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Índice de Scripta Nova

Scripta Nova
REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98
Vol. VI, núm. 119 (98), 1 de agosto de 2002

EL TRABAJO

Número extraordinario dedicado al IV Coloquio Internacional de Geocrítica (Actas del Coloquio)
 

TRABALHO E AMBIENTE: NOVOS PROFISSIONAIS OU NOVA DEMANDA?

Wagner Costa Ribeiro
Prof. do Depto. de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Universidade de São Paulo


Trabalho e ambiente: novos profissionais ou nova demanda? (Resumo)

Ao longo da história do Ocidente pode-se definir várias etapas em que o ambientalismo emergiu como teoria e adquiriu um sentido prático. Do movimento pelos parques naturais nos Estados Unidos, no final do século XIX, passando pela luta contra a poluição e as armas nucleares na década de 1960, até meados da década de 1980, quando a visão de um desenvolvimento econômico que gere menos impactos ambientais foi vulgarizada, assistiu-se uma institucionalização da temática ambiental. Nas últimas décadas, diversos organismos nacionais e internacionais passaram a exigir profissionais habilitados a trabalhar com questões envolvidas com o ambiente. Além disso, surgiram leis ambientais que ampararam sanções e obrigações a empresários e demais atores sociais. Por fim, a sociedade civil passou a pressionar por melhores condições de vida e de produção, empregando técnicos especialistas no ambiente. Nesse trabalho (1), busca-se apreender estas questões, apresentando a diversidade de perspectivas de trabalho engendradas por meio do ambientalismo à luz da periodização proposta.

Palavras-chave: trabalho, ambiente, ambientalismo, natureza


Work and environment: new professionals or new lawsuits? (Abstract)

Along the history of the Occident, it is possible to define the stages in which the environmentalism emerged as a theory and acquired a practical meaning. From the natural parks movement in the United States, in the end of XIX Century, through nuclear weapons and pollution fight in the 1960’s up to the 1980’s, when the view of an economical development that would create less environmental impacts was vulgarized, there was an institutionalization of environmental issues. In the last decades, many national and international organizations started to demand qualified professionals to work with environmental issues. Moreover, environmental laws were made to support sanctions and obligations related to entrepreneurs and socials actors. Finally, the civil society started to claim better life and productions conditions, employing environment specialized technicians. The aim of this article is to apprehend those issues, presenting different work perspectives engendered through environmentalism.

Key words: work, environment, environmentalism, nature


A crescente institucionalização da temática ambiental vem exigindo uma presença cada vez maior de profissionais especialistas em diversos ramos que os estudos ambientais envolvem. De maneira geral, esse pessoal possui escolaridade superior, e muitas vezes cursos de pós-graduação, tanto em nível profissionalizante (especialização) quanto no nível acadêmico (mestrado e doutorado).

O principal empregador de especialistas em temas ambientais é o Estado. Apesar da difundida crise do setor estatal e da divulgação de ideologias como as teorias do liberalismo econômico e a do Estado mínimo, ainda é função do Estado fiscalizar a atividade humana para manter o contrato social entre a população que o constitui.

A sociedade civil organizada que atua junto ao movimento ambientalista também absorve trabalhadores com formação ambiental. Os conselhos ambientais criados em diversas escalas (municipais, estaduais, nacionais e até internacionais), exigem uma intervenção qualificada de representantes da sociedade civil. O mesmo ocorre em audiências públicas, muitas vezes uma exigência para a aprovação de Relatórios de Impactos Ambientais. Nessas situações, a sociedade civil busca entre especialistas argumentos para pressionar por seus interesses.

Outro foco recente de oferta de emprego no setor ambiental é o de empresas. A procura pela certificação ambiental leva à introdução do sistema de gestão ambiental, muitas vezes motivada pela concorrência, ao processo produtivo. Prestadores de serviço da área ambiental passam a integrar o orçamento de grupos empresariais.

As possibilidades de trabalho listadas acima convergem para a manutenção da ordem sócio-econômica. Mas existem ainda os que pretendem alterar a ordem, sugerindo uma mudança no modo de vida a partir de novas atividades, que minimizam os impactos ambientais ou que os combatam.

Por fim, analisam-se duas propostas de trabalho de organizações internacionais para caracterizar o perfil de um profissional especialista na questão ambiental.
Este artigo trata da oferta de trabalho para cada um dos segmentos citados acima.
 

