se vê dividido entre o Brasil e Barcelona no processo para a construção social de sua situação, presentemente. Até mesmo sua estratégia de vida em Barcelona se “divide” entre as exigências que lhe fazem no/do país de origem (afetivas e também materiais) e as do país que o acolhe, como, por exemplo, a de legalizar-se e a de aprender a língua local, para comunicar-se. Tanto os grupos ou indivíduos “nacionais” quanto os imigrantes, investem e pertencem a diversos territórios e  cada um desses territórios contribui na identidade social e cultural Reforça este entendimento da condição cultural singular destes grupo, a discussão mais recente de Bhabha (2004) sobre o conceito de cultura. Ele  conceitua cultura como sendo  híbrida, transnacional e tradutória. Ele argumenta que tal conceito estaria ligado à questão de sobrevivência, quando os deslocamentos põem em choque as diferenças culturais. Assim, o hibridismo vem enfatizar que “culturas são construções e tradições são invenções e, quando em contato, criam novas construções desterritorializadas”, nas palavras desse Autor  (2004, 126).

De maneira geral, e de acordo com o já exposto, pode-se reafirmar que pelo discurso dominante, o “imigrante” não seria todo aquele que chega de outro sítio, de outro país. Conforme Delgado Ruiz (2000), esse termo opera uma discriminação semântica, sendo aplicado exclusivamente aos que chegam e se instalam nos setores subalternos da sociedade. A palavra revela, pois, a existência de dois grupos com relações tanto de oposição como de complementaridade: o imigrante e um autóctone, apesar de este ser um imigrante antigo.

No caso da Espanha, ela atraiu muitos imigrantes dos países da Europa do Norte, devido às condições climáticas mais amenas e o custo de vida mais baixo. Estes imigrantes ocuparam principalmente as regiões da costa do Mediterrâneo, as ilhas reputadas como atraentes pelas praias e as cidades cosmopolitas. Eram, principalmente, aposentados. Nesta fase, na década de 1990, ocorreu ainda a inversão de capital transnacional europeu, americano e japonês, o que atraiu também os trabalhadores das empresas multinacionais. Como os aposentados, eles são considerados “estrangeiros”. Salvá Tomas (2002) relata, por exemplo, o caso de Ilhas Baleares, onde os  alemães são “estrangeiros” e os latino-americanos são “imigrantes”, “sudacas” e “brazucas”.

Existe, portanto, um jogo simbólico que se esconde por trás da própria denominação de “imigrante” e que pode variar de acordo com a situação sócio-político de determinado local, o que já foi mencionado anteriormente.

De desterritorializados  para outros processos

A situação atual tende a favorecer o estabelecimento e a inserção de imigrantes que, devido à precariedade de seu país, dele resolvem sair. Eles têm um nível de qualificação que se situa entre o baixo e o muito baixo. Desde os anos 1990, intensificaram-se os fluxos dos imigrantes latino-americanos, asiáticos, africanos, principalmente de Marrocos, e do Leste Europeu para a União Européia. Segundo estudos efetuados pelo Colectivo IoÉ (1999), na Espanha, 40% dos imigrantes procediam de antigas colônias espanholas e 75% deles, dos países subdesenvolvidos.

No caso de brasileiros, a corrente migratória recente tinha como preferência primeiramente Portugal como destino, desde fins dos anos 1980, principalmente devido ao seu ingresso na União Européia. Ter a mesma língua facilitava desenvolver atividades profissionais num mercado de trabalho em expansão. Assim, odontólogos, artistas e profissionais semi-qualificados migraram para Portugal até os anos de 1990. Desde a virada do século, porém, os imigrantes brasileiros intensificaram, progressivamente, os fluxos migratórios para países como França, Inglaterra, Bélgica, Luxemburgo e Espanha. Assim, comparando o fluxo de imigrantes brasileiros com a autorização de residência e legalmente “padronados” em Portugal e Espanha, respectivamente, em 2000 havia 22.202 brasileiros em Portugal e 11.085 na Espanha. No ano de 2005, este número subiu para 31.546 em Portugal, enquanto, na Espanha, acelerou-se a entrada do fluxo de brasileiros.  Em 2006, a Espanha já apresentou mais que o dobro de imigrantes de Portugal com 73.704 brasileiros padronados[5]

Na atual leva de imigrantes, após 1996, encontra-se uma alta porcentagem de mulheres. Em 2006, do total da população brasileira na Espanha, 45.714 eram mulheres, isto é, mais de 70 %. É o mais alto índice de todos os coletivos de mulheres imigrantes [6]. Isso demonstra que, nos atuais fluxos migratórios brasileiros, a mulher lidera o movimento na família. É aquela que faz a rede para a posterior vinda do marido, filhos e irmãos. Muitas delas, cabe ressaltar, dedicam-se à prostituição de rua ou de piso, quando estão em apartamentos sob a direção de um cafetão ou cafetina, fato bastante noticiado na imprensa espanhola e brasileira e que, a despeito de sua importância, não será discutido presentemente.

