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Scripta Nova
REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98
Vol. XVI, núm. 418 (57), 1 de noviembre de 2012
[Nueva serie de Geo Crítica. Cuadernos Críticos de Geografía Humana]

 

REINVENTANDO CENÁRIOS: A CONSTRUÇÃO DE NOVAS IDEIAS PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - RN

Alessandro Dozena
Depto. de Geografia – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
sandozena@ufrnet.br

Rita de Cássia da Conceição Gomes
Depto. de Geografia – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
ricassia@ufrnet.br

Reinventando cenários: A construção de novas ideias para o desenvolvimento local no estado do Rio Grande do Norte – RN (Resumo)

Trata-se de um artigo que se propõe a relatar as ações de capacitação de comunidades para a discussão e a efetivação de propostas voltadas para o desenvolvimento local, tendo por referência as dimensões cultural e ambiental nos municípios de Pureza e Vera Cruz que, embora situados em diferentes microrregiões geográficas, apresentam uma realidade muito próxima. A referência metodológica utilizada foi a da pesquisa-ação, por tratar-se daquela que melhor respondeu às demandas propostas pela indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão; além de permitir a multidisciplinaridade e a troca de conhecimentos entre o saber universitário e o saber popular.

Palavras chave: desenvolvimento, ações locais, ambiente, cultura, comunidade.

Reinventing scenarios: The construction of new ideas for local development in the state of Rio Grande do Norte – RN (Abstract)

It is a paper that proposes to describe the actions of empowering communities for discussion and execution of proposals aimed at the local development, with reference to the cultural and environmental dimensions in the cities of Vera Cruz and Pureza that, although located in different micro geographic regions, have a very similar reality. The methodological reference used was the action-research, because it is the one that best responded to the demands proposed by the integration between teaching, research and extension, and allows the multidisciplinary and knowledge exchange between university knowledge and popular knowledge.

Key words: development, local actions, environment, culture, community.


O modelo de crescimento econômico manifesto pelo estado do Rio Grande do Norte após a década de 1980 não se estabeleceu atrelado ao desenvolvimento social, apresentando-se com uma incongruência entre o desenvolvimento e o crescimento econômico.

Esse modelo de crescimento econômico hegemônico tem revelado um contexto de fortes repercussões negativas à manutenção e melhoria da qualidade de vida, minando, consequentemente, as necessárias possibilidades de inclusão social; tão almejadas pela sociedade.

Assim, o desenvolvimento local nos pequenos municípios do estado do Rio Grande do Norte tem apresentado uma série de fragilidades que se materializam em uma questão de base: a incapacidade da promoção de um real desenvolvimento com a melhoria da qualidade de vida e o aumento da justiça social, construídos em comum acordo com os agentes locais.

Essa questão tem suscitado debates variados nas mais diversas esferas do poder público, bem como nos órgãos de representatividade social e instituições de ensino. O grande desafio para a promoção desse desenvolvimento local está na criação de condições que possibilitem a reprodução social de maneira digna e sustentável.

O artigo ora proposto objetiva expor as ações efetivadas nos municípios de Vera Cruz e Pureza, localizados a aproximadamente 40 quilômetros de Natal-RN; e que desde suas origens apresentam-se com uma base rural significativa.

Possuem, assim, características rurais bem definidas, visto que as suas dinâmicas econômicas estão centradas na agricultura de base familiar; com destaque para a produção de mandioca e de farinha.

As ações aqui apresentadas objetivaram contemplar esse desenvolvimento por meio do trabalho em equipe, além da troca de saberes entre a Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN e a comunidade dos dois municípios previamente escolhidos; articulando as dimensões cultural e ambiental como premissas básicas para a promoção desse desenvolvimento.

A realidade tem demonstrado a existência de uma série de fragilidades concernentes a uma consolidada forma de operacionalização da organização social que se materializa na pouca representatividade e no número escasso de entidades organizacionais locais, que se apresentam com uma baixa capacidade de mobilização social.

Foi, portanto, na perspectiva da promoção dos valores de equidade social, redes de solidariedade, inclusão e aumento do capital social, que realizamos o presente projeto; aproveitando os fatores positivos manifestos no processo de construção social de Vera Cruz e de Pureza – RN.

Essas são as bases para a construção de uma comunidade cívica que tem na essência as relações horizontais travadas no âmbito da família, o que acaba por se expandir em consonância com os interesses coletivos.

Observando as qualidades e os valores envolvidos, entendemos que a conjugação dessas forças é um fator basilar na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Esse enfoque persegue a promoção de um modelo de desenvolvimento mais humano, motivado pela consolidação das diferentes formas de organização já presentes em alguns pequenos municípios brasileiros.