Conservação e uso dos recursos naturais

A preocupação em representar a natureza remonta à Antiguidade. Porém, a definição de natureza como recurso pode ser bem caracterizada a partir da expansão ultramarina, expressão da europeização do mundo iniciada pelas grandes navegações promovidas em especial por Portugal e Espanha, interessados, como as demais metrópoles européias que se seguiram a elas, em extrair riqueza de suas colônias. A partir de então, a natureza foi representada também pelo potencial de uso pela espécie humana.

A Revolução Industrial acelerou a demanda por recursos naturais, em especial por carvão e minério de ferro. Mas ela também representou a possibilidade de difusão do capitalismo pelo mundo durante séculos, pautado na acumulação e na produção de mercadorias para realização do lucro.

O modo de produção capitalista inaugurou uma tensão que perdura em nossos dias: o desequilíbrio entre a demanda por recursos naturais e a capacidade de reposição natural do ambiente (Ribeiro, 2001). Além disso, ela acelerou a urbanização, agravando a divisão entre o campo e a cidade.

A urbanização acelerada verificada ao longo do século XIX em países que viveram a primeira Revolução Industrial, como os Estados Unidos da América, passou a ocupar imensas áreas naturais. Em resposta à expansão urbana naturalistas passaram a defender o isolamento de áreas naturais para evitar sua destruição total. Estava lançada a base do movimento ambientalista e de seu principal debate: preservação ou conservação ambiental.

Do movimento pelos parques naturais nos Estados Unidos, no final do século XIX, passando pela luta contra a poluição e as armas nucleares influenciados pelo movimento da contra-cultura na década de 1960, até meados da década de 1980, quando a visão de um desenvolvimento econômico que gere menos impactos ambientais foi vulgarizada por meio do desenvolvimento sustentável, assistiu-se a institucionalização da temática ambiental. Além disso, surgiram leis ambientais que ampararam sanções e obrigações a empresários e demais atores sociais que usam os recursos naturais.

Não resta dúvida, porém, que a introdução da agenda verde, como é conhecida a agenda ambiental, decorre de pressão de organismos internacionais. A regulação em escala planetária da vida humana na Terra é um dos objetivos da ordem ambiental internacional (Ribeiro, 2001). Dela fazem parte países, grupos transnacionais de setores como o da produção de alimentos, fármacos, novos materiais, e a sociedade civil organizada por meio de diversas facções do movimento ambientalista que se expressam em diversas rodadas de negociação de cada convenção internacional sobre temas ambientais.

A partir de meados da década de 1980, agências financiadoras como o Banco Mundial, por exemplo, passaram a exigir uma contrapartida ambiental para liberar recursos a países de renda média e baixa. Ocorreu ainda uma desvalorização dos recursos naturais (Naredo, 1996). Os países exportadores de matéria-prima tiveram que aumentar a produção apesar de não disporem de renda para mitigar os impactos ambientais, resultando na devastação de muitas áreas.

Nas últimas décadas, como decorrência direta desses acontecimentos, diversas instituições nacionais e internacionais contrataram profissionais habilitados para trabalhar com questões envolvidas com o ambiente. Grande parte destas atividades foi desenvolvida em órgãos mantidos pelo Estado (Ferrão, 1999).
 

O Estado

Pode-se definir o Estado como um conjunto de instituições que atuam como controladoras da vida social. Parte-se da ótica dos contratualistas, como do suíço Jean J. Rousseau e do inglês Thomas Hobbes, que admitem que cada indivíduo aceita perder parte de sua autonomia em razão de proteção contra a desordem que se instalaria sem a presença do Estado. A concepção contratualista admite uma passagem entre um estado de natureza, no qual prevalece a força como elemento de persuasão e regulação social, para um estado social e político mediado pelo poder judiciário.

O contrato social permite apontar uma das funções do Estado: regular a ação humana em ações envolvendo o ambiente. Ao estabelecer leis, normas técnicas, multas, critérios de licenciamento ambiental, definir conceitos como poluição do ar, poluição difusa e fiscalizar as atividades humanas, o Estado cerceia a ação de grupos que integram a sociedade para possibilitar uma melhor qualidade de vida ao conjunto de pessoas que vivem no território por ele delimitado.

Entretanto, como o Estado não é um ente isolado e superior, muito ao contrário, é constituído por seres humanos que possuem interesses diversos, é preciso entender quais normas e para quem elas são aplicadas. Como bem definiram autores como o italiano Antonio Gramsci (1980) e Nikos Poulantzas (1986), o Estado é uma representação de um bloco no poder que se articula politicamente, composto por frações da classe dominante. Essa característica retira a aparente neutralidade do Estado e permite que se pergunte quem faz as leis e com quais objetivos.