O imigrante, predominantemente, tem o seguinte perfil: é pessoa sem vínculos empregatícios no Brasil ou de vínculos frágeis, sem uma profissão definida, e é, também, semiqualificada. É este trabalhador brasileiro que, em sua maioria, na faixa etária entre 20 a 39 anos, migra para Barcelona. Seu baixo poder aquisitivo e, se assalariado, com um salário pouco acima do mínimo, reflete as condições precárias sob as quais efetuou a emigração: para custear a ida ou ele vendeu algum bem ou conseguiu um empréstimo, em dinheiro, com familiares. A decisão de ir, além da influência daqueles fatores conjunturais já mencionados, deve-se aos relatos animadores sobre a possibilidade de trabalho e de “ganhar dinheiro”, feitos por aqueles que já estão na Espanha. Como descrevem Domingo Peréz e Viruela Martinez (2001), os imigrantes são agentes muito ativos para retroalimentar o processo migratório. Com tal promissora possibilidade, o deslocamento faz-se amparado por uma rede de parentes e de amigos em Barcelona com os quais conta, no início, para a hospedagem em habitaciones reduzidas e lotadas; para o auxílio com a língua; para com os primeiros papéis e para a busca de trabalho[7]. As redes se adensam como âncoras, servindo, progressivamente, de apoio frente às dificuldades e situações de necessidades. A expectativa daquele que chega é a de encontrar, imediatamente, uma atividade remunerada qualquer e recuperar o investimento realizado na passagem.

O primeiro trabalho depende basicamente das redes sociai[8] e da distribuição de cartões de oferta de trabalho com o número de telefone para contato, pelos metrôs, praças, portas de supermercados e de igrejas que têm aglomerações de pessoas.

Para os homens, o principal emprego é na construção civil, menos exigente no conhecimento da língua, requer apenas assiduidade e força física. Este trabalho, a despeito de ser mais pesado, é o melhor remunerado. Boa parte dos homens entrevistados encontra-se trabalhando neste setor. Outros, também uma quantidade expressiva, estão com empregos no setor de serviços, como na informática; nas lojas comerciais (como vendedores) em restaurantes (como ajudantes de cozinha em ou como garçons), ou, ainda como na distribuição de panfletos nas ruas. Entre os entrevistados foi identificado que, somente aqueles que residem há mais de três anos e com papéis de residência que permitam trabalhar na Espanha é que estão passando para a iniciativa privada, investindo em micro-empresas prestadoras de serviços na construção e em limpeza, ou, então, em comércio como em pequenos restaurantes e em salão de beleza e, ainda, em escolas de capoeira. Este é um número em ascensão. No caso de restaurantes predominam-se alguns brasileiros que já chegaram com um certo capital e, nos restaurantes ou bares, eles comercializam a gastronomia brasileira. Convém esclarecer que as mudanças de emprego são feitas por meio dos laços débeis com os catalães e a ausência destes laços dificulta o momento de mudar de tipo de trabalho para uma atividade melhor remunerada.

No que diz respeito às mulheres, as principais oportunidades de trabalho estão no serviço doméstico, que as espanholas não fazem. Assim, as imigrantes não concorrem com elas. Segundo Veiga (2000, 33), este serviço é “ tan degradado en sus condiciones que tendria desaparecer”. Essa situação agrava-se com as leis que regem este trabalho, pois são completamente contrárias aos direitos dos trabalhadores “y son tan amplias y flexibles que permiten todo tipo de abusos.”

Alguns analistas afirmam que o trabalho doméstico somente se mantém porque, nos primeiros momentos do processo imigratório, com as dificuldades de conhecimento da situação, de condições legais e de falta de recursos, além da prostituição, esta é a única opção aberta às mulheres imigrantes. Veiga (2000) já considera que o trabalho doméstico assumido pelas imigrantes – seja o de limpeza; o de acompanhante de pessoas idosas e inválidas; de babás, as chamadas”cangurus” -  tem  a função de complementaridade com o trabalho feito pelas espanholas de classe média alta que, liberadas destas ocupações, podem trabalhar fora de seus lares.

As domésticas estão em uma situação de estabilidade fechada. Para mudar de emprego, faltam-lhes informações sobre possíveis empregos e empregadores e a atividade doméstica tem a singularidade de deixar esse tipo de trabalhadora isolada do mercado de trabalho. As imigrantes estão em uma situação que pode levar efetivamente ao fortalecimento de exclusão laboral e social. . De fato, a saída do trabalho doméstico para  outro, por parte das migrantes, requer maior inserção social e para tanto ampliar sua rede relacional, habilitar-se profissionalmente e dominar o espanhol.

