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Scripta Nova
REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98
Vol. VI, núm. 119 (81), 1 de agosto de 2002

EL TRABAJO

Número extraordinario dedicado al IV Coloquio Internacional de Geocrítica (Actas del Coloquio)
 

RELAÇÕES DE TRABALHO NA AGRICULTURA MECANIZADA: A MONOCULTURA DA SOJA EM GOIÁS

Dinalva Donizete Ribeiro
Marcelo Rodrigues Mendonça
Antônio Nivaldo Hespanhol


Relações de trabalho na agricultura mecanizada: a monocultura da soja em Goiás (Resumo)

A dinâmica da economia e a divisão internacional do trabalho estimularam o segmento empresarial aplicado `a agricultura, objetivando maior participação dos produtos agrícolas brasileiros no mercado internacional, bem como a implantação e desenvolvimento do capital industrial no Brasil. Este processo alterou as relações sociais de produção, reduzindo o trabalho no campo a partir da utilização de tecnologias destinadas ao aumento da produtividade da terra e do trabalho. A nova dinâmica de acumulação do capital promoveu especializações regionais, pois o capital não homogeiniza os espaços, desenvolve-se contraditoriamente provocando geografizações diversas. A monocultura da soja no Estado de Goiás é uma caracterização geográfica e social local do processo de mecanização das atividades agrícolas. O cultivo das grandes lavouras, resulta em super safras; por outro lado altera as relações de trabalho no campo.

Palavras chave: divisão territorial do trabalho, trabalho rural, agricultura mecanizada, monocultura


Working relationships in mechanized agriculture : the soy bean monoculture in Goiás (Abstract)

The dynamics of the economy and the international division of the work stimulated a group of busisnesspeople to invest in agriculture, aiming to increase the performance of brazilian commodities in foreign markets, and to enhance the development of an industrial financial support in Brazil. This process changed social production relations, downsizing working positions in as an immediate result of the large use of high tech ways to improve its production. The newest financial suppliers promoted regional needs due to the fact that the financial capital does not homogeneize its lands, developing contradictory geographical effects. The process which envolves the monocultural soy bean plantation in Goiás lays on the geographical and social details of the particular agricultural mechanization in the state. Large plantations whose object result in even largest harvests, which in the end transform country working and social relationships.

Key words: territorial division of work, rural work, mechanized agriculture, monoculture


A expansão das lavouras de soja no Estado de Goiás, a partir dos anos 1970, resultou, por um lado, numa elevada concentração fundiária e, por outro, na redução do número de postos de trabalho no campo. A produção de soja no Estado de Goiás, bem como em toda a zona sojicultora do cerrado brasileiro é realizada, principalmente, em médias e grandes explorações com utilização intensa de máquinas e insumos químicos o que reduz a necessidade da incorporação do trabalho vivo ao processo produtivo. Com isso, os pequenos produtores rurais, proprietários e não-proprietários, passaram a buscar alternativas de inserção no mercado de trabalho urbano, também bastante limitado, especialmente para os trabalhadores sem qualificação profissional como é o caso da grande maioria dos produtores rurais que foram obrigados a deixar o campo.

Neste texto, serão apontados e analisados os principais impactos causados pela mecanização da agricultura brasileira , bem como pela expansão da sojicultura no Estado de Goiás, sobre a estrutura fundiária e o emprego no campo, com ênfase nos problemas sociais gerados.

A década de 1950 no Brasil foi marcada, do ponto de vista econômico, pela macropolítica de conjugação da urbanização e industrialização, bem como pela integração e subordinação da economia ao mercado internacional.

A consolidação deste projeto contava com a contribuição do setor agropecuário, que desempenhou papel relevante neste processo. Cabia a este setor gerar "divisas" com exportações agrícolas para financiar a industrialização, substituindo as importações; liberar parte da mão-de-obra do campo para atender a demanda de força de trabalho das indústrias; e, regular os salários urbanos, por meio da oferta a baixo preço de produtos que compunham a cesta básica do trabalhador.

