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Índice de Scripta Nova

Scripta Nova
REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98
Vol. XIV, núm. 331 (11), 1 de agosto de 2010
[Nueva serie de Geo Crítica. Cuadernos Críticos de Geografía Humana]

 

AS IDEIAS ESTRANGEIRAS CRIANDO CIDADES DESEJÁVEIS NA AMÉRICA DO SUL: DO ACADEMICISMO AO MODERNISMO

Eloísa Petti Pinheiro
Universidade Federal da Bahia
epetti@ufba.br

Las ideas extranjeras creando ciudades deseables en Sudamérica: del academicismo al modernismo (Resumen)

La imagen de la ciudad y de las propuestas de cambio de esa imagen en la ciudades sudamericanas, de principios del siglo XX hasta la década de 1940, buscan adecuarse a la imagen de las ciudades europeas y, después, de las ciudades norteamericanas.

Para entender las influencias formales, ya sea en la teoría como en la práctica urbanística en Sudamérica, hace falta entender cuáles son esas formas y en qué circunstancias son apropiadas por los arquitectos y los urbanistas. En las décadas de 1920 y 1930, gran parte de los proyectos presentados para las ciudades sudamericanas todavía reflejan las tradiciones del Beaux-Arts, que aquí denominamos academicismo. Recién en la década de 1940 pueden identificarse influencias del Movimiento Moderno.

Palabras clave: urbanismo, Beaux-Arts, Movimiento Moderno, circulación de ideas.

Foreign ideas creating desirable city in South America: from the academic to the modernism (Abstract)

The image of the city we seek out to understand here, as well as the proposals of change of this image, from the early twentieth century to the 1940s in the South American city, when the cities look to be adapted to the image of the European cities and, later, of the U.S. cities.

To understand which are the influences, as well in the formal theory as in the urban planning practice in South America, it is necessary to understand which forms are these and how they are appropriated by the architects and town planners. In the 1920s and 1930s, much of the projects presented for South American cities still reflect the traditions of the Beaux-Arts, that we call here the academic style. Only in the 1940s it can be identified influences of the Modern Movement.

Key words: urbanism, Beaux-Arts, Modern Movement, circulation of ideas.

O desafio do desenho da cidade está em construir harmoniosamente as experiências no espaço ao longo do tempo. O desenho da cidade deve ser organizadamente dotado de energia arquitetônica de forma que a influência de edifícios de qualidade se irradie para fora, articulando todo o espaço construído da cidade.

O objetivo do projeto é atingir a população que vai usar estes espaços e mexer com suas emoções e sensibilidade enquanto se movem por ele. A função do projeto é fazer com que essas experiências sejam harmoniosas, continuamente, a cada instante e de todos os pontos de vista.

Já no final da Idade Média, encontram-se algumas experiências de cidades planejadas em grid regular e irregular. Mestres do gótico têm o grid das cidades como um problema artístico e matemático. Nas cidades florentinas do século XIV, em terreno plano, encontramos um uso sofisticado da trigonometria onde funções do seno são relacionadas com as medidas geométricas do círculo, ou seja, dos arcos e cordas, uma vez que os quadros diminuem quanto mais longe do centro. Como o plano da cidade de Terranuova, cidade florentina fundada em 1337, ou de Grenade-sur-Garonne, na França, fundada em 1300.

Esta vontade de projetar cidades ideais, desejáveis, segue no Renascimento com as muitas propostas de cidades geometricamente projetadas e nas intervenções no período Barroco, seja intervindo em espaços específicos, como a Colina do Campidoglio, em Roma, ou em projetos de expansão urbana como o Crescent, em Bath, na Inglaterra. Assim, podemos afirmar que a preocupação com a forma urbana, a construção de uma cidade como obra de arte e ideal sempre esteve presente no imaginário de arquitetos, urbanistas, cientistas sociais, médicos, higienistas e administradores de forma geral. O mesmo acontece no século XIX e a busca por soluções para os problemas na cidade industrial e a busca pela cidade burguesa. Intervenções como as haussmannianas em Paris, o projeto de Ensanche de Ildefons Cerdà, para Barcelona ou o projeto de urbanização do Ring, em Viena, exemplificam intervenções paradigmáticas que serão objeto de desejo de cidades ao redor do mundo. O mesmo vale para as cidades na América do Sul.

Na primeira metade do século XX, a busca de soluções para os problemas advindos da industrialização e da urbanização das capitais do cone sul da América do Sul não foge a este desejo. Para tal, são contratados arquitetos e urbanistas nacionais e estrangeiros, de correntes distintas, tanto academicistas como modernistas, para pensar e propor soluções para os problemas e transformarem as capitais em cidades desejáveis.

O que identificamos, no período entre as décadas de 1920 e 1940, é o embate entre a visão academicista, p. ex. Alfred Agache e seu projeto para o Rio de Janeiro, e os novos paradigmas modernistas, representada pelas influências de Le Corbusier, nas cidades do Rio de Janeiro, Montevidéu, Buenos Aires e Santiago do Chile. É um momento de transição entre as formas de pensar a cidade e o urbanismo, quando ainda são encontrados resquícios da tradição Beaux-Arts e do academicismo nos projetos apresentados no continente, em busca da cidade ideal.

No período anterior ao estudado aqui, o francês Joseph Bouvard passa por Buenos Aires, em 1907, e por São Paulo, em 1911; o inglês Barry Parker se instala em São Paulo no final da década de 1910; o italiano Augusto Guidini ganha o concurso, em 1911, para um plano de avenidas em Montevidéu; e o inglês Ernest Coxhead apresenta um plano para Santiago do Chile, em 1913 – deixando todos eles, sem dúvida, grandes influências nessas (e com reflexos em outras) cidades sul-americanas. Assim o pensamento academicista, através da presença de outros arquitetos e urbanistas estrangeiros já na década de 1920, e nas seguintes, continua tendo uma forte presença nos projetos e propostas para as cidades sul-americanas.