A grande maioria das brasileiras entrevistadas encontra-se fazendo faxina. Outras, numa quantidade inexpressiva, identificaram-se como cabeleireiras de clientela de brasileiras; como garçonetes ou como auxiliares de cozinha de restaurantes e houve o relato de uma migrada que diz fazer e vender salgadinhos e doces tradicionais brasileiros para uma clientela formada, principalmente, de brasileiros.

São diversas as territorialidades que se superpõem no espaço urbano de Barcelona. Este, como território, não tem o seu significado apenas na materialidade visível e no que é mensurável e, sim, no conjunto de relações que pode manter com outros elementos da vida social. O território é relacional no sentido de incluir processos sociais e espaço material, mas também é movimento, fluidez tal como Barcelona configura para os imigrados. Em 2006, conforme dados do www.ine.es., a cidade possuía 219.941 estrangeiros “padronados”, isto é, com registro oficial de residência no país.  

Barcelona - objeto de desejo dos imigrantes

Barcelona é a segunda cidade em população e em importância econômica da Espanha. Tem 1.605.605 habitantes (www.ine.es). É ela que – devido à sua posição estratégica no cinturão econômico principal do setor oriental da península ibérica articulada com Saragoza e Valência – consolida uma região econômica importante na União Européia. Nas ultimas décadas alçou-se a uma posição de destaque internacional e, como metrópole, firmou-se na Europa comunitária. O termo “metrópole”, na atualidade, designa aquelas cidades que, em seu aspecto econômico, têm uma concentração de atividades de porte mundial (atividades financeiras e as que exigem a presença de multinacionais), e que, além de deterem o monopólio sobre a inovação e informação, apresentam, no seu aspecto espacial, extensão crescente de diversos centros, graças à constituição de espaços metropolitanos complementares segregados.

Os fatores determinantes da localização da área de influência de Barcelona é a proximidade do mercado e uma forte concentração de infra-estrutura em meios de comunicação, um carrefour de grandes redes de transportes; a presença de trabalhadores qualificados; um índice de conexão com as redes econômicas mundiais e as políticas econômicas e territoriais,  favorecendo o bom clima para negócios na compreensão de Benach;Tello (2004).

Nos espaços urbanos, as tendências globais se confluem e se concretizam. A presença de empresários, industriais, a exigência de prestadores de serviços avançados – tudo isso é contado como critério imprescindível que fez com que a conurbação  de Barcelona se formasse a partir dessa confluência e concentração dos setores econômicos do terciário e quaternário. Uma característica da transformação da grande indústria metropolitana, com sua nova divisão social e espacial dos processos produtivos, é a explosão de numerosas empresas pequenas e especializadas, na análise de Miret (2001). Além dos fluxos econômicos, para esses espaços urbanos se dirigem os fluxos resultantes de uma globalização perversa, conforme Santos (2000), entre os quais se situam a emigração e imigração. Em Barcelona, simultaneamente, às novas empresas, aos investidores e à mão-de-obra qualificada, o ar de prosperidade atrai muitos fluxos de imigrantes desqualificados ou de pouco preparo, em busca de trabalho. Os imigrantes que chegaram durante os últimos trinta anos não são provenientes da imigração interna tradicional, e eles são um reflexo das rápidas transformações socioeconômicas que ocorrerem na metrópole (Miret, 2001). A cidade se configura, portanto, como sendo um ponto de convergência de fluxos opostos e contraditórios.

Para Capel (2007) destaca, ainda, a existência de um plano de gestão urbana nos anos 1980, que transformou a cidade de Barcelona, do ponto de vista social, político e econômico. Graças à participação e acordo popular foram asseguradas  medidas  de descentralizaçao  municipal,  estratégias culturais,a preocupação com a coesão social, a atenção ao planejamento  estratégico, a colaboração  público-privada, ou as ações para a melhora da paisagem  urbana. Elas, não somente  conferiram um fator diferencial à cidade no contexto das cidades espanholas como um modelo de gestão urbana para o restante do mundo mas, também,  tornaram Barcelona atrativo para os imigrantes.

