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Scripta Nova
REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98
Vol. VI, núm. 119 (54), 1 de agosto de 2002

EL TRABAJO

Número extraordinario dedicado al IV Coloquio Internacional de Geocrítica (Actas del Coloquio)
 

PAISAGENS URBANAS REVELADAS PELAS MEMÓRIAS DO TRABALHO

Leila de Oliveira Lima Araujo
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia
Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro - Brasil


Paisagens urbanas reveladas pelas memórias do trabalho (Resumo)

O artigo procura reconstruir pela fala dos sujeitos, a paisagem urbana da antiga região industrial dos municípios de Niterói e São Gonçalo, no Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Nos últimos anos, cenários de grandes significações globais foram revelados, numa paisagem que mescla-se com as ruínas da memória.

Palavras-chave: paisagem, memória, indústria, trabalho e global


Urban landscapes revealed by the memory work (Abstract)

The article tries to rebuild for the speech of the subjects, the urban landscape of the old industrial area of the municipal districts of Niterói and São Gonçalo, in the State of Rio de Janeiro, in Brazil. In the last years, sceneries of great global significances were revealed, in a landscape that mixes with the ruins of the memory.

Key-words: landscape, memory, industry, work, global


...a memória não é um instrumento para a exploração do passado; é, antes, o meio. É o meio onde se deu a vivência, assim como o solo é o meio no qual as antigas cidades estão soterradas...
Walter Benjamin


O presente artigo tem por objetivo contribuir com a reconstrução da paisagem urbana, especificamente da antiga região industrial dos municípios de Niterói e São Gonçalo, no Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Essa região é formada pelos bairros: São Lourenço, Santana e Barreto (Niterói); Neves, Vila Lage, Porto Velho e Gradim (São Gonçalo), que são contínuos e conurbados entre as cidades, formando visivelmente uma mesma paisagem.

Ao longo do tempo, essa região veio sofrendo transformações variadas. Nos últimos anos, cenários de grandes significações globais foram revelados, numa paisagem que mescla-se com as ruínas da memória.

Para reconstruirmos tal paisagem, buscamos interpretar as falas de alguns sujeitos, que julgamos possuir os cenários da região estudada gravados na memória, pois entendemos que "através da memória os relatos orais criam uma espécie de cartografia mental, na qual o espaço, mais que o tempo, fornece os marcadores significativos e as qualidades ideais são situadas simbolicamente" (SAMUEL, 1997:43).

Identificamos nesse contexto, a importância da memória coletiva (Halbwachs:1990) como detentora de importante papel ao determinar o conteúdo da memória social, onde cada indivíduo elabora, expressa-se e utiliza-se dos instrumentos de comunicação convencionados pela sociedade como, por exemplo, a linguagem falada. Este é um instrumento socializador da memória, ao reduzir, unificar e levar para o mesmo "espaço histórico e cultural a imagem do sonho, a imagem lembrada e as imagens da vigília atual" (BOSI, 1979:18).

Acreditamos que cada indivíduo possua através da consciência histórica e, por conseqüência, da consciência coletiva, a superação da visão nostálgica ou submissa ao passado. Percebemos nele processos e forças exteriores a si próprio: um ser ao mesmo tempo sujeito e objeto de mudança.Assim, encontramos nos depoimentos orais, vários elementos que foram transmitidos pelos sujeitos, incluindo suas percepções, significações, idéias e lembranças.

As falas dos sujeitos que foram selecionados para oralidade primam pelo seu tempo de vivência e convivência com a região estudada. Podemos, inclusive, dizer que esses sujeitos são os "guardiões da memória", como Le Goff (1999) interpreta, dada a significativa reconstrução da paisagem que os mesmos se propõem a relatar.

Buscamos respeitar a memória por eles descrita, já que estes apresentaram no interior de suas falas, a capacidade de evocar imagens, experiências e conhecimentos, tornando com isso, estes elementos presentes como recordações; sendo estas a chave, para que as muitas portas da memória desses sujeitos fossem abertas, apresentando-nos diferentes paisagens.

Sabemos agora, que ao usarmos o método da oralidade, encontramos um encadeamento de fatos que foram traduzidos pela memória, a qual é seletiva. Pois, nem tudo por ela registrado pode ser induzido e forjado. Acreditamos que isto ocorra, devido à plasticidade adequada a diversos processos de "modelagem", oriundos de uma intensa gama de interesses e agentes, onde as interpretações do passado dependem do contexto atual. A reinterpretação do passado passa muitas vezes, pelas lentes do tempo presente, pois recriando-o, mesmo que inconscientemente, buscamos quando necessário, reproduzir um significado aceitável para o presente.