Alfred Agache se instala no Rio de Janeiro de 1927 a 1930, depois retorna mais uma vez ao Brasil em 1939, para trabalhar com Coimbra Bueno; Jean-Claude Forestier, em 1923, Léon Jaussely e Werner Hegemann passam por Buenos Aires, respectivamente em 1926 e 1931; e Karl Brunner, em 1929, é convidado para ir a Santiago do Chile, para onde retorna em 1934. Ele também supervisiona o plano municipal de Bogotá no final da década de 1930. Outros estrangeiros também passam pela América do Sul, como os franceses Jacques Lambert e Maurice Rotival.

Para entender quais as influências formais tanto na teoria como na prática urbanísticas na América do Sul, é necessário entender que formas são essas e em que circunstâncias são apropriadas pelos arquitetos e urbanistas. Dessa forma, nas décadas de 1920 e 1930, a maioria dos projetos apresentados para as cidades sul-americanas ainda reflete as tradições da Beaux-Arts, que a partir de agora denominaremos mais genericamente de academicismo[1].

Também se considera aqui a importância do Musée Social de Paris, criado em 1894, como entidade de direito privado, com a finalidade de procurar uma solução prática para as questões sociais. O museu reúne profissionais liberais, políticos, universitários e representantes da alta burguesia industrial que buscam estabelecer uma ligação entre os vários grupos existentes na França que se organizam em torno da reforma social. Muitos dos arquitetos e urbanistas que passam pela América do Sul fazem parte do Musée Social[2]. Em Buenos Aires, nos mesmos moldes de Paris, foi criado o Museo Social Argentino, em 1911, do qual se encarrega a elite de Buenos Aires. O Museo Social Argentino se funda como resposta às necessidades surgidas com a modernização do país e da elite local, que deseja alcançar o nível das principais cidades europeias (Bragos, 1996, p. 263).

Contextualizando

Procedência e formação dos estrangeiros

Incluímos, aqui, apenas os arquitetos e urbanistas que elaboram, ou influenciam – como no caso de Guidini em Montevidéu –, os planos que analisaremos a seguir. São eles: Alfred Agache, autor do plano para o Rio de Janeiro, em 1930; Forestier, assessor do Plan Noel para Buenos Aires, em 1925; Augusto Guidini, cujo plano para Montevidéu é retomado pelo engenheiro uruguaio Juan Fabini, em 1925, para a Rambla Sur, e, em 1926, no Plano Fabini; e Karl Brunner, responsável pelo plano para Santiago do Chile, em 1929. Direta ou indiretamente, todos têm seu pensamento urbanístico relacionado com o academicismo e os fundamentos do Musée Social de Paris.

Donat Alfred Agache, francês, se diploma pela Ecole des Beaux-Arts de Paris, em 1905. Já em 1909, colabora com os trabalhos da recém criada Seção de Higiene Urbana e Rural do Musée Social de Paris e se engaja, em 1913, na criação da Société des Architectes Urbanistes (que em 1919 passa a chamar-se Société Française des Urbanistes – SFU), ao lado de Marcel Auburtin, André Bérard, Léon Jaussely, entre outros.

Esta sociedade, a SFU, tem como objetivo agrupar iniciativas e competências consagradas ao estudo específico do urbanismo. Uma das preocupações da Société Française des Urbanistes é promover e difundir, no cenário nacional e internacional, a École Française d’Art Urbain, como foi denominada pelo engenheiro berlinense Joseph Stübben. Para ele, essa escola busca um compromisso entre uma concepção global ideal de cidade, uma tradição de urbanismo voltado para a gestão das vias de comunicação, a busca das racionalidades haussmannianas e a arte da composição segundo efeitos múltiplos herdadas da Ecole des Beaux-Arts, considerando Agache seu melhor representante.

Jean Claude Nicolas Forestier, francês, formado em ciências políticas na Escola Florestal de Nancy, ocupa cargos políticos relacionadas com os trabalhos agrícolas e conservação florestal. Em 1911, toma contato com o urbanismo, prestando especial atenção ao desenho dos parques. Participa da fundação da Société Française des Urbanistes e, também, da maioria das organizações destinadas ao urbanismo que surgem na França no princípio do século XX. Publica o livro Grandes villes et systèmes de parcs, em 1908, cujo aporte para a ciência urbanística de princípios do século XX reside na difusão, na Europa, do conceito de sistema de parques, já propagado nos Estados Unidos por Olmsted.

Augusto Guidini estuda na Escola de Desenho de Mendrisio, na Itália, onde obtém o diploma de agrimensor, em 1870. Fixa-se em Milão e trabalha no escritório do arquiteto Giuseppe Mengoni, colaborando na construção da Galeria Vittorio Emanuele II. Após participar, com seu próprio escritório, de inúmeros concursos públicos e realizar, entre 1880 e 1885, várias cidades na orla dos lagos Verbano e Lario, Guidini é nomeado arquiteto honorário. Compromete-se com a preservação de monumentos históricos e faz parte da Comissão de Belas Artes e Antiguidades da Lombardia e Ticino.

O austríaco Karl Brunner formou-se em arquitetura pela Universidade Técnica de Viena, em 1908. Em 1912, viaja por Alemanha, Itália e Paris, sendo membro da Associação Austríaca de Engenheiros e Arquitetos. Em 1925, após terminar seu doutorado, torna-se professor da Universidade Técnica de Viena e, em 1927, torna-se membro da Academia Alemã de Planejamento Urbano e Regional. O ecletismo de Brunner segue tanto a tradição europeia de Sitte e Hegemann como a norte-americana de Olmsted e Burnham. Em 1929, dá início à sua participação na América Latina, primeiro no Chile, com extensa atividade de planejamento em Santiago, Valdivia, Concepción e Tocopilla. Participa, em 1930, do Congresso Pan-Americano no Rio de Janeiro. Em 1933, vai para Bogotá, funda o Instituto de Desenho Urbano na Universidade Nacional da Colômbia e trabalha, até 1948, como planejador urbano e consultor em diversas cidades daquele país e do Panamá. Sua prática de planejamento urbano na América Latina também inclui uma forte ênfase na habitação social, bem como a preparação da base legislativa para o desenvolvimento urbano.

A cidade sul-americana do século XIX e princípio do XX

Na América do Sul, no século XIX, a urbanização acontece vinculada a processos econômicos que não são, em sua maioria, resultantes da industrialização, pois as cidades sul-americanas nascem a serviço das relações internacionais com os países mais desenvolvidos, e isso faz com que seu processo de urbanização seja uma variável dependente, resultante de sua incorporação no mercado mundial (Santos, 1982). Acresce que, desde o seu descobrimento, a ocupação territorial da América Latina foi desigual e irregular, dependente da conjugação de causas físicas, estratégicas, políticas e econômicas.

