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Scripta Nova
REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98
Vol. XII, núm. 270 (42), 1 de agosto de 2008
[Nueva serie de Geo Crítica. Cuadernos Críticos de Geografía Humana]


REPRESENTAÇÃO E IDENTIDADE DE GÊNERO NA TERRITORIALIDADE BRASILEIRA

Anelino Francisco da Silva
UFRN
aikosnelus@ufrnet.br

Valdenildo Pedro da Silva
CEFET
valdenildo@cefetrn.br

Representação e identidade de gênero na territorialidade brasileira (Resumo)

O mundo tem passado por mudanças sócio-espaciais que perpassam os reordenamentos globais e locais. No caso do Brasil, esses reordenamentos têm envolvido questões que estão diretamente relacionadas entre gênero e cultura. No curso dessa temporalidade, o território brasileiro tem sido monitorado, controlado e apropriado por grupos humanos em diversas partes do país numa ação que se externaliza, cada vez mais, com a participação da mulher e do homem em atividades que produzem e reproduzem esse território, tanto no espaço urbano como no espaço rural. Há quem diga que se tem um processo de libertação social da mulher, que, diga-se passagem, tem participado mais ativamente do processo de produção do território brasileiro. Essa territorialidade traz em seus esteios uma nova relação sócio-espacial de gênero e cultura no país que se revela por novas representações sociais e identitárias, recolocando a importância da análise geográfica, face aos conflitos, às contradições e limitações que permeiam essa nova relação entre gênero e cultura no Brasil contemporâneo.

Palavras-chave: Representação, identidade, territorialidade, gênero, cultura.

Representation and identity of gender in brazilian territoriality (Abstract)

The world has passed through many sociaspace changes that goes beyond global and local reorganizing. In case of Brazil, this reorganizing has involved questions that are directly related to gender and culture. In the course of time, the brazilian territory has been monitored, controled and taken by human groups in many parts of the country, in a process that is been externalized, more and more,with participation from men and women in activities that produce and reproduce this territory, both city and countryside. There are those who say there is a process of women's liberation, which, has been more active in the production process of the brazilian territory. This territoriality brings together a new sociospace relation of gender and culture in a country that is being discovered by new social and identity representations, recounting the importance of geographical analysis, facing the conflicts, contradictions and limitations that are part of this new relation between gender and culture in the Brazil contemporary.

Key-Words:  Representation, identify, territoriality, gender and culture.

Por uma série de razões, que serão discutidas  no decorrer deste texto, começa a se delinear — tanto nos países centrais como nos periféricos, a exemplo do Brasil — a idéia de que a participação da mulher, na reprodução sócio-espacial em relação ao homem, vem aumentando, tanto no espaço urbano quanto no rural. Há quem diga que se tem em curso um processo de libertação social da mulher que, diga-se de passagem, tem ultimamente cada vez mais participado do processo de reprodução territorial, em suas múltiplas dimensões políticas, culturais, sociais, ambientais, por exemplo. No caso brasileiro, essa participação tem contribuído para a externalização de uma nova territorialidade que traz em seus esteios uma nova relação sócio-espacial de gênero e cultura no País. Isso contribui, ainda, para que revelem novas representações sociais e identitárias territoriais, requerendo com isso a importância de uma análise geográfica.  Essas representações ocorrem pelo fato de que as mulheres têm representado, hoje, no País uma parcela significativa do mercado de trabalho. Veja que, na maior metrópole do Brasil, São Paulo, segundo dados do DIEESE, a taxa de participação feminina no mercado de trabalho cresceu 8,9%, enquanto a masculina decaiu 3,6%, isto no período de 1989 a 1996.

  O trabalho em pauta não tem a menor pretensão de comparar os diversos conceitos de representação — tendo em vista os mal-entendidos e as ambigüidades existentes —, nem tampouco de esboçar uma ampla discussão teórica sobre esse conceito. Mas sabemos que, nos últimos anos, o conceito de representação tem aparecido com grande freqüência em trabalho de diversos campos do conhecimento, inclusive, no âmbito da ciência geográfica, o que tem levado muitas vezes à indagação sobre o que será, afinal, algo de que tanto se fala. Entende-se a representação como um processo em que as idéias e as representações são conteúdos e são determinadas pela base material, ou melhor, no modo de produção de sua vida material, expressa pela seguinte máxima: “Não é a consciência que determina a vida, mas é a vida que determina a consciência” [1]. Por outro lado, é possível entender que a identidade esteja repleta de pluralidade. É que a compreensão do conceito de identidade implica considerar “o tempo (o percurso, o processo de construção) e o espaço (o lugar, o contexto de inserção) como referências fundamentais na definição de qualquer identidade” [2]. O conceito de territorialidade pode ser compreendido como a intenção de indivíduos ou grupos de produzir, influenciar ou controlar pessoas e relações, através da delimitação e defesa de uma determinada área geográfica [3]. Ou, ainda, como a consciência de pertencimento a uma determinada área.

