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Scripta Nova
REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98
Vol. XI, núm. 239, 15 de mayo de 2007
[Nueva serie de Geo Crítica. Cuadernos Críticos de Geografía Humana]


UMA CARACTERIZAÇÃO GERAL DO PROCESSO DE URBANIZAÇÃO DO SUDOESTE DO PARANÁ - BRASIL

Marcos Leandro Mondardo
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE – Francisco Beltrão, Brasil

Recibido: 25 de noviembre de 2006. Aceptado: 29 de enero de 2007.

Uma Caracterização Geral do Processo de Urbanização do Sudoeste do Paraná - Brasil (Resumo)

A urbanização brasileira se tornou um fator determinante na organização do espaço a partir, sobretudo, da década de 1940, quando a industrialização cresceu muito com a instalação, principalmente, de muitas empresas estrangeiras no território. Neste contexto, o presente artigo visa apresentar uma caracterização geral do processo de urbanização do Sudoeste do Paraná – Brasil. Buscamos, nesta reflexão, demonstrar a gênese dos principais centros urbanos regionais, como também, caracterizar, de modo geral, as principais nuanças que ocorreram no desenvolvimento histórico da região. Metodologicamente utilizamos os dados dos Censos Demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos anos de 1960, 1970, 1980, 1991, 2000, e a Contagem populacional de 1996, como parâmetro para a análise.

Palavras chave: gênese, centros urbanos, industrialização, caracterização.

A Generality Characterization of the Trial of Development of the Southwest of the Paraná - Brazil (Abstract)

 The Brazilian development became a determinant factor in the organization of the space it leave, especially, of the decade of 1940, when the industrialization grew very with the installation, mainly, of many foreign companies in the territory. In this context, the present article is going to present a general characterization of the trial of development of the Southwest of the Paraná - Brazil.  We seek, in this reflection, it show the genesis of the main regional urban centers, as also, characterize, in general, the main nuances that occurred in the historical development of the region. Metodologicamente we utilize the facts of the Demographic Censuses of the Brazilian Institute of Geography and Statistical (IBGE), of the years of 1960, 1970, 1980, 1991, 2000, and to population Tally of 1996, as parameter for the analysis. 

Key words: genesis, urban centers, industrialization, characterization.

A urbanização no Brasil, é um fenômeno determinante na sua organização e (trans)formação espacial. Verifica-se que, entre 1940 e 1980, ocorre uma verdadeira inversão quanto ao lugar de residência da população brasileira. Na década de 1940, a taxa de urbanização no Brasil era de 26,35%; em 1980, essa taxa cresce para 68,86%. Nesses quarenta anos, a população total do Brasil triplica, enquanto que a população urbana se multiplica por sete vezes e meia. Na década de 1990, a população urbana brasileira ultrapassa os 77%, apresentando um índice quase igual ao da população total de 1980 (Santos, 1996, p. 29).

Para Santos (1996), é entre o período de 1970 a 1980 que o crescimento numérico da população urbana supera o da população total. Isso significa que o processo de urbanização no Brasil conhece uma aceleração e ganha novo patamar, consolidando-se na década de 1980. Desse modo, o forte movimento de urbanização que se verifica a partir do fim da Segunda Guerra Mundial e mostrou-se associado a um intenso crescimento demográfico, resultado de uma natalidade elevada e de uma mortalidade em descenso, elementos estes mantidos pelos progressos sanitários e, pela melhoria relativa nos padrões de vida. Outro elemento da ascendente urbanização brasileira, vincula-se aos processos hegemônicos de expansão e concentração do capitalismo mundial, desencadeados nos países subdesenvolvidos através da industrialização.

Assim, é dentro deste contexto que a urbanização brasileira se alastra espacialmente. Estas características gerais do processo de urbanização se fazem presentes nos diversos espaços e subespaços que compõe o território brasileiro. Portanto, a mesorregião do Sudoeste paranaense não foge à “regra”.

De acordo com o IPARDES (2004), a região Sudoeste do Paraná [1] (figura 1), está localizada no Terceiro Planalto Paranaense e abrange uma área de 1.163.842,64 hectares, que corresponde a cerca de 6% do território estadual. Ela faz fronteira, a oeste com a República da Argentina, através da foz do rio Iguaçu e, ao sul, com o Estado de Santa Catarina. Possui como principal limite geográfico, ao norte, o rio Iguaçu. É constituída por 37 municípios, dos quais se destacam Pato Branco, Francisco Beltrão e Dois Vizinhos, em função de suas dimensões populacionais e de seus níveis de urbanização e polarização.

 

Figura 1. Localização do sudoeste do Paraná.

 

Neste sentido, a seguir buscaremos-se analisar o processo de urbanização na mesorregião Sudoeste do Paraná, evidenciando a origem do centros urbanos, seu desenvolvimento histórico e atribuindo destaque para o processo de crescimento dos espaços e subespaços urbanos regionais, que posteriormente tornaram-se cidades. Na seqüência, far-se-á uma análise do processo de espacialização urbana no Sudoeste paranaense. Utilizamos a noção espaço-tempo como referencial analítico, ou seja, as periodizações, em que, estes “pedaços” do tempo foram definidos pelas décadas em que os dados populacionais do IBGE foram coletados, sendo estes os Censos Demográficos do IBGE de 1960, 1970, 1980, 1991 e a Contagem Populacional de 1996. Por fim, objetivamos aprofundar a análise da urbanização no Sudoeste paranaense, agrupando e demonstrando algumas características e possíveis tendências deste processo na região.

A Gênese dos Centros Urbanos no Sudoeste Paranaense, Brasil

De acordo com Corrêa (1970), a gênese dos núcleos urbanos no Sudoeste paranaense resultou, basicamente, da necessidade de coleta dos produtos rurais e distribuição de bens e serviços.

Dessa maneira, para o referido autor, a rede de centros urbanos originou-se relacionada às necessidades de venda e compra de produtos pelos colonos [2].

Outro elemento, para o surgimento destes núcleos urbanos, deve-se à presença de algumas serrarias distribuídas pelo território do Sudoeste paranaense, que constituíram um fator de atração de população. Tais serrarias surgiram em decorrência de um núcleo cuja função inicial foi a industrial.

Portanto, na argumentação de Corrêa (1970), “esta rede de centros caracteriza-se por ser muito recente, traduzindo a ocupação recente da região pelos colonos produtores e consumidores”.

Assim sendo, esse caráter da rede de centros aparece claramente ao se verificar o número de centros administrativos existentes em 1950 e 1960. Para Corrêa (1970), em 1950, em toda a região Sudoeste paranaense existiam apenas duas vilas: Pato Branco e Chopinzinho, que faziam parte, respectivamente, dos municípios de Clevelândia e Palmas, cujas sedes municipais situam-se fora da região.

Em 1960, quando a população regional tinha ascendido de cerca de 65.000 habitantes (em 1950) para 225.347, já existiam 7 sedes municipais e 18 vilas. Das 24 cidades existentes em 1969, em 1960, 9 eram vilas e 8 constituíam povoados. Das 57 vilas existentes em 1970, só existiam 9 em 1960; as demais foram constituindo-se em povoados. Assim, a formação da rede de centros iniciou-se entre 1945 e 1960 (Corrêa, 1970, p. 127).

Deste modo, para Corrêa (1970), o aparecimento de centros urbanos no Sudoeste paranaense decorreu das necessidades dos colonos produtores-consumidores, e este processo aconteceu de dois modos.