Na regulação da vida humana referente a temas ambientais distinguem-se diversos interesses. Grupos empresariais envolvidos com a produção industrial, especuladores imobiliários, entre outros agentes econômicos, possuem influência para aprovar leis que mesmo quando restringem suas atividades não os impedem de exercê-las.

Porém, em regimes políticos que prevêem a alternância democrática do poder, a realização de eleições permite que se pautem temas ambientais. A popularização dos problemas ambientais, principalmente a partir da década de 1990, despertou na população uma crescente atenção às condições da qualidade de vida onde vivem, gerando interesse também de políticos que viram mais uma frente para angariar votos.

O reconhecimento cada vez maior de problemas como o da poluição do ar, da escassez dos recursos hídricos, da deposição inadequada dos resíduos sólidos e de saúde, da ausência de sistemas de coleta e tratamento de esgoto, da perda da diversidade biológica, das mudanças climáticas, para lembrar alguns, exige a elaboração de políticas públicas que controlem suas causas. A elaboração de tais políticas ocorre dentro da tradição da ciência aplicada, na qual se almeja uma intervenção qualificada, ou seja, conhecedora da causa, conseqüência e de possíveis implicações ambientais decorrentes de cada solução proposta. Assim, é preciso conhecer o problema, sua dinâmica, buscar sua compreensão, desmembrar suas causas, apreender cada ação decorrente dele para, por fim, elaborar uma solução que contemple o menor impacto possível, ou o melhor acordo político possível, já que nem sempre predomina a racionalidade técnica na tomada da decisão. Essa é a maior dificuldade para se estabelecer uma política pública.

A presença de um técnico com formação ambiental deve ser adequada a cada problema. Não é possível ter em mente toda a ampla gama de temas ambientais e conhecer soluções para cada um deles. Daí a formação de equipes interdisciplinares em diversos órgãos estatais, envolvendo profissionais formados em geografia, geologia, biologia, arquitetura, economia, meteorologia, engenharia, em suas diversas modalidades, entre outros.

De maneira geral, as instituições ambientais estatais apresentam-se divididas em controle, planejamento, conservação e educação.

Por meio do controle ambiental realizam-se, por exemplo, vistorias a empresas para verificar a emissão de gases a partir da queima de combustíveis fósseis, de poluentes em corpos d’água e no ar. O estabelecimento de especificações de motores de veículos referente à emissão de gases também é desenvolvido pela área de controle ambiental. O licenciamento ambiental é outra atribuição que objetiva regular uma iniciativa em prol da coletividade. Nesse caso, é feita uma análise de um novo empreendimento considerando-se as exigências da legislação. De posse do licenciamento ambiental, o empreendedor pode passar à etapa de implementação de seu negócio. O controle ambiental é a atividade mais diretamente ligada à qualidade de vida. É por meio dele que se busca restringir a vontade de parte da sociedade em razão da possibilidade de uma vida melhor para um maior número de cidadãos.

O planejamento ambiental exige do profissional em ambiente uma formação ampla. Ele deve conhecer sua área específica e estar preparado também para elaborar planos de curto, médio e longo prazos. Nesse caso, conceitos como os de segurança ambiental, estudado, entre outros, por Rafael Grasa (1994, 1998 e 2000), professor de Relações Internacionais da Universidade Autonoma de Barcelona devem ser considerados. Para Grasa (1994) a segurança ambiental consiste em ponderar a possibilidade de um eventual conflito que surja pela falta ou escassez de um recurso natural. Ribeiro (2001), acrescenta a isso a possibilidade de estarmos caminhando para o fim das condições de habitabilidade humana na Terra. Lorraine Elliott (1998), da Australian National University, argumenta que o tema da segurança ficou restrito até e década de 1980 apenas à esfera estratégico-militar. Ela entende que é preciso alterar esse aspecto, levando a um maior envolvimento da população na compreensão dos problemas ambientais evitando a ocorrência de conflitos (Ribeiro, 2001-a e 2002).

Outro aspecto que o trabalhador envolvido com a temática ambiental e o planejamento deve ponderar é a dinâmica tecnológica. Sabe-se que a definição de recurso natural, por exemplo, altera-se segundo o padrão tecnológico. No momento, conhecer a diversidade biológica é fundamental dada a possibilidade de manipulação genética e elaboração de novos materiais, alimentos e remédios. Um planejador ambiental deve ponderar, portanto, a evolução tecnológica em curso para projetar cenários que permitam manter as reservas naturais em condições de uso no futuro.