Neste contexto, detectamos que a paisagem materializa-se, servindo como referência imediata à memória coletiva; de certa forma, esta constitui-se numa espacialização da memória, categoria fundamental no desenvolvimento de nossa investigação, uma vez que todo fato, evento e acontecimento ligam-se de forma indissolúvel ao lugar onde o mesmo ocorreu, bem como o funcionamento da paisagem, relembrando Berque (1998): marca e matriz.

As falas de nossos "guardiões da memória" trouxeram-nos certezas sobre alguns questionamentos. Inclusive, concordamos com Portelli (1997:27) ao dizer que "as fontes orais dão-nos informações sobre o povo iletrado ou grupos sociais cuja história escrita é ou falha ou distorcida". Assim, através da análise dos relatos orais foi possível entender como os sujeitos olhavam / olham para essa paisagem, como o ontem e o hoje são expressos em suas narrativas, demonstrando em seu discurso, inclusive, traços de racionalidade e sensibilidade que motivam a existência de formas, hábitos, cores, vidas etc.

Distribuímos nossa análise, num primeiro momento, sobre as interpretações dos depoimentos orais. Em seguida, verificamos que estes apresentavam vários registros mencionando os ícones da paisagem. Decidimos, então, estruturá-los, com base na significância que o discurso dos sujeitos lhes atribuíam.

O conjunto dos relatos foram dimensionados por meio de várias imagens. Estas acabaram por comprovar a existência de tais ícones na paisagem do passado e presente. Pois entendemos que a "imagem daquele que se lembra, assim como um bom relatório arqueológico deve não apenas indicar as camadas das quais se originam seus achados, mas também, antes de tudo, aquelas outras que foram atravessadas anteriormente" (BENJAMIN, 1995:240).
 

O Brilho das antigas Imagens

Em sua maioria, os bairros estudados, foram banhados no passado, pelas águas da Baía de Guanabara, o que permitia maior facilidade no recebimento da matéria-prima e o escoamento da produção. Nessa época, o lugar ainda era preenchido por algumas fazendas em declínio.

Foi com a urbanização da Guanabara(1) (Distrito Federal) e a posterior implantação (em 1930) de estratégias de proteção fabril, como financiamentos e isenção de impostos, criados pelo Estado, que a região urbanizou-se significativamente. Esta incorporou toda uma organização sócio-espacial, criando uma nova paisagem para o lugar.

Em nossos bairros, as imagens dos antigos objetos fabris, visíveis ainda hoje, nos remetem imaginariamente a uma paisagem onde, no passado, havia toda uma vida social configurada. O tempo, de forma surpreendente, deixa que apenas alguns dias em nossas vidas tomem forma e significação. Temos pistas sobre experiências que se apresentam aos nossos olhos, reproduzidas por palavras ou imagens que tentam ser detalhadas e fixadas.

As fábricas eram muitas, com variedade na produção (fósforos, vidros, naval, tecidos, alimentos etc.) e preenchiam grandes áreas. Muitos eram os seus operários. Alguns residiam nas vilas operárias dessas fábricas, outros em loteamentos que foram surgindo nas proximidades da estrada de ferro e dos trilhos dos bondes.

A Cia. Fluminense de Manufatura (Tecidos), por exemplo, localizada no Barreto, produzia em larga escala. Com seu apito, informava os horários de entrada, almoço e saída. Ao longe era possível escutá-lo, conforme percebemos nos depoimentos orais.

A fábrica era grande. Tinha pra mais de 3.000 funcionários. Era uma multidão de gente. Eles trabalhavam divididos em turnos. Saíam e entravam, às 4 horas, depois às 15 horas... Era trabalhador entrando e saindo o tempo todo, o dia todo. ...você via de manhã os operários descendo de bonde ou pela rua Dr. March a pé. (...) os apitos das fábricas davam, pra nós, o sentimento de hora, vamos dizer assim...

Podemos perceber que o sentido de lugar e a experiência da paisagem são nitidamente temporais, constituídos de lembranças. Neste ambiente impregnado de sensações, mostra em quais pontos as relações com o meio são modeladas pelas coletividades às quais pertencem (CLAVAL, 1999).

...Para o trabalhador o prazer de ficar quieto é esgotante. (...) Mas, se, por acaso, o som ou o apito agudo de uma fábrica (...) atinge o seu ouvido; (...) logo sua fronte se ilumina. (...) A fumaça das altas chaminés da fábrica, os golpes retumbantes da bigorna a fazem vibrar de alegria. Lembra os dias felizes de trabalho... (BENJAMIN, 1989:36).

Nessa atmosfera fabril, podemos sentir imaginariamente os sons e os cheiros (aromáticos ou nauseantes) que exalaram no passado.Consequentemente, esse espaço preenchido pela atividade industrial também deu lugar ao comércio, com ruas que detinham muito movimento todo o dia, um ir e vir constante e freqüente. A rua era marcada pela velocidade do pedestre (SENNET:1993). Sujeitos a povoam para ver os seus diferentes cenários: uniformes e atraentes, com cores e luzes (LEFEBVRE, 1999).