No primeiro, os centros surgiram espontaneamente, ou, em função da ação de um agente colonizador. Aqueles surgidos espontaneamente, foram, inicialmente, lugares isolados na mata, que se transformaram em focos de atração da população de colonos, que começava a ocupar a área próxima. Em outros casos, tais focos já preexistiam à chegada dos colonos, constituindo-se em embriões de centros para uma dispersa e rarefeita população de origem luso-brasileira, que vivia nos arredores da região Sudoeste do Paraná, principalmente, da região Oeste do Estado de Santa Catarina. Esses focos de atração eram, basicamente, constituídos por uma ou duas bodegas [3] , pertencentes a algum colono, ou a um luso-brasileiro.

Com a expansão do povoamento nas áreas vizinhas, um colono ou caboclo [4] , dono de uma bodega e de uma “posse” (ou seja, uma propriedade), loteava e vendia diversas parcelas aos recém-chegados (comerciantes, alfaiates e ferreiros, entre outros), dando origem a um povoado que, em breve, receberia uma igreja e outros serviços que iam se fazendo necessários. Posteriormente, fazia-se a medição e a demarcação da área da futura sede municipal.

Segundo Corrêa (1970), a cidade de Dois Vizinhos, por exemplo, se enquadra nesse modo de origem: por volta de 1949, havia ali apenas duas bodegas pertencentes a um caboclo e a um colono, que viviam da troca de alguns bens de consumo por produtos oriundos das atividades da população luso-brasileira: peles e couros, sobretudo. Por volta de 1953, com a crescente penetração de colonos nas redondezas, o bodegueiro de origem européia loteou a “posse” que possuía e construiu uma capela; em breve, começaram a surgir outros comerciantes e os primeiros serviços para atender às necessidades dos colonos cada vez mais numerosos. As atuais cidades de Ampére, Pérola do Oeste e Enéas Marques, originaram-se, basicamente, desse modo, tendo como primeiro foco de vida urbana a “bodega”. A origem da cidade de Barracão foi ligada à atividade comercial da erva-mate, numa fase pré-colonial.

No segundo caso, o pequeno núcleo, originado espontânea e desordenadamente, é ampliado graças a ação de um órgão de colonização do governo, que ali instala a sede de um núcleo colonial e/ou realiza a demarcação e o loteamento. São exemplos as cidades de Pato Branco, Coronel Vivida e, em menor proporção, Capanema (Corrêa, 1970, p. 129).

De acordo com o citado autor, as companhias e órgãos de colonização foram também responsáveis pela criação de núcleos que se transformariam em cidades. O exemplo mais antigo no Sudoeste paranaense é constituído pelo atual município de Chopinzinho, que foi a sede da Colônia Militar do Chopim, instalada, em 1882, pelo governo imperial.

Os melhores exemplos de núcleos originados pela ação de companhias de colonização encontram-se nos municípios de Planalto, São Jorge do Oeste e Mariópolis. Nesses casos, as companhias de colonização traçaram o arruamento e planejaram o local, onde deveriam se localizar escolas, hospitais, igreja, comércio e prédios públicos (algumas delas chegaram mesmo a instalar alguns desses serviços), tendo, em breve, origem um pequeno centro para atender às necessidades dos colonos que ali estavam instalados (Corrêa, 1970, p. 130).

A instalação de serrarias, também, um fator de surgimento de núcleos urbanos nesta região. Numa fase que antecedia à colonização, uma companhia madeireira instalava uma serraria no meio da mata, surgindo em torno dela um aglomerado de função industrial, onde alguns comerciantes se estabeleciam para atender às necessidades dos operários. Desse modo, com a penetração espontânea de colonos nas áreas pertencentes ou não às madeireiras, formava um núcleo populacional, que passava a ser o ponto focal importante daquele lugar, que até então era predominantemente rural.

Como diz Corrêa (1970), a cidade de Realeza tem sua gênese enquadrada neste processo, pois esta surge em decorrência da instalação, por volta de 1960, de uma serraria das indústrias CAZACA Ltda., que loteou as terras em torno do seu estabelecimento industrial. O resultado disso foi o surgimento de um núcleo urbano, que, mais tarde, veio a se tornar o atual município de Realeza. A cidade de Santa Isabel do Oeste também teve as suas origens assemelhadas a este processo.

Assim, entendemos que todos os centros urbanos do Sudoeste paranaense passaram, numa primeira fase, a se vincularem com as áreas rurais próximas, de cujos colonos compravam produtos agrícolas e para quem vendiam alguns bens de consumo. O crescimento desses centros esteve sempre ligado às necessidades do mundo colonial, ou seja, da zona rural, mas a diferenciação entre eles processou-se de acordo com as facilidades que tiveram de se tornarem focos de áreas maiores e mais povoadas.

Esses centros, que se diferenciaram dos demais, foram: Pato Branco, Francisco Beltrão, Chopinzinho, Coronel Vivida, Capanema, Santo Antonio do Sudoeste, Barracão e Dois vizinhos, enquanto as demais sedes municipais permaneceram com atuação, quer de compra de produtos rurais, quer de venda de bens de consumo, limitada, basicamente, as suas ações aos respectivos municípios, ou seja, limitada às áreas rurais próximas. Entre os fatores de diferenciação destes centros urbanos destaca-se principalmente a sua antiguidade histórica relativa a outros centros urbanos da região Sudoeste paranaense, ou seja, o tempo de existência destes centros era maior que os restantes.

De acordo com Corrêa (1970), outro elemento importante neste processo, é que os numerosos centros urbanos do Sudoeste paranaense não se originaram concomitantemente. Com o povoamento, verificou-se, primeiramente, a ocupação na periferia oriental, centro-meridional e ocidental da região, em função disso, apareceriam às sete primeiras sedes municipais, sendo elas respectivamente: Pato Branco, Coronel Vivida, Chopinzinho, Francisco Beltrão, Capanema, Santo Antonio do Sudoeste e Barracão.

Dentre estes municípios a diferenciação mais notável ocorre ao centro urbano de Pato Branco, que se destaca dos demais como principal núcleo de distribuição de bens e serviços em fase inicial. Seu domínio regional se origina da sua formação originaria a maior tempo, que se fez acompanhar, até 1950, de uma posição vantajosa face à circulação e face à área mais densamente ocupada da região Sudoeste do Paraná (Corrêa, 1970, p. 130).

Em 1924, já aparecia, com o nome de Vila Nova, o embrião da atual cidade de Pato Branco. Para Corrêa (1970), esta, surge em torno de algumas bodegas que realizavam a troca do produto valorizado da época (o mate) por bens de consumo, como o açúcar, sal, tecidos, ferragens, bebidas e querosene. Como toda a população regional, da ordem de 6.000 habitantes, em 1920, os seus bodegueiros eram de origem luso-brasileira, caboclos, como foram genericamente conhecidos, provenientes dos campos de Palmas, Guarapuava, Vale do Rio do Peixe, e das áreas de campo e mata do planalto gaúcho.

Além de Pato Branco, na década de 1920, existiam outros pequenos núcleos urbanos, que viviam também da troca de produtos característicos da região: Chopim (atualmente Chopinzinho), sede da antiga e pouco expressiva colônia militar; Barracão, fronteiriço aos núcleos de Dionísio Cerqueira pertencendo ao estado de Santa Catarina; Bernardo de Irigoyen, pertencendo à Argentina; e Santo Antonio, atual Santo Antônio do Sudoeste, ao lado do núcleo argentino de San Antônio (Corrêa, 1970, p. 131).

Em 1930, já se percebia uma diferenciação entre esses núcleos urbanos da região, pois a erva-mate deixa de ser o produto mais valorizado. Essa diferença encontra uma de suas razões no fato de que o aumento de população que se verificou até este período, se fez, sobretudo, em torno e nas proximidades de Pato Branco.