Por receber um intenso fluxo global migratório, ocorreu, na Espanha, um endurecimento progressivo das linhas de “estranjeria”[9],  fato que vem acontecendo em toda a Europa e, mais particularmente, na França e Espanha. Isso não impediu que a porcentagem da população estrangeira em Barcelona tenha crescido significativamente desde os fins da década de 1990. No ano de 1996, o porcentual de população estrangeira era de 1,9% e, em 2001, de 4,9%, alcançando, no início de 2003, o índice de 10,7%, fato que não é muito expressivo, se comparado com outras metrópoles européias. Em 2006, já atingiu 15,9 % (QUÉ, 16/10/2006). Esse salto vertiginoso, dos últimos anos, é um fato preocupante. Além daqueles que procedem da União Européia, com maior presença destacam-se os imigrantes equatorianos, os peruanos, os colombianos, os italianos e os marroquinos, sendo que os últimos – os marroquinos - têm uma presença destacável nesse fluxo, dada à proximidade do seu país com aquele para o qual emigram. De acordo com Benach e Tello (2004) os provenientes destas nacionalidades chegavam a constituir 60% dos estrangeiros entre os que residiam em Barcelona em 2003.

O Brasil também tem se despontado como exportador de mão-de-obra para a Espanha, em especial, para Barcelona, passando do décimo para o sexto lugar, em termos de quantidade de migrantes com a aceleração tida desde 2002, e um crescimento de 34,7 % entre 2005-2006. Em janeiro de 2007, os dados apontavam que os brasileiros correspondiam a 2,8% do total de imigrantes na referida cidade (www.bcn.es). Não é a primeira vez que Barcelona recebe fluxos imigratórios. Historicamente, no século passado, ela foi receptora por mais de setenta anos. A “cidade multicultural”, que se delineou ao longo dos tempos, tem mesmo alimentado o discurso recente a favor da tolerância, da convivência e da paz social. Para a imagem da diversidade cultural, esse discurso fornece nuances promissoras e fortalece o discurso da “Barcelona diversa” da boa convivência entre os cidadãos. Para os urbanistas e planejadores, os problemas não residem nos conflitos sócio-culturais, e sim naqueles resultantes da moradia e da precariedade legal.

Os princípios étnicos que caracterizam a sociedade de Barcelona têm uma influência decisiva sobre os processos de etnogênesis da população imigrante. Os projetos de inserção de imigrantes nas estruturas do catalão têm uma identidade lingüística, o catalão, maior visibilidade. Há ofertas de cursos de espanhol e catalão gratuitos nos diversos centros sociais. Dados recentes apontam uma participação de 40% de estrangeiros no curso de língua catalã. Este relativo interesse pode ser devido à facilidade de ascensão social e econômica com o seu domínio, pois o fato de ser uma língua restrita à Catalunha não instiga o seu aprendizado.

Os imigrantes brasileiros em Barcelona e o redesenho das territorialidades

Como podemos conceber a identidade, a diferença e o pertencimento após a imigração?Para responder esta questão é necessário clarear sobre a identidade territorial. Conforme Saez (1995), para a apreensão  da identidade tem que se ter em conta, concomitantemente, sua historicidade, sua relatividade e seu caráter interativo e dinâmico.Para Penna (1992), a identidade territorial  decorre da naturalidade, auto-atribuição, da vivência e experiência com o território. Isto posto, a identidade não pode ser concebida  necessariamente como monolítica, única ou estável, ou ainda como dotada de existência própria.

Partindo desta compreensão é inevitável deduzir  que muitos laços de identidade se manifestam na convivência com o lugar, com o território. O território entendido como sendo, antes de tudo, uma convivialidade, um produto e construção da relação social, política e simbólica que liga o homem à sua terra e, simultaneamente, estabelece sua identidade cultural. Por isso, Fay (1996) ) argumenta que  a cada momento todo território é, ou foi bem um território identitário, pois  este é um jogo de identidades relacionais que estabelecem suas fronteiras fundadoras.Estas interpretações nos remetem a considerar, concomitantemente, a plasticidade da noção de identidade e a polissemia dos termos cultura e território.

Para o imigrante, com o território do qual ele sai, permanece com seus laços sem que isso o impeça de construir outras relações e elos com o território para o qual  ele migra. Sua condição é de viver entre-territórios, e há, em outras palavras, uma complexidade da identidade territorial. Isso sugere,   no entendimento de Di Meo (2001), levar em conta uma concepção de território multidimensional participando na identidade por meio de 3 ordens distintas: da materialidade, da psiquê individual e das representações coletivas, sociais e culturais. Na primeira ordem, a identidade territorial resulta  da maneira como a biosfera registra a ação humana e se transforma por seus efeitos; na ordem da psiquê individual, a territorialidade identifica-se, pelo viés emocional do homem na relação com a terra; e, na terceira ordem, são as representações que conferem  sentido ao território e elas se regeneram  em contato com o universo simbólico do qual o território fornece a base referencial. Estando entre-territórios, uma identidade territorial plural e flexível o imigrante redesenha outras territorialidades.