... o comércio do Barreto era espetacular. A Ilha do Viana(2) descarregava mais ou menos uns 3.000 trabalhadores. Tinha os funcionários da Fiat Lux(3) e o pessoal da tecido. Em Neves, tanto do lado direito como do esquerdo tinha muito comércio. Havia botequins, farmácias, armazéns de secos e molhados, feijão em saca. (...) Neves tinha tudo, sem precisar ir para Niterói. ...o comércio era todo garantido pelos portugueses que vinham imigrados...

Os imigrantes estrangeiros chegavam ao País e eram levados para a Hospedaria de Imigrantes, na Ilha das Flores (Baía de Guanabara), em frente ao bairro de Neves, onde eram tratados das muitas enfermidades contraídas durante a viagem do país de origem para o Brasil. Posteriormente, eram encaminhados aos diversos centros de atividades do País. Alguns partiam rumo ao interior, outros mantinham-se nos bairros industriais, formando futuras colônias, como no bairro de Porto Velho e imediações, que possuem grandes contingentes de portugueses.

Muitos dos imigrantes, quando dispunham de autorização, saíam da Ilha das Flores pelo porto do Bote, chegando ao porto de Neves. Por várias vezes, eles foram vistos por nossos entrevistados na paisagem urbana.

...A Ilha era guardada por fuzileiros navais. (...)Os imigrantes vinham, às vezes, comprar em Neves, quando estavam em quarentena, aguardando os documentos e esperando o lugar de seu destino. Eles vinham de barco até Neves. Lembro que causava muita estranheza o tipo físico dos imigrantes. As moças estrangeiras usavam saias mais curtas que as nossas. Os homens, sempre de paletó. Eram europeus, não sei de que país. Eram muito brancos. Sei que, depois, iam para as colônias, em outros lugares, pela Leopoldina(4).

Neste contexto, percebemos que o trem reveste-se de importante significado material e simbólico, seja por sua funcionalidade, como meio de transporte de cargas ou passageiros ou ainda por sua importante visibilidade.

O trem vinha do interior e descarregava as mercadorias na Estação do Barreto (Niterói). Era assim, tudo que eles plantavam, traziam da roça pra vender aqui. Traziam de tudo: verduras, legumes... Saltavam também passageiros ali.... O chique mesmo era tomar o trem e ir para fora, pela estação da Feliciano Sodré. Todo mundo andava bem arrumado. Famílias inteiras. (...) O trem era um espetáculo. (...) Quando chegava na cidade ia fazendo seu checo, checo, checo.... (...)Era uma beleza ouvir o trem apitando quando chegava na cidade. Até aqui no Barreto ele apitava.

Em Paula (2000:65 apud Costa, 1994:116), encontramos a descrição das estações ferroviárias como "espaço social de poderoso poder de atração por significar o novo ligado ao sentido de desenvolvimento e porque as pessoas aí encontravam um local adequado às inspirações mundanas, ou de lazer, além de uma visualidade nova".

As estações estavam localizadas às margens dos núcleos de produção, facilitando o desempenho do conjunto fabril. Toda a efervescência da dinâmica dessa paisagem, foi ilustrada nos relatos orais.

...as pessoas, na maior parte, saltavam em Neves ou Barreto. Tudo naquela área era indústria, né. Saltavam ali na Vidreira, no Porto Velho,(...) ali a gente ia pra dentro do Gradim, pra fábrica de sardinha Piracema. Ia tudo a pé...

O bonde teve uma vida urbana útil e agradável para os seus usuários; inclusive, os nossos entrevistados, por muitas vezes, reportaram-se a este ícone da paisagem.

...Nele viajava todo mundo. (...) eu gostava de andar de bonde, era fresquinho, todo aberto. Na praça do Barreto tinha uma parada de bonde coberta e, em baixo, dois bares pequenos.

... Eu entrava no bonde e não parava de ler a frase (...) de propaganda: "Veja, ilustre passageiro, que belo tipo faceiro que o senhor tem ao seu lado. No entanto, acredite, quase morreu de bronquite. Salvou-se com Ron Crosatar".

Os anúncios presentes nos bondes expressavam claramente o nível de desenvolvimento técnico e urbano da realidade na qual eles estavam inseridos. Tais anúncios tinham funções diversas: informativas, ilustrativas. No entanto, esses anúncios eram muito mais uma "ferramenta analítica que pode expressar os valores materiais e culturais de uma sociedade determinada" (SANT'ANNA, 1997:90).