O esquema de urbanização pouco muda depois da independência dos países sul-americanos, ao longo do século XIX, mantendo-se o mesmo que foi estabelecido durante o período colonial, inclusive com a hierarquia dos centros entre si. Ocorrem lutas internas depois da emancipação até a formação de uma burocracia nacional, através de uma organização lenta. Os núcleos afastados entre si ficam isolados, além de haver outras limitações de deslocamento, o que dificulta o intercâmbio. Para atenuar o problema, a política comercial incentiva a primazia das cidades principais, com concentração de atividades administrativas e comerciais num só ponto em cada país. São os primeiros passos para a formação das metrópoles latino-americanas. A organização e a ocupação do espaço, assentadas na centralização do desenvolvimento em torno da capital, tem sua base econômica na agricultura, na pecuária e na mineração, antes que na manufatura. O domínio econômico e político exercido pelas capitais sul-americanas sobre as demais áreas dos seus países faz com que haja uma supremacia total dessas capitais, o que leva à hipertrofia urbana e destaca o fenômeno da macrocefalia, presente em quase todos os países (Lou; Benasayag, 1992, p. 170-171).

Não podemos generalizar quanto à estrutura interna das urbes latino-americanas, nem pensar na existência de um modelo típico de cidade sul-americana. Tampouco é possível a definição de tendências evolutivas desse modelo apenas pela presença de uma tipologia comum nos processos de estruturação urbana, representada pelo colapso da estrutura urbana colonial, por movimentos setoriais da elite, por localizações periféricas do tipo villa miseria-callampa-barriada e por centrais como “cortiço-casa de cômodo”. A diferença entre as cidades está nas distintas intensidades e no desenvolvimento temporal diferenciado com que se produzem esses processos.

Dentro do espaço da cidade, o século XIX enseja a formação de constelações de núcleos, a crescente descentralização e a despersonalização dos bairros, apagando a imagem integral da área urbana e as referências de identidade do homem com sua cidade. Muda a relação entre o centro e as novas urbanizações. Em muitas cidades, o centro tradicional perde a consistência de núcleo vital ou desaparece, deixando de ser residencial, ou se dilui.

Conforme Gorelik (2005b, p. 111), não se pode falar de uma cidade sul-americana, nem tentar definir a cidade sul-americana por meio de um ideal de representação de um conjunto de características a ela atribuídas. Mas podemos, sim, falar de processos que acontecem nas cidades sul-americanas em determinados períodos que as aproximam.

Um desses processos é a implantação da cidade burguesa, com reflexos na mudança de sua estrutura social e de sua fisionomia, em consequência do crescimento urbano e de população, da diversificação da população, da multiplicação das atividades, da transformação da paisagem urbana e dos tradicionais costumes e maneiras de pensar dos diversos grupos sociais. As mudanças são mais perceptíveis nas grandes cidades, uma vez que a transformação da estrutura econômica tem repercussão visível nas capitais e nos portos, isto é, na parte que está voltada para o mercado mundial. O Brasil não fica fora de todo esse processo. A partir de meados do século XIX, os bairros também se especializam, e as classes sociais distribuem-se na área urbana de forma segregada: a classe abastada para um lado e os pobres para o outro.

Durante todo o século XIX, a imagem das cidades se transforma, principalmente, nas capitais dos países recém-independentes, onde é promovido um novo ordenamento, traduzido em resultados urbanísticos. Se a estruturação das cidades sul-americanas não se assemelha à das cidades europeias, pelo menos há a introdução de novos elementos de estrutura urbana, como as alamedas, os bulevares, os eixos internos e os novos edifícios representativos.

Porém, a imagem que buscamos entender aqui, assim como as propostas de mudança dessa imagem, se refere à cidade sul-americana, em específico do cone sul, de princípio do século XX até a década de 1940, quando buscam adequar-se à imagem das cidades europeias e, mais adiante, das cidades norte-americanas.

Desde a segunda metade do século XIX, o estilo de vida das maiores concentrações urbanas da América do Sul tende a aproximar-se do europeu. Pavimentam-se as ruas das cidades, implantam-se os serviços de infraestrutura e afirmam-se os extratos médios e ricos da população. No início do século XX, se produz um ciclo de transformações em que se repetem, de alguma forma, os esquemas do academicismo. E essa influência do modelo francês e da Beaux-Arts segue durante o século XX, sendo esse o tema que desenvolveremos a seguir, com a análise de alguns projetos feitos por arquitetos e urbanistas estrangeiros para as cidades do Rio de Janeiro, Buenos Aires, Montevidéu e Santiago do Chile.

Os Projetos

O projeto de Alfred Agache para o Rio de Janeiro

Em 1941, se realiza o Primeiro Congresso Brasileiro de Urbanismo, mas, muito antes, já se discutia o urbanismo em revistas especializadas, como, por exemplo, a Revista Brasileira de Engenharia. Em um artigo de 1927, Carlos Sampaio, sobre o Rio de Janeiro, afirma ser o urbanismo um problema complexo mesmo quando se trata de construir uma cidade sobre terreno onde se tem a liberdade de atender às diversas exigências de uma cidade moderna, sendo mais complexo ainda quando se trata da remodelação de uma capital.

Com a necessidade de finalizar o desmonte do Morro do Castelo, iniciado por Carlos Sampaio em 1922, e ocupar a área criada, em 1926, o Prefeito do Rio de Janeiro, Prado Junior, decide fazer um plano não só para a ocupação da área, mas também para reordenar a cidade. Abre-se uma discussão sobre quem deveria conduzir o processo, se arquiteto ou urbanista, se nacional ou estrangeiro.

Ao fim, decide-se por um estrangeiro que podia ser, a princípio, Joseph Stübben, Edward Bennett, Léon Jaussely ou Alfred Agache (Silva, 1995, p. 229). Ganha a Arquitetura, ganha Agache, que é contratado, em 1927, para proferir, no Brasil, uma série de conferências sobre urbanismo e, também, fazer um estudo do plano de reordenação, expansão e embelezamento para a cidade do Rio de Janeiro. O pensamento urbanístico de Agache se apoia, principalmente, no academicismo.