Desse modo, está em pauta o resgate de recursos disponíveis e não utilizados, “saberes-fazer” acumulados e não praticados, bem como a capacidade organizativa e associativa para a valorização da cultura local e preservação do meio- ambiente.

Essa proposta justifica a necessidade de que novas ações sejam implantadas, promovendo-se a melhoria das condições de vida das comunidades enfocadas; a conservação e preservação dos recursos naturais; a preservação e fortalecimento da cultura local e regional; o reencontro dos cidadãos com as suas origens e com a natureza; além da geração de novas oportunidades de trabalho e de renda.  

A troca de saberes e a reflexão conjunta entre a universidade e a comunidade foram iniciativas que se constituíram em um processo pedagógico de formação de agentes multiplicadores das ações desenvolvidas pelo projeto.


Reinventando cenários em Pureza e Vera Cruz – RN

A noção de desenvolvimento local está relacionada às mudanças na conjuntura social como resposta às mazelas proporcionadas pelo sistema econômico vigente. Nesse contexto, é válido ressaltar a descentralização política que deu margem à abordagem de ações mais localizadas, a emergência de um grande número de Organizações Não-Governamentais com aumento da margem de atuação local; além da intensificação das ações das organizações sociais locais, a exemplo das associações e cooperativas.

As comunidades de Pureza e Vera Cruz – RN mantêm na essência as relações horizontais travadas no âmbito da família, o que acaba por se expandir em consonância com os interesses coletivos. Para Putnam (1996), essa união da comunidade se mantém:

(...) por relações horizontais de reciprocidade e cooperação e não por relações verticais de autoridade e dependência. Os cidadãos interagem como iguais e não como patronos e clientes ou como governantes e requerentes. A participação numa comunidade cívica pressupõe mais espírito público do que uma atitude voltada para vantagens partilhadas. Os cidadãos não são santos abnegados, mas consideram o domínio público algo mais que um campo de batalha para a afirmação do interesse pessoal. Eles são mais do que meramente atuantes, imbuídos de espírito público e iguais. Eles são prestativos, respeitosos e confiantes uns nos outros, mesmo quando divergem em relação a assuntos importantes. Ela não está livre de conflitos, pois seus cidadãos têm opiniões firmes sobre as questões públicas, mas são tolerantes com seus componentes (PUTNAM, 1996, p. 102).  

Essas foram as qualidades e valores reforçados nas ações componentes desse projeto, entendendo a conjugação dessas forças como um fator basilar na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Uma das contribuições da ação extensionista foi a de preparar essas comunidades para o planejamento e a gestão de seu próprio desenvolvimento, bem como inserir algumas atividades de ensino e de pesquisa no âmbito da ação; fazendo valer a indissociabilidade entre a pesquisa, o ensino e a extensão.

Em nosso entendimento, esse enfoque foi capaz de estimular a promoção de um modelo de desenvolvimento mais humano, motivado pela consolidação das diferentes formas de organização já presentes nos municípios.

Com uma efetiva interação entre os diversos agentes sociais envolvidos, conseguimos promover o “empoderamento” dos mesmos para a superação da condição de exclusão ou inclusão social precária em que se encontram.  

Um dos caminhos percorridos na execução do projeto foi o alargamento do conceito de desenvolvimento local, incorporando novos referenciais como o de desenvolvimento endógeno ascendente, que se dá a partir da mobilização dos próprios recursos e da valorização e incentivo do protagonismo dos agentes locais; centrado nas necessidades e potencialidades próprias das comunidades.

Entendemos, assim como Cavaco (1996, p. 96), que “não há territórios condenados, mas apenas territórios sem projetos”. A escolha dos municípios esteve relacionada ao fato de serem dois municípios em que outras ações de extensão já foram desenvolvidas, as quais nos fizeram perceber a necessidade da implantação de novas ações que privilegiassem as dimensões cultural e ambiental.

Essas dimensões são de suma importância para a reprodução da sociedade, em especial quando conjugadas com as de conteúdo econômico, como é o caso do turismo rural que já se desenvolve no município de Vera Cruz; a partir de um projeto que executamos anteriormente.

Além disso, tais ações tornaram-se uma importante fonte de informações para os interessados em conhecer algumas particularidades do estado do Rio Grande do Norte, não apenas do ponto de vista cultural, como também do ponto de vista ambiental.