Como o lugar era composto por muitas vilas, era comum observar seus operários sob forte laço de solidariedade e sociabilidade. Quando reunidos, faziam o lazer coletivo em várias épocas do ano e nos muitos espaços dos bairros.

Nas praças, principalmente a Enéas de Castro, no Barreto, era comum o ponto de encontro dos moradores locais e de outros lugares, além daqueles que permaneciam por ali, após o horário de trabalho, freqüentando os bares, restaurantes, quiosques, que circundavam a área.

...A praça era muito bonita, tinha muitas árvores, (...) um chafariz, um coreto. No Carnaval, uma banda tocava para as pessoas dançarem. (...) O melhor carnaval de Niterói era o do Barreto. Os filhos saíam fantasiados. Era tudo família. Era muita alegria. A praça ficava cheia. ...havia aquilo assim, as moças passeavam pela rua. Iam e voltavam. Os rapazes ficavam em pé na beira da calçada, olhando as moças passeando e dali, às vezes, saía um namoro ou então, saía um casamento...

As praias do Barreto e Paiva (Neves), então com águas claras, limpas e mansas (até aproximadamente a década de 1960), atraíam a população para o banho de mar, piqueniques, campeonatos náuticos e outros eventos.

...A praia que eu conheci era muito limpa. Não tinha muitas ondas, (...) você podia ficar à vontade, não era perigosa. ...A praia do Barreto não tinha muita areia, mas era bem movimentada. (...) Nós sempre íamos lá, com as meninas, quando elas eram pequenas. Tinha um tipo de cais de pedras. Ele gostava de pescar lá....Ir à praia no final de semana era um bom programa pra quem tinha poucas condições de sobrevivência. ...Eu cheguei a tomar banho no Paiva. Quando a maré estava cheia você podia tomar banho, quando tava rasa, não. Não era "aquela" praia, mas dava para você tomar banho ali.

As crianças brincavam na frente de suas casas e nas áreas livres era comum, aos domingos, o encontro de moradores nas peladas de futebol. O ponto máximo das festas públicas era ao ar livre, especialmente em Neves. Aos domingos havia os shows de calouros, com os artistas do rádio.

...Havia muitos terrenos baldios, (...) nestes campos do Vila Lage.(...) Assistia aos shows na praça, porque não tinha outra diversão, além do cinema e era mais barato. Tinha muito parque também. (...) Neves dificilmente ficava sem um parque..

Em outras épocas do ano, predominavam as festas religiosas, juninas, além das procissões dos santos padroeiros. Esses festejos iluminavam a paisagem dos bairros fabris, com muitos balões e fogos de artifícios. Inclusive, toda a comunidade participava da organização desses eventos.

...Tinha muita quadrilha. O pessoal ainda usava aquelas roupas longas. (...) Nas fogueiras se assava muita batata doce. (...) Tinha muito melado. Era uma festa que todos podiam ficar até a meia-noite, uma hora da manhã, que não havia assaltos. Era tudo família...

Havia uma prática comum entre as fábricas: patrocinar os festejos do 1º de maio para os seus funcionários e demais dependentes.

...os festejos iniciavam às 7 horas e só terminavam às 24 horas. Não faltavam os fogos de artifícios, os balões, a fogueira, a banda de música e a farta distribuição de guloseimas aos operários e respectivas famílias.(FARIA, 1990:50)

Qual seria o olhar dos operários para a festa? Seria de encantamento, surpresa ou mesmo de decepção? Percebemos que havia certo contentamento na referida comemoração. O céu noturno deveria ter muita luz e brilho com os balões e os fogos, que eram soltos no festejo. Somente com a imaginação desse espaço desenhado, podemos sentir e perceber as emoções, tornando-as presentes, com formas, cores e movimentos expressivos naquela paisagem. Pois, a

...imagem, o imaginário parecem mergulhar no fluxo temporal e prolongá-lo; no entanto, a essência do imaginário situa-se, talvez na evocação, na ressurreição do passado, ou seja, numa repetição. Isso aproximaria a imagem da lembrança e o imaginário da memória...(LEFEBVRE, 1991:24-5)

Eram muitos os clubes esportivos ou fabris que nasciam patrocinados pelas fábricas ou sindicatos. Neste espaço, a comunidade reunia-se para os bailes com famosas orquestras, nos fins de semana e ao longo do ano. Havia também festejos carnavalescos, juninos, além de vários campeonatos esportivos e outros eventos.

Não podemos afirmar que no passado, essa paisagem teve em algum momento, beleza visível. Entretanto, os vários relatos orais que analisamos nos fazem pensar quão bom era o tempo passado, ali vivido. Temos conhecimento de problemas crônicos, como: enchentes em certas ruas dos bairros e várias lutas sindicais por melhorias trabalhistas, que durante anos movimentaram as imagens das ruas do lugar. Somando-se a isto havia também, uma forte repressão que a massa operariada (marítimos, navais, metalúrgicos, ferroviários e outros) sofreu ao longo dos anos.