A representação e a identidade de gênero na territorialidade brasileira são constituídas pelo homem/mulher, enquanto atores sociais. A concepção de gênero é formulada com relação à distinção de sexo e isso indica uma construção psicossocial, cultural e historicamente construída ao longo do desenvolvimento, que vai definir os papéis masculino e feminino, significando e caracterizando a personalidade, o comportamento sexual, a aparência física, etc., tanto do homem como da mulher em uma dada sociedade [4].

Quanto a identidades toma-se à noção do contexto contemporâneo, que não crê em identidades únicas, essenciais, imutáveis, mas em um processo acumulativo que compreende diversas idéias e papéis em diferentes situações, instituições e grupos sociais. Daí que a realidade traz a discussão de identidades de que somos sujeitos de muitas identidades. As múltiplas identidades sociais “podem ser, também provisoriamente atraentes [...]. Somos sujeitos de identidades transitórias e contingentes. Portanto, as identidades sexuais e de gênero (como todas as identidades sociais) têm o caráter fragmentado, instável, histórico e plural”[5].

Ora, ao se pensar em identidade do homem ou da mulher, a reflexão que se faz engendra a estruturação identitária cultural de gêneros pela identidade de projeto estabelecido na “estrutura da produção, reprodução, sexualidade e personalidade sobre a qual as sociedades historicamente se estabeleceram”[6]. Mas a representação inclui as práticas de significação e os sistemas simbólicos por meio dos quais os significados são produzidos. Nesse sentido, a representação é vista como processo cultural que permite entender a identidade cultural de uma sociedade.

Sob tal prisma, a produção de significados e a produção de identidade, que são posicionadas nos sistemas de representação, estão estreitamente vinculadas. A primazia concedida aos homens se afirma na objetividade de estruturas sociais e de atividades produtivas e reprodutivas, baseadas em uma divisão sexual do trabalho, de produção e de reprodução biológica e social. As mulheres aplicam, particularmente, às relações de poder em que se vêem envolvidas, esquemas de pensamento que são produto da incorporação dessas relações de poder e que expressam nas oposições fundantes da ordem simbólica [7].

A representação é utilizada para forjar a identidade e/ou as identidades. É através da representação do ser homem/mulher que se travam decisivas criação e imposição de significados particulares. Se o poder define a forma como se processa a representação, ela, por sua vez, tem efeitos específicos, ligados, sobretudo, à produção de identidade culturais e sociais, reforçando, assim, as relações de poder [8].

Os direitos às mudanças

No Brasil as mudanças têm se verificado numa intensidade surpreendente, quer seja em espaços urbanos, quanto em espaços rurais. Esse processo revela que a participação do gênero masculino ou feminino se acirra, espalhando o significado estrutural das mudanças do trabalho, da política, da educação e da relação sócio-espacial. O significado e as experiências vividas mostram que a história do homem e da mulher devem ser apreendidos no espaço e num tempo concreto, uma vez que o tempo só existe porque pode ser materializado em espaço e que tempo e espaço são referências em nossas vidas [9].

O coeficiente de pertença do homem/mulher contemporâneo não é absoluto. O pertencimento e a identidade não têm solidez, não têm garantia por toda a vida e, portanto, são negociáveis e revogáveis. As decisões que tomamos, as escolhas que fazemos, os caminhos que percorremos, tudo determina quem somos em determinado momento e a qual grupo social pertencemos.