Um fato marcante é a presença na paisagem das casas de farinha, destinadas ao beneficiamento da mandioca e a transformação da farinha e de seus derivados em goma para a feitura do beiju e da tapioca.

Historicamente, a farinha fez parte do alimento sertanejo, mas com o surgimento do arroz e do macarrão houve uma redução em seu consumo. Por outro lado, a incorporação de novos ingredientes para a  produção da farofa tornou a sua presença obrigatória nos restaurantes e lares, mesmo naqueles em que não se havia o hábito do consumo da farinha.

Além de ser um importante espaço produtivo, as casas de farinha são um espaço carregado de cultura que, ao longo dos anos, vem sendo contada em prosa e verso pelos poetas e estudiosos de Pureza e de Vera Cruz.

É assim que devemos pensar esse espaços, como lugares que podem oferecer aos seus visitantes a paz e a tranquilidade buscada pelos que vivem nos ambientes urbanos marcados pelo estresse dos engarrafamentos de trânsito, pelo controle do relógio e pelo dissabores da vida moderna.

Muito embora diversos motivos justifiquem as ações propostas, ressaltamos que foram as questões ambientais e culturais as priorizadas, uma vez que ambas estão na base da construção de um desenvolvimento de base local.

Do ponto de vista ambiental, destacam-se os problemas inerentes aos resíduos produzidos pelas casas de farinha, a exemplo da manipueira e dos resíduos sólidos; além da necessária preservação dos mananciais. Do ponto de vista cultural, destacam-se o incentivo às atividades artísticas e o resgate  da memória local. 

Diante desse quadro, novos cenários foram promovidos:

Ressaltamos que a demanda por atividades com essas características partiu das próprias comunidades locais, durante as visitas de reconhecimento prévio realizadas no ano de 2012.

Foi imprescindível a realização desse diagnóstico participativo-interativo, que possibilitou a captação da percepção, dos anseios, das possibilidades e das limitações dos diversos agentes nas comunidades, de modo que as ações desenvolvidas lhes permitiram a expansão de suas potencialidades e autoestima, apropriando-se de instrumentos de emancipação no sentido de se transformarem em sujeitos ativos no enfrentamento dos problemas cotidianos.

O diagnóstico interativo definiu e orientou as possibilidades de trabalho e consequentemente a preparação de planos específicos, respeitando-se, sempre, o princípio da interação e o da construção coletiva com os sujeitos envolvidos.

Esse movimento exigiu o questionamento crítico, a reflexão e a disponibilidade de sempre recomeçar, visto que o conhecimento real somente se constrói pelo trabalho crítico/reflexivo sobre as práticas; em um ato de (re) construção permanente do processo.

O pensamento integrado, inter-relacionado, contextualizado e global substituiu o pensamento fragmentado, conformando-se em uma forma de aprimoramento de habilidades técnicas, investigativas, pedagógicas e políticas.

Considerando-se o caráter da proposta, a referência teórico-metodológica utilizada foi a da pesquisa-ação, por se tratar de uma referência cuja prática envolve duas tarefas simultâneas: a tarefa da pesquisa e a tarefa da ação.

A tarefa da pesquisa concretizou-se por meio de estudos efetuados sobre os municípios e os seus entornos, já que consideramos que as realidades devem ser compreendidas a partir de suas inter-relações sócio-espaciais.

No âmbito da tarefa da pesquisa de novas aprendizagens, foram produzidos conhecimentos a partir da base local. Como já frisamos, todas essas tarefas ocorreram por meio de ações concretas desenvolvidas conjuntamente com a sociedade, sendo estas efetivadas com o intuito de se construírem espaços pautados no desenvolvimento local, com base na preservação da cultura e do meio ambiente, buscando-se atender às demandas coletivas e sociais das comunidades envolvidas.

Para tal, diversas atividades foram executadas, tais como: - a realização do inventário e diagnóstico da realidade sócio-espacial dos dois municípios; - a apresentação e discussão do projeto com as comunidades, - o agendamento das atividades nas comunidades; - a realização de oficinas de trabalho com a equipe técnica para a discussão das bases teóricas e práticas do projeto.

Os procedimentos técnicos e metodológicos operaram uma dialógica entre os aspectos teóricos e práticos das ações, tomando-se como referencial a pesquisa-ação. 

Entre os principais resultados alcançados estão o fato de que as pessoas envolvidas adquiriram novos conhecimentos e estabeleceram novas práticas sobre cidadania e relações democráticas; havendo o fortalecimento das manifestações culturais e a conscientização ambiental.