...Na rua Benjamin Constant tinha o Sindicato dos Marítimos. Aquilo ali fervia. O sindicato promovia todas as greves. Quando o sindicato dos Marítimos promovia uma greve, era parada geral na nação. Outras classes de trabalhadores aderiam. Hoje tá parado. Naquele tempo era forte. Depois de 1964, muita gente foi presa, o exército tomou conta...
 

Teorizando o Declínio Fabril

De 1950 a 1970, passando pelo Plano de Metas(5), temos a transferência da capital Federal para Brasília e a criação do Estado da Guanabara (1960). Entrando no regime autoritário, em 1964, o Estado estabelece metas, de acordo com os "interesses de grupos hegemônicos e dos grandes proprietários de terra. Essa fase de autoritarismo permitiu a intervenção direta do poder estatal na rede urbana fluminense, com a fusão(6) dos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro" (Limonad, 1996:138).

Naquela época, o processo de fusão entre os Estados foi, em tese, a única solução para os problemas sócio-econômicos desses estados. Este assunto assumiria um caráter geopolítico, fortalecendo a idéia de ocupar o vácuo urbano e industrial do território nacional, forjando uma unidade federativa capaz, ao lado de São Paulo e Minas Gerais, de constituir uma malha política e econômica que cobriria a área de maior densidade populacional do País.

Os bairros fabris, juntamente com outras áreas do antigo Estado do Rio de Janeiro, iniciaram um processo de esvaziamento industrial, nas décadas de 1960 e 1970, isto ocasionado, em linhas gerais, pelo distanciamento da matéria-prima, altos custos energéticos e de transportes. Por muitas vezes, fábricas foram incorporadas por suas concorrentes que, após a compra, procediam ao seu fechamento (fábrica de Bebidas Ron Merino, comprada pela Cinzano - São Paulo). Tudo isto, associado a um modelo industrial arcaico e também à política econômica das oligarquias locais, que não ofereciam incentivos fiscais para manutenção dos referidos estabelecimentos ou implementavam políticas de consolidação do parque industrial.

Claro que os fatos acima estiveram associados ao novo regime pós-1964, que passou a exercer maior oposição aos movimentos sindicais, promovendo o esvaziamento fabril e, por conseqüência, dando fim às reuniões coletivas nas vilas operárias, que eram foco de oposição ao governo.

O 11º Batalhão de Polícia Militar - RJ tornou-se visível no início da década de 1970, em Neves, São Gonçalo. Ele foi construído para fortalecer a repressão política, que naquela época tornava-se implacável. O interessante hoje, é observar na paisagem a inexistência de tal Batalhão, verificando em seu lugar, apenas um laboratório farmacêutico da Polícia Militar.

Essa época foi marcada, de um lado, por um país com significativas mudanças políticas e estruturais no esquema produtivo e, de outro, por maior seletividade geográfica da produção industrial (Santos, 2001), influenciada por uma nova dinâmica dos sistemas de transportes.

O novo Estado do Rio de Janeiro apresentava-se com "baixa conectividade, o que resultava em uma integração precária tanto entre a cidade do Rio de Janeiro e o interior" (Limonad, 1996, p.145), reforçando ainda mais os desequilíbrios na estrutura industrial.

Como que para minimizar as deficiências viárias estruturais, ainda em 1967, inauguraram a Avenida do Contorno, possibilitando mais um acesso viário ao município de São Gonçalo. Esta Avenida inicia-se na altura do Porto de Niterói e contorna a orla marítima até o bairro do Barreto. Para sua construção, foram feitos aterros, desmontes de morros e criados viadutos. Vários portos livres de atracação no litoral desapareceram, como também empresas comerciais e industriais.

O projeto da Avenida do Contorno fora executado anteriormente como parte de um projeto maior que, posteriormente, seria unido à implantação da Ponte Rio-Niterói (1974) e, na década de 80, à rodovia Niterói-Manilha (BR101- N).

A Avenida do Contorno alterou bastante a paisagem na orla marítima, no sentido Zona Norte de Niterói, bem com a construção da Ponte Presidente Costa e Silva, que também modificou acentuadamente as imagens no bairro de Santana, onde vários aterramentos e desmontes de prédios residenciais, comerciais e industriais foram providenciados, para que os viadutos de acesso à ponte fossem construídos. Os viadutos se integraram às seguintes Avenidas: do Contorno, Jansen de Mello, Alameda São Boaventura e Feliciano Sodré. Construíram, também, outros viadutos, para manter normalmente o fluxo viário entre os bairros da Zona Norte ao centro da cidade de Niterói.