Mas a maior função do planejador ambiental consiste em propor usos às áreas protegidas de modo e não contrariar a legislação que as regulam nem a dinâmica natural que as tornam de interesse ambiental. Os instrumentos mais usados para o planejamento em áreas protegidas são o Plano de Manejo e o Plano de Recuperação de Áreas Degradadas. Por meio desses instrumentos é possível a introdução de atividades como ecoturismo e o reconhecimento da importância da população que vive na área protegida, dando voz às suas necessidades por meio da participação nas propostas de gestão do ambiente resguardado.

A conservação ambiental tem relação intensa com o planejamento. O ambiente protegido é definido e delimitado segundo razões oferecidas por especialistas. Biólogos, oceanógrafos, geólogos e geógrafos, entre outros, participam ativamente com seus conhecimentos para indicar as unidades de conservação e elaborarem os planos de manejo. Mas profissionais da área de direito, por exemplo, são requisitados para transformar em leis aspectos relevantes que permitam a proteção do ambiente. O diálogo intenso entre profissionais com formação diferente é fundamental para se chegar a um sistema legislativo que garanta a manutenção das características naturais da área protegida.

Já os que atuam com educação ambiental promovem campanhas em áreas públicas, cursos de capacitação, atividades educativas em áreas protegidas, entre outras atividades. Nesse caso, envolvem-se profissionais com formação diversificada que tenham não apenas conhecimento de processos ambientais mas que também estejam envolvidos em transmitir informações e indicar novas maneiras de ver e entender o ambiente. Eles podem envolver professores do ensino fundamental para realizar visitas de estudantes às áreas protegidas ou oficinas de trabalho na própria escola, mobilizando a comunidade escolar na discussão de temas que a aflige diretamente. Nesse caso, além dos especialistas já citados, agregam-se pedagogos, assistentes sociais, psicólogos, sociólogos, entre outros.

As esferas de ação comentadas acima são combinadas na afirmação de políticas públicas. Entre os modelos mais freqüentes de estímulo e/ou de restrição à atividade humana estão a isenção fiscal e a taxação fiscal, quando se estimula por meio do não pagamento de impostos ou de parte deles uma ação ambiental ou, ao contrário, eleva-se a alíquota de multas segundo a gravidade do problema gerado pela intervenção humana no ambiente.
 

A sociedade civil

Uma das decorrências da institucionalização da temática ambiental foi a criação de conselhos envolvendo a presença da sociedade civil organizada. Paulatinamente grupos radicais que reivindicavam alterações drásticas na relação com o meio foram absorvidos na co-gestão de bacias hidrográficas e em diversos níveis no interior de países ou mesmo em organismos internacionais.

A participação da sociedade civil foi fortalecida por exigência de agências financiadoras, como o Banco Mundial, que passou a adotá-la como uma espécie de fiscal da gestão dos recursos liberados para projetos. Verificar se houve desvio de recursos bem como os impactos ambientais gerados pelas alternativas adotadas passaram para a agenda de organizações não governamentais, em especial em países que não possuem pessoal preparado para fazê-lo. Nesses casos, a presença de entidades internacionais acaba prevalecendo, o que nem sempre atende a interesses da população local.

A realização de audiências públicas também motivou uma melhor qualificação da intervenção da sociedade civil, que teve que debater alternativas aos impactos ambientais gerados com técnicos responsáveis pelas obras. Muitas vezes são expostas várias possibilidades, o que não quer dizer que sejam as mais indicadas, exigindo uma reflexão sobre elas para intervir na escolha que melhor atenda aos interesses dos grupos sociais organizados. Nem sempre isso é uma tarefa simples. Sofisticadas tecnologias são divulgadas como as melhores e mais avançadas na resolução de um determinado problema, muitas vezes apresentadas por consultores oriundos de universidades do país ou mesmo de fora, exigindo um conhecimento específico que foge em muito à média da população.

Para evitar ser surpreendida com soluções técnicas desconhecidas e que não resolvam suas necessidades a sociedade civil organizada contrata especialistas em temas específicos e realiza consultas para conhecer alternativas na resolução de uma questão que a aflige. São elaborados estudos da situação e políticas públicas de acordo com as premissas que julgam salvaguardar seus interesses, que são apresentadas aos órgãos estatais.