Para que tal projeto se desenvolvesse o Estado brasileiro assumiu o papel de condutor do desenvolvimento nacional, associando o setor agropecuário ao industrial, orientando medidas e políticas que visavam a planejar, executar e avaliar as mudanças implementadas.

O planejamento foi direcionado às mudanças demandadas pela estrutura econômica e atendia a um contexto sócio-econômico permeado por interesses diferentes que geravam divergências na execução das medidas. Gonçalves Neto (1997) afirma que é neste contexto que o Estado brasileiro procurará instaurar seu projeto modernizante para o setor agrícola e ainda que

o objetivo primordial é atrelar o setor ao processo de desenvolvimento econômico, não permitindo que ele possa obstar o crescimento da economia. Para este fim, recursos são canalizados, criam-se institutos de pesquisa e de assistência técnica, estabelece-se um sistema nacional de crédito rural e incentiva-se a utilização de técnicas e insumos modernos, o que propicia a integração da agricultura ao circuito industrial (Gonçalves Neto, 1997 p.145).

Este processo conduziu a adaptação da agricultura às necessidades do desenvolvimento econômico, permitindo que as relações sociais capitalistas adentrassem rumo ao setor agrícola brasileiro, o que resultou no desenvolvimento e sedimentação das relações capitalistas no campo por meio da instauração de suas relações técnicas e sociais de produção, ocupando novas áreas agricultáveis, aumentando a produção e atendendo às necessidades do mercado interno e, principalmente, externo. Dessa forma parece claro que o investimento de capitais na agricultura brasileira a partir da década de 1960 atendia a uma exigência do setor urbano-industrial brasileiro, que, por sua vez, respondia à demanda internacional de produtos agrícolas e agro-industriais, o que envolvia, no dizer de Belik (1998), o Estado e grupos de interesses organizados.

Szmrecsányi e Ramos (1997) apontam o vínculo entre as políticas agrícolas e a economia mundial afirmando que havia uma política deliberada de incentivos às exportações brasileiras centrada em bens processados, aprofundando, desta forma, a industrialização e que esta relaciona-se diretamente com a economia mundial.

Para Sorj (1986, p.69)

A inserção da agricultura dentro do modelo de desenvolvimento orientado pelo grande capital monopolista, que se afirma nesse período, se dará dentro das coordenadas gerais de expansão da produção agrícola para o mercado interno e externo, a fim de permitir a manutenção de baixos custos na reprodução da força de trabalho urbano e de aumentar o montante de divisa para que se mantenham as importações de insumos e maquinarias necessários para a expansão do parque industrial. A forma específica pela qual essas coordenadas se realizam na agricultura está determinada pelo padrão de acumulação industrial, centrado no desenvolvimento de um complexo agro-industrial liderado pelas grandes empresas estrangeiras e pela correlação de forças sociais no campo, totalmente favoráveis aos grandes proprietários

Na opinião de Delgado (1997) o que houve foi um "pacto agrário modernizante e conservador", que permitira a integração técnica da indústria com a agricultura, reafirmando as oligarquias rurais (latifundiários) e o capital comercial.

A articulação da agricultura e indústria, por meio dos incentivos creditícios destinados aos investimentos de capital no setor agrícola, teve no crédito agrícola, durante a década de 1970, o elemento principal.

As políticas agrícolas, principalmente o crédito rural, beneficiaram mais o setor industrial do que o setor agropecuário, propriamente dito. O financiamento dos grandes produtores e dos produtos de exportação aqueceu as indústrias de máquinas e outros bens de produção, sustentando, dessa forma, o desenvolvimento do setor industrial.

Analisando a tabela 1 verifica-se que a balança comercial brasileira foi amplamente favorecida pelo aumento do cultivo de produtos exportáveis. A agricultura contribuiu de maneira efetiva para o superávites do início dos anos de 1990. Sem as exportações agrícolas a balança comercial apresentaria índices negativos ou, no máximo, saldos muito baixos.
 