Alfred Agache, um dos fundadores da Société Française des Urbanistes, fica no Brasil no período de 1927/30 e retorna em 1939, quando trabalha no escritório de Coimbra Bueno e realiza diversos planos de remodelação no Estado do Rio (Campos, Araruama, Cabo Frio, São João da Barra e Atafona), em Curitiba (1940-43), Vitória (1944) e Petrópolis (1940). Foi convidado de honra no I Congresso Brasileiro de Urbanismo. Sua prática urbanística, mais articulada com as necessidades políticas do Estado Novo, tornou-se dominante uma vez que seus aliados – José de Oliveira Reis e Armando Augusto Godoy – estavam no poder, e Coimbra Bueno, Corrêa Lima e Luis Catanhede Almeida, nas esferas de decisão (Silva, 2003).

Agache começa seus estudos para a elaboração de um plano de transformação da urbe, pelo menos do Centro e da Zona Sul, numa cidade monumental, com o objetivo de ordená-la e embelezá-la, segundo critérios funcionais e de estratificação social do espaço. Em seu plano, com a ideia de que urbanismo é como uma atividade integrada às outras numa cidade, pretende orientar o crescimento normal, sistematizar sua expansão, metodizar sua vida coletiva e organizá-la para as futuras necessidades. Considera, pois, de forma global os problemas da cidade.

De uma forma geral, o plano de Agache analisa o Rio como a capital do País, uma cidade com funções político-administrativas, econômicas e portuárias, além de mercado comercial e industrial. Com base nessas funções, seu plano inclui um zoneamento, para assegurar a existência e a localização dos equipamentos funcionais. Traça uma rede de comunicação, para que haja uma conexão fácil entre esses equipamentos e o resto da cidade. Propõe habitações confortáveis e agradáveis para as distintas classes sociais e estabelece regras para sua edificação. Também encontramos a preocupação com a higiene, a saúde da população e a ventilação. Há um cuidado especial com a estética e com os problemas construtivos. Podemos dizer, sobre seu projeto, que, como na Reforma Passos (1902-1906), as prioridades são a circulação, a higiene e a estética.

 

Figura 1. Perspectiva aérea do centro monumental do Rio de Janeiro.
Fonte: Agache (1930).

 

Para a Esplanada do Castelo, são projetadas largas avenidas alinhadas, com edifícios com galerias construídos em gradis, com 25, 60 e 90 metros de altura, destinados às grandes sedes de jornais, clubes importantes, grandes hotéis e comércio de luxo, entre outros. Aí se projeta o novo bairro de negócios. Da praça central, irradiam-se seis avenidas, para garantir uma boa e fácil comunicação com o resto da cidade. A Ponta do Calabouço abriga um conjunto de suntuosas avenidas e jardins que levam a um terraço, onde se encontra uma basílica ou um panteão consagrado às grandes glórias nacionais. É um local para passear, um parque para o lazer.

A Porta do Brasil ergue-se numa nova área aterrada, que alinha o Saco da Glória, transformando-se numa praça circundada por edifícios monumentais. Para esse espaço, é projetado um local de honra, o centro governamental federal, o centro cívico que falta à capital. Dessa praça, partem avenidas que cortam o antigo Centro.

 

Figura 2. Perspectiva da Porta do Brasil.
Fonte: Agache (1930).

 

Também são projetados o bairro dos ministérios, o bairro das embaixadas, o centro de negócios e o centro bancário, todos em pontos do Centro, onde é preciso que ocorram a desapropriação e a demolição de muitas edificações dos séculos anteriores, para a sua implantação.

O Plano Agache é um típico plano diretor que propõe transformações físicas para obter mudanças sociais, considerando que, para chegar à cidade ideal, basta seguir o plano e fazer as transformações propostas. Com uma clara orientação academicista, inclui elementos do movimento City Beautiful e do projeto de 1909 de Burnham e Bennett para Chicago, que também faz referência a Haussmann[3]. Por outro lado, sua busca da cidade ideal incorpora engenharia urbana, tráfego fluente e saneamento.

O que se pretende é transformar o centro do Rio num centro governamental monumental. Projeta uma proposta para o centro cívico, a Porta do Brasil, numa escala megalômana para um imaginário super-Estado, no sentido de construir-se um local de um nacionalismo disciplinado, destinado a desfiles militares e cerimônias.

O Plano Noel para Buenos Aires

O processo de construção da Buenos Aires moderna se dá em duas etapas: nos anos 1920 se define, dentro de um contexto de um denso debate cultural, o sentido ideológico e estético da identidade urbana; na década de 1930, políticas estatais consolidam a identidade urbana na “cidade branca” da arquitetura de vanguarda. No caso de Buenos Aires, não houve posições de modernismos radicais clássicos, nem aspirações jacobinas, nem buscas de síntese entre forma e vida e ou visões apaixonadas de uma nova sociedade. Busca-se, na verdade, recuperar o rosto da identidade cultural perdida em função da grande migração ultramar (Gorelik, 2005a, p. 58).

Martín Noel, que se gradua em Paris, em 1913, funda, junto com Carlos Maria della Paolera, as primeiras cátedras de urbanismo nas escolas de arquitetura de Rosário e Buenos Aires. Em 1938, Noel apresenta seu projeto de lei de urbanismo, anexando sua experiência francesa e seu próprio trabalho no Plano de Estética Edilícia, que desenvolve em Buenos Aires de 1923 a 1928.

Em 1923, Martín Noel faz parte da Comissão de Estética e Edilícia com a assessoria do urbanista francês Jean Claude Nicolas Forestier – a quem se encomenda a resolução dos espaços verdes e livres – e a participação do arquiteto francês René Karman, do italiano Conde de Morra, do engenheiro Victor Spotta e do engenheiro Sebastián Ghigliazza. O Proyecto Orgánico de Urbanización del Municipio, de 1925, recopila iniciativas e recupera desenhos do francês Norbert Maillart e do italiano Gaetano Moretti. Propõe conciliar uma ampla gama de projetos, anteriores e novos, como uma etapa prévia para a realização de um verdadeiro plano regulador. É um primeiro documento que busca responder às óticas do urbanismo moderno, retomando seus temas, onde se projeta uma proposta moderna, racional e metódica para sua reforma e regularização. Tem intenções globais sobre a cidade e sua vida coletiva (Novick, 2000, p. 6).