No início da construção da Ponte (Presidente Costa e Silva), em 1968, a mão-de-obra usada era a local. Com o passar dos anos, eram visíveis corpos cobertos por lençóis brancos, todas as tardes, com velas acesas ao lado, indicando que mais um trabalhador perdera sua vida na construção da grande e monumental obra Federal. Podemos afirmar estes acontecimentos pois, empiricamente, visualizamos tal situação e esta ficou guardada em nossa memória. Por vezes, também, tomamos conhecimento de um ou outro órfão da ponte. Entretanto, tal assunto foi pouco divulgado pela imprensa da época. Hoje, percebemos que raros são os que sabem sobre este acontecimento. A maioria da população reconhece e conhece apenas a história majestosa e oficial dos fatos relativos aos empréstimos, tempo de duração, materiais e equipamentos utilizados na construção da citada Ponte. Nós preferimos, aqui, deixar registrado o fato a-Histórico, como diria Walter Benjamin, para torná-lo visível, e não mais esquecido. Pois, reconhecemos que a memória é um instrumento de poder, no que Le Goff (1996:13) reforça tal impressão, "tornar-se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas".

Com o grande número de operários locais mortos e muitos outros recusando-se ao emprego, na obra da ponte, não restou outra alternativa às empreiteiras: foram buscar no interior da região Nordeste os operários substitutos que, desejosos por melhores dias, vinham como cordeiros para o abate. Aqueles que sobreviveram aos anos de trabalho arriscado naquela obra, passaram a fazer parte das estatísticas de ampliação do número da população urbana, que buscam todos os dias, com muita coragem, romper com a "sorte" que os guiou. Eles estão na luta pelos bens necessários à vida, seja por moradia, seja por vestuário, seja por alimentação e cidadania. Concentram-se nas periferias das duas cidades (Niterói e São Gonçalo), em locais onde as condições de vida são bastante insalubres. Poucos ascenderam socialmente. Seus filhos, num número reduzido, conseguiram escolarização e profissão.

Não poderíamos deixar de mencionar que a dinâmica das cidades como Niterói e São Gonçalo sofreu alterações consideráveis após a inauguração da Ponte. Estas cidades tiveram momentos distintos antes, durante e principalmente depois da referida construção. A Ponte trouxe modificações visíveis e invisíveis na organização urbana e social destas cidades e de outras tantas, próximas, que passaram a ser influenciadas pela racionalidade da capital do novo Estado.

Os projetos rodoviários continuaram e seguiram a lógica reinante, cuja meta era a integração do País. Assim, o trecho da BR-101N (Niterói-Manilha) teve suas obras iniciadas em 1974. Foram necessárias construções de pontes, aterros, cortes de falésias, desapropriações de imóveis e dragagens intensas para criação da base estrutural da estrada. Anteriormente a esses fatos, o desmatamento de grandes áreas de manguezais principiou o início das obras e a degradação do ecossistema foi uma resultante. Inclusive, as praias já mencionadas desapareceram com tal obra.

O bairro do Gradim, por exemplo, contou com uma forte indústria pesqueira e um frondoso manguezal, no passado. Para construção da BR-101N (Niterói-Manilha), este bairro teve sua área dividida em duas partes. Nelas, as ruas foram separadas, famílias distanciaram-se umas das outras, dado o corte acentuado no relevo, para passagem da mencionada rodovia. Parte da faixa de mangue passou por aterros, inibindo a pesca artesanal do caranguejo, que já ressentia-se com a elevada concentração de poluentes na Baía de Guanabara. Um de nossos depoentes detalhou os fatos sobre tal epsódio:

...nascido e criado ali, dependendo da pesca pra sobreviver. Criou os filhos e depois teve que sair! (...) as casas ficavam justamente onde a estrada tinha que passar. Teve muita briga e a indenização foi pouca. (...) era lei, tinha que sair mesmo. (...) foram morar lá pra dentro de Itaúna (São Gonçalo), onde conseguiram uma casa mais barata.

Antigamente, o mar quase encostava no antigo prédio da Estrada de Ferro Maricá (Leopoldina). Havia ali uma enseada, formada por manguezais, que ia da fábrica de fósforos Fiat Lux ao Porto de Neves, no bairro de Neves. Logo que a construção da Niterói-Manilha teve início, a paisagem dessa enseada passou por modificações, vários aterros se sucederam, entre eles o vazadouro de lixo da cidade de São Gonçalo, contribuindo nesse processo. À medida em que as obras da rodovia foram terminando, os aterros alcançaram suas margens. Assim, o bairro de Neves ganhou alguns quilômetros quadrados e, nesse novo espaço, uma paisagem humanizada ocupou o lugar. Surgiram, por intervenções públicas, duas escolas (municipal e estadual), posto de saúde (municipal), ruas, além de uma igreja católica (Paróquia de Nossa Senhora das Neves). Encontramos, ainda hoje, nas áreas aterradas, partes sem qualquer uso do solo.