Piveteau ( apud Greffier,2006) aponta três escalas diferentes de territorialidades, organizadas em forma de círculos concêntricos: o primeiro círculo corresponde ao centro, espaço reservado ao domínio do privado; um circulo intermediário, que define os lugares de trocas, de possibilidades e de encontros e, um circulo externo, de domínio público, freqüentemente coletivo.Ele é a metáfora da imensidão. Essas territorialidades dependem dos sentidos que as sociedades atribuem aos espaços, como se dá a apropriação simbólico- expressiva do espaço e com ele têm um sentimento de pertencimento e de identidade territorial.Os sujeitos, como os imigrantes, podem, simultaneamente,  terem territorialidades nas três escalas.  

São diversas as territorialidades que se superpõem no espaço urbano de Barcelona. Este, enquanto território, não tem o seu significado apenas na materialidade visível e no que é mensurável, e sim no conjunto de relações que pode manter com outros elementos da vida social. O território é relacional no sentido de incluir processos sociais e espaço material, mas também é movimento, fluidez tal como Barcelona configura para os imigrados.

Os brasileiros recém-chegados geralmente estranham o uso do tempo, o horário comercial feito pelos catalães. O comércio, sobretudo nos bairros, habitualmente funciona de 10 às 14 horas, com um intervalo até às 17 quando reabre e encerra às 21 horas. Para alguns entrevistados, habituados ao horário corrido a partir das 8 horas, “parece que o dia aumenta pela noite” e o intervalo é perda de tempo. As refeições deslocam-se acompanhando o ritmo do trabalho.

Os hábitos alimentares numa região temperada tendem a ser mais associados às produções sazonais. O brasileiro, após a fase da descoberta e do provar as novidades, tem tendência a buscar os alimentos com os quais é mais familiarizado. Rapidamente descobre as tiendas latinas, a boqueria nas quais compra produtos, com preços acessíveis que permitem, ocasionalmente, retornar aos alimentos que consumia em sua pátria. A grande maioria dos brasileiros, mesmo estando há mais de um ano em Barcelona, continua comendo diariamente arroz com feijão, macarrão e algum tipo de carne, mas, acompanhados de moscatel ou sangria de baixa qualidade.

As famílias brasileiras com crianças que moravam em cidades interioranas encontram uma diferença significativa em Barcelona. O hábito de no Brasil confiarem a uma criança maior para cuidar dos demais se esbarra nas leis espanholas que impedem esta prática e pode implicar até a perda da guarda dos filhos. Isso limita o trabalho do casal nos horários que os filhos estão na escola ou um deles ter um trabalho noturno em  cozinhas de bares e restaurantes.  

Alguns brasileiros comentam ter assimilado, em Barcelona, práticas culturais como a leitura, o lazer com a família, na patinação, e, durante o verão, a praia, nos finais de semana. Como nas entradas dos metrôs são distribuídos, gratuitamente, jornais como Qué! Metro, 20 minutos, ADN, as informações estão, diariamente, à disposição aos interessados.

Majoritariamente, os entrevistados evocaram que as reuniões com amigos e familiares, para tomar cerveja, fazer churrasco ou feijoada, fazem parte dos hábitos do que foi deixado no Brasil. Além do temor de  reclamação da vizinhança espanhola  pelo barulho, a confraternização não é tão freqüente, posto o clima de desconfiança, de pouca solidariedade entre os brasileiros. São comuns os relatos sobre compatriotas que estão há mais tempo estabelecidos e, por isso, exploram os recém-chegados. Segundo esses relatos, as queixas relacionam-se, principalmente, aos preços abusivos do aluguel do quarto àquele que chega. Também são registradas queixas contra os que já possuem mini-empresas (de construção ou de limpeza) e contratam patrícios, mas lhes pagam menos da metade do preço de mercado. Além disso, dizem nos relatos, eles são egoístas e individualistas. Considerando que o principal interesse é encontrar um trabalho estável e que, para tanto, depende de regularizar a situação perante as leis da migração e deixar de ser um sin papeles, os recém-chegados acreditam que os conterrâneos poderiam ser mais solidários, facilitando o processo. Entretanto, rapidamente se desiludem face à concorrência pelo trabalho.

Os brasileiros migrados não estão agrupados em associações, não têm vida política, pouco se interessando pelos problemas urbanos e por questões políticas locais. Para reencontros sociais, buscam às vezes o Cantinho do Brasil, bar e restaurante com produtos brasileiros ou, semanalmente, vão à sede da Associação de Amigos do Brasil, dirigido por um espanhol. Cabe registrar o papel social de duas igrejas: a de “Cristo Pentecostal em Espanha” (ramificação da Igreja Universal) e da “Igreja Testemunha de Jeová”. Elas reproduzem, em Barcelona, práticas de orações com o coletivo e as de visitas para evangelização. A “Testemunha de Jeová” tem várias igrejas espalhadas em Barcelona. A Igreja constitui um local importante de encontro de brasileiros.