Segundo Boneti (1998), essa população era, em parte, constituída de luso-brasileiros, que viviam do novo produto valorizado da região, os suínos, que se criavam soltos no mato (sistema do “porco-alçado”) e eram semi-engordados na roça de milho (sistema de “safra”).

Contudo, desde os fins da década de 1920, a essa população “cabocla” veio se juntar/acrescentar outro contingente demográfico, étnica e socialmente diferente. Este fluxo de migrantes era formado por colonos descendentes de italianos, provenientes do estado do Rio Grande do Sul e, se localizaram na recém-estabelecida Colônia Bom Retiro, cuja sede localiza-se no município de Pato Branco. Esses colonos viviam de uma economia de autoconsumo, com venda a de excedentes, na qual o principal produto era o porco (Wachowicz, 1988, Magalhães 1996).

Conseqüentemente a este contingente migratório, houve o aumento da população. Este aumento se deve, principalmente, de acordo com Corrêa (1970), às implementações de outras culturas agrícolas introduzidas pelos migrantes, que constituirão o principal fator para o crescimento e a diferenciação de Pato Branco face aos demais núcleos urbanos. “Em 1940, já possuía 1.024 habitantes, dispondo já da função de vila e ultrapassando em população a sede municipal, que na época era o município de Clevelândia, que possuía, em 1940, 837 habitantes” (Corrêa, 1970, p. 131). Quanto aos demais núcleos, que não foram beneficiados com a chegada de uma população de colonos, estes permaneceram estagnados: apenas Chopinzinho se constituía em vila, com uma população de 96 habitantes.

A essa relativa maior densidade de população em torno de Pato Branco, acrescenta-se o fato de que, desde a década de 1930, o aglomerado se constituía em “ponto final” de uma estrada carroçável. Para Corrêa (1970), Pato Branco era o ponto final da circulação rodoviária, ligando-se a União da Vitória e a Porto União, por uma precária linha de ônibus. Vinculada, assim, a estas cidades, a vila de Pato Branco era, em 1940, o principal centro da região, comprando e distribuindo produtos em todo o território do Sudoeste paranaense.

A partir de 1945, o povoamento da região sofreu notável expansão com a chegada de um fluxo migratório de colonos de origem riograndense e catarinense. Desse modo, ocorreu, até 1950, o povoamento das áreas compreendidas pelos atuais municípios de Mariópolis, Vitorino, Francisco Beltrão, Enéas Marques e Coronel Vivida. Assim, apoiando-se em Corrêa (1970), Pato Branco era o ponto final de linhas de ônibus provenientes das áreas de emigração, tais como Nova Prata, Sarandi, Erechim, cidades localizadas no Rio Grande do Sul; e Joaçaba e Chapecó, em Santa Catarina. Além da linha proveniente de Porto União. Do centro urbano de Pato Branco, partiam ônibus para as áreas onde o povoamento ascendia-se, principalmente para a Vila Marrecas (atual Francisco Beltrão) e Barro Preto (atual Coronel Vivida).

Em 1948, quando começavam a surgir os povoados de Mariópolis, Vitorino, Enéas Marques e Coronel Vivida, Pato Branco destacava-se nitidamente dos demais núcleos, possuindo firmas varejistas que distribuíam, entre outros artigos, máquinas de costura, cofres, pneumáticos, aparelhos de rádio, ferragens, etc. Possuía, ainda, entre outros estabelecimentos, uma torrefação de café, selaria, oficina mecânica, escritório de contabilidade, um recém-inaugurado hospital dotado de aparelho de raio X, e uma de suas firmas possuía uma filial na Vila Marrecas, o atual município de Francisco Beltrão (Corrêa, 1970, p. 132).

Entre os anos de 1950 e 1955, quando o povoamento começou a se estender por toda a região do Sudoeste paranaense, tendo surgido em decorrência de sete sedes municipais, a cidade de Pato Branco contava com 3.434 habitantes em 1950, e deste modo, como bem afirmou Corrêa (1970), reforçou a sua posição de localidade central mais importante, adquirindo novas funções exclusivas, tais como: curso ginasial, estação de rádio e agência bancária.

Porém, a partir de 1950, a Vila Marrecas, que se torna posteriormente o município de Francisco Beltrão, progressivamente se transforma no mais importante centro coletor da produção rural e forte rival de Pato Branco na distribuição de bens de consumo. Entretanto, a função regional de distribuição de Pato Branco ali permaneceria e se ampliaria.

Alguns comerciantes, ligados ao comércio colonial de compra e venda de produtos, ao perceberem que Pato Branco perdia aquela hegemonia para Francisco Beltrão, se especializaram. Contavam, para isso, com a existência de um mercado em ampliação, tanto quantitativa como qualitativamente, graças à melhoria do nível de vida dos colonos das áreas já ocupadas e à expansão do povoamento. De acordo com Corrêa (1970, p. 132), “é o caso, por exemplo, da firma O. N. Amadori & Cia Ltda., cuja origem remonta a fins da década de 1940, como firma de comércio colonial, em 1957, constituía-se em concessionária da Ford”.

Também alguns comerciantes distribuidores, habituados a manterem contato com o mercado consumidor e vendo esse mercado se ampliar e ser conquistado por Francisco Beltrão, especializaram os contatos já estabelecidos com firmas de fora da região e a existência de certo capital acumulado, que lhes garantiriam uma base para a especialização, já parcialmente garantida pela expansão do mercado. Corrêa (1970), cita o exemplo da empresa DIVECAR, cujas origens remontam a 1947, quando foi fundada uma oficina mecânica e comércio de autopeças e, em 1959, transformou-se em concessionária da Chevrolet.

Desse modo, segundo Corrêa (1970), tanto a concessionária da Ford como a da Chevrolet constituíram, em 1968, atributos funcionais exclusivos de Pato Branco. Sendo o principal centro de distribuição do Sudoeste, lá se estabeleceram com exclusividade na região, com novas firmas de distribuição de bens e serviços (material dentário, em 1960, médicos de olhos, ouvido, nariz e garganta, em 1963, órgãos administrativos regionais, de 1962 a 1967). “Essa progressiva especialização de Pato Branco iria, pouco a pouco, desligar o Sudoeste paranaense da órbita de influência de União da Vitória e de Porto União, colocando-se sob a influência direta da metrópole regional, Curitiba” (Corrêa, 1970, p. 133).

Neste contexto, a posição hierárquica de Pato Branco deve-se à capacidade de seus comerciantes em tirar proveito da situação que possuíam num passado próximo, quando perceberem mudanças nas relações, se especializaram para sobreviverem e, consequentemente para obterem mais lucros, sendo que, desse modo, mantiveram para Pato Branco a posição de principal centro urbano do Sudoeste paranaense. Mas, isso, deve-se também, com bem nos lembra Corrêa (1970), ao relativo prestígio que a cidade passou a desfrutar como centro de distribuição de bens e serviços, atraindo novos serviços consequentemente.

Portanto, a diferenciação de Pato Branco dos demais núcleos encontra as suas bases, em última analise, na maior especialização de seus serviços ofertados, que até então, puderam propiciar uma posição de “domínio” regional. Esta especialização foi indubitavelmente caráter determinando para gerir um centro polarizador na região Sudoeste paranaense.

Assim, o que se deve ressaltar é o fato de que, além do Sudoeste paranaense ser uma região de ocupação recente, já na década de 1960, se verifica o aparecimento de uma rede de localidades centrais urbanas, como categorias hierárquicas bem definidas, e o que as definiu foi o caráter da relação produção e consumo desenvolvido na região, como bem afirmou Corrêa (1970).