Assim, o Plano Noel coloca mais ênfase nos valores da arte urbana do que nas circunstâncias sociais e de carência de habitações, tendo uma ótica direcionada aos três grandes temas do academicismo. Apesar disso, se discute a existência de bairros operários suburbanos (Gutiérrez, 2007, p. 11).

 

Figura 3. Projeto para a Praça do Congresso.
Fonte: Molina y Vedia (1999).

 

A estética da cidade de Buenos Aires não dá o salto para acompanhar as mudanças sociais e tecnológicas, mantendo ainda uma versão neoclássica e do século XIX com limites claros na rigidez e solenidade do acadêmico. Porém, por trás da obsessão da estética acadêmica, há um trabalho sério e sistemático onde se discutem os grandes temas, inclusive funcionais e de infraestrutura. O Plano Noel pode ser classificado como “tradicional”, com o sistema de diagonais e grandes avenidas com pontos focais como palácios e obeliscos, à maneira de Paris.

Os debates entre o embelezamento central versus o equipamento suburbano traz à discussão a necessidade de descentralizar a cidade, por meio de uma zonificação e de normas, de propostas de bairros operários, jardins e embelezamento suburbano, uma série de centros cívicos e um sistema de espaços verdes e livres de caráter metropolitano. Forestier analisa os projetos para construir a Avenida Costanera, a ampliação do balneário, o melhoramento das praças, áreas para exercícios físicos, colônias de férias e o sistema metropolitano de parques.

 

Figura 4. Projeto para o Parque Saavedra.
Fonte: Molina y Vedia (1999).

 

Há uma força nos espaços públicos que são usados como um sistema estruturante abarcando o conjunto da cidade. Muitas das ideias urbanas do final do século XIX estão incorporadas na proposta, com forte componente racional e reconhecimento da história das cidades, tanto na versão de Camillo Sitte como dos acadêmicos e neoclássicos.

Pode-se definir o projeto em cinco bases:

  1. Respeito pela configuração histórica das cidades;
  2. Maior unidade e eficácia das grandes rotas e caminhos estabelecidos pelas primeiras correntes de circulação;
  3. Descongestionamento dos pontos de conflito dessas correntes provenientes das novas necessidades dos núcleos urbanos formados pelo moderno desenvolvimento das cidades;
  4. Avenidas-passeio para isolar as novas e extensas zonas-jardim, dando a sensação, quando se afasta do centro, do caráter de cidade-jardim;
  5. A partir das grandes artérias de mobilidade e avenidas-passeio, estabelecimento das praças e dos núcleos monumentais ou pitorescos, ao tempo que se põe o público em contato mais direto com o caráter diverso de suas funções.

O projeto apresenta uma conjunção do academicismo, do neocolonial, do renascimento barroco e do funcionalismo tecnocrático. Não comete o mesmo erro do projeto que Joseph Bouvard apresentou em 1911, onde projeta 32 avenidas e 100 rond-points e morre por suas contradições faraônicas.

O plano buscava consolidar e completar os principais setores centrais da cidade em torno das praças de Mayo, dos dois Congressos e do Retiro, e estabelecer pela primeira vez uma estratégia para o conjunto da cidade, ampliando sua área à totalidade do território determinado pela Lei de Capitalização. (Liernur, 2004, p. 43)

Por fim, o plano melhora as vias de comunicação existentes entre bairros, incentiva a criação de novos parques com residências operárias adjacentes e tem o propósito de completar a trama transversal ao esquema dominante anterior em leque. A nova trama pressupõe dar à metrópole uma nova linha de frente. Do projeto, se formam as avenidas Costaneras Norte e Sul, além da retificação do Riachuelo.

Os projetos de Juan P. Fabini para Montevidéu

Durante a presidência de J. Batlle y Ordoñez (1911-1915), a ótica nacionalista se vê favorecida e se incrementam o turismo e a indústria como formas de captação de recursos. As exportações crescem em decorrência à Primeira Guerra Mundial, o que coloca o país em situação privilegiada. Os recursos são aplicados na transformação da cidade tendo como caráter o “embelezamento urbano” (Carmona, 1997, p. 75).

A cidade tem aspirações de crescimento e embelezamento com a perspectiva de modernizar sua imagem e de transformar-se numa cidade balneária e turística. Tem como sustento fundamental o contato permanente com as modalidades arquitetônicas do âmbito internacional, as disposições legais relativas à edificação e os novos materiais e técnicas construtivas. Com grande influência da Europa, os arquitetos que lá estudam voltam com novas formas geométricas e austeras das revistas estrangeiras que circulam.

As transformações urbanas propostas têm como objeto principal os meios de transporte terrestres, uma vez que o automóvel se incorpora à paisagem urbana e condiciona sua trama, induzindo modificações e hierarquizando o papel da rede viária na estrutura da cidade em crescimento. Esse crescimento rápido e desordenado leva a propostas urbanas que, até a década de 1930, têm como característica a cultura europeizada e o Estado intervencionista. São iniciativas com caráter hausmanniano, que também está presente no concurso de avenidas, de 1911, e no plano regulador, de 1912.

Vários projetos antecedem o de Fabini, sempre com o objetivo da higiene, do embelezamento e da regularização do setor sul da cidade, e se caracterizam pela finalidade especulativa baseada no ganho de terras ao rio. O principal deles é o plano do Concurso Internacional de Proyectos para el Trazado General de Avenidas y Ubicación de Edificios Públicos en la Ciudad de Montevideo, realizado em 1911, ganho pelo arquiteto Augusto Guidini, que tem como objetivo transformar Montevidéu numa cidade mais sã, cômoda e bela. Já na chamada do concurso, são estabelecidos os três objetivos concretos: melhorar e ampliar a rede viária urbana; unir por vias apropriadas os passeios públicos, praias e bairros; e destacar os principais edifícios públicos existentes, além da localização de outros.