Em países que não dispõem de pessoal técnico ou mesmo de recursos para realizar levantamentos sócio-ambientais é comum assistir-se à atuação de organizações não governamentais cumprindo estas etapas. Porém, é preciso conhecer os objetivos de tais organizações, suas fontes de financiamento, a quem apresentam resultados do trabalho e por que escolheram intervir naquela realidade.

Lamentavelmente, apesar de pregarem uma participação na tomada de decisões dos governantes, de reivindicarem transparência na gestão de recursos públicos e de proporem a discussão de cada etapa de um plano de trabalho, em geral é extremamente difícil conseguir informações sobre organizações não governamentais. Muitas delas, inclusive, possuem em seus quadros militantes da causa ambiental que não encontram resistência interna nem desafios para manter o poder. Como resultado, poucas vezes princípios do mundo democrático, como eleição direta dos dirigentes e a possibilidade de alternância no poder que isso representa são verificados em parte da sociedade civil organizada.

Outro fator que deve ser lembrado é a posição que adotam dentro do amplo leque de perspectivas do ambientalismo. O preservacionismo (manutenção sem intervenção na área protegida, implicando até mesmo a retirada da população que nela vive) e o conservacionismo (uso planejado de parte da área ou de seus recursos de modo a não comprometer a dinâmica natural da área protegida) representam a primeira divisão no interior do ambientalismo. Outras matrizes prosperaram como a ecologia radical, o ecocapitalismo e o ecosocialismo, para lembrar algumas delas. O técnico que for contratado por uma organização não governamental deve ter clareza da escolha ideológica adotada pela sua contratante, o que implica conhecer ao menos as correntes citadas acima, sob pena de acabar tendo que desenvolver atividades que julga inconvenientes ou pouco adequadas na resolução de um problema ambiental.

Mas se é verdade que muitas restrições podem ser apresentadas à atuação de entidades do movimento ambientalista também é preciso reconhecer que parte significativa delas esta engajada na fiscalização da ação do Estado e de empresas, procurando denunciar abusos, erros ou escolhas que afetam interesses de população local. Outra virtude importante é o fato de que elas são extremamente ágeis, conseguindo rapidamente destinar recursos para pesquisa, levantamento de documentação ou mesmo intervenção em uma área protegida e/ou seu entorno. Há casos em que, substituindo plenamente o Estado, apresentam levantamentos digitais sobre a área protegida e propostas de políticas públicas ou de gestão das unidades de conservação.
 

As empresas

A demanda por profissionais envolvidos com o ambiente em empresas também cresce. No início as empresas contrataram técnicos com conhecimentos ambientais para cumprirem a legislação que obrigou o controle principalmente de emissões de gases e demais resíduos da produção e, mais tarde, pela pressão da população do entorno que muitas vezes organizou-se para exigir melhorias ambientais na vizinhança. Com o estabelecimento de leis mais rigorosas elas passaram a incorporar setores de controle da qualidade da água e do ar que saem de seus dutos.

Entretanto, a partir da década de 1990, certamente por influência da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, surgiram outras razões que levaram os empresários a preocuparem-se com o ambiente. O conceito de desenvolvimento sustentável foi difundido (Barbieri, 1997), a opinião pública passou a conhecer um pouco mais das conseqüências que a poluição acarreta e a ponderar esses aspectos na hora da compra.

Como tentativa de responder a essa demanda de seus clientes, muitos empresários passaram a buscar na certificação ambiental um atestado de idoneidade ambiental, indicando uma mudança ao menos na aparência. É nesse contexto que surge, por exemplo, a série ISO 14000, que certifica a qualidade ambiental de um produto. Mas outros selos ambientais ganharam o mercado, emitidos por organismos internacionais que operam com auditores treinados por eles. A concorrência entre segmentos gerou uma procura que se ainda não é intensa já altera o mercado de trabalho entre profissionais do ambiente.

O sistema de gestão ambiental, que procura dentro do ciclo de vida do produto identificar e solucionar problemas ambientais, é uma das exigências tanto para a certificação quanto para a obtenção da ISO 14000. Consultores e auditores passaram a visitar fábricas e demais instalações, como as que geram energia para movimentar as máquinas e fizeram sugestões que, se não mudam radicalmente o padrão da produção, ao menos introduzem a referência ambiental em mais um segmento da sociedade.
 

O trabalho alternativo

O trabalho alternativo é proposto por dois grupos: os que desejam reformar o sistema econômico e os que pretendem mudá-lo.