Urbanização x Êxodo Rural: o crescimento urbano e a diminuição da população rural do Sudoeste do Paraná

A década de 1960

Na década de 1960, a maior parte da população do Sudoeste paranaense vivia na zona rural. Para se ter noção da intensidade desta realidade, de acordo com os dados do Censo Demográfico do IBGE de 1960, a população total da região era constituída de 225.347 habitantes. O grau de urbanização da região ficava em torno de 12%, conseqüentemente, 88% da população vivia no campo.

Desse modo, a maioria dos municípios nesta década apresentava uma população rural superior à urbana. Em média, a população rural do município de Pato Branco era formada por 41.248 habitantes, e a população urbana ficava em torno de 10.333 habitantes (figura 2). Ou seja, a população rural era, praticamente cinco vezes superior à população urbana. O grau de urbanização de Pato Branco, em 1960, era de 20% (figura 3), sendo que este município era neste período, o principal núcleo urbano da região.

O município de Francisco Beltrão, que disputava nesta década o “posto” de principal centro urbano da região sudoestina, detinha, em média, uma população rural de 50.507 habitantes, e sua população urbana era constituída por apenas 4.989 habitantes (figura 2), sendo que, o grau de urbanização nesta década situava-se em 9% (figura 3).

Os outros municípios que existiam nesta década são: Capanema, que possuía, em média, cerca de 23.864 habitantes localizados na zona rural e 2.339 habitantes localizados na zona urbana; Santo Antônio do Sudoeste, que possuía, em média, 23.864 habitantes na zona rural e 1.280 habitantes na zona urbana; Chopinzinho, com 20.494 na zona rural e 1280 habitantes, em média, no perímetro urbano; Coronel Vivida, com 13.272 localizados na zona rural e 1.280 habitantes, em média, no perímetro urbano (figura 2). De uma maneira geral, os graus de urbanização destes municípios situavam-se entre 13 e 6% (figura 3).

Desse modo, com a apresentação dos dados populacionais da região neste período histórico (década de 1960), podemos analisar que o município de Pato Branco, além de exercer um destaque através da especialização de seus serviços prestados, detinha uma maior população urbana e, assim, um maior grau de urbanização em relação a todos os outros municípios que formavam o então território do Sudoeste paranaense. Percebe-se, assim, uma hegemonia, tanto em população como na dinâmica urbana, deste município nesta década.

Para Corrêa (1970), estes centros urbanos se caracterizavam por serem muito recentemente instalados, traduzindo uma ocupação ainda muito breve da região pelos colonos produtores e consumidores. Esse caráter da rede de centros aparece claramente ao se verificar o número de cidades existentes em 1950 e 1960 (figura 2).

 

Figura 2. População rural e urbana no sudoeste do Paraná - 1960.

 

Figura 3. Sudoeste do Paraná. Grau de urbanização (1960).

 

A década de 1970

A década de 1970, é marcada por uma maior dinâmica populacional na região e, conseqüentemente, no perímetro urbano dos municípios que compõe o Sudoeste do Paraná. Este processo ocorreu, principalmente, em virtude do êxodo rural que se fazia acontecer nesta década. A rede urbana, neste período, se torna mais complexa e bem mais distribuída no território em relação à década de 1960. Isto ocorre, principalmente, em função da demanda, pois a população total havia acrescido, de acordo com o Censo do IBGE de 1970, para 434.324 habitantes. Conseqüentemente, o grau de urbanização da região também se eleva, situando-se em torno de 17%. No entanto, ainda a maior parte da população, ou seja, 83%, vivia na zona rural do Sudoeste paranaense.

Neste contexto, o município de Pato Branco continuava nesta década, com o maior contingente de população urbana da região, com cerca de 15.420 habitantes, e sua população rural era constituída de 17.984 indivíduos (figura 4). Verifica-se que seu grau de urbanização eleva-se expressivamente para 45%. Neste ponto, a população urbana de Pato Branco cresceu, de 1960 a 1970, cerca de 33%! Logo, Pato Branco, apresentava tendências de superar a população rural já na década de 1970.

Já o município de Francisco Beltrão, contava, nessa década, com uma população urbana de 13.413 habitantes, tendo 23.394 habitantes localizados na zona rural (figura 4). Seu grau de urbanização era de 36%, sendo que o crescimento da população urbana, entre 1960-1970, eleva-se consideravelmente para 63%!

Os outros municípios que formavam territorialmente a região do Sudoeste paranaense em 1970, já demonstravam uma população urbana bem maior. Em conseqüência, o grau de urbanização destes municípios se mostrava mais considerável. Pode-se verificar que Itapejara do Oeste e Chopinzinho apresentavam um grau de urbanização entre 21 e 26%. Capanema, Realeza, Santa Izabel do Oeste e Ampére tinham seus graus de urbanização situados na faixa de 15 a 19%. Chopinzinho, São João, Dois Vizinhos, Verê Enéas Marques, Salto do Lontra, Salgado Filho, Barracão e Pérola do Oeste, apresentavam seus graus de urbanização entre 7 e 12% (figura 5).

Desse modo, a urbanização regional apresenta um crescimento considerável em 1970, como foi mostrado nos dados apresentados acima. Esta urbanização ascendente acontece, principalmente, acompanhando a tendência geral do Brasil nesta década.

De acordo com Santos (1996, p. 31), entre 1960 e 1970 no Brasil, se intensifica e se afirma à vocação a aglomeração, a urbanização ascende sobre as forças da concentração fundiária, o êxodo rural, as oportunidades de trabalho, que surgem neste aglomerado urbano que se forma rapidamente atraia enormes contingentes de migrantes, que sonham com uma vida melhor, e com mais oportunidades para sobreviver.

 

Figura 4. População rural e urbana no sudoeste do Paraná - 1970.

 

Figura 5. Sudoeste do Paraná. Grau de urbanização (1970).

 

A década de 1980

Na década de 1980, a urbanização do Sudoeste paranaense continua crescendo e a rede de centros continuava a se desenvolver, aumentando seus serviços, seus empregos e, conseqüentemente, sua população. A região, nesta década, possuía, de acordo com os dados do Censo demográfico de 1980, cerca de 521.249 habitantes, contudo, sua população rural é muito superior à população urbana. A população rural situava-se em cerca de 354.343 habitantes, e sua população urbana era de 166.906 habitantes. Logo, seu grau de urbanização regional eleva-se para 32%, dando um salto considerável em relação à década de 1970, praticamente duplicando a população que residia na zona urbana e, como verificado pelo IPARDES (2004, p. 23), experimentando uma taxa de crescimento urbano bastante elevada, cerca de 7,6% a.a.

O município de Pato Branco, nesta década apresentava-se, com uma população rural de 14.467, e sua população urbana situava-se em 31.470 habitantes (figura 6), superando, dessa forma, pela primeira vez, sua população rural. O grau de urbanização situa-se, surpreendentemente, em 68% (figura 7). Seu crescimento urbano, de 1970 a 1980, é de 51%!

Logo, Pato Branco, no contexto regional, foi um dos primeiros municípios a ter maior população rural do que urbana, resultado, principalmente, de um forte êxodo rural que desloca pessoas para a cidade de Pato Branco e de outras cidades localizadas na própria região do Sudoeste. Outro fator importante, é que moradores da zona rural de Pato Branco, neste êxodo, se dirigem para outros centros, principalmente a região metropolitana do Paraná, e para os Estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Amazônia (Magalhães, 1996, p. 39).

Outro município que, na década de 1980, alcança uma maior população urbana que rural é Francisco Beltrão. Sua população rural, nessa década, era de 20.473 habitantes, e a urbana de 28.289 habitantes (figura 6). Portanto, seu grau de urbanização atinge a marca de 58% (figura 7). O crescimento da população urbana, de 1970 a 1980, é de 53%!