 

Tabela 1
Agricultura e comércio exterior no Brasil, 1961-63 a 1991-93
Economia brasileira (US$ 1000)
Triênio Importação Exportação Saldo
1961-63 
1971-73 
1981-83 
1991-93
1.474.000 
5.161.000 
20.649.667
24.613.667
1.341.000 
4.364.667 
21.789.000
35.396.000
-133.000 
-796.333 
1.139.333
10.782.333
Agricultura brasileira (US$ 1000)
Triênio Importação Exportação Saldo
1961-63 
1971-73 
1981-83 
1991-93
335.967 
942.677 
2.475.989
3.801.114
1.179.334 
3.138.175 
10.068.888
11.144.891
843.367 
2.195.498
7.592.899
7.343.777
Agricultura/ Economia (%)
Triênio Importação Exportação Saldo
1961-63 
1971-73 
1981-83 
1991-93
22,79 
18,27 
11,99 
15,44
87,94 
71,90 
46,21 
31,49
-976.367(1) 
-2.991.831(1)
-6.453.565(1)
3.438.557(1)
Saldo da balança comercial brasileira sem a agricultura .
Fonte: Baseado em FAO (Agrostat) Apud GONÇALVES (1999, P.270).

Percebe-se que a agricultura brasileira respondeu favoravelmente aos projetos implementados e aos incentivos concedidos ao setor. Houve um incremento tecnológico que, uma vez incorporado, propiciou o despontamento do Brasil entre os grandes produtores e exportadores mundiais de produtos agropecuários.
 

O incremento tecnológico e as relações sociais de produção e de trabalho no campo

Dependendo da visão do analista, o Brasil é apontado como o modelo a seguir ou como exemplo a se evitar, esta afirmação de Martine (1987 p.11) é representativa das duas possibilidades de análise que podem ser estabelecidas quanto à tecnificação das atividades no campo brasileiro.

A importação e incorporação do pacote tecnológico levou ao aumento da produção e da produtividade, permitiu a incorporação e exploração de novas áreas pelo mercado e deu destaque ao Brasil no ranking mundial de produção de grãos, principalmente de soja. No entanto, este fenômeno modernizante que transformou o cenário rural brasileiro a partir da década de 1970 apresenta uma outra face, que diz respeito aos reflexos deste incremento técnico nas relações sociais de produção e de trabalho no campo.

Para Martine (1987, p.11) ,

é impossível avaliar a tecnificação pela qual passou a agricultura no Brasil sem analisar também os seus resultados sociais em termos de questões como o acesso à terra, a evolução do emprego, a dimensão da migração, a produção e distribuição de alimentos, os efeitos dos agrotóxicos e a adequação do modelo tecnológico às condições sociais e ecológicas brasileiras.

Este olhar mais amplo sobre os resultados da modernização das atividades agrícolas permite ver além da geração de divisas a partir do aumento das exportações. Traz à luz da análise outras faces desta moeda. Neste contexto a maneira como os pequenos produtores e proprietários foram sendo excluídos do processo de produção do campo brasileiro e a conseqüente expropriação e proletarização deste trabalhador é um fenômeno que não pode ser desconsiderado, tampouco minimizado.

As políticas governamentais, especialmente o sistema de fornecimento de crédito e financiamento à produção agrícola privilegiaram os produtos destinados à exportação e as grandes propriedades onde poderiam ser aplicadas as inovações tecnológicas. Diante disso, percebe-se que houve uma marginalização das culturas para consumo interno e dos produtores que desenvolviam suas atividades em pequenas propriedades. A "modernização da agricultura" foi se revelando concentradora e seletiva.