Também fazem parte dos resultados alcançados nos dois municípios:

Para alcançar esses resultados foram traçadas as seguintes metas:

Com relação às metas, podemos afirmar que elas foram atingidas graças à participação das comunidades nas diversas atividades realizadas: reuniões, viagens de estudo, oficinas, palestras, entre outras.

Houve assim o incentivo de práticas profissionais de forma cooperativa em situações concretas demandadas pela população, oportunizando-se o acesso ao conhecimento e à informação.

Foram fundamentais as viagens exploratórias para fins de conhecimento dos municípios de Vera Cruz e de Pureza, observando-se as paisagens, anotando e levantando questões a serem discutidas posteriormente durante a realização do projeto.

Embora as viagens tenham sido coordenadas pelos autores do presente artigo, o roteiro foi elaborado pelas Secretarias de Educação e de Ação Social, que nos conduziram aos principais povoados rurais dos municípios.

Nesses primeiros contatos, foi traçado um planejamento prévio de execução do projeto, sendo que alguns propósitos levantados durante a elaboração do mesmo foram eliminados e outros foram acrescidos. Após a realização dessas viagens, foram realizados os inventários dos municípios.

O projeto “Reinventando cenários, redescobrindo o lúdico: a construção de novas ideias para o desenvolvimento local” também se apresentou como uma atividade estimuladora para os artistas locais.

Igualmente, a proposta buscou agregar renda para os produtores artesanais, por meio da divulgação das suas obras e da comercialização direta dos seus produtos.

A arte e a cultura foram trabalhadas como atividades lúdicas e motivacionais, servindo como instrumento pedagógico e de inclusão social. Considerando as várias dimensões da prática pedagógica utilizada, perseguimos um resgate da identidade cultural nessas comunidades.

O projeto procurou trabalhar com as comunidades fomentando um modelo de desenvolvimento pautado em valores de cooperação e de apoio mútuo como prerrogativas essenciais para a manutenção e a consolidação dos laços de respeito e de organização local.

Nesse sentido, foram realizados os “dias-de-campo com boas práticas”, envolvendo a comunidade com a execução de ações que priorizaram a preservação ambiental e cultural, além da valorização das coisas dos lugares.

As atividades de educação ambiental visaram sensibilizar as comunidades para a mudança de atitudes e comportamentos em relação às questões ambientais e proporcionar aos participantes um conhecimento acerca da problemática ambiental e a importância da busca por soluções criativas, que promovam a ocupação e a renda, em um trabalho articulado entre as escolas e a comunidade.

A partir dessas atividades os grupos se tornaram aptos a investirem em atividades baseadas na trilogia “reduzir, reutilizar e reciclar”. Incluíram-se aí as oficinas sobre noções básicas de educação ambiental, reciclagem, compostagem e o incentivo à produção de húmus nas residências.

A utilização de tecnologias limpas e adaptadas à região nordestina brasileira, como a reciclagem, compostagem, produção de húmus e secagem de frutas com energia solar, despertou nas populações interagentes uma consciência crítica a respeito da relação entre a sociedade e a natureza.

Além disso, as ações desenvolvidas nas comunidades suscitaram trabalhos acadêmicos e científicos apresentados nos mais diversos fóruns. Destacamos abaixo os produtos acadêmicos gerados no âmbito desse projeto:

O projeto reafirmou sua participação no processo de retomada do conhecimento crítico e participativo sobre os desafios que se apresentaram, ao experimentar novas formas de construção do conhecimento, orientadas pela reflexão-ação-recriação de novos cenários, possibilitando a reforma do pensamento e a construção de novas interações democráticas e horizontais, entre a universidade e os diversos agentes sociais; seus parceiros.

O processo avaliativo foi encarado como uma relevante estratégia de (re) construção contínua do projeto, e acompanhou todos os momentos de sua execução, aplicação e sistematização dos resultados das atividades, em um movimento de criação, experimentação e repactuação do projeto face aos seus resultados e impactos nas comunidades.

Foram alvos da avaliação o modo como o projeto se desenvolveu, a eficiência dos métodos e procedimentos empregados, as transformações sociais e impactos gerados pelas atividades, o retorno das ações municipais à academia e a influência na formação cidadã dos universitários participantes.

A proposta se constituiu em um espaço de formação acadêmica, tendo em vista que fomentou trabalhos dos alunos bolsistas, envolvendo o debate acadêmico e a realização de pesquisas que contemplaram o desenvolvimento local; cujos resultados foram incorporados às ações desenvolvidas junto às comunidades.