Existem propostas radicais, como a de Roberto Bermejo (1994), professor de economia, que afirma a necessidade da redução das horas trabalhadas em função do pleno emprego, além de propor uma eliminação de segmentos, como o da publicidade, numa perspectiva de uma sociedade ecosocialista.

Os interessados em apresentar alternativas de trabalho ambientalmente corretas estão preocupados em gerar postos de trabalho que empreguem muita mão-de-obra. Além disso, propõem a recuperação de áreas degradadas e a retomada de práticas agrícolas tradicionais, sem emprego de defensivos agrícolas.

Para os que decidiram alterar o padrão de consumo e de produção em vigência, temas como certificação ambiental e legislação para o controle da emissão de poluentes são inócuos. Eles passaram a buscar alternativas que permitam novas maneiras de viver e de se relacionar com o ambiente. Mais radicais que os que integram o segmento anterior, muitas vezes abandonam a vida urbana e dedicam-se à vida no campo, cultivando e preparando a base material da existência segundo preceitos muito distintos que o da acumulação.

As sociedades alternativas representam uma possibilidade distinta de reprodução da vida humana na Terra. Mas parte deles percebeu que o estilo de vida capitalista é responsável pela ameaça às condições de habitabilidade humana no planeta. As mudanças climáticas seriam uma das evidências e as alterações na camada de ozônio outra. Por isso, reagem procurando intervir na gestão do planeta.
 

Oferta de trabalho em organizações internacionais

As atividades listadas resultam numa ampla gama de possibilidades de atuação para profissionais envolvidos com a questão ambiental. Porém, é fato que as organizações de caráter internacional têm ampliado sua participação em diversos níveis de gestão ambiental.

Os anúncios de emprego reproduzidos a seguir indicam o perfil clássico de um profissional empregado em uma entidade ambientalista de caráter internacional, seja ela não governamental ou não:

a. "PROGRAM COORDINATOR, Cities for Climate Protection - SOUTH AMERICA - ICLEI -Cities for Climate Protection Campaign

Cities for Climate Protection (CCP), a project of the International Council for Local Environmental Initiatives (ICLEI), works with local governments to mitigate local sources of the emissions that cause air pollution and global climate change. The program assists municipalities to identify and implement actions that reduce air pollution and greenhouse gas emissions and also address current municipal concerns. Such actions might include improvements in energy efficiency, use of renewable energy or cleaner energy sources, improved waste management practices, and changes in transportation policies or programs.

ICLEI is seeking a staff person to coordinate the Cities for Climate Protection (CCP) program in South America. The program will involve 7 to 10 local governments in Argentina, Brazil, and Chile. The Coordinator will assist the local governments to complete the following tasks: 1) an inventory of emissions, 2) setting an emissions reduction target, 3) developing an action plan to achieve the reduction target, 4) implementing actions that reduce greenhouse gases, and 5) monitoring results.

The position will be based in ICLEI's Latin America and Caribbean Secretariat (LACS) in Rio de Janeiro, Brazil. The Coordinator will work full time, have a full-time program assistant, and receive support from CLEI's International CCP staff. The Coordinator will report to the LACS Regional Director and the International CCP Director. ICLEI will provide staff with orientation to and training in CCP methodology, materials and software. Cities for Climate Protection can be found at: www.iclei.org.

Key Functions and Responsibilities:

Project Coordination: Tasks include orientation of new local governments to program goals, coordination of program workshops, provision of training materials, ensuring that project deliverables are met, preparation of regular project progress reports, and, in cooperation with ICLEI senior staff, interacting with the project funder.

Technical Assistance: Assist local government staff in data collection for emissions inventory, energy use analysis, identification and implementation of reduction actions, and other issues related to achieving CCP project goals. Provide assistance to local governments in identifying and applying for financing for the implementation of reduction actions.

Training: Train local government staff on CCP methodology, including how to conduct emissions inventory, use of CCP software, how to quantify carbon reductions, and other technical aspects; develop training and technical assistance materials for the local governments to help them complete the program's five milestones.

Undertake special tasks as needed, such as: produce reports on achievements of the project, coordinate City-to-City staff exchanges between South American cities and other CCP local government participants worldwide, organize CCP activities at national and international events.

Requirements:

… Technical background and familiarity with energy issues, urban energy management, or environmental planning.

… Experience in all aspects of project/program management (e.g., project coordination, budget management, etc.).

… Familiarity with local government operations, policies and management in South America.