A inserção de imigrantes, no novo entorno, exige diversos exercícios de apropriação simbólica para decifrarem o novo espaço urbano, por exemplo, eles têm que aprender a usar o metrô, a compreender endereços, a entender a que se referenciam signos como Las Ramblas, a Plaza Catalunya, El Corte Inglês, Barrio Gótico ou Ciudad Vieja. A identificação e o reconhecimento visual da estrutura simbólica da nova cidade de residência são, pois, etapas importantes para a adaptação das pessoas migradas.

Um esboço de identidade para com esse novo espaço é criado, principalmente, por meio de fotografias, algumas cuidadosamente montadas desde a chegada e instalação em Barcelona. Como marcas temporais, elas são, simultaneamente, testemunho pessoal e uma amostra, simbólica, dos êxitos que o fotografado alcançou na vida atual. Elas contribuem para o trabalhador imigrante representar o novo local de moradia, acumular um material concreto e com ele estabelecer uma primeira relação com a cidade e dar testemunho dessa relação aos amigos e familiares. As fotografias são feitas, geralmente, nos momentos de lazer, da diversão familiar, com as roupas domingueiras em lugares emblemáticos da cidade, com as quais os imigrados transmitem a idéia de tempo livre, de gastos econômicos impossíveis no Brasil. Assim, reforçam a imagem de sucesso e bem-estar em uma cidade moderna, bela e agradável para viver, conforme retratam as fotos.

Para os migrados, o processo de desterritorializaçao começa na terra natal, no caso, o Brasil, quando principiam a sonhar com o sair da situação em que se encontram e que os incomoda. A fratura decisiva, com a pátria, acontece com a decisão de desfazer-se dos bens materiais, culturais e afetivos, para empreender a busca de refazer a vida em melhores condições.

O conflito inicial da maior parte de pessoas imigradas é a ruptura e desconexão territorial uma vez que  borram as referências  simbólicas e territoriais de um país distante. Os vínculos que estabelecem com o país de origem, seu povo, sua cultura ocorrem apenas no plano virtual oferecido pela internet e/ou pelo telefone. É significativa a rede de locutórios disseminada, sobretudo, nos bairros periféricos de Barcelona e, neles, a grande freqüência de imigrantes. As mais fortes relações permanecem, basicamente, com a sua sociedade de origem e se alimentam das conversas telefônicas freqüentes, do envio de fotografias que evidenciam a melhoria de vida presente e da remessa periódica de dinheiro para a família. As relações com a sociedade espanhola ocorrem em caráter limitado, geralmente, ao proprietário do imóvel alugado, aos professores da escola, e ao patrão, no local de trabalho. Ou seja, elas se situam no plano do estritamente necessário. Diante desse contexto, como interpretar as territorialidades em processo decorrentes de tais situações?

O entendimento de como os trabalhadores brasileiros estão construindo suas identidades territoriais e redesenham suas territorialidades implica, a priori, uma análise dos fatores internos e externos existentes, que interferem no processo de reterritorialização.  Apontaremos os principais criados por alguns segmentos da sociedade catalã e pelo governo local.

Para a sociedade que acolhe, no caso em pauta, a catalã, existe o discurso sobre a necessidade de integrar socialmente os imigrantes estrangeiros [10]. O termo “integrar”, todavia, gradualmente se converteu no modelo ideal para incorporar os imigrantes à sociedade receptora. Para Maluquer i Sostres (1965), a integração implica numa adaptação concebida como um ajustamento dos imigrantes a aspectos particulares da sociedade que os acolhe. Os sociólogos até fazem a distinção entre um tipo de integração – que eles chamam de sistemática (como ter um trabalho) e a da integração social (que diz respeito à criação de vínculos sociais) que seria mais complexa.  Cabe àquele que chega a Barcelona – no caso desse estudo - romper com o estigma de “imigrante” que lhe é imposto, assimilando a cultura e converter-se em um a mais, dentro da comunidade receptora, ou seja, em um autóctone. Ainda para esse autor, a “assimilação” seria a participação efetiva e em profundidade do imigrante, em todos os aspectos nacionais e culturais da sociedade que o acolhe. Ora, existem outros fatores, provavelmente de maior peso do que o cultural por meio dos quais se efetua a integração social. Além disso, ao dar ênfase ao aspecto cultural para justificar a exclusão, converte-se a diferença em justificativa para a desigualdade. Esse entendimento (de se integrar à cultura da sociedade receptora) camufla também a crença de que os recém-chegados imigrados são inferiores, de que sua forma de vida não é adequada, e a de que, por isso, devem eliminar todo o universo cultural que trouxeram consigo. Para Checa (2000), essa integração, como assimilação cultural, é o racismo pós-moderno contemporâneo, o sintoma de uma falsa interculturalidade.