No Brasil em 1970, os estabelecimentos agrícolas com áreas até 10 hectares representavam 51,1 por cento do total dos estabelecimentos, destes apenas 5,0 por cento obtiveram financiamentos oficiais, correspondendo a 5,5 por cento do valor total dos recursos disponíveis para os investimentos. Em 1975 este extrato de área representava 52,1 por cento do total dos estabelecimentos e em 1980 caiu para 50,6 por cento do mesmo total e destes 4,8 e 10,3 por cento, respectivamente, obtiveram financiamentos. Estes valores representam 3,2 e 4,4 por cento do valor total dos recursos disponíveis para financiamentos. Por outro lado os estabelecimentos que possuíam áreas com extensão entre 1.000 e menos de 10.000 hectares chegaram a retirar 20,3 por cento dos recursos em 1980, sendo que representavam apenas 0,9 por cento do total dos estabelecimentos agrícolas do país, de forma que a grande propriedade aparece como a principal beneficiada dos investimentos para o incremento tecnológico.

Graziano da Silva (s/d) apud Sorj (1986) sobre as exigências mínimas para a aquisição dos incentivos, aponta que

as exigências de garantias constituem-se no principal entrave; via de regra, são solicitadas a terra e a produção agrícola como garantias reais (hipoteca do imóvel e penhor agrícola) e o aval como garantia pessoal; em muitos casos, a hipoteca do imóvel é pré-requisito indispensável para a concessão de pequenos empréstimos para custeio da produção.

Dos parceiros e arrendatários é exigida a carta de anuência do proprietário, que é de difícil consecução, pois são os próprios proprietários da terra quem os financia, cobrando taxas de juros que vão de 24 por cento a 60 por cento ao ano, bem superiores, portanto, às taxas de juros bancários.

Nem sempre a época da liberação dos financiamentos e os prazos fixados para resgate são favoráveis aos pequenos agricultores. A excessiva burocracia que envolve as operações bancárias, em muitos casos obriga o agricultor a utilizar significativa parcela do financiamento para cobrir as inúmeras despesas de locomoção até a agência, acarretando perda de tempo e dinheiro, tornando, pois, desestimulante a utilização do crédito bancário.

As dificuldades para obtenção e utilização dos financiamentos junto às fontes institucionais de crédito rural levam o pequeno agricultor a recorrer ao proprietário, comerciantes e/ou atravessadores, para suprirem suas necessidades de custeio da produção e obrigando-o ao pagamento de taxas de juro extorsivos.

Com esta forma de destinação dos recursos creditícios houve uma reestruturação na pauta de produção, bem como na organização social da produção, de modo que o pequeno produtor, os posseiros, os meeiros e outras categorias de trabalhadores rurais que produziam para subsistência, com excedente, tiveram seus empregos no campo desestruturados.

Durante a década de 1970, 16 milhões de pessoas deixaram o campo em direção à cidade. O resultado foi um grande incremento populacional e o inchamento das cidades que, sem planejamento e infra-estrutura para absorver um fluxo migratório tão intenso, deixaram os novos habitantes em condições precárias de sobrevivência.

O trabalhador rural, que agora tem moradia urbana, se vê separado dos seus meios de produção e retorna ao campo como bóia-fria ou outras formas de trabalho temporário, incluindo as mulheres e as crianças nestas modalidades de trabalho para a complementação da renda

A remuneração do trabalho nas propriedades agropecuárias em 1958-59 representava 40,46 por centodo dispêndio total que se tinha com a propriedade, enquanto os gastos com máquinas, veículos e equipamentos eram de 10,81 por cento do total; em 1968-69 os custos com trabalho eram de 41,25 por cento e máquinas, veículos e equipamentos de 5,85 por cento; e em 1980-81 foram registrados investimentos de 23,51 por cento dos recursos financeiros em trabalho e 14,30 em máquinas, veículos e equipamentos (Martine e Garcia, 1987). Evidencia-se o aumento dos investimentos em tecnologias de produção que substituem a mão-de-obra ou diminuem seu valor no conjunto das atividades desenvolvidas

A problemática apresenta-se bastante imbricada e complexa, pois

atrelado a tecnologias destinadas a aumentar a produtividade de certas culturas e a uma estrutura social de produção liberadora de mão-de-obra, esse modelo divide o número de produtores de alimentos básicos (através da expulsão de pequenos produtores) e multiplica o número de consumidores urbanos (através do êxodo rural). A migração para as cidades provoca um inchamento da força de trabalho em números muito superiores ao potencial de absorção produtivo. Esta pressão maciça, por sua vez, garante níveis salariais baixíssimos, inviabilizando qualquer tentativa de resolver o problema de abastecimento via preços (Martine e Garcia, 1987, p.94)