… Familiarity with technical resources and funding sources available in South America.

… Excellent written and spoken communication skills in Portuguese, English and Spanish. Proficient computer skills.

Non-profit competitive salary commensurate with experience.

Applicants should send cover letter and employment/educational history in English to Amy Goldman by April 5, 2002. Material can be sent either by e-mail or fax to:

Amy Goldman

E-mail: agoldman@iclei.org (Reference: DevNetJobs.org)

Fax: 510-540-4787 ICLEI U.S" (http://www.iclei.org, em 20/02/02).
 
 

b. Position Description
Position Title: Threatened Species Network – WA Coordinator 
Contract term: One year
Hours: 40 hours per week
Reports to: Regional Manager, Western Australia
Direct Report: Conservation Officer
Remuneration: $35-37,000
Based: Panda Cottage, Wembley, with use of the Avon Catchment Network office, Northam
Major responsibilities: The position is responsible for coordinating the Threatened Species Network in Western Australia. The Network is a joint program of WWF (World Wide Fund for Nature) and the Natural Heritage Trust (NHT). 
Position Reviewed: After 3 months

Background

The Threatened Species Network works closely with state and local government, community and other NHT funded networks to strengthen the successes of capacity building efforts in urban and rural WA. The Threatened Species Network Coordinator will work as part of the Western Region Team to meet our goal of achieving the conservation of globally significant biodiversity in priority ecoregions.

As a contribution to the team, TSN’s program objective will be to strengthen, through increased community action, the conservation status of nationally and/or regionally significant flora, fauna and ecological communities, with highest priority given to the Avon Wheatbelt, Geraldton Sandplains and Swan Coastal Plain.

This program objective will be met through implementing the following five strategies:

Increase awareness of threatened species issues and promote actions for their conservation at a national, state and regional scale.

Develop and trial an approach to defining priorities for native vegetation management and revegetation, at a landscape scale, for use by private landowners.

Influence regional strategies for biodiversity conservation by promoting best practice approaches to threatened species conservation and facilitating technical exchange between project managers.

Encourage the development of regionally significant demonstration projects for species conservation in the Avon Wheatbelt, Geraldton Sandplains and Swan Coastal Plain for submission to TSN Community Grants Program.

Improve the effectiveness of government and community led recovery programs by providing community representation and technical expertise.

Selection Criteria

Essential

Knowledge of the natural environment, ecological processes and the key policies and legislation for the protection of biological diversity

Excellent communication and interpersonal skills

Ability to work closely with rural and urban communities and government agencies

Ability to work with little supervision within a tight budget

A capacity to develop new projects and seek their funding

Driver’s license and access to a vehicle for work

Desirable

A tertiary qualification in ecology or another related field

Knowledge of the Commonwealth Endangered Species Program; programs for the conservation of threatened species

Experience of devolved grant programs for community action" (http://www.wwf.or, em 20/02/02).
 

O anúncio "a" deixa claro que o candidato deve possuir não apenas conhecimento técnico sobre áreas como gestão da cidade, energia e planejamento ambiental mas também habilidade política para trabalhar com governos de países da América do Sul. Além disso, deve ter capacidade de comunicação para promover a capacitação de técnicos de cada país envolvido no projeto, domínio de programas de computador e das línguas portuguesa, espanhola e inglesa. Mas seu maior mérito será treinar o pessoal local dentro da metodologia do Cities for Climate Protection (CCP), um programa do International Council for Local Environmental Initiatives (ICLEI), que reúne mais de 300 cidades de todo o mundo. Ou seja, ele desempenhará um papel fundamental na difusão de um determinado modelo de entender e buscar soluções para problemas ambientais na cidade. Será que tal maneira de ver o mundo é condizente com as expectativas das populações de cada cidade alvo da ação deste organismo internacional?

A oferta de emprego "b" é da World Wide Fund for Nature (WWF), uma organização que reúne países e entidades ambientalistas não governamentais, indica o que entende necessário para um candidato a coordenador da rede de espécies ameaçadas de extinção na Austrália: conhecimento de processos naturais e ecológicos, pós-graduação, excelente capacidade de comunicação e conhecimento de leis e políticas públicas de conservação da diversidade biológica. O selecionado deverá influenciar os programas de conservação da diversidade biológica, desenvolver a recuperação de áreas sem vegetação original e envolver a comunidade local em seus projetos. Da mesma forma que no anterior, o candidato aprovado na seleção deve introduzir alternativas externas aos países em que atuam segundo as concepções do contratante. Nesse caso o contrato tem a duração de um ano e uma remuneração de U$ 35000,00 a 37000,00.