O discurso da integração está na contramão de um outro, em voga, que diz respeito ao “ser diferente”. Há aqueles que apontam a impossibilidade de o imigrante manter, distintamente, o padrão cultural do seu país com o do que lhe é apresentado onde chega. Mas outros autores, como Checa (2000), Touraine (1995) discordam. Eles argumentam que “diferença” não é expressão antônima de “igualdade” e que o direito à diversidade se sustenta no direito ao universal. Portanto, não deve o imigrante renunciar-se à universalidade dos direitos culturais já que “eles são direitos à diferença e ao reconhecimento do interesse universal de cada cultura. A cultura, mais que o conjunto particular de regras e crenças, é o esforço para dar sentido universal a uma experiência particular” (Touraine, 1995: 21).

Nota-se que os discursos favoráveis à integração recorrem a uma conceituação de cultura, como sinônimo de tradição, isto é, como um conjunto homogêneo e integrado de normas e valores que determinariam o comportamento de indivíduos e de grupos e que se transmite de geração a geração. Tal definição conceitua as configurações culturais como sendo estáticas e homogeneizantes e omite o processo sócio-econômico e político no qual os indivíduos estão inseridos e, ainda facilita a construção, a reprodução e a manutenção das distâncias e desigualdades sociais. Assim, abstrai-se que as diferenças são efeitos de uma relação  e reforça a idéia de que somente a cultura determina os comportamentos. Desta forma, esquecem-se, eles, do papel que desempenham outros grupamentos sociais – como classes sociais, gênero, e gerações - e consideram os indivíduos como suporte ou produto da cultura e não como intérpretes e, inclusive, “autores” das configurações culturais.

Para Santamaría (2000), entre as representações feitas sobre o imigrante, deveria ser melhor repensada aquela para a qual a presença do recém-chegado comporta paulatina diversificação cultural e étnica e  constitui uma verdadeira mutação social espraiando  pelas sociedades européias,  que assim se tornariam multiculturais,. Esse autor adverte que tal afirmação superdimensiona e valoriza o alcance da presença dos imigrantes como também define a diversidade como um problema ou a imigração como um fenômeno anômalo para a própria sociedade acolhedora[11].

Á guisa de conclusões

Essas discussões estão em curso. Enquanto isso, o trabalhador imigrado brasileiro recém-chegado, desorientado pelo novo contexto, se considera “um sem eira e nem beira aqui nesta terra” e aquela que faz tarefas domésticas com quase três anos em Barcelona começa a ressentir o peso da concorrência, com as compatriotas que constantemente chegam, ameaçando seu posto de diarista com as “patroas”, e confessa que os imigrados vivem ilusionados em Barcelona. De modo geral, em um aspecto, todos se identificam: os imigrados trabalham sonhando com o que eles têm ganhado em euros, com os investimentos que fazem ou com os bens que serão adquiridos, mesmo se não pensam em um retorno breve para o Brasil.

O processo de inserção nos territórios mundializados cria indivíduos, tais como os trabalhadores brasileiros em Barcelona, em realidades multiescalares, participando de múltiplas territorialidades.Isto decorre, também, da sua condição de encontrar-se em ”zona de contato”, de sujeitos anteriormente isolados, por razões  geográficas e históricas, e agora, nessa zona têm uma co-presença espacial e temporal,   se cruzam, o que os tornam  sujeitos transculturais, nas palavras de Hall(2003). O fato de ser um sujeito transcultural, a concordância com o  entendimento sobre identidade territorial de Di Meo (2001) exposto anteriormente, e de aceitar a concepção de territorialidade de Piveteau (apud Greffier,2006) igualmente apresentada, nos reforçam a insistir que o imigrante brasileiro possui múltiplas  territorialidades. Além disso, tem a considerar que, de acordo com a reflexão  de Delgado Ruiz (2000,148), “el llamado ‘ inmigrante’ está dentro, pero algo o mucho de él- depende- permanece aun fuera. Está ‘ aqui’, pero de algun modo está todavia ‘alli’, en otro sitio.O mejor, no está de hecho en ninguno de los dos lugares, sino como atrapado en el trayecto entre ambos...” , ou seja, o imigrante está  aqui, mas de alguma maneira, ele também está  em outro lugar.

Efetuamos, neste artigo, uma abordagem metodológica desta sociedade em movimento. Não nos atrevemos a dar respostas definitivas para as inquietações sobre o tema, sobretudo diante de uma concepção que foi por nós adotada, de compreender o espaço como produto da sociedade, de afirmar a identidade cultural como dinâmica e a territorialidade como processo. Isso posto, encerramos dizendo que as múltiplas territorialidades não impedem de que elas sejam também novas para os sujeitos imigrados que se encontram neste processo.