As relações sociais de produção a partir da "modernização da agricultura" foram alteradas. Novas categorias, como os administradores das fazendas (lavouras), os operadores de máquinas, entraram em cena enquanto os trabalhadores tradicionais, entendidos aqui como os antigos agregados, meeiros, parceiros, foram excluídos e, completamente, anulados do cenário rural que vinha se desenhando. A exigência do novo modelo agrícola por mão-de-obra qualificada não aproveitava este trabalhador que era dotado de experiência e conhecimento empírico, porém que desconhecia a técnica.

Os investimentos no incremento tecnológico pressupunha, também, a adoção de uma mão-de-obra que potencializasse o uso das tecnologias de produção. Dessa forma as técnicas modernas aplicadas à produção agrícola conduziram a uma sazonalidade do trabalho não especializado, fazendo com que o antigo trabalhador rural passasse a desenvolver atividades, esporadicamente, tanto no campo como na cidade.

A proletarização do trabalhador rural foi a conseqüência imediata deste processo de desapropriação dos pequenos produtores. Para KAGEYAMA (apud Martine e Garcia,1987) o progresso técnico não visa apenas aumentar a produtividade do trabalho, mas também subordina cada vez mais profundamente a força de trabalho ao capital.

Os impactos nas relações sociais de produção no meio rural se agigantaram com as especializações regionais, a partir das atividades monocultoras, juntamente com a concentração fundiária que a monocultura demanda.

No Estado de Goiás a incorporação da soja na pauta de produção foi a principal responsável pela reestruturação da produção agrícola e a redefinição das relações de produção, bem como das relações de trabalho no campo.

Nas lavouras de soja a concentração fundiária resultante do processo de mecanização das atividades agrícolas, bem como da utilização intensiva de tecnologias químicas e biológicas, poupam trabalho, refletindo na organização das relações de trabalho e da utilização de trabalho humano no campo.

A tabela 2 ilustra o progressivo aumento do cultivo desta oleaginosa no Estado , que entre a década de 1970 e o ano 2000 teve a área plantada, a produção e a produtividade substancialmente elevadas. Diante desse quadro teve-se, também, o crescimento do trabalho sazonal (bóia-fria ou não), um crescente fluxo migratório em direção às cidades e uma acentuação na concentração fundiária.
 
 

Tabela 2
Produção, área colhida e rendimento da cultura de soja, no Estado de Goiás: 1970/ 1995-6
SOJA
Ano Produção (t) Área (há) Produtividade (Kg/ há)
1970 
1975 
1980 
1985 
1996 
1999-2000
10.219 
82.173 
368.477
1.157.704
1.960.112
3.420.653
11.514 
61.905 
213.487
599.555
863.422
1.333.646
888 
1.327 
1.726 
1.931 
2.270 
2.565
Fonte: Baseado em Ferreira, 2001, p.124

De acordo com dados estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1970 o Estado de Goiás apresentava uma população de 2 milhões 997 mil e 570 pessoas. Destas 1.269.035 tinham residência na cidade e 1.728.535 moravam no campo. No ano de 2000 a população do Estado de Goiás era composta por 4 milhões 994 mil e 897 pessoas, sendo que destas 4.389.108 tinham residência urbana e apenas 605.789 moravam no campo.

Percebe-se aqui o aumento significativo da população urbana em detrimento da população rural. Este fenômeno tem relação direta com a incorporação do cerrado goiano à monocultura mecanizada da soja que liberou mão-de-obra do campo em conseqüência da tecnificação das atividades produtivas e da concentração fundiária necessária para o desenvolvimento das grandes lavouras de grãos.