Em 1925, se aprova o traçado para a Rambla Sur, e sua implantação começa em 1926. O projeto de Juan P. Fabini, para a abertura de uma avenida costeira, tem como objetivo concretizar a ideia reiterada desde o final do século XIX de contornar toda a área costeira da cidade de Montevidéu, abrindo a cidade para o espelho do rio, retomando, assim, as ideias apresentadas por Guidini em seu plano de avenidas.

As premissas que orientam a operação urbanística da Rambla Sur são as da desapropriação de prédios para dar lugar à “vivienda sana, higiénica y agradable” (Carmona, 1997, p. 89) e da gentrificação da população do bairro. Apresenta uma visão higienista, paisagística e a busca pelo embelezamento, destruindo bairros pobres, com clara identificação com a urbanística de Haussmann. Também contém o conceito de cidade extrovertida, aberta aos seus arredores, e unitária, estruturada em base a uma série de artérias.

Esta operação urbanística visa conectar eficientemente a península com os bairros da orla; dar continuidade do centro até a costa; proporcionar à população da cidade antiga um passeio marítimo; outorgar à “cidade de turismo” um poderoso atrativo; e regularizar e embelezar o setor sul da cidade (Carmona, 1997, p. 89).

 

Figura 5. Traçado da Rambla Sur proposto por Fabini.
Fonte: Carmona e Gómez (1999).

 

O projeto inicial delineia somente a rede viária, sem definir o ordenamento e alinhamento dos edifícios. Assim, a rede viária e a edilícia não se afiliam nem cronológica nem ideologicamente à mesma corrente urbanística. A rede viária, com sua concepção higienista, se vincula ao academicismo. Na mesma direção, apontam os aspectos monumentais do projeto. Já os edifícios da frente costeira, devido ao tempo de implantação da proposta, são blocos isolados dispostos sobre o plano uniforme do solo, chegando próximo às ideias impulsionadas pelo urbanismo do Congresso Internacional da Arquitetura Moderna (CIAM).

Em 1928, se aprova o Plano Fabini, plano apresentado pelo Engenheiro Juan P. Fabini, que ainda reflete, em sua proposta, os ideais da Beaux-Arts e, principalmente, retoma as ideias de Guidini em seu plano de avenidas. Este plano implicou uma nova intervenção do Estado em operações de melhorias da cidade, tanto referentes à sua funcionalidade quanto à sua imagem.

O objetivo principal é a intervenção direta dos poderes públicos na solução dos problemas urbanos, como melhorar a estrutura de circulação do setor mais congestionado da cidade e hierarquizar valores urbanos potenciais, aplicando o critério da monumentalidade. Também se pode encontrar o propósito de materializar o modelo de cidade balneária e turística, impulsionado pelo poder público.

 

Figura 6. Plano Fabini.
Fonte: Carmona e Gómez (1999).

 

Sendo o modelo o urbanismo acadêmico, tem o sistema viário como estruturante e a abertura de visuais a edifícios e espaços relevantes como pontos focais. No projeto, retoma os alinhamentos operativos do francês Norbeto Maillart, que, em 1887, apresentou um projeto para Montevidéu.

Nesse plano, Fabini incorpora o projeto da Rambla Sur e da Avenida Agraciada, ambos de sua autoria, para colocar em evidência a concepção unitária do conjunto de vias hierárquicas do setor. O plano compreende a abertura de ruas e alargamento de outras e prioriza a execução do conector físico e visual entre o eixo principal cívico e o emblemático Palácio Legislativo.

O plano de Karl Brunner para Santiago do Chile

As ideias de transformar o grid colonial da cidade de Santiago do Chile nunca foram colocadas em prática. Nos anos 1920, algumas pequenas e localizadas intervenções são realizadas. Nesse momento, não se pensa mais em monumentalidade associada com diagonais, mas sim nas ideias de Camillo Sitte. Por exemplo, os bairros Paris-Londres e Concha y Toro, nas fronteiras do Centro, resultam da subdivisão de grandes propriedades para a construção de casas para as classes média e alta, seguindo o modelo eclético do momento.

Em 1929, convida-se o austríaco Karl Brunner para ir ao Chile quando, no meio de uma crise econômica, novas ideias associadas com planejamento e desenho urbano modernos começam a influenciar o pensamento sobre a cidade. Brunner, a convite do Governo chileno, trabalha como consultor técnico, vinculado à seção de urbanismo do Departamento de Arquitetura do Ministério de Obras Públicas, e organiza, junto com a Universidade do Chile, o primeiro seminário de urbanismo da América Latina, inaugurando uma nova era de urbanismo profissional no país (Oyarzun; Vera, 2002, p. 128).

Suas ideias são publicadas no livro Santiago de Chile: su estado actual y su futura formación. Se, por um lado, Brunner se orienta por científicos e sistemáticos conhecimentos, por outro, apresenta uma argumentação pragmática e até conservadora ao interpretar o tecido urbano existente, e usa as ferramentas tradicionais, como eixos, fachadas contínuas e espaços públicos como praças e parques. A forma de planejar que Brunner adota no Chile lembra a de outros profissionais estrangeiros que passaram pelo continente durante o século XIX.

Também fica claro na proposta de Brunner seu conhecimento sobre os problemas habitacionais, pois faz referências aos siedlungen de Viena e Hanover, fazendo o contraste com os distritos operários de Santiago. Percebe-se a influência dos projetos de habitação de Alexander Klein[4] nos esquemas de habitação de Brunner e sua vinculação com a parte pragmática do Movimento Moderno.

A proposta de abertura parcial de diagonais demonstra que Brunner continua engajado com diagonais, tanto técnica como esteticamente. Apesar dos quarteirões de 120 por 120 metros dificultarem a ação, são considerados como a unidade urbana básica. Assim, Brunner sugere várias configurações, dividindo, modificando e enriquecendo o grid com formas e tamanhos variados para seu futuro desenvolvimento.

 

Figura 7. Proposta de Brunner para a área central de Santiago. 
Fonte: Almandoz Marte (2002).