Como tudo na vida é envolto por objetivos políticos e/ou econômicos - visível ou invisível - a rodovia, em linhas gerais, fora inaugurada em 1982 para, em tese, reduzir os congestionamentos nos fins de semana, na Alameda São Boaventura (Fonseca - Niterói) e no trevo da Patrulha Rodoviária, em Tribobó (São Gonçalo), no caminho para a região dos Lagos. Entretanto, as rodovias federais como a Niterói-Manilha (BR-101N) são testemunhas do peso dos fluxos numa área de alta divisão do trabalho e de comando das atividades regionais e nacionais (SANTOS:2001).

Após a inauguração da BR-101N, em 1982, os bairros pesquisados declinaram ainda mais nas atividades industriais e sociais, sendo que, nesse momento, o declínio apresentava-se de forma mais visível. Principalmente pela crise na indústria naval, que fez dos muitos estaleiros da Avenida do Contorno verdadeiros cemitérios de navios. Além deles, outras fábricas se foram e deixaram órfãos os seus operários e o movimento nos bairros. Aquela paisagem, anteriormente movimentada, passava por um período de pausa, onde apenas os objetos fragmentados eram percebidos, agora com maior clareza.
 

As Novas Paisagens

A década de 1990 representa um período em que novas imagens passam a ser anexadas a esse espaço urbano. Tal mudança implica o retorno das atividades econômicas nesses bairros. Entretanto, tais mudanças representam o novo, que vem sendo acrescido a essa paisagem com sutileza e relativa lentidão.

No entanto, as ruínas fabris, que continham a visibilidade de um período fluente e efervescente do lugar, vêm sendo postas abaixo. Tal fato vem sendo observado pelo olhar atento do pesquisador e por outros sujeitos, que de forma direta ou indireta estão inseridos nesse movimento.

Por isto, Leite (2001, p.434) afirma que "as formas da paisagem não correspondem, portanto, à idéia de finalização, mas a uma idéia de transformação. Mais ainda, estão, necessariamente, impregnadas de conteúdo existencial, são formas de identidade e de memória. As formas da paisagem refletem (...) as categorias estáticas de estar, existir, permitir; (...) e a ação como causa e conseqüência da espacialização, isto é, privilegia a idéia de mobilidade, criatividade, participação."

Em 26/10/92, a rede Carrefour do Brasil inaugurou a sua 4ª loja no Estado do Rio de Janeiro, precisamente em Neves, São Gonçalo. Seria este o início da chegada de novos objetos à região estudada. A referida loja foi construída em tempo recorde e foram investidos 15 milhões de dólares. Derrubaram por completo o prédio principal, chaminé e o bosque da quase centenária fábrica de Fósforos Fiat Lux, para dar lugar ao novo hipermercado e o seu estacionamento, com capacidade para 1.430 vagas. O referido empreendimento construiu acesso pela rodovia Niterói-Manilha (BR101-N), facilitando a chegada dos que partissem da cidade do Rio de Janeiro ou Niterói para a região dos Lagos e outras cidades do norte do Estado.

Opiniões dividiram-se quanto ao hipermercado:

...há os que acham que o Carrefour levará os pequenos comerciantes regionais ao colapso. (...) As redes de lojas primam pela qualidade, amplas lojas, com número reduzido de funcionários, por causa dos encargos sociais... (...) outros consideravam a concorrência estimulante para os negócios...(Jornal O Fluminense de 01 a 07 de novembro de 1992 - 3º Caderno - p. 5)

O hipermercado Carrefour, controlado pelo grupo francês Comptoirs Modernes, possui placas sígnicas, que podem ser identificadas à longa distância na paisagem das estradas em que estão expostas, além do forte poder publicitário que envolve a imagem desse Supermercado.

Entretanto, à medida que o hipermercado se popularizava, os pequenos comércios (quitandas, mini-mercados, açougues etc.) foram desaparecendo. Estes, perdiam na concorrência e nos vários benefícios estatais que a empresa global recebera para sua implantação e fixação no local. O hipermercado tornava-se mais atraente ao lugar e aos passantes pela Niterói-Manilha. Já os antigos objetos comerciais não suportaram a concorrência e muitos acabaram fechando, deixando vazios visíveis na paisagem. Esta observação também foi ilustrada em alguns depoimentos orais:

...O Carrefour é muito utilizado por gente de fora, que entra e sai pela rodovia Niterói-Manilha. Ele não traz vida ao bairro.

...Para vender as coisas lá na quitanda ainda existe o caderninho. Anotamos o que o freguês compra e no final do mês ele vem e paga a gente. Se não for assim, não dá nem para vender.