Nascemos numa conjuntura cultural em que estão inseridos valores e crenças sobre o próprio homem e a própria mulher, e isso se concretiza na forma de pensarmos na construção da nossa própria imagem, utilizando elementos e categorias de gêneros existentes em nossa cultura. A nossa percepção está determinada e filtrada pela cultura, pelas crenças transmitidas em nosso ciclo familiar e social (tradução do autor) [10]. Nesse contexto, o sexo, o gênero interferem e marcam a percepção do social, do político, do religioso e do cotidiano. Compreender o esquema cultural de gênero leva a desenvolver uma rede de inter-relações sociais de ordem simbólica.

No território brasileiro, as ações de grupos humanos — formados por homens e mulheres — se externalizam num embate sócio-espacial que envolvem produtores econômicos, o processo do emprego e reprodução social. Isso socializa, cada vez mais, o fato da cidadania e o ato de relacionar a representação social, através da produção material, que é representada por meio do exercício de atividades remuneradas, expressando que a representação e a identidade de gêneros têm uma territorialidade brasileira singular. Essa territorialidade tem uma nova representação sociocultural, que tem se estruturado pelo exercício mais efetivo das mulheres, a partir dos anos de 1970, no mercado de trabalho formal, concorrendo com os homens pari passu. Este fato reflete as seguintes impressões: a mulher que está no mercado de trabalho representa sua ascensão sócio-laborativa que induz a uma realização social, relação social. Essa realização tem preconizado situações estritamente degradativa para a mulher, uma vez que lhe tem sido imposta uma maior jornada de trabalho – quer seja no campo do trabalho social (empresa, instituição), quer seja no trabalho doméstico (de esposa, de dona de casa que tem de cuidar da família e da educação dos filhos).

Nessa situação, a mulher trabalhadora tem passado a atuar entre oito ou mais horas na empresa ou na instituição em que trabalha. Assim,  carrega consigo as tarefas extras de casa, que têm de ser cumpridas, mesmo sabendo-se que a sua carga horária cumprida na empresa as deixam cansadas, tanto quanto os homens, que também trabalham oito ou mais horas, sem, contudo, se prender as tarefas que devem ter em casa e serem executadas.

A dimensão da jornada de trabalho da mulher representa ou projeta no mercado de trabalho brasileiro uma contradição valorativa, uma vez que a profissional mulher não recebe pelo seu trabalho o mesmo valor que os homens normalmente recebem. Daí existir uma inversão de valores.

Tal expectativa enseja explorar, espacialmente, a valorização e dimensão espacial envolvidas. Dimensão que leva a discutir a problemática da inserção dos gêneros, agora expressados e constituídos, essencialmente, pelas relações sociais de produção que só têm existência social na medida em que existam espacialmente; elas se projetam no espaço, inscrevem-se no espaço enquanto o produzem.

A tradição

Face a uma história de muita luta e labuta, a mulher precisou de muita determinação para galgar o posto que tem ocupado na produção sócio-espacial brasileiro. Herdeira de uma geração que fez a revolução sexual, e escancarou as portas das empresas para a participação feminina, a mulher já ocupa importantes fatias no mercado de trabalho, vem conquistando a independência financeira, “briga pelos postos de comando e desempenha seus múltiplos papéis, como profissional, esposa e mãe, [...]” [11].

A geração que, hoje, tem em torno de 54 anos “foi a que mais derrubou tabus e mais se distanciou da imagem de mulher herdada da mãe” [12]. A determinação de mudar a forma tradicional herdada no seio familiar em que o pai trabalhava para sustentar a família e a mãe a cuidar dos filhos, sem vida própria, dependendo financeiramente do marido e, depois, dos filhos adultos, instigou a que as novas mulheres começassem a imaginar e criar um novo “mundo” de aspirações e foi via a escolaridade; aliás, a mulher tem mais escolaridade. Segundo a Divisão de Indicadores Sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a “remuneração média da mulher corresponde a 65% da remuneração média dos homens”[13] . Na opinião da pesquisadora Ana Lúcia Sabóia, “A mulher entrou tarde no mercado e a maioria está no setor de serviços, com grande parte trabalhando como empregada doméstica, cabeleireira, manicura, professora, profissões não muito bem remuneradas” (p.10).

A velha sociedade em que o marido sustenta o lar está se modificando, enquanto 22,3% das famílias brasileiras eram comandadas por mulheres em 1993, passou para 28,8% em 2003. Mas, não chefiam no trabalho – apenas 2,7 das mulheres ocupadas são empregadores, contra 5,5% dos homens [14] .