De um modo geral, esta década reflete um aumento significativo em um grande número de municípios da região para com sua população urbana (figura 6).

Em verdade, Coronel Vivida, Realeza e Mariópolis, têm seus graus de urbanização entre 40 e 37%. Já, Dois Vizinhos, São Jorge do Oeste, Renascença, Vitorino, Itapejara do Oeste, Santo Antônio do Sudoeste, Santa Izabel do Oeste e Capanema apresentam seus graus de urbanização entre 32 e 25%. Os municípios que apresentavam menor grau de urbanização, nessa década, se situavam entre 22 e 10%, sendo estes; Chopinzinho, São João, Salto do Lontra, Enéas Marques, Vêre, Barracão, Salgado Filho, Marmeleiro, Pérola do Oeste e Planalto (figura 7).

Desse modo, a década de 1980 marca, principalmente, o aumento considerado da população urbana, refletindo em um aumento no grau de urbanização de todos os municípios que formavam o território do Sudoeste na presente década e também, como reflexo disso, dois municípios (Pato Branco e Francisco Beltrão) superaram a casa dos 50% de população urbana no contexto regional.

Portanto, esta elevação populacional urbana que se observa, é reflexo de uma maior dinâmica nos centros e de uma demanda contínua de população do campo para as cidades. Pato Branco e Francisco Beltrão, ao se tornarem municípios mais populosos, atraem conseqüentemente migrantes de municípios da própria região, e de outros municípios situados, sobretudo, nos estado de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, e até de alguns países vizinhos, como Paraguai e Argentina (Magalhães, 2003).

Enfim, a ascendente população rural é reflexo de um processo de migração rural-urbana muito intenso na região. No que se refere ao crescimento dos centros, verifica-se uma elevação da complexidade da malha urbana, refletindo em um surgimento de uma infra-estrutura urbana maior, com maior número de empregos, serviços especializados e maior distribuição dos produtos rurais que, mesmo com a diminuição da população rural, aumenta sua produtividade através da modernização agrícola.

 

Figura 6. População rural e urbana no sudoeste do Paraná - 1980.

 

Figura 7. Sudoeste do Paraná. Grau de urbanização (1980).

 

Os anos de 1991

Os anos de 1991, demonstram que a tendência à urbanização no Sudoeste do Paraná continua forte e crescente.

De acordo com o Censo Demográfico de 1991, a população total da região apresentava-se em cerca de 523.958 habitantes; a população rural, em 1991, era de 277.238 habitantes, já a população urbana chega a 246.720 habitantes. Logo, o grau de urbanização do Sudoeste paranaense atinge os expressivos 47%!

O município de Pato Branco, como verificado em outras décadas, apresenta, em 1991, uma população urbana superior a rural. Sua população rural era de 12.269 habitantes, já sua população urbana eleva-se para 43.406. Seu grau de urbanização situa-se em 77%. Seu crescimento urbano de 1980 a 1991 é de 27%.  Deste modo, percebe-se que, mesmo sendo um município com características de produções agrícolas bem fortes e presentes, este já demonstrava uma população muito presente, habitando na zona urbana de maneira bem expressiva, considerando o contexto regional em análise.

Outro município com crescimento considerável de sua população urbana é Francisco Beltrão, que ascende sua população urbana em 1991 para 45.622 habitantes, já sua população rural, continua a diminuir, se situando em 15.650 habitantes (figura 8). Logo, seu grau de urbanização eleva-se para 64% (figura 9), e seu crescimento urbano de 1980 a 1991, é de 38%. Este crescimento urbano, é reflexo de uma maior atração de pessoas para esta cidade, em virtude de mais industrias ali se instalarem. Nesse sentido, que merece destaque a Sadia S/A, que instala um frigorífico, nessa década, no município, gerando muitos empregos na cidade e criando, assim, uma dinâmica maior ao centro.

Contudo, o município que merece um destaque em termos de crescimento populacional urbano é Dois Vizinhos, pois sua população urbana chega em 43.406 habitantes (figura 8), tendo um crescimento urbano, de 1980 a 1991, de 45%. Já sua população rural situa-se em 18.065 habitantes. Logo, seu grau de urbanização eleva-se para 55% (figura 9). Isso acontece em virtude da instalação de um Frigorífico da Sadia S/A, que gera uma atração de pessoas para a cidade, e, portanto, uma maior dinâmica urbana para o município.

Nesta década, a maioria dos municípios do Sudoeste paranaense tem um acréscimo elevado em sua população urbana (figura 8), conseqüentemente seus graus de urbanização se tornam mais expressivos no contexto regional (figura 9).

Coronel Vivida, Mariópolis, Itapejara do Oeste, Cruzeiro do Iguaçu, Realeza, Ampére e Santo Antonio do Sudoeste, apresentam seu graus de urbanização entre 55% e 43%.

Os municípios de Chopinzinho, São João, São Jorge do Oeste, Nova Esperança do Sudoeste, Bela Esperança do Iguaçu, Santa Izabel, Pérola do Oeste, Saudade do Iguaçu, Marmeleiro, Vitorino, Capanema e Nova Prata do Iguaçu, apresentam seus graus de urbanização entre 40 e 33%.

Já os municípios de Sulina, Vêre, Renascença, Flor da Serra do Sul, Barracão, Pranchita, Planalto e Salto do Lontra, apresentavam seus graus de urbanização entre 32 e 22%. Outros municípios, com menor expressão em sua população urbana, são: Enéas Marques, Manfrinópolis, Salgado Filho, Bom Jesus do Sul e Bela Vista da Caroba, que apresentam de 17 a 9% em seus graus de urbanização.

Portanto, este aumento da população urbana reflete em processos migratórios principalmente rurais-urbanos, e, secundariamente, em deslocamentos de origem e destinos rurais (Kleinke et al 1999, p. 193). Em suma, este processo de urbanização no Sudoeste paranaense reflete, diretamente, em uma diminuição da população rural regional. Esta, migra para outros centros urbanos e rurais de outras localidades do próprio estado do Paraná, bem como para outros estados, dentre os quais merecem destaque: Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Santa Catarina.

Desse modo, a população urbana cresce principalmente em função deste deslocamento de população rural-urbana para as cidades que, dessa maneira, se tornam maior em números gerais. Porém, isso não reflete, em termos de transformações espaciais maiores, na paisagem dos centros urbanos sudoestinos, (exceto os mais complexos, como Pato Branco, Francisco Beltrão e Dois Vizinhos). A região ainda continua como centro de produção agrícola, apenas contando com serviços urbanos mais especializados e uma malha urbana de fluxos e fixos mais complexa e mais valiosa economicamente. Em função disso, estes centros urbanos criam um maior dinamismo, tanto para o escoamento da produção agrícola, como para o comércio, com a prestação de serviços e serviços públicos.

 

Figura 8. População rural e urbana no sudoeste do Paraná - 1991.

 

Figura 9. Sudoeste do Paraná. Grau de urbanização (1991).

 

Os anos de 1996

Os dados da Contagem Populacional do IBGE de 1996, ilustram que a tendência à urbanização que ascendia em anos anteriores no Sudoeste paranaense continua a manter seu traço estável e constante. Pode-se verificar este aumento em proporções consideráveis para a transformação do espaço urbano, alavancado, principalmente, pelo aumento da população urbana.

A população rural do Sudoeste do Paraná, em 1996, era de 217.973 habitantes, e sua população urbana situava-se em 254.452 habitantes. O grau de urbanização neste ano situava-se em 54%. Contudo, este aumento da população urbana não reflete em crescimento da população regional, que no ano de 1996, diminui para 472.425 habitantes. Cerca de 9% a menos de população total no Sudoeste em relação ao ano de 1991.