Os recursos canalizados (políticas públicas governamentais) para a especialização da produção, monocultora de soja, fez com que o Estado de Goiás se despontasse no cenário econômico nacional e internacional como um grande celeiro de grãos, porém alijaram os pequenos produtores e proprietários, marginalizando-os no processo produtivo e reduziu, significativamente, o emprego rural.
 

Considerações finais

A expansão da soja em Goiás se deu num curto espaço de tempo e de maneira intensa, provocando mudanças profundas na estrutura produtiva agrícola do Estado. Se analisada do ponto de vista econômico a constituição da cadeia produtiva da soja no Estado de Goiás pode ser apontada como altamente favorável; do ponto de vista social, entretanto, teve conseqüências bastante negativas em virtude de ter resultado num intenso processo de concentração fundiária e de ter provocado a expulsão da zona rural de um grande número de produtores rurais tanto pequenos proprietários como parceiros, meeiros, agregados, etc.

O fato da soja se constituir numa lavoura que utiliza amplamente máquinas, implementos e insumos químicos, levou a redução de muitos postos de trabalho na zona rural, fazendo com que muitos trabalhadores rurais procurassem as cidades, nas quais passaram a disputar uma vaga no incipiente e concorrido mercado de trabalho urbano do Estado de Goiás.
 

Bibliografia

BELIK, W. Estado, grupos de interesse e formulação de políticas para a agropecuária brasileira. Revista de economia e sociologia rural. SOBER, 1998 (jan/mar), v.36, nº1, p.09-33.

DELGADO, G. C. Capital e política agrária no Brasil: 1930-1980. In: SZMRECSÁNYI, T. e SUZIGAN, W. (Orgs.). História econômica do Brasil contemporâneo. São Paulo:HUCITEC, 1997 p.209-263.

FERREIRA, D. F. Análise das transformações recentes na atividade agrícola da região sudoeste de Goiás. 1970/1995-6. Uberlândia: UFU, 2001 (Dissertação de mestrado em Desenvolvimento Econômico).

GONÇALVES, J. S. Mudar para manter. Pseudomorfose da agricultura brasileira. São Paulo: CSPA/SAA, 1999.

GONÇALVES NETO. W. Estado e agricultura no Brasil: Política agrícola e modernização econômica brasileira, 1960-1980. São Paulo: HUCITEC, 1997.

IBGE. Anuário estatístico de Goiás, 1970 e 2000. Rio de Janeiro: FIBGE/ IBGE.

KAGEYAMA, A. Alguns efeitos sociais da modernização agrícola em São Paulo. In: MARTINE, G. e GARCIA, R. C. (Orgs.). Impactos sociais da modernização agrícola. São Paulo: Caetés, 1987 p.99-124.

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SORJ, B. Estado e classes sociais na agricultura brasileira. 2ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

SZMRECSÁNYI, T. e RAMOS, P. O papel das políticas governamentais na agricultura brasileira. In: SZMRECSÁNYI, T. e SUZIGAN, W. (Orgs.). História econômica do Brasil contemporâneo. São Paulo:HUCITEC, 1997 p.227-249.
 
 

* Professora no Departamento de Geografia – UFG – Campus de Jataí. Aluna do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista (UNESP) – FCT/ Presidente Prudente. São Paulo. Brasil - dinaribeiro@bol.com.br
** Professor no Departamento de Geografia – UFG – Campus de Catalão. Aluno do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista (UNESP) – FCT/ Presidente Prudente. São Paulo. Brasil – marcelocatalao@bol.com.br
*** Professor dos Cursos de Graduação e Pós-graduação – UNESP / Presidente Prudente E-mail: nivaldo@prudente.unesp.br
 

© Copyright Dinalva Donizete Ribeiro, Marcelo Rodrigues Mendonça y Antônio Nivaldo Hespanhol, 2002
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Ficha bibliográfica

RIBEIRO, D. D. et. al. Relações de trabalho na agricultura mecanizada: a monocultura da soja em Goiás. Scripta Nova, Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de Barcelona, Vol. VI, nº 119 (81), 2002.  [ISSN: 1138-9788]  http://www.ub.es/geocrit/sn/sn119-81.htm


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