As mudanças têm ocorrido no reconhecimento da sexualidade feminina, na discussão aberta sobre o aborto, menopausa e planejamento familiar. Mas na esfera do trabalho a “mudança é relativa e estreita, há resistência social à mudança dos papéis tidos como feminismos”[15]. Com essa mudança na conquista de espaço no mercado de trabalho, que representam 41,0% da força produtiva do país – as mulheres fazem do próprio negócio a nova meta a ser atingida.

Transversalidade entre as dimensões de classes

Na divisão sexual do trabalho, operada pelo capital, particularmente, em espaço  fabril, as atividades de “concepção ou aquelas baseadas em capital intensivo são preenchidas  pelo trabalho masculino, enquanto aqueles dotados de menor qualificação, mais elementares, muitas vezes fundadas em trabalho intensivo, são destinados a mulheres trabalhadores (e, muito freqüentemente também  aos trabalhadores/as imigrantes e negros)”[16] .

Helena Hirata relata que as teses de alcance universal como da especialização  flexível ou aquela da emergência de um novo paradigma produtivo alternativo ao modelo fordista de produção são fomentos  que levam em consideração as diferenças norte-sul ou  as diferenças relacionadas ao gênero. [...] a especialização flexível ou a organização do trabalho em pequenas ilhas ou módulo não  se realiza de maneira indiferenciada quando se trata de  ramo com mão-de-obra feminina ou masculina de países altamente industrializados  ou ditos subdesenvolvidos [17].

No estudo comparativo entre Japão, França e Brasil (em empresas matrizes e em suas filiais), Hirata constatou uma extrema variedade  na organização  do trabalho e gestão da força de trabalho. E explica “No que concerne à organização do trabalho [...] nos estabelecimentos dos três países o pessoal envolvido era masculino ou feminino segundo o  tipo  de  máquinas, o tipo  de trabalho e a organização do trabalho. [...] os empregadores reconheciam facilmente, nos estabelecimentos dos três países, as qualidades próprias da mão-de-obra feminina, mas não  havia o reconhecimento dessas qualidades como sendo qualificações” [18].

Em sua análise quanto ao sistema de gestão participativa, Hirata expressa que o estudo de circulação de controle de qualidade mostrou que havia diferenças no grau de participações, segundo os países (muito  alto no Japão, relativamente fraco no Brasil e intermediária na França)  e segundo o  sexo; sendo as mulheres menos associadas  às atividades de grupo e menos solicitadas para dar sugestões de melhoria no plano técnico, e, sobretudo, sendo  freqüentemente excluídas dos processos de tomadas de decisões (p.88).

 Vimos que o trabalho feminino tem se verificado, principalmente, no trabalho mais precarizado, nos trabalhos em regime de part-time, marcados pela informalidade, com desníveis salariais acentuados em relação aos homens, além de realizar jornadas prolongadas. E quando se tematiza questão do gênero de trabalho, dá-se outro elemento decisivo.

A categoria analítica gênero possibilita a busca de significados das representações  tanto do feminino quanto do masculino, inserindo-os nos seus contextos sociais e históricos, daí a análise das relações de gênero também implicar a análise das relações de poder (já mencionado).

Ora, nesse sentido tais relações permitem a apreensão de duas dimensões:

O gênero como elemento constitutivo das relações sociais, baseado nas diferenças perceptivas entre sexos; o gênero como forma básica de representar relações de poder em que as representações dominantes são apresentadas como naturais e inquestionáveis [19] .

A forte participação da mulher, no mundo produtivo das últimas décadas do século XX, e parte do processo de emancipação parcial das mulheres, tanto  em relação à sociedade de classes quanto às inúmeras formas de opressão masculina, que se fundamentam na tradicional divisão social e sexual do trabalho que se opera na sociedade.

A luta das mulheres por sua emancipação é, também e decisivamente, ser  “uma ação contra as formas histórico-sociais da opressão masculina”. Porem “o fim da sociedade de classes não significa direto e imediatamente o fim da opressão de gênero”[20].

O fim das formas de opressão de classes, se geradoras de uma forma societal livre, auto-determinada e emancipada, possibilitará o aparecimento de condições histórico-sociais nunca anteriormente vistas, capazes de oferecer condições sociais igualitárias que permitam a verdadeira existência de subjetividades diferenciadas, livres e autônomas [21].