Considerações finais

O projeto desenvolveu ações que procuraram capacitar comunidades para a discussão e a efetivação de propostas voltadas para o desenvolvimento local, tendo por referência a dimensão cultural e ambiental nos municípios de Pureza e Vera Cruz que, embora situados em microrregiões diferentes, apresentam uma realidade bastante similar.

Partindo da realidade local e das necessidades mais prementes, o projeto buscou soluções simples e adaptadas, a partir dos recursos disponíveis nas próprias comunidades.

O desenvolvimento social foi a base de todo o trabalho, procurando contextualizar o público em seu meio e fornecer os instrumentos adequados para que pudéssemos interagir com ele de forma consciente e construtiva.

Neste sentido, foram criadas condições para o desenvolvimento local nos municípios de Vera Cruz e Pureza - RN, por intermédio da promoção de atividades de socialização e de alternativas econômicas baseadas em padrões de desenvolvimento humano equitativo e sustentável; o que fomentou a manutenção e a preservação dos valores socioculturais locais relacionados à cultura e ao meio-ambiente.

Os jovens foram estimulados por meio de atividades educativas nas escolas, em que se discutiram conceitos e valores sobre o meio-ambiente, qualidade de vida e cidadania, promovendo-se alterações qualitativas em seu dia-a-dia, de forma que também atuassem como agentes multiplicadores das ações e dos conhecimentos adquiridos, produzindo material de comunicação e repassando os novos conhecimentos aos alunos das escolas públicas e à própria comunidade.

Ao mesmo tempo em que houve a promoção do desenvolvimento de atividades com vista à preservação da cultura e do meio ambiente, integradas aos arranjos produtivos locais; houve a melhoria das condições de vida da população.

O desenvolvimento revelou-se como uma forma de gestão e de organização social pautada na cooperação e no associativismo, o que desencadeou um desenvolvimento local voltado à melhoria da qualidade de vida da população dos municípios citados.

Vale ressaltar a lacuna existente na produção acadêmica relacionada a trabalhos que contemplem a questão colocada, uma vez que os estudos sobre o desenvolvimento em pequenos municípíos têm sido pouco realizados no âmbito da Geografia brasileira.

Como já salientado, as ações desenvolvidas nos dois municípios foram estruturadas a partir das realidades sociais, culturais e ambientais das localidades e procuraram aplicar metodologias que contribuíssem ao amadurecimento e consolidação da participação política dos moradores no processo de planejamento e intervenção em sua comunidade, buscando a construção solidária do saber e o desenvolvimento sustentável das comunidades.

Diante das diretrizes voltadas para o desenvolvimento local e de acordo com a realidade sociocultural de cada município, o projeto realizado pelo Grupo de Pesquisa em Estudos Urbanos e Regionais – UFRN, em parceria com as prefeituras, somente obteve êxito por ter tido a participação de toda a sociedade civil.

O trabalho conjunto entre a UFRN e os municípios, sob a forma de parceria, ultrapassou os limites institucionais, otimizando recursos materiais, financeiros e humanos. Constituiu-se em um processo de ampliação da mobilização e participação, assegurando maior inserção da UFRN na dinâmica das transformações sociais do estado do Rio Grande do Norte.

Acreditamos ter conseguido contribuir com a formulação, implantação e acompanhamento de políticas públicas de desenvolvimento nos municípios em que atuamos.

Estiveram envolvidos na ação seis alunos de graduação, que participaram na condição de bolsistas. Nas comunidades, aproximadamente mil pessoas foram beneficiadas pelas ações; variando em gênero, faixa etária, formação e qualificação.

Essa heterogeneidade envolveu crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos, mulheres, homens, professores, profissionais de saúde, gestores municipais, lideranças e membros de associações comunitárias, membros de conselhos municipais, pescadores, produtores rurais, artesãos, funcionários públicos, entre outros.

Vislumbrando novas formas de aplicação do conhecimento gerado na universidade e tendo por base os princípios da participação, da ética e da cidadania, as ações propostas buscaram estabelecer uma rica interlocução entre a universidade e a sociedade, resultando em um fecundo processo de mudanças recíprocas, que privilegiou o diálogo entre os diferentes saberes na luta pela conquista de uma vida digna em todos os aspectos do desenvolvimento humano.


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Ficha bibliográfica:

DOZENA, Alessandro y Rita de Cássia da Conceição GOMES. Reinventando cenários: A construção de novas ideias para o desenvolvimento local no estado do Rio Grande do Norte – RN. Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. [En línea]. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de noviembre de 2012, vol. XVI, nº 418 (57). <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-418/sn-418-57.htm>. [ISSN: 1138-9788].

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