Observa-se nos dois casos um perfil de profissional de alto nível. Além de possuir conhecimento técnico de processos naturais, deve ter domínio de línguas estrangeiras, conhecer governos locais onde vai atuar, inteirar-se dos problemas e das políticas públicas nacionais e propor ações de acordo com as diretrizes que recebe de seus superiores.
 

Considerações finais

A participação de profissionais envolvidos com os temas ambientais é decorrente de demandas internas à própria estrutura do modo de produção hegemônico. Isso representa que os cuidados com os impactos que as atividades humanas geram são quantificados e analisados mesmo que ainda não sejam considerados decisivos para frear as iniciativas de uso dos recursos naturais dentro de uma visão capitalista.

Porém, a resolução da tensão entre os diferentes tempos da produção e da reposição da natureza pode remodelar o capitalismo. Técnicas como sistemas de gestão ambiental, certificação ambiental, planos de manejo ou de recuperação de áreas degradadas surgem não como alternativas a uma nova maneira de reproduzir a vida humana na Terra, mas sim como necessários ajustes do modo de produção capitalista.

Uma das conseqüências disso é a proliferação de cursos em nível de graduação e de pós-graduação para formar pessoal em assuntos como gestão dos recursos hídricos, gestão dos resíduos sólidos, avaliadores de impacto ambiental, certificadores ambientais, auditores ambientais, entre outros. Isso vem ocorrendo no Brasil e em outros países.

Mas uma ação inovadora que permita principalmente diminuir as desigualdades sociais do mundo contemporâneo e diminuir a degradação ambiental ainda esta por vir. Quem sabe ela não emerge da discussão promovida em cursos de formação de técnicos em ambiente? Uma discussão que eleva a temática ambiental à condição de um paradigma, como alerta o mexicano Enrique Leff (2001).

Um sistema de leis (locais, regionais, nacionais e internacionais) que obrigue a realização de estudos ambientais pode não representar muito. Mas é o que existe de mais dinâmico e que, portanto, deve ser o foco das análises, sempre lembrando quem e para que se fazem as normas reguladoras. Perguntas fora de moda, mas que é preciso continuar a fazer enquanto não forem satisfeitas as condições básicas para a reprodução da vida da maioria da população do planeta.

Outra possibilidade vem dos que buscam novas ações e tarefas recusando a manter a ordem social em vigência. Talvez eles sejam os criadores de uma nova ética ambiental. De todo modo, a eles também fica a responsabilidade de propor um modelo que resulte em relações sociais mais justas e em uma apropriação mais democrática da base material da existência.

Mas uma coisa é certa: qualquer que seja a proposta de geração de novos postos de trabalho na direção de práticas que causem menos impactos ambientais é fundamental alterar as relações sociais atuais do mundo capitalista. O desemprego estrutural e a crise econômica levaram a níveis insuportáveis as taxas de desemprego em países como Argentina, Brasil e Espanha. Baseados nessas premissas, empregadores das mais diferentes escalas (transnacionais, nacionais e locais), consideram os trabalhadores como seres descartáveis, aproveitando-se da pressão da massa desempregada desesperada por um posto de trabalho.

Não é possível tolerar isso passivamente!

É preciso buscar alternativas que realizem as pessoas, que permita o uso intenso da criatividade e que não as desconsidere após a jornada de trabalho ou sua aposentadoria. A proposta de reduzir a jornada de trabalho pode ser interessante. Mas ela deve vir associada a uma mudança mais radical. É preciso encontrar alternativas à pressão sobre o ambiente que o sistema hegemônico produz, levando a humanidade a uma escassez que pode aniquilar a vida na Terra, tanto por alterar drasticamente as condições naturais de existência, quanto produzindo conflitos entre seres humanos, que lutam por trabalho, comida e água em muitos pontos do nosso planeta.
 

Notas

(1) Trabalho desenvolvido com apoio da FAPESP.
 

Bibliografia

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© Copyright Wagner Costa Ribeiro, 2002
© Copyright Scripta Nova, 2002
 

Ficha bibliográfica

RIBEIRO, W. C. Trabalho e ambiente: novos profissionais ou nova demanda?. Scripta Nova, Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de Barcelona, vol. VI, nº 119 (98), 2002. [ISSN: 1138-9788]  http://www.ub.es/geocrit/sn/sn119-98.htm


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