Diversidade Cultural e a participação de gênero na territorialidade brasileira

No Brasil, as dimensões de raça e de gênero têm sido as mais discutidas no critério organizacional[22]. No entanto, há que se levar em conta, além das dimensões de raça e de gênero, as dimensões de orientação sexual, idade, deficiência ou habilidade física, classe social, naturalidade, nacionalidade, religião e posição na organização. A diversidade cultural nas organizações significa a inclusão de trabalhadores, porque a diversidade cultural reconhece, reforça e valoriza as diferenças e semelhanças entre os indivíduos, de modo a se empenharem no contingente dos objetivos organizacionais [23] .

No território brasileiro, o número de mulheres ocupadas no mercado de trabalho é menor do que o de homens. A pesquisa nacional por amostra de domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística identificou as pessoas com 10 anos ou mais de idade ocupadas na semana de referência da pesquisa, em 2002 e 2003. Em 2002, das 78.179.622 pessoas empregadas, 58,54% eram homens e 41,45% eram mulheres. Entretanto, em 1998, o departamento internacional de estatística e estudo socioeconômicos ao tratar sobre os ganhos médios salariais de mulheres e homens nas regiões metropolitanas brasileiras, os ganhos médios dos homens era de 55,7% superiores aos das mulheres. E quando se observa o perfil social, racial e de gênero das 500 maiores empresas do Brasil e suas ações afirmativas (2003), apenas 9% das mulheres empregadas ocupavam cargos executivos [24].

Em face do exposto, é possível delinear algumas considerações sobre a questão de gênero na territorialidade brasileira. Não se tem dúvidas sobre o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho e isso se deve à necessidade de sobrevivência em um mundo marcado pelo crescente desemprego, pela deterioração da renda e por relações de trabalho cada vez mais precárias. Uma outra consideração, amplamente perceptível no Brasil, é a de que o lugar de trabalho oferecido à mulher não se assemelha ao oferecido ao homem. Diante disso, pode-se dizer que a discriminação de gênero está associada, entre outras coisas, ao fato de que na nossa sociedade a gestação e a criação de filhos seja, ainda, tarefa exclusiva das mulheres. Com isso, o trabalho feminino tem sido exercido num padrão muito mais frágil e com remuneração inferior que o do homem. Um outro ponto a ser ressaltado se refere à questão da desigualdade do trabalho feminino no Brasil e não pode ser dissociada do contexto geral do mercado de trabalho no mundo, inclusive no que diz respeito à flexibilidade das relações de trabalho e dos demais fatores que incidem no mercado de trabalho e no emprego. Diante do que foi dito, deixa-se como questionamento: o que se pode vislumbrar como possibilidade de atuação do Brasil de hoje quanto à eqüidade de gênero nas relações de trabalho?

Notas

[1]  Marx apud Minayo, 1995, p. 98.

[2]  Lalanda, 2000, p. 41.

[3]  Sack, 1986.

[4]  Scott, 1995.

[5]  Louro, 1999, p.12.

[6]  Castells, 2003, p. 45.

[7]  Bourdieu, 2005.

[8]  Silva, 1998.

[9]   Haesbaert 2002.

[10]  Marta Lamas 2007.

[11]  Pires, 2005, p. 9.

[12]  Pires, 2005, p. 10.

[13]   PIRES, 2005, p. 4.

[14]  Ibge, apud Pires 2005, p. 10.

[15]  Blay, apud Pires, 2005, p. 11.

[16]  Antunes, 2000, p. 105-106.

[17]  Hirata, 1995, p. 86.

[18]  Hirata, 1998, p. 87.

[19]  Segnini, 1998, p. 57.

[20]  Antunes 2000, p. 110.

[21]  Antunes, 2000.

[22]  Fleury, 1999.

[23]  Torres e Perez  Nebra 2004.

[24]  Dieese, 2007.


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© Copyright Anelino Francisco da Silva y Valdenildo Pedro da Silva, 2008
© Copyright Scripta Nova, 2008

Referencia bibliográfica

SILVA, Anelino Francisco da y SILVA, Valdenildo Pedro da. Representação e identidade de gênero na territorialidade brasileira. Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales.  Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2008, vol. XII, núm. 270 (42). <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-270/sn-270-42.htm> [ISSN: 1138-9788]


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