Notas

[1] Estudo efetuado durante estágio pós-doutoral no Laboratório de Multiculturalismo y Género da Universidad de Barcelona (julho 2006 a fevereiro 2007). Apoio institucional CAPES.

[2] Antonio Negri e Michael Hardt, citados por Zusman e Quintar (2001), observam que a produção em redes transformou as formas de comunicação e de cooperação nos lugares e entre os sítios produtivos. Eles afirmam que “ las tecnologías de la información hacen que trabajadores situados en lugares distantes puedan comunicarse y cooperar entre sí sin requerimiento de ningún tipo de proximidad o contacto físico. En este contexto las redes globales cumplen un papel clave en la medida que ellas actúan a la vez como sitio de la producción y de la circulación”.

[3] Esta condição de desterritorialização é discutida por vários autores entre eles Garcia Canclini (2000) e Appadurai (1994). Esse último comenta a natureza ambígua da desterritorialização como sendo “uma das forças básicas do mundo moderno”, que envia as populações trabalhadoras para constituírem os níveis inferiores das sociedades mais prósperas, ao mesmo tempo em que tenta criar, nelas, um sentimento de apego à política nacional e de críticas ao país de origem.  

[4] A este respeito Maria de los Ángeles Corpas Aguirre (2001)  é categórica: “No obstante, cuando estos inmigrantes adquieren un peso relativo importante, se suceden a veces, episodios que delatan la presencia y difusión de actitudes racistas o xenófobas. Aunque sin duda éstas tiene cierta presencia que debe ser detectada y denunciada, se presentan a veces como un germen inevitable que indica la imposibilidad de la convivencia plural, ocultando el carácter de prejuicio económico ante los extranjeros”..

[5] (www.ine.pt/prodeser/destaque/2006) e (www.ine.es).

[6]( www.ine.es)

[7] Os senegaleses em Valência, pertencentes ao grupo muçulmano de murid, constituem um interessante exemplo de rede de apoio laboral. Além de serem solidários para com os recém-chegados, eles organizaram um sistema de auto-emprego comercial, integrando os compatriotas como provedores de mercadorias e/ou como vendedores ambulantes, conforme relatado por Lacomba y del Olmo (1996).

[8] Para Domingo Pérez e Viruela Martinez (2001) o impacto da mídia não é tão poderoso quanto as informações de conhecidos e/ou de familiares e as aquisições e investimentos feitos por aqueles que emigraram. Para eles o peso maior é “la información de otros emigrados a familiares y amigos, el envío de dinero o, si han conseguido establecerse, las visitas en vacaciones, confirman las posibilidades que ofrece la emigración, tanto en países vecinos como en los muy distantes”.

[9] A Ley de Extranjería  é  uma norma que tratava de ordenar a situação dos residentes no país, bem como de regulamentar os procedimentos de entrada nele. Sua aplicação era considerada como restritiva de direitos humanos e, em 2000, teve alterações. A atual resulta das novas exigências e está de acordo com a nova realidade nacional. Ela busca proporcionar, ao imigrante, mais garantia de permanência no país. 

[10] A integração é considerada como um tema delicado. De acordo com Francoise Lestage (2001) “«adaptación» o a la «inserción» de los migrantes, dicho de otro modo al incorporarse a la sociedad de llegada. Esta inserción es el resultado de dos procesos: uno, más bién consciente y voluntario, conduce a los migrantes a participar en la vida social, económica y política local y a aceptar sus reglas a fin de lograr sus objetivos, es decir mejorar sus condiciones de vida; el otro, más bién inconsciente e involuntario los está llevando a adoptar modos de ser y de hacer que modifican su comportamiento en el espacio público y familiar. Se va a considerar cómo estos procesos se dan simultáneamente en el lugar de trabajo, en el barrio así como en asociaciones de todo tipo”.

[11] As análises sobre migração geralmente não se referem à contribuição dos migrantes na terceirização da economia. É o caso, por exemplo, da demanda de trabalhos considerados como “de luxo” ou de bem-estar como os serviços domésticos, o das babás, o das manicuras e cabeleireiras, dos jardineiros, dos motoristas particulares ou os do ócio, como o do setor da hotelaria, constituído, essencialmente, por mão-de-obra estrangeira “o proletariado urbano”, definido por Sassen (1996). No caso de Barcelona, esses trabalhos são assumidos, quase como especialização, nas diversas nacionalidades: as latino-americanas executam os de domésticas, de acompanhantes de pessoas idosas e de babás, principalmente; os marroquinos exercem os de jardineiros; as asiáticas, os de empregadas domésticas.

 

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