 

Mas é na área central onde se pode notar a presença mais forte de Brunner, seja na definição do vetor de crescimento, seja na criação do Bairro Cívico. Na área central, tem como foco o núcleo de negócios e serviços públicos e, na periferia, a área residencial e industrial. A proposta para o Centro representa tanto sua visão pragmática como sua visão positiva da herança histórica da cidade. Brunner tem consciência de que o grid está lá e não pode ser modificado, porém considera que é possível reorganizar a cidade sem correr os riscos de uma modernização indiscriminada. Para isso, propõe construções homogêneas, com 12 andares, perfuradas por um interessante grid de arcadas e galerias.

É no projeto para o Bairro Cívico onde se encontra a mais ambiciosa das operações urbanas de Brunner, que, para sua implantação, tem que superar uma série de dificuldades dos anos 1930: primeiro a crise econômica, depois o terremoto de 1939. Sua posição fora da tradicional Plaza de Armas traz à tona a discussão sobre a nova centralidade da cidade. O Palácio do Governo, La Moneda, muda sua fachada principal e passa a estar voltado para a Alameda; isto requer uma nova fachada, bem como a centralidade do palácio exige novos eixos monumentais que a destaquem; o distrito central, entretanto, se expande em direção sul.

Em 12 de julho de 1930, Brunner redige um informe para o Presidente da República, onde aconselha a regulamentação da altura dos edifícios que devem rodear as praças projetadas, com o objetivo de equilibrar a composição com a altura e estilo de La Moneda. Em maio de 1931, se aprova um decreto onde consta a Ley y ordenanza general sobre construcciones y urbanización, mas, em função da caída do governo ditatorial de Carlos Ibañez del Campo, só entrará em vigor em 1936, ficando o programa do Centro Cívico sem iniciar-se.

Ao regressar ao Chile, em 1934, Brunner recebe a tarefa de compor um novo e definitivo projeto para o Bairro Cívico, a avenida principal e a praça situada ao norte de La Moneda. Decide, então, suprimir as diagonais de 1931; enfatizar a escala de monumentalidade; e aplicar conformações simétricas no desenho da avenida e no resto do conjunto, para sustentar a centralidade de La Moneda.

 

Figura 8. Vista aérea da Alameda e do Palácio de La Moneda.
Fonte: Almandoz Marte (2002).

 

Seguindo o esquema da segunda proposta de Brunner, que foi desenvolvido por Carlos Vera, as diagonais propostas anteriormente são abandonadas e são criadas duas praças dos dois lados da Alameda. Por fim, só o eixo em direção sul foi aberto – Avenida Bulnes. Os edifícios de fachadas neoclássicas destinados aos ministérios, em volta do palácio presidencial, e para comércio, escritórios e habitação, ao longo da Avenida Bulnes, refletem em suas fachadas o caráter das operações urbanas realizadas.

Coincidências e diferenças

Após a análise dos planos realizados para Rio de Janeiro, Buenos Aires, Montevidéu e Santiago do Chile, nos anos 1920 e 1930, todos de clara inspiração academicista, podemos identificar coincidências e diferenças entre eles.

Em todos eles, o caráter da monumentalidade está presente, seja através da abertura de diagonais, sempre com um ponto focal determinado, seja pelo alargamento de ruas e avenidas existentes, ambas ocupadas com fachadas contínuas. Importante item em todas as cidades é a definição de um espaço específico – a Porta do Brasil, no Rio de Janeiro – ou a reorganização de espaço já existente para a instalação do Centro Cívico – a Praça da Casa de La Moneda, em Santiago; a Plaza del Congreso, em Buenos Aires; e a praça do Legislativo, em Montevidéu.

Novos vetores de crescimento são definidos, em busca de áreas mais aprazíveis para as classes alta e média e na definição de novas áreas industriais. A descentralização das habitações e as preocupações com as questões de tráfego, com o aumento da circulação de automóveis, são pontos primordiais nos projetos. No caso de Buenos Aires, diferentes das outras capitais, são projetadas avenidas-parque que direcionam as classes privilegiadas para bairros jardins. Em Montevidéu, a Rambla Sur organiza a frente do rio e direciona a cidade nesse sentido. Apesar de ser uma clara intervenção haussmanniana, sua ocupação se dará já dentro dos princípios do Movimento Moderno.

Em Buenos Aires, a frente fluvial também define sentidos de crescimento com a implantação das avenidas Costaneras Norte e Sul. No caso do Rio de Janeiro, o aterro na Baía de Guanabara é o lugar escolhido por Agache para a construção do Centro Cívico da capital brasileira, além da ocupação da Ponta do Calabouço com o bairro das embaixadas, dos ministérios e um Panteão.

Tanto em Buenos Aires como em Santiago do Chile, nota-se a importância das praças e dos parques como estruturadores do espaço urbano. Também é nessas duas capitais que há a preocupação com a cidade existente, respeitando, sempre que possível, a quadrícula original espanhola – em Santiago, Brunner prevê variações do grid para o crescimento urbano e novas ocupações na cidade existente, respeitando a trama ortogonal original. Outra preocupação nessas cidades, que não se encontra de forma clara nos projetos do Rio e de Montevidéu, é com a habitação operária.

De específico, podemos mencionar que em Montevidéu há a clara intenção de transformar a cidade num balneário turístico, enquanto, no Rio, o plano de Agache caracteriza-se como um plano diretor, com uma preocupação global com a cidade, mesmo que a parte mais detalhada seja o Centro e a Zona Sul.

Considerações sobre a transição para o Movimento Moderno

Diante dos projetos acima analisados, pode-se perceber que o academicismo segue tendo um papel primordial nos projetos urbanos nas décadas de 1920 e 1930. As influências do Movimento Moderno já começam a ser percebidas a partir da década de 1930, porém de forma gradual, mais na teoria do que na prática.

Além da viagem de Le Corbusier à América do Sul, em 1929, quando visita Rio, São Paulo, Montevidéu e Buenos Aires, outros arquitetos e urbanistas estrangeiros adeptos de uma nova forma urbana em contraposição à cidade tradicional, também visitam o continente, deixando suas marcas e influências. Frank Lloyd Wright vem ao Rio de Janeiro, em 1931; Le Corbusier participa de um plano diretor e Antoni Bonet apresenta um projeto urbano em escala geográfica, respectivamente em 1938 e 1948, para Buenos Aires. Também podemos destacar a influência dos modernistas em cidades como Montevidéu e Santiago do Chile, mesmo sem que algum arquiteto ou urbanista estrangeiro adepto de uma nova urbana tenha passado por lá.