Assim, levando em consideração que se passaram apenas 5 anos desde 1991, pode-se afirmar que a população total diminui consideravelmente, reafirmando a característica atribuída ao Sudoeste de área de esvaziamento, e também suas tendências ao crescimento da urbanização, (IPEA, 2000, p. 115).

O município de Pato Branco atinge, em 1996, os expressivos 48.921 habitantes na zona urbana, cerca de 84% de grau de urbanização, tendo seu crescimento populacional urbano, de 1991 a 1996, de 11%. Já sua população rural, diminui para 8.829 habitantes. Isso se deve, como verificado por Kleinke et al (1999, p. 209), às características gerais apresentadas pelo Sudoeste do Paraná, de região de esvaziamento, através das migrações rurais-urbanas, para outros centros maiores. E, também, pelo seu caráter, como apresentado no referido processo histórico de formação territorial, como cidade que apresenta-se como um centro tecnológico regional e, através desta característica, atrai muitos estudantes, pesquisadores, professores, entre outros.

O município de Francisco Beltrão apresenta, em 1996, uma população urbana muito considerável, com cerca de 52.031 habitantes, e 13.699 habitantes na zona rural. Logo, seu grau de urbanização ascende aos expressivos 79%, e seu crescimento populacional urbano de 1991 a 1996, é de 12%. O mesmo processo migratório que esvazia a zona rural, ascende a urbanização e desloca migrantes para outros centros. Este processo tem influência decisiva para com o desenvolvimento urbano de Francisco Beltrão. Neste contexto, um fator que merece destaque, para o crescimento urbano desta cidade, se deve à produção do Frigorífico da Sadia S/A, que atua na cidade e cria um maior dinamismo para o centro. Esta empresa, que atua na produção de alimentos, atrai um contingente expressivo de habitantes em áreas próximas à sua localização geográfica, bem como influencia na dinâmica populacional da cidade e do campo. Contudo, o que merece destaque, é seu papel enquanto capital industrial que necessita de maior mão-de-obra para produção/expansão, que reflete diretamente no aumento da população urbana, e dessa forma, da espacialização urbana do município.

Outro município importante, enquanto centro dinâmico urbano para a região, é Dois Vizinhos que, no ano de 1996, apresenta sua população urbana com 21.669 habitantes, já sua população rural neste mesmo ano, é de 10.415 pessoas. Seu grau de urbanização fica em torno de 67%. Este município tem uma dinâmica urbana muito parecida com o município de Francisco Beltrão, principalmente, por estar em seu território outro frigorífico da Sadia S/A, que atrai uma maior população para as proximidades da empresa, criando um maior dinamismo à cidade e, portanto, destacando-se por ter uma considerável margem de população urbana, dentro do cenário regional do Sudoeste paranaense.

De modo geral, a maior parte dos municípios em 1996 apresenta um grau de urbanização superior em relação aos anos anteriores. Contudo, isto não reflete em termos quantitativos de população total regional, mas restritamente qualitativos, quando se atem a “olhar” o seu grau de urbanização. Neste cenário, o município de Coronel Vivida apresenta uma população urbana de 13.481, e uma população rural de 10.557 pessoas. Logo, seu grau de urbanização ficava em torno de 56%.

Outros municípios do Sudoeste tiveram seu grau de urbanização elevados, o que, como alertado, não reflete em aumento de números totais da população dos municípios (figura 10). Verificam-se, neste plano, os casos de Mariópolis, Saudade do Iguaçu, Realeza, Ampére, Santo Antônio do Sudoeste e Barracão, que apresentavam seus graus de urbanização entre 67 e 49% (figura 11). Em outros municípios, como Chopinzinho, Itapejara do Oeste, Bom Sucesso do Sul, Vitorino, Renascença, Marmeleiro, Salgado Filho, São João, São Jorge do Oeste, Cruzeiro do Iguaçu, Nova Prata do Iguaçu, Santa Izabel, Santo do Lontra, Pranchita, Peróla do Oeste, Capanema e Planalto verificavam-se graus de urbanização entre 46 e 32%. Já os municípios de Sulina, Verê, Enéas Marques, Nova Esperança do Sudoeste, Pinhal de São Bento e Boa Esperança do Iguaçu apresentavam de 30 a 16% em seus graus de urbanização (figura 11).

Alguns municípios, com menor expressão em seus graus de urbanização, são: Flor da Serra do Sul, Manfrinópolis, Bom Jesus do Sul e Bela Vista da Caroba, com 9 e 3% em seus graus de urbanização (figura 11). 

Assim, sob o ângulo da urbanização, o ano de 1996 ascende à tendência do Sudoeste paranaense com o aumento de sua população urbana na maioria dos municípios que compõe a região. Isto acarreta, em números gerais de população regional, em uma diminuição da população, onde migrantes de origem rural se deslocam para centros mais dinâmicos do próprio Sudoeste (Pato Branco, Francisco Beltrão e Dois Vizinhos) e, principalmente, para outros centros, onde merece destaque a região metropolitana de Curitiba. Também, ocorre deslocamento para alguns municípios do estado de Santa Catarina (principalmente Joinvile e Florianópolis) e para os estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, Amazônia e o Acre (Magalhães, 1996, Magalhães, 2003).

 

Figura 10. População rural e urbana no sudoeste do Paraná - 1996.

 

Figura 11. Sudoeste do Paraná. Grau de urbanização (1996).

 

O ano 2000

É no ano de 2000 que a população urbana reflete números significativos em termos regionais e, conseqüentemente, na produção do espaço urbano. A população total permanece estável em relação ao ano de 1996. São cerca de 472.626 habitantes no Sudoeste no ano de 2000. Contudo, seu crescimento se deve ao aumento da população urbana regional, são cerca de, 286.434 pessoas. Logo, sua população rural é de 186.192 habitantes. Seu grau de urbanização, no ano de 2000, chega à marca considerável de 61%. Dentre os 37 municípios que compõe a região, 18 destes têm seu grau de urbanização acima de 50%, e, 19 deles, têm seus graus de urbanização abaixo de 50%. Portanto, pode-se perceber que, praticamente, metade dos municípios do Sudoeste têm seus graus de urbanização acima de 50%.

Portanto a maioria dos municípios do Sudoeste do Paraná, no ano 2000, tem uma diminuição da sua população rural e, conseqüentemente, ocorre um aumento da população urbana.

Neste cenário urbano, o município de Pato Branco é o que apresenta o maior grau de urbanização, reafirmando sua tendência que se fazia presente em anos anteriores. No ano de 2000, o município atinge os surpreendentes 91% de grau de urbanização (figura 13). Sua população urbana é de 56.805, enquanto a rural é de apenas 5.429 habitantes (figura 12). Logo, seu crescimento populacional urbano, no período de 1996 a 2000, é de 16%! Isso se deve a uma maior modernização/mecanização da agricultura do município e, conseqüentemente, a uma maior demanda de pessoas para a cidade (êxodo rural), onde a cidade, ao se tornar um centro maior, atrai mais habitantes, que se deslocam de outros municípios do próprio Sudoeste paranaense, bem como de outras regiões do Paraná e até de outros estados brasileiros, principalmente do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Logo, percebe-se que este município atinge, no ano de 2000, um maior dinamismo; sua divisão territorial do trabalho aparece cada vez maior, resultado diretamente ligado à instalação, cada vez maior, de diversas empresas que atuam em seu território, destacando-o, como verificado pelo IPARDES (2004, p. 23), como um centro tecnológico regional.