...O comércio hoje não suporta muito tempo, logo fecha.

Outro exemplo de benefícios que o novo hipermercado recebera, logo após sua chegada, foram linhas e pontos de ônibus, bem como os de táxis, colocados à saída do estabelecimento, pela rua Oliveira Botelho. Toda uma "maquiagem" (novo asfalto, placas de sinalização e calçadas) no trecho do hipermercado foi promovida pelo poder público. O lugar começava uma mudança paisagística, compondo com aquele objeto global. Isto seria refletido nos anos posteriores, com a chegada de outros objetos, que se somariam àquela aparência e significação no espaço.

Os imóveis localizados em frente ao hipermercado, foram cooptados para recompor suas imagens. Novos conteúdos foram anexados às antigas formas, as quais desapareceram, surgindo uma nova visibilidade, compatível esteticamente com a empresa global. Assim, consultórios médicos e odontológicos criaram seus espaços, não concorrendo com o hipermercado, mas aproveitando-se de sua visibilidade, freqüência e centralidade para se estabelecerem.
 

Para Refletir

Esta nova visibilidade fria, não gera laços de pertencimentos com a população local. Destina-se a reformar / disciplinar, num intenso processo de banalização do mundo da mercadoria. Chegaram os objetos globais, os grandes hipermercados, que apenas fortalecem o declínio dos pequenos comércios locais.

As vilas operárias estão dando lugar aos conjuntos residenciais de vários andares, cujos apartamentos possuem varandas e outros detalhes estéticos de significativa visibilidade. Estes objetos seguem os padrões arquitetônicos de outros lugares, diferenciando-se da paisagem local, onde ainda predominam as construções de um ou dois andares no máximo.

Cada novo objeto terá sua própria significação, sua marca, enquanto que os objetos antigos, muitas vezes já arruinados, não serão restaurados, servindo apenas como entulho. Uma vez destruídos, eles passam a criar novos espaços já que, com a remoção, trabalha-se de ânimo novo, pouco importando o que virá substituí-lo. Esse processo de "caráter destrutivo não vê nada de duradouro. Mas eis precisamente por que vê caminhos por toda parte. Onde outros esbarram em muros ou montanhas, também aí ele vê um caminho. (...) O que existe ele converte em ruínas, não por causa das ruínas, mas por causa do caminho que passa através dela" (Benjamin, 1995:237).

Os mais jovens desconhecem os vários objetos e sujeitos que preencheram a paisagem do lugar no passado. Já os mais antigos retêm uma identificação espontânea com as coisas desse lugar, suas virtudes, que, mesmo que memorialisticamente, são realçadas "como um imã" (Santos, 1996, p. 201). Com o desaparecimento dos vários objetos, vemos que a atual população, nesse contexto, torna-se ausente, desprendida, desterritorializada de suas origens. Percebemos, então, que as referências da vida econômica e social passam por outros lugares distantes do seu cotidiano, resultando em "redes sociais que percorrem tanto fios como estradas. Desse modo, seu senso de identidade com a comunidade (ou comunidades) é muitas vezes obtido à distância, é imaginado" (Anderson, apud Trift, 1996, p. 241).

Assim, acreditamos que os olhos e olhares não são instrumentos neutros. Pelo contrário, eles participam ativamente das experiências e atendem plenamente às concepções estéticas dos lugares. Como afirma Claval (1999, p.93 apud Cosgrove, 1984), quando cita que "na Inglaterra, Denis Cosgrove aprendeu a ler, por detrás das pretensões atribuídas à paisagem, a vontade dos senhores de nela mostrar o seu poder, mas também de domesticá-la para torná-la suportável para todos".
 

Notas

(1) Capital do Brasil até 1960.

(2) A "Costeira" era um estaleiro (indústria naval), localizado na Ilha do Viana (Baía de Guanabara - Rio de Janeiro).

(3) "A Fiat Lux foi uma das fábricas que muito se expandiu e fortaleceu-se, inclusive pela entrada de capital estrangeiro, que sobreviveu a diversas crises. Crescendo sempre, foi adquirindo várias indústrias menores, do mesmo ramo, locais (também a Cia. Brasileira de Phosphoros, da família Hime) e outras em outros estados". (WEHRS, 1989:118)

(4) A Estrada de ferro The Leopoldina Railway ligava a cidade de Niterói ao interior do Estado do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo.

(5) Plano de medidas econômicas.

(6) Através da Lei complementar n° 20, de 1° de julho de 1974, estabeleceu-se a fusão dos Estados do Rio de Janeiro e da Guanabara que, pelo artigo 8° , constituiu um único Estado, sob a denominação de Estado do Rio de Janeiro, a partir de 15 de março de 1975.
 

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Ficha bibliográfica

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