Para o Rio, Le Corbusier apresenta um plano que não interfere na cidade existente, onde passado e presente se superponham como camadas da história. No total, elabora três planos: um, em 1929, depois de sobrevoar a cidade; um segundo, já em Paris, em 1930, como uma evolução do primeiro; e o terceiro, em 1936, em sua segunda visita ao Rio.

Nos três projetos, a base é uma autoestrada, localizada a 100 metros do solo, que atravessa a cidade, saltando obstáculos, contornando barreiras ou rompendo bloqueios. A grande autoestrada une os principais pontos da cidade, a Zona Norte à Zona Sul, o Centro a Niterói, do outro lado da baía. Nos três projetos, são resolvidos os problemas de circulação e também de habitação, com a criação de edifícios onde são projetadas habitações até 30 metros sobre o solo, sob a autoestrada.

É muito importante ressaltar a influência diversa desses dois arquitetos, Agache e Le Corbusier, sobre os arquitetos brasileiros. Enquanto os longos estudos de Agache, detalhados e ambiciosos, não os empolgam, os croquis de Le Corbusier têm uma grande repercussão entre os arquitetos e urbanistas locais. Na opinião de Yves Bruand (1981, p. 336), mesmo com uma visão superada, Agache prepara os brasileiros para a nova disciplina, o que facilita a assimilação das ideias de Le Corbusier.

Em Buenos Aires, além do projeto que faz em sua visita, em 1929, Le Corbusier participa do plano de 1938 junto com Jorge Ferrari Hardoy e Juan Kurcham, que estagiaram em seu escritório em Paris. Nesse plano, há uma mutação na linguagem das formas urbanas e arquitetônicas, já sem os ornamentos pseudoclássicos do Plano Noel. Deixa para trás a imagem anterior da cidade com seus bondes e diagonais monumentais como recurso cenográfico do barroco.

Em 1948, Antoni Bonet, arquiteto-urbanista catalão que fez parte, junto com Josep Lluis Sert, do grupo GATECPAC[5], faz uma proposta para Buenos Aires. O objeto da proposta é um bairro para 50 mil habitantes, com 20 blocos de habitação para 2,5 mil habitantes cada. Aumenta a densidade e libera o solo segundo os ditames do CIAM. Também são previstas vias para pedestres com comércios e serviços essenciais.

Em 1930, a iniciativa privada financia um novo Plano Regulador do Centenário para Montevidéu, coordenado pelo arquiteto Mauricio Cravotto, que introduz o pensamento renovador do racionalismo internacional, com a criação de um grande centro localizado no centro de gravidade da massa urbana; torres para aumentar a densidade; e arquitetura monumental com amplos espaços. Nesse projeto, concebe a urbanização como um problema de arquitetura em grande escala.

A documentação gráfica e notas demonstram a formação acadêmica dos autores e a ideologia haussmanniana dentro de uma concepção urbanística que já continha os princípios fundamentais da Carta de Atenas. O plano possui a ideia de zonificação funcional, diferença viária, presença do verde e dinâmica.

Em Santiago, no que diz respeito às influências do Movimento Moderno, Le Corbusier tenta ir ao Chile, através de Roberto Dávila Carson, que frequentou seu ateliê no princípio dos anos 1930, para realizar um plano para a cidade após o terremoto de 1939. Os discípulos de Brunner vetam de forma veemente essa visita, que acaba não acontecendo.

No início dos anos 1940, porém, uma nova geração de arquitetos da Universidad Católica e da Universidad de Chile passa a adotar os valores iconográficos da arquitetura moderna. As figuras de Le Corbusier e da Bauhaus passam a ser a mais importante referência para eles, assim como os arquitetos brasileiros.

Dessa forma, a convivência entre os novos ideais modernistas e as ideias acadêmicas pode ser detectada durante as décadas de 1920 e 1940, mostrando que as novas ideias não são assimiladas tão rapidamente nem são hegemônicas na América do Sul.

Por outro lado, percebe-se que os ditames do Movimento Moderno permanecem muito mais nas propostas teóricas, com algumas exceções, quando se trata de intervenções na cidade construída. A intervenção em tecidos urbanos consolidados mantém suas características acadêmicas, uma vez que a proposta de uma cidade do Movimento Moderno, para ser implantada, pressupõe uma tábula rasa, ou seja, o arrasamento da cidade construída para a implantação de um novo tecido urbano como, por exemplo, o Plan Voisin de Le Corbusier para Paris e o Plan Macià do GATCPAC para Barcelona, ou mesmo o projeto de Josep Lluís Sert para La Habana.

Será nas décadas seguintes, principalmente no segundo pós-guerra, que os paradigmas do Movimento Moderno podem ser encontrados de forma mais precisa e tornados realidade. É principalmente quando são elaborados projetos para áreas vazias – cidades empresariais, conjuntos habitacionais, centros cívicos – que encontramos mais claramente as influências do Movimento Moderno ou de seus correlatos.

 

Notas

[1] Entendendo o academicismo, aqui, como o movimento que, no início do século XX, representa a escola de Beaux-Arts de Paris com reflexos nos principais países ocidentais. Assim, neste artigo, considera-se o academicismo como formado por um acervo de conhecimentos teóricos e práticos herdados do passado e que proporciona a base da formação de arquitetos (VALDIVIA, 2004, p. 17-18).

[2] Fundado em 1894 por um grupo de reformistas que acreditavam que o acúmulo de conhecimentos sobre a questão social ajudaria na formulação de políticas sociais. Organizado em seções, tinha na seção de Higiene Urbana e Rural o fórum de discussões mais especializadas sobre a questão urbana.

[3] “O trabalho que Haussmann fez em Paris é o mesmo que devemos fazer em Chicago” (Cf. BURNHAM; BENNETT, 1909, p. 18 apud HALL, 1996, p. 190).

[4] Arquiteto e urbanista russo que também atuou na Alemanha e em Israel.

[5] Grup d'Arquitectes i Tècnics Catalans per al Progrés de l'Arquitectura Contemporànea – grupo formado em Barcelona em 1930 e que se dissolve antes da Guerra Civil Espanhola.

 

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