Já Francisco Beltrão, é outro município que ganha destaque enquanto centro urbano. Este, no ano de 2000, é o maior município em termos populacionais da região. Sua população urbana atinge 54.831 habitantes, sendo que a rural situa-se em 12.301 pessoas (figura 12). Seu grau de urbanização é o segundo maior da região, com cerca de 81% (figura 13). Seu crescimento populacional urbano, de 1996 a 2000, é de 5%. Desse modo, esta realidade se deve também, a modernização agrícola, que expulsa habitantes do campo para cidade e, com a atuação de diversas empresas no município, tendo como sua principal, a Sadia S/A, que cria um maior dinamismo à economia da cidade, através da geração de aproximadamente 2000 empregos diretos, no ano de 2000. A importância da empresa na construção do espaço urbano é tanta que nos arredores da mesma, constitui-se um centro urbano, que serve diretamente de mão-de-obra para seu complexo industrial, denominada de “cidade norte”.

Outro município de destaque no cenário regional urbano é Dois Vizinhos, que no ano de 2000, tem sua população urbana de 22.382 pessoas, e sua população rural em 9.604 habitantes (figura 12). Logo, seu grau de urbanização é de 69% (figura 13). Seu crescimento da população urbana foi de 3%. Sendo assim, a cidade cria um maior dinamismo urbano o que também se verifica pela atuação de uma empresa da Sadia S/A, que gera muitos empregos, agregando muita mão-de-obra, fazendo crescer o espaço urbano deste município.

Neste ano de 2000, os municípios de Coronel Vivida, Mariópolis, Realeza, Ampére, Santo Antônio do Sudoeste e Barracão têm seus grau de urbanização entre 69 e 60%. Já os municípios de Chopinzinho, Saudade do Iguaçu, São João, São Jorge do Oeste, Cruzeiro do Iguaçu, Nova Prata do Iguaçu, Santa Izabel, Salto do Lontra, Capanema, Pranchita, Marmeleiro, Renascença, Vitorino e Itapejara do Oeste, situam seus graus de urbanização de 54 e 42% (figura 13).

Dentre os municípios com menor expressão urbana no ano de 2000, verifica-se os casos de Bom Sucesso do Sul, Verê, Sulina, Pinhal de São Bento, Salgado Filho, Planalto e Pérola do Oeste, que têm seus graus de urbanização entre 40 a 28%. Outros municípios, como: Flor da Serra do Sul, Manfrinópolis, Bom Jesus do Sul, Nova Esperança do Sudoeste, Enéas Marques, Boa Esperança do Iguaçu, Bela Vista da Caroba, situam seus graus de urbanização entre 23 e 9% (figura 13).

 

Figura 12. População rural e urbana no sudoeste do Paraná - 2000.

 

Figura 13. Sudoeste do Paraná. Grau de urbanização (2000).

 

Considerações Finais

De acordo com o IPEA (2000, p. 73), na mesorregião Sudoeste paranaense, os municípios de Pato Branco e Francisco Beltrão e, secundariamente, Dois Vizinhos, são os principais centros de uma região que tem sua base produtiva caracterizada, predominantemente, por uma agropecuária voltada à agroindústria de aves e suínos, em conjunto com uma agricultura familiar capitalista. Juntos, estes municípios apresentam taxas de crescimento baixas e em queda: de 1,25% a.a., entre 1980 e 1991, para 0,83% a.a. entre 1991 a 2000. Esses centros urbanos estão próximos entre si e nenhum deles está entre os mais fortes [5] da rede urbana do estado do Paraná.

Seus centros urbanos principais são: Pato Branco e Francisco Beltrão, com níveis de centralidade de forte para médio [6] (figura 14), concorrentes no que se refere à abrangência da polarização, mas guardando especificidades (IPEA, 2000, p. 113).

O município de Pato Branco aparece com destaque regional, por oferecer uma gama de funções mais especializadas na área da educação, ciência e tecnologia. Contem uma unidade regional de ensino médio e de Ensino Superior do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), reforçando-se com a instalação do Laboratório Central de Pesquisa e Desenvolvimento (Lactec), em uma parceria entre a Copel e a Universidade Federal do Paraná, no intuito de criar um centro tecnológico voltado ao setor eletrônico.

Já o município de Francisco Beltrão, com funções de comércio e serviços mais voltadas a dar apoio às atividades da indústria e agropecuária, consegue dinamizar sua economia e assim ter um crescimento urbano considerável.

Além desses, Dois Vizinhos, com centralidade de nível médio (figura 14), reforça sua centralidade, principalmente em função das atividades de uma unidade do Grupo Sadia S/A que opera no município (IPEA, 2000, p. 114).

 

Figura 14. Sudoeste do Paraná. Principais centros urbanos.

 

De acordo com o IPARDES (2004, p. 23), no contexto regional sudoestino, apesar das áreas urbanas terem evidenciado ritmos expressivos de crescimento populacional provocando aumentos gradativos no grau de urbanização, o conjunto da mesorregião experimentou taxas declinantes, diferentemente da maior parte das mesorregiões paranaenses, passando a evidenciar, inclusive, decréscimos absolutos de população. Como conseqüência dessa dinâmica, o peso populacional da região no total do estado permaneceu baixo e com tendência à redução nas duas últimas décadas do século XX, ainda que seja necessário destacar que, em 2000, o Sudoeste permanecia abrigando quase 11% da população rural do Paraná.

Na verdade, o componente migratório, nesse cenário demográfico, vem tendo um peso substantivo. No seio das transformações modernizantes das atividades agrícolas; o meio rural da região vem experimentando saldos migratórios negativos bastante elevados desde a década de 1970. A respeito dos ganhos populacionais das áreas urbanas, no âmbito geral da mesorregião o saldo migratório se mantem negativo, expressando o predomínio das perdas populacionais para fora da região.

Entre as décadas de 1970 e 1980, os principais municípios da região (Pato Branco e Francisco Beltrão) evidenciaram consideráveis taxas de crescimento da população total, 3,1% e 2,9% ao ano, respectivamente, bem superiores à média do Estado (IPARDES, 2004, p. 24). Nas décadas seguintes, esses municípios permaneceram crescendo a ritmos expressivos, destacando-se no pequeno grupo de municipalidades da mesorregião a apresentar taxas positivas de crescimento populacional, principalmente pelo considerável crescimento urbano.

Ao mesmo tempo, evidencia-se um fenômeno generalizado de forte esvaziamento rural, notável até mesmo no comportamento da população total dos municípios: quase 80% destes apresentaram taxas negativas de crescimento entre 1991 e 2000, sendo que em alguns municípios isso ocorre desde 1970-1980. Apesar dessa dinâmica, a maioria dos municípios da mesorregião, em 2000, permanecia espacialmente rural e com reduzidas populações (IPARDES, 2004, p. 29).

Até 1970, o Sudoeste não possuía nenhum município com grau de urbanização superior a 50% (figura 5). Pato Branco e Francisco Beltrão, seus principais centros, possuíam o grau de urbanização de 45,6% e 36,4%, respectivamente. No decorrer do período 1970-2000, mantiveram-se como os municípios mais urbanizados da mesorregião, porém, apenas Pato Branco superou o grau de 90% de urbanização em 2000.

Atualmente, mais de 70% dos municípios do Sudoeste permanecem de tipo rural de pequena dimensão (IPARDES, 2004, p. 29). Com isso, a região, de modo geral, distingue-se do padrão médio do estado; enquanto em 2000, no Paraná, 29,1% dos municípios possuíam menos de 50% da população residindo nas áreas urbanas, o Sudoeste mantinha a proporção elevada de 51,4%. Por outro lado, o estado do Paraná detinha 9,3% dos municípios com o grau de urbanização superior a 90%, em 2000. Já no Sudoeste, esta condição somente foi alcançada pelo município de Pato Branco.

No contexto regional, para o IPARDES (2004, p. 32), a restrita possibilidade de retenção populacional do Sudoeste se deve a uma atividade econômica em desenvolvimento, que não se traduz como grande geradora de postos de trabalho nem como multiplicadora de muitas oportunidades, e isso faz com que a região integre apenas espacialidades de fraca concentração, confirmando-se como um espaço e/ou, região de esvaziamento. Mesmo assim, Pato Branco e Francisco Beltrão, juntamente com Dois Vizinhos, constituem um eixo articulado, voltado às atividades da agroindústria do complexo aves, suínos e soja. No seu entorno, verifica-se a formação de “anéis” de elevado crescimento da população urbana em municípios de pequeno porte, seja sob influência dessa economia, seja sob influência da situação fronteiriça Paraná/Santa Catarina e Paraná/Argentina, que abre oportunidades decorrentes de uma maior concentração regional.

Além dessas dinâmicas, a expressiva presença de assentamentos de trabalhadores rurais em municípios da região também vem impulsionando relativo crescimento populacional. Percebe-se este crescimento em Salgado Filho (3,52% a.a), Renascença (3,15% a.a) e Marmeleiro (2,55% a.a) (IPEA, 2000, p. 115).

Os principais centros urbanos do Sudoeste, Pato Branco e Francisco Beltrão, estão localizados com grande proximidade geográfica. O eixo econômico no qual se inserem não só articula-se a municípios dos próprios contornos mesorregionais, como integra um fluxo de relações com municípios de Santa Catarina (IPARDES, 2004, p. 33). Estes municípios, fazem parte de um subsistema urbano interestadual que abrange o Oeste catarinense e o Sudoeste paranaense, vinculado ao sistema de Curitiba. Esse subsistema se compõe de vários núcleos em torno de Pato Branco e Francisco Beltrão e, em Santa Catarina, a cidade de Chapecó, que se destaca pelo nível de centralidade forte, e São Miguel do Oeste, com centralidade média (Moura e Werneck, 2001, p. 25).

Organizada a partir desses centros (Francisco Beltrão e Pato Branco), a rede de cidades da mesorregião Sudoeste articula um conjunto de 37 municípios, dos quais apenas Pato Branco e Francisco Beltrão possuíam, em 2000, população total e urbana superior a 50 mil habitantes. Com relativo desnível, eram seguidos por outros três municípios (Dois Vizinhos, Coronel Vivida e Chopinzinho), situados na classe entre 20 mil e 50 mil habitantes, dos quais somente Dois Vizinhos possuía população urbana também superior a 20 mil habitantes, em 2000 (figura 12). Esses 5 municípios concentravam 47,3% da população urbana mesorregional no ano de 2000. Do restante da população, 49,3% localizava-se nos 23 municípios com população total entre 5 mil e 20 mil habitantes, sendo que, deles, 12 tinham mais de 5 mil habitantes na área urbana, concentrando 35,7% da população urbana da mesorregião (figura 12). Outros 9 municípios, com população total inferior a 5 mil habitantes, possuíam 7,3% da população mesorregional. Ressalta-se que, entre eles, 7 municípios tinham menos de mil moradores nas áreas urbanas, sendo que Manfrinópolis e Bom Jesus do Sul sequer alcançavam 500 moradores (figura 12).

Contudo, o processo de urbanização no Sudoeste paranaense vem desencadeando mudanças significativas, tanto na produção do espaço urbano das cidades, quanto para as espacialidades rurais da região. Nesse contexto, a paisagem urbana do Sudoeste paranaense e, sobretudo, de seus principais centros urbanos, vai sendo transformada e, assim, demonstrando novos processos, novas formas, novos significados.

 

Notas

[1] Fazem parte do Sudoeste do Paraná, segundo a classificação do IBGE (2000), os municípios de Francisco Beltrão, Pato Branco, Dois Vizinhos, Coronel Vivida, Chopinzinho, Santo Antonio do Sudoeste , Capanema, Ampére, Realeza, Planalto, Marmeleiro, Salto do Lontra, Santa Izabel do Oeste, São João, Nova Prata do Iguaçu, Itapejara do Oeste, Barracão, São Jorge do Oeste, Verê, Pérola do Oeste, Renascença, Vitorino, Mariópolis, Enéas Marques, Nova Esperança do Sudoeste , Flor da Serra do Sul, Salgado Filho, Saudades do Iguaçu, Bela Vista da Caroba, Cruzeiro do Iguaçu, Bom Jesus do Sul, Manfrinópolis, Sulina, Bom Sucesso do Sul, Boa Esperança do Iguaçu e Pinhal de São Bento.

[2] De acordo com Corrêa (1970), e Padis (1981), colonos na região Sudoeste do Paraná seriam aqueles trabalhadores agrícolas que dispunham da posse uma pequena propriedade rural.

[3] Local onde se dá à comercialização de produtos de primeira necessidade para alimentação (sal, açúcar, farinha, entre outros) e, também, a venda de bebidas. A bodega ainda pode ser considerada como um ponto de encontro de pessoas e local de diversão, proporcionado através de jogos (cartas, bocha, entre outros). Outro elemento importante é que a bodega assumia, com a capacidade de unir um contingente de pessoas, a função de centralização de informações que aconteciam na região Sudoeste paranaense, e, dessa maneira, concentrava algumas das decisões tomadas pelos indivíduos (PADIS, 1981).

[4] O caboclo do Sudoeste paranaense não precisava ser necessariamente descendente do índio. Para o individuo ser classificado como caboclo, precisava ter sido apenas criado no sertão, portanto, na floresta. Este, deveria ter hábitos e comportamentos de sertanejo, ou seja, caça, pesca e coleta (produção para subsistência). Porém, o caboclo não podia ter pele clara, a ele se atribuía uma cor mais ou menos escura (Wachowicz, 1987, p. 85).

[5] Centros urbanos fortes são aqueles constituídos por 100 mil habitantes ou mais (IPEA, 2000).

[6] Centros urbanos forte para médio são aqueles constituídos por 50 mil habitantes. (IPEA, 2000).

 

Referências

BONETI, Lindomar Wessler. A Exclusão Social dos Caboclos do Sudoeste do Paraná. In: Os caminhos da Exclusão Social (Org. ZARTH, Paulo). Ijuí: Editora Unijuí, 1998.

CORRÊA, Roberto Lobato. Cidade e Região no Sudoeste Paranaense. Revista Brasileira de Geografia. v. 32, n. 2, p. 3-155, 1970.

IPEA, IBGE, UNICAMP / IE / NESUR, IPARDES. Caracterização e tendências da rede urbana do Brasil: redes urbanas regionais: Sul. Brasília: IPEA, 2000.

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_____. Censo demográfico – Paraná – 2000. Rio de Janeiro: IBGE, 2001. (CD ROM).

_____. Censo demográfico – Paraná – 2000. Rio de Janeiro: IBGE, 2002. (CD ROM).

_____. Contagem Populacional – Paraná – 1995. Rio de Janeiro: IBGE, 1999. (CD ROM).

_____. Contagem Populacional – Paraná – 1996. Rio de Janeiro: IBGE, 2000. (CD ROM).

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© CopyrightMarcos Leandro Mondardo, 2007.
© Copyright Scripta Nova, 2007.

Ficha bibliográfica:
MONDARDO, M. L. Uma Caracterização Geral do Processo de Urbanização do Sudoeste do Paraná - Brasil. Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, 15 de mayo de 2007, vol. XI, núm. 239 <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-239.htm>. [ISSN: 1